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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
A pedofilia é um problema antigo na Igreja Roma. Não acredita? Analise a história dos Papado ao longo de dois mil anos de cristianismo (Entre outras páginas do Shvoong, pode ver: Factos "edificantes" e "piedosos" de alguns Papas http://pt.shvoong.com/humanities/religion-st udies/1972960-factos-edificantes-piedosos-alguns-papas/)... Se hoje emergem escândalos de pedofilia na igreja, não é porque o fenômeno se tenha agravado, mas sim porque as vítimas perderam o medo e saíram do silêncio para denunciarem os abusos. Por paradoxal que pareça, a salvação parte sempre de baixo, das bases.
É graças à coragem das vítimas que se manifesta a falibilidade, real e humana, do infalível pontífice, que teve que pedir perdão, de qualquer modo mas não o bastante, reconhecendo a necessidade de arrepiar caminho. Foi graças às vítimas que muitos bispos, padres e doutores tiveram que inclinar as cabeças e, finalmente demitir-se, para voltar à sua condição humana descendo do pedestal da sacralidade. É graças a eles que a igreja católica, que se crê “indefectível”, mostrou o seu rosto mais real, de realidade defectível, precária e humana.
A pedofilia é um crime, mas a pedofilia dos padres católicos é muito mais perigosa e extremamente gravosa. O “ sagrado”, as pessoas sagradas, lugares e templos sagrados, enquanto tal “separados” tendem a anular a sacralidade da existência normal, excluem a sacralidade de tudo e, assim, tornam-se fonte de confronto e violência.
Os episódios de pedofilia que, pouco a pouco, vão-se manifestando por todo o mundo, evidenciam contradições estruturais da instituição Igreja. É claro que cada pedófilo deve responder individualmente perante as vítimas e perante a justiça, mas a responsabilidade individual não absolve a responsabilidade da instituição.
Bento XVI e grande parte dos bispos falam de tolerância zero para com os padres pedófilos, curiosamente utilizando uma linguagem de extrema direita, mas ignoram a procura das raízes do fenômeno na estrutura da própria instituição eclesial. Tinha que ser aí mesmo, na estrutura do sagrado, que se deveria aplicar a tolerância zero. É por demais conhecida a relação estreita entre sexo e poder. Já para os gregos e romanos o falo era símbolo do poder. Na Roma antiga, as dimensões e a forma do pénis não raramente favoreciam a carreira militar e política. Tudo o que se ergue aprece ter uma referência fálica. Obeliscos, campanários, torres, o báculo, a pastoral, a mitra episcopal, que coisa são se não símbolos fálicos?! Não é por acaso que na igreja romana o poder é reservado ao sexo masculino e negado em absoluto às mulheres.
A pedofilia é interna a esta relação entre sexo e poder. Quem procura crianças para satisfazer o seu apetite sexual, fá-lo para exprimir a própria sede de domínio para com uma criatura mais frágil. É esta sede de domínio a raiz mais profunda da pedofilia. É esta sede de domínio que deveria ser extirpada da estrutura do sagrado.
E que dizer das lavagens cerebrais feitas nas homilías e nas catequeses ou nas aulas de moral onde se procura incutir nos fiéis o sentimento de culpa e de pecado. Como uma mãe possessiva a Igreja parece querer manter os seus fiéis numa perene condição infantil. Não querendo ser mal interpretado, vem a vontade de chamar a tudo isso “pedofilia estrutural” da Igreja que endoutrina homens e mulheres de forma acrítica de modo a permanecerem perenemente crianças. E a sacralização do poder eclesiástico, a teologia e a pastoral do desprezo do corpo, do sexo e do prazer, a condenação das relações entre sexos que não seja consagrada pelo sacramento do matrimónio, não pertence tudo isso ao domínio da violência?
É hora de criar-se um movimento em grande escala para restituir ao cristianismo o sentido da libertação do sagrado, enquanto realidade separada, libertação não apenas de opressões econômicas e políticas, mas também psicológicas, ético-morais, simbólicas. Talvez a pedofilia não desapareça de vez, mas sem dúvida sofrerá um golpe profundo e não apenas os padres pedófilos.