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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
“Pregar a castidade é uma incitação pública à antinatureza. Qualquer desprezo à vida sexual, qualquer tentativa de maculá-la através do conceito de “impureza” é o maior pecado contra o Espírito Santo da Vida.”(O Anticristo, F. Nietzche)
Glorifica-se a Deus como o Pai de toda a vida, ao mesmo tempo em que se oculta e se silencia a vida sexual, fonte e substrato da própria vida, declarandoa pecado e obra do Demônio. Não faço a menor objeção a que se adore esse Deus Jeová. Mas creio que devemos adorar e santificar o mundo inteiro em sua plenitude total e não apenas essa metade oficial, artificialmente dissociada. Portanto, ao lado do culto de Deus devíamos celebrar o culto do Demônio. Isto seria o certo. Ou mesmo criar um deus que integrasse em si também o demônio e diante do qual não tivéssemos que cerrar os olhos para não ver as coisas mais naturais do mundo.
(HERMANN HESSE - "DEMIAN")
Tendo o corpo se tornado microscopicamente pecaminoso, tanto como receptáculo da tentação quanto como provocador dela, ocorrerá com ele o mesmo que assinalamos a respeito dos sete pecados capitais, isto é, a sexualização de todos os pecados reaparece agora como sexualização do corpo inteiro.
Nesta perspectiva, o pecado da palavra, que São Paulo colocara como um pecado específico (podendo ser contra Deus ou contra o próximo, como a blasfêmia ou a calúnia), torna-se também pecado sexual.
A sexualização dos pecados e do corpo significa, simplesmente, a preocupação cristã com todas as formas da concupiscência, visto ser esta a manifestação da fraqueza da carne, e, conseqüentemente, a preocupação está voltada para a percepção, captura e controle de tudo quanto desperte prazer. É pela via da caça ao prazer que os pecados e o corpo vão sendo sexualizados. E é pela via do prazer que a palavra passará a ser um pecado sexual. Faladas, escritas ou simplesmente pensadas em silêncio (isto é, sem comunicação), ouvidas ou lidas, estão submetidas a rigoroso exame. A peculiaridade da palavra, sob o regime da confissão, não se acha apenas no fato de haver um vocabulário sexual que precisa ser usado com moderação e através dos eufemismos, e sim no fato de que toda e qualquer palavra, dependendo de quem a usa, como, quando e por que a usa, estar investida de prazer sexual. Donde, em muitas ordens religiosas, a obrigatoriedade do voto de silêncio. Mas o espantoso da palavra, descoberta que o confessor hábil consegue produzir no penitente, é que a pronunciamos sem saber o que dizemos e que ela nos faz dizer o que não suspeitávamos existir em nós (um dia, isso receberá nome: inconsciente e retorno do reprimido).
A confissão é o corpo e o mundo postos sob suspeita; mas a palavra é ainda acrescida de outro atributo: é reveladora e por isso mesmo perigosa.
Uma síntese da suspeição-revelação e de seu perigo, ligado ao conhecimento e à diminuição da censura, aparece admiravelmente no romance de Umberto Eco, O Nome da Rosa, no qual o crime, a suspeita, o pecado, o poder e a queda estão distribuídos à volta de um centro, um local feito apenas de palavras: a biblioteca. E o livro proibido, aquele que entre todos os da biblioteca ninguém poderá ler, os que o fizeram tendo sido assassinados, é um livro de elogio ao riso à alegria, ao humor e à graça. Nesse romance, as meditações de Santo Agostinho sobre o pecado da curiosidade ligado diretamente ao conhecimento intelectual e inconscientemente ao prazer sexual constitui uma das tramas da narrativa: ler e escrever são janelas e portas preferenciais do Diabo, por isso a biblioteca não tem janelas e sua única porta é guardada a chaves, antecedida por um corredor onde jazem ossadas. E o guardião do livro proibido, que para protegê-lo assassina, é cego.
Porém, o quadro confessional ainda não está completo.
Nas Confissões, perplexo e atormentado, Santo Agostinho escrevia que todos os esforços de controle da vontade, realizados durante a vigília, eram inteiramente perdidos durante o sono: sonhava pecados.
Assim, à lista dos pecados e de suas ocasiões, o confessor acrescentará os sonhos. Quando nosso corpo e nossa alma relaxam para o descanso, melhor oportunidade dão ao demônio para infiltrar-se sem que haja como combatê-lo e vencê-lo. Donde as regras que serão estabelecidas para diminuir o risco de sonhar: as preces antes de adormecer (para as crianças, a invocação do Anjo da Guarda), a frugalidade da refeição vespertina (o que mostra a relação entre gula e sexo), o cuidado com os divertimentos noturnos para que não deixem a alma preparada para a infiltração demoníaca (donde a recomendação da leitura de vidas de santos, dos livros de oração, da Bíblia; a reticência religiosa face aos bailes e festas noturnas; aregulamentação das ocasiões em que a relação sexual conjugal pode acontecer), e o elogio, levado ao máximo no protestantismo, do trabalho, pois ”mente desocupada, oficina do diabo” (o que mostra a relação entre preguiça e sexo).
A confissão é, poderíamos dizer, uma técnica da fala. O confessor atua num crescendo: indaga inicialmente se houve ato pecaminoso ou intenção pecaminosa; sendo afirmativa a resposta, indaga: houve deleitação?, pois a falta é maior em caso de prazer. Afirmativa a resposta, indaga quais os órgãos que se deleitaram (a falta variando de gravidade conforme os órgãos de prazer), quanto tempo durou a deleitação (a gravidade da falta sendo proporcional ao tempo de prazer), quantos se envolveram nela e onde aconteceu (havendo uma codificação do pecado conforme o número de participantes e os locais). Por fim, o confessor indaga se o penitente está arrependido, pronto para a contrição verdadeira e para não mais pecar. Exige, portanto, que o pecador diga a verdade sobre a sexualidade e que essa verdade, através do ato de contrição ou do arrependimento, atue sobre o comportamento futuro, modificando o ser do penitente. É na exigência da modificação que o controle melhor manifesta o papel da repressão sexual: não se trata apenas de proibir atos, palavras e pensamentos, mas de conseguir que outros venham colocar-se no lugar dos pecaminosos.
Algo também é exigido do próprio confessor, posto que é um ser humano, apesar da graça santificante recebida pelo sacramento da Ordem: não deve pecar ao ouvir a confissão. Esse risco existe se o confessor sentir prazer no que ouve, fantasiar a partir do que escuta, tornar-se cúmplice involuntário do penitente, fazendo-o alongar a fala e detalhar o próprio prazer. O risco da confissão para o confessor foi admiravelmente descrito pelo romancista Eça de Queiroz num romance intitulado O Crime do Padre Amaro.
(Marilena Chaui – “Repressão Sexual”)
Quanto a sexo, a Igreja Católica tem andado, nos últimos tempos, pelas ruas da amargura. Mas isto não é de agora e até faz parte dos anais da história deste país de brandos costumes. Diz-nos Alexandre Herculano, na sua obra História da Origem e Estabelecimento da inquisição em Portugal: "... Os eclesiásticos, por exemplo, da vasta diocese de Braga eram um tipo acabado de dissolução....Os mosteiros ofereciam os mesmos documentos de profunda corrupção, distinguindo-se entre eles o de Longovares, da Ordem de Santo Agostinho, e os de Seiça e Tarouca, da Ordem de Cister, ou antes nenhum dos mosteiros cistercienses se distinguia, porque em todos eles os abusos eram intoleráveis". Assim se referia Alexandre Herculano ao estado moral dos monges em pleno século XVI, mas quanto aos conventos das freiras a situação não era melhor: "Os conventos de freiras não se achavam em melhor estado, sendo o de Chelas, o de Semide e outros teatro de contínuos escândalos. A história de Lorvão e da sua abadessa, D. Filipa de Eça, é um dos quadros mais característicos daquela época ... Das freiras então actuais uma parte nascera no mosteiro; suas mães não só não se envergonhavam de as criar no claustro e para o claustro, mas aí mantinham também seus filhos do sexo masculino".
Os conventos e mosteiros pouco se distinguiam de vulgares bordéis, onde freiras e abadessas recebiam os seus amantes, na maioria padres, aí tinham os filhos e os criavam, como no célebre convento do Lorvão, nas proximidades de Coimbra, cuja abadessa ficou na História por ter sido encontrada em alegre ménage à quatre com uma outra freira, o bispo de Coimbra e a sua amante (é o mesmo Alexandre Herculano que nos elucida).
Mas é alguém, que vem de dentro da própria Igreja Católica, que pretende dar uma explicação para isto. É o teólogo e médico psiquiatra alemão Eugene Drewermann - atacado e marginalizado por razões óbvias - que, numa perspectiva psicanalítica, vê os "desvios sexuais do homem da igreja" como resultado da repressão sobre a consciência e a sexualidade humanas; nas suas palavras: «o menosprezo do ego, a "mortificação" da pulsão sexual e a submissão do indivíduo ao grupo (isto é, hierarquia da Igreja)» - para a Igreja, a sexualidade humana é ainda considerada como uma "sobrevivência pagã", posição reiterada em 1975 pela Sagrada Congregação da Fé quanto a questões de sexo e de castidade.
O mesmo autor reconhece, fruto da sua experiência de psicoterapeuta, que a percentagem de homossexuais dentro da Igreja católica é grande, como consequência principal da sua moral repressiva e da atitude quanto ao celibato, quer entre religiosos de sexo masculino como do sexo feminino, chegando aos 25% os jovens seminaristas que, de forma permanente ou esporádica, se dedicam a práticas homossexuais. Homossexualidade que era considerada pela Igreja como uma das formas mais graves de pecado, os acusados pelo "crime nefando" eram sentenciados à fogueira pela Santa Inquisição - se fosse agora, muito havia que queimar!
E entre os padres que decidem abandonar o caminho do onanismo (prática muito vulgar entre os eclesiásticos) para se ligar a alguma mulher, confrontam-se as mais das vezes com o problema dos filhos não desejados, sendo, por isso, e segundo aquele teólogo alemão, os abortos coisa frequente. Realidade que entra em frontal contradição com as posições oficiais da Igreja quanto ao aborto, ou melhor dizendo, interrupção voluntária da gravidez, mas, ao que parece, esta proibição é só para os outros.
Contudo, a hipocrisia não fica por aqui. Enquanto que a masturbação - considerada pela Teologia católica como "um acto gravemente oposto à ordem", tal como o álcool, outro refúgio bastante solicitado - funciona como droga para vencer o medo e a insegurança, o "concubinato" é tolerado, desde que o sacerdote em causa não persista ou "não dê escândalo" (cânone 1395 do Direito Canónico), isto é, que não haja conhecimento do "pecado", por outras palavras, que fique pelo segredo do confessionário.
A Igreja Católica (continuamos a citar a obra de Drewermann, Funcionários de Deus) «falsifica a neurose em santidade, a doença em eleição divina e a angústia em confiança em Deus», separando, como realidades opostas, o pensamento da sensibilidade, a actividade intelectual da vivência emocional. Filosofia própria de uma religião que «é inimiga da natureza e oposta ao amor» e que tem como objectivo não a sua libertação, mas a subjugação do homem: a sua destruição como indivíduo livre e senhor do seu destino.
Contrariamente ao que pensam alguns renovadores da Igreja católica, temerosos desta não se saber moldar aos novos tempos e por isso apressar o seu desaparecimento, jamais esta Igreja aceitará as palavras de Jesus (de Kazantzakis) para a sua amante, Maria Madalena: "Eu não sabia, minha bem-amada, que o mundo era tão belo e a carne tão santa... Eu não sabia que a alegria do corpo não era pecado."
"Sexo na sacristia, no altar, nos bancos da igreja, com meninas católicas e inocentes, masturbação no confessionário." É assim, baseado em documentos espontâneos everdadeiros que o autor, ex-padre da Igreja Católica Romana, questiona o celibato e as aberrações que afectam a Igreja e a sociedade.
"A perturbação dos padres, pelo fato de conviverem o tempo todo com a sensualidade de suas ovelhas e não poderem toca-las, nem ao menos olha-las os leva para o caminho invariável do homossexualismo como válvula de escape para suas emoções sexuais reprimidas. Todas essas práticas seriam solucionadas à lua do casamento. Por que não integrar os padres casados no ministério sacerdotal e deixar que a influencia deles com a demonstração da formação de família possa influenciar aos demais, conduzindo-os para a vida natural do homem e da mulher? Seria o momento da igreja repensar a obrigatoriedade do celibato, tornando-o optativo.
O autor descreve a posição dos padres, que durante a confissão dos fiéis se excitam com a narrativa dos pecados, ficam com seus membros eretos e muitos até se masturbam durante o ato sagrado da confissão. Outros padres se servem das freiras, que trabalham como suas secretarias em várias paróquias, todas belas e sensuais, jovens em sua maioria, se entregam com volúpia e lascívia perpetrando o jogo proibido do sexo entre os filhos do Senhor.
Vários são os relatos de padres que sucumbem ao homossexualismo, conquistando suas vítimas dentre as crianças que vão até a igreja para aprenderem os primeiros passos do catecismo. A igreja tornou-se um lugar perigoso para as crianças!
Esses e outros casos escabrosos que assombram a igreja são narrados de modo imparcial e ao final sugere-se que o celibato seja expurgado da Santa Madre Igreja Católica.