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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
É freqüentemente dito, principalmente pelos “Não-tem-nada-a-ver”, que embora não haja nenhuma evidência positiva para a existência de Deus, não há evidência contra a sua existência. Assim, é melhor manter uma mente aberta e ser agnóstico.
À primeira vista, essa parece uma posição inexpugnável, ao menos no sentido fraco da Aposta de Pascal. Mas pensando um pouco mais, se revela uma tirada de corpo, porque o mesmo poderia ser dito de Papai Noel e da Fadinha do Dente. Pode haver duendes nos pontos recônditos do jardim. Não há nenhuma evidência disso, mas você não pode provar que não há algum por lá. Portanto, não deveríamos ser agnósticos com relação aos duendes?
O problema com o argumento agnóstico é que pode ser aplicado a qualquer coisa. Há um número infinito de crenças hipotéticas que poderíamos ter, as quais não poderíamos positivamente refutar. De um modo geral, não acreditamos na maioria delas, tais como duendes, unicórnios, dragões, Papai Noel, e assim por diante. Mas de um modo geral, as pessoas acreditam em um Deus criador, junto com o que quer que esteja incluído na religião particular de seus pais.
Suspeito que a razão disso é que a maioria das pessoas, mesmo não pertencendo ao partido do “sabe-nada”, não obstante, tem um resíduo de sentimento que o darwinismo não seja abrangente o bastante para explicar tudo sobre a vida. Tudo que posso dizer na posição de biólogo é que o sentimento desaparece progressivamente, quanto mais se lê e estuda sobre o que se sabe sobre a vida e a evolução.
Mais uma coisa. Quanto mais se compreende a importância da evolução, mais se é empurrado da posição de agnóstico para a do ateísmo. Coisas complexas e estatisticamente improváveis são, por sua própria natureza, mais difíceis de explicar do que as simples e estatisticamente prováveis.
A grande beleza da teoria da evolução de Darwin é que explica como coisas complexas e difíceis de compreender poderiam ter emergido passo a passo, de um modo plausível, de origens simples e fáceis de compreender. Iniciamos nossa explicação de coisas quase infinitamente simples: hidrogênio puro e uma quantidade enorme de energia. Nossas explicações científicas, darwinistas, levam-nos através de uma série de etapas graduais e bem-compreendidas rumo a toda a beleza e complexidade espetacular da vida.
A hipótese alternativa, que tudo começou com um ato de criação sobrenatural, não é tão somente supérflua, mas também altamente improvável. Ela cai em contradição com o próprio argumento que foi usado para defendê-la. Isto porque todo Deus digno do nome deve ter sido um ser de inteligência colossal, uma supermente, uma entidade de probabilidade extremamente baixa – um ser muito improvável certamente.
Mesmo se a postulação de tal entidade nos explicasse qualquer coisa (e ela é totalmente desnecessária), isso ainda não nos ajudaria, pois cria um mistério ainda maior do que o que ela procura resolver.
A ciência oferece-nos uma explicação de como a complexidade (o difícil) emergiu da simplicidade (o fácil). A hipótese de Deus não oferece nenhuma explanação de qualquer coisa que valha a pena, porque postula simplesmente o que estamos tentando explicar. Postula o difícil de explicar, e deixa-o assim. Não podemos provar que Deus não existe, mas podemos com segurança concluir que Ele é muito, muito improvável, mesmo.
(Richard Dawkins - "Os Tipos Religiosos")
Há somente uma semelhança totalmente trivial entre as concepções sofisticadas da física moderna e os mitos da criação dos babilônios e dos judeus que herdamos.
O que os “Não-tem-nada-a-ver” têm a dizer sobre as partes da escritura e dos ensinamentos religiosos que outrora seriam considerados verdades religiosas e científicas inquestionáveis; a criação do mundo, da vida, os vários milagres do Velho e Novo Testamento, sobrevivência após a morte, a Virgem dar à luz? Estas histórias tornaram-se, nas mãos dos “Não-tem-nada-a-ver”, pouco mais do que fábulas morais, equivalentes aos contos de Esopo de Hans Anderson. Não há nada de errado nisso, mas é irritante que quase nunca admitam que é isto que estão fazendo.
Por exemplo, ouvi recentemente o ex-Rabino Principal, Sir Immanuel Jacobovits, falando sobre os males do racismo. O racismo é nocivo e, portanto, merece um argumento contrário melhor que o que ele deu. Adão e Eva, argumentou ele, foram os antepassados de toda a raça humana. Conseqüentemente, toda a humanidade pertence a uma raça, a humana.
O que dizer de um argumento como esse? O Rabino Principal é um homem letrado, obviamente não acredita em Adão e Eva. Portanto, o que ele pensou exatamente que estava dizendo?
Ele deve ter usado Adão e Eva como uma fábula, da mesma forma que alguém pode usar a história de Jack o Matador de Gigantes ou da Cinderela para ilustrar algum louvável exemplo de moralidade.
Tenho a impressão que os lideres religiosos estão tão habituados a tratar as histórias bíblicas como fábulas que se esqueceram da diferença entre fato e ficção. É como os que, quando alguém morre no The Archers, escrevem cartas de condolências umas às outras.
(Richard Dawkins - "Os Tipos Religiosos")
Religiosos dividem-se em três grupos principais quando confrontados com a ciência. Vou agrupá-los em os “sabe-nada”, os “sabe-tudo” e os “não-tem-nada-a-ver”. Suspeito que esse Dr. John Habgood, o Arcebispo de Nova Iorque, pertence provavelmente ao terceiro desses grupos, portanto começarei por ele.
Os “Não-tem-nada-a-ver” já se conformaram com o fato de que a religião não pode competir com a ciência em seu próprio terreno. Pensam que não há nenhuma disputa entre a ciência e a religião, porque simplesmente tratam de coisas diferentes. O relato bíblico da origem do universo (a origem da vida e do homem, a diversidade das espécies, etc.) – todas essas coisas, já se sabe, são inverdades.
Os “Não-tem-nada-a-ver” não se incomodam com isto: consideram esse relato extremamente ingênuo, sendo quase de mau gosto perguntar sobre uma história bíblica: “é verdadeira mesmo?”. Respondem: “Verdadeira, verdadeira? Claro que não. Pelo menos no sentido tosco e literal. A ciência e a religião não estão disputando o mesmo território. Tratam de coisas diferentes. São igualmente verdadeiras, mas cada uma a seu modo.”
Uma frase favorita e completamente sem sentido é “alçada religiosa”. Você depara-se com ela em declarações tais como “a ciência explica esse fato muito bem, mas esse outro é da alçada religiosa.”
Os “sabe-nada”, ou os fundamentalistas, de certa maneira são mais honestos. São fiéis à história.
Reconhecem que até recentemente uma das principais funções das religiões era científica: a explicação da existência, do universo, da vida. Historicamente, a maioria das religiões sempre foi cosmológica e biológica. Suspeito que hoje, se você pedisse que alguém justificasse sua crença em Deus, a razão predominante seria científica. A maioria, penso eu, acredita que é necessário um Deus para explicar a existência do mundo, particularmente da vida. Estão errados, é claro, mas nosso sistema de instrução é tal que muitos não sabem.
São também fiéis à historia porque não se pode escapar das implicações científicas da religião. Um universo com um Deus seria completamente diferente de um sem. Uma física, uma biologia onde haja um Deus é obrigada a parecer diferente. Assim, as afirmações mais básicas da religião são científicas. A religião é uma teoria científica.
Sou acusado às vezes de intolerância arrogante em meu tratamento dos criacionistas. Naturalmente, a arrogância é uma característica desagradável, e eu deveria odiar ser visto como arrogante de uma maneira geral. Mas a paciência tem limites! Para se ter uma idéia de como é ser um estudante profissional de evolução, chamado a ter um debate sério com criacionistas, a seguinte comparação é justa: imagine-se como um erudito que passou toda sua vida estudando a historia romana em todo seu rico detalhe; de repente, alguém aparece, formado em engenharia marítima ou no estudo da música medieval, e se põe a argumentar que o Império Romano nunca existiu. Você não acharia duro suprimir sua impaciência? E isso não se pareceria um pouco com arrogância?
Meu terceiro grupo, os “sabe-tudo” (eu indelicadamente chamo-os assim por causa da sua posição condescendente), pensam que a religião é boa para as pessoas, e talvez até mesmo para a sociedade. Talvez boa porque os consola na morte ou aflição, talvez porque forneça um código moral.
Não importa se a crença religiosa é ou não verdadeira. Talvez não haja um Deus; nós, os instruídos, sabemos que não existe quase nenhuma evidência para tal, sem falar em idéias tais como a Virgem dar à luz ou a Ressurreição. Mas a massa sem educação precisa de um Deus para mantê-la fora do crime ou confortá-la na aflição. O fato de Deus provavelmente não existir pode ser deixado de lado no interesse de um bem social maior. Não preciso dizer mais nada sobre os “sabe-tudo”, porque nunca declarariam ter qualquer coisa para contribuir à verdade científica.
(Richard Dawkins - "Os Tipos Religiosos")