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Padres gays, orgias e filhos clandestinos são parte da rotina do Vaticano, descreve jornalista italiano em livro

"Os dois acompanhantes lhe homenageiam, espremendo-o no meio, em um sanduíche. Envolvem-no em uma dança muito sensual. Esfregam-se, rodeiam, esmagam-se, abrem a sua camisa, o acariciam, tocam nele. Dirty dancing a três em uma variação homossexual. O grupo olha para eles de cima a baixo. Apreciam. Aplaudem. Incitam. Assobiam. Cutucam. O francês [no meio dos acompanhantes] é um padre. Poucos dias antes havia celebrado a missa da manhã na basílica de São Pedro. No Vaticano."
A cena é de uma festa em Roma, uma entre as muitas nas qual padres, bispos e cardeais exercem a sexualidade que as regras da sua própria Igreja Católica restringem e condenam, de acordo com a descrição feita pelo jornalista italiano Carmelo Abbate em seu novo livro, "Sex and the Vatican -  viaggio segreto nel regno dei casti" (em tradução livre, "Sexo e o Vaticano - viagem secreta no reino dos castos").
O fenômeno da sexualidade na Igreja Católica, segundo o autor, é gigantesco e complexo. Fazem parte deste mundo os padres gays que optam por uma vida dupla; os sacerdotes que se relacionam com mulheres clandestinamente; e mesmo os filhos desses relacionamentos, que são abortados, escondidos ou privados de um pai pela vida inteira, para que se evite escândalos.
“Entre os sacerdotes que não respeitam a castidade, há muitos que têm uma verdadeira vida paralela, uma companhia fixa com a qual não apenas fazem sexo, mas com quem vivem uma vida escondida, como marido e mulher", afirmou Abbate, em uma entrevista exclusiva ao UOL Notícias.
O jornalista conta que a investigação, nascida de uma reportagem publicada na revista italiana "Panorama", terminou como um extenso mergulho nesse mundo, munido de uma câmera escondida para garantir "provas sobre aquilo que iria contar".
E apesar de ter seu foco em Roma, Abbate garante que o cenário que ele descreve não está restrito ao núcleo do Vaticano. "Da Alemanha à França, da Espanha à Irlanda, da Suíça à Áustria, da Polônia à África, da América Latina aos Estados Unidos e ao Canadá. Acontece a mesma coisa em toda parte do mundo", afirma.
Procurada pela reportagem, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) disse que não tinha conhecimento do livro e por isso não poderia comentar os temas citados.

Acompanhe os principais trechos da entrevista.

UOL Notícias: Em seu livro, o senhor denuncia vários casos de padres que têm uma vida religiosa tradicional ao mesmo tempo em que também exercem sua sexualidade. Como o senhor fez a investigação para chegar a essas histórias? Qual era o seu objetivo em publicar o livro?
Carmelo Abbate: Realizei a reportagem com uma câmera escondida, isso com o objetivo de ter provas sobre aquilo que iria contar. O objetivo do meu trabalho é trazer à tona a vida escondida de grande parte do clero católico, como padres que têm uma vida sexual secreta, tanto homossexuais quanto heterossexuais. Há padres que têm uma companhia fixa e até mesmo filhos.
E me choca especialmente a atitude da alta hierarquia eclesiástica, o comportamento dos bispos, quando tomam conhecimento das relações secretas dos religiosos, as tentativas de convencer as mulheres a abortarem, dar o filho para adoção, os contratos que garantem o sustento e compram o silêncio das mães com relação à identidade dos pais destas crianças.
UOL Notícias: O senhor diz que o Vaticano conhece a questão dos padres gays e mesmo dos abortos. Quais são as verdadeiras dimensões do fenômeno?
Abbate: Coletar dados para dimensionar o fenômeno é uma tarefa difícil. Difícil porque, como é óbvio, não há estudos e tabelas oficiais, é preciso se contentar com estimativas parciais, que não têm a pretensão de trazer a verdade científica, mas que podem ajudar a entender quão grande é o terreno sobre o qual caminhamos.
As tentativas mais articuladas vêm dos Estados Unidos. Segundo vários estudos do psiquiatra Richard Sipe, ex-monge beneditino e ex-sacerdote, 25% dos padres americanos tiveram relações com mulheres depois da ordenação. Outros 20% estiveram envolvidos em relações homossexuais ou se identificam como homossexuais ou se sentiram em conflito com essa questão.
No Brasil, o Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) realizou uma pesquisa anônima com 758 padres católicos: 41% admitiram ter tido relações sexuais. Metade se diz contrária ao celibato.
Vamos à Europa. Eugene Drewermann, escritor, crítico, teólogo e ex-padre, afirma que na Alemanha, em um total de 18 mil sacerdotes, pelo menos seis mil vivem com uma mulher.
O jornal “The Guardian” fala de milhares de casos de filhos de padres católicos no Reino Unido. Segundo Pat Buckley, bispo irlandês que fundou um grupo de apoio para amantes de padres, pelo menos 500 mulheres na Irlanda têm uma relação com um padre católico.
E na Itália? Nada de nada. Ninguém nunca tentou esboçar qualquer levantamento. E tente entrar em contato com os psiquiatras que acompanham os casos mais difíceis de padres envolvidos em affaires sexuais. Evitam você como se fosse a peste.
UOL Notícias: Então seria possível afirmar que este é um fenômeno presente no mundo inteiro?
Abbate: Da Alemanha à França, da Espanha à Irlanda, da Suíça à Áustria, da Polônia à África, da América Latina aos Estados Unidos e ao Canadá. Acontece a mesma coisa em toda parte do mundo, não só em Roma e nas vizinhanças do Vaticano.
UOL Notícias: O seu livro conta de padres que procuram espaços para expressar a sexualidade, seja em bares, seja na internet, com perfis secretos no Facebook nos quais assumem a homossexualidade, mas que ao mesmo tempo não desejam abandonar a vida religiosa. Depois de tudo que o senhor conheceu, como vê exigência do celibato?
Abbate: O celibato não funciona, é óbvio. Nunca funcionou. O sexo é onipresente. Estão envolvidos nesses casos não só padres, mas bispos e cardeais. A cultura do sigilo que permeia a Igreja existe há milênios, ditada pelos eclesiásticos. Os eclesiásticos são um círculo restrito que controla toda a igreja e detém todo o poder, e o poder exige um nível de sigilo. O resto do mundo que fique na ignorância.
UOL Notícias: O Vaticano nega os casos? Como reage a Igreja?
Abbate: Para o Vaticano, o centro do problema é o escândalo, não o pecado individual. Porque o escândalo vai além da questão individual e alcança a instituição, alimenta uma série de dúvidas fortes sobre quem é envolvido. O escândalo coloca o problema de uma Igreja que mantém a seu serviço aqueles que não cumprem com sua missão universal, aqueles que traem essa missão. Em resumo, o escândalo afugenta os fiéis da Igreja.
Durante o tempo em que estive envolvido com essa questão, entendi uma coisa: a Igreja não quer problemas. O respeito aos pobres fiéis ingênuos, salvo raríssimas exceções, é fator secundário. Muito diligente nas declarações de princípio, muito hipócrita nas questões práticas: esta é hierarquia vaticana. Esta é a Igreja de Roma. Seu primeiro mandamento é salvaguardar sua espécie, uma espécie a caminho da extinção.
 
Uma pesquisa com câmera escondida, seguida por testes rigorosos e controles cuidadosos. Durante 20 dias Carmelo Abbate, jornalista da revista Panorama, acompanhado por um "cúmplice" gay, se infiltrou nas noites quentes de alguns padres que, em Roma, levam uma vida dupla incrível: de dia são sacerdotes em trajes clericais, e à noite, tirando a batina, são homens perfeitamente integrados nos ambientes homossexuais da capital. Daqui emergiu uma investigação sobre o campo que permitiu descobrir um realidade inédita e deveras inquietante: sacerdotes que participam de festas noturnas com os homens escort; que têm relações homossexuais com parceiros casuais; que frequentar clubes de bate-papo e encontros gay.
 Neste texto a seguir, o autor descreve como Michele, um italiano gay de 25 anos, conhece um padre francês em uma sauna de Roma. (Tradução livre do original)

Michele passa. Olha. Eles se olham. Depois volta. Passa de novo. A mão agarra na toalha e o puxa para dentro de uma cabine.
Beijam-se, tocam-se, amam-se. Não é um encontro de sexo casual como de costume. Tudo é muito suave, tranquilo, educado, leve. Belo. Alcançado o orgasmo, a mão se esgueira até Michele. Aconchega-se ao seu lado, o abraça, em silêncio. Cochilam.
O despertar não é desconfortável. Apresentam-se, a mão quer saber o que Michele faz da vida, onde mora, quantos anos tem.
- "E você, de onde é?", diz Michele.
- "Sou francês", diz a mão.
- "E o que faz em Roma?", diz Michele.
- "Estudo teologia", diz a mão.
- "Ah, vá!", diz Michele.
- "Sim", diz a mão.
- "Legal", diz Michele.
- "Mas você entendeu?", diz a mão.
- "Claro", diz Michele.
- "Se quer me fazer uma pergunta, pode fazer", diz a mão.
- "Você é um padre?", diz Michele.
- "Sim", diz a mão. 
(...)
Michele pergunta como pode um padre não conseguir seguir o ensinamento da Igreja. Como pode não ser coerente com as coisas que prega no púlpito. Não julga. Pergunta. A mão não se esquiva. Responde. Quer ser compreendido. Fala da beleza e da grandeza do Senhor, da importância do credo. E de como um padre é antes de tudo um homem, e só depois um padre.
(Thiago Chaves-Scarelli)


Como é que o lóbi 'gay' conseguiu infiltra-se nos muros do Vaticano? Como é que a Igreja católica romana ficou refém do lóbi 'gay'? Talvez a resposta esteja no relato do livro de Carmelo Abbate.

publicado às 17:00


Mulheres que se apaixonam por padres

por Thynus, em 16.06.13

 

Mulheres que engravidam de padres e recebem dinheiro para abortar ou encaminhar o filho para adoção. Um jornalista italiano investigou meses o assunto e traz revelações.

 Uma mulher infeliz no casamento abre o coração para alguém bastante confiável. Ele a conforta e os dois criam um laço de amizade que vira ternura, que vira paixão avassaladora. O moço é bastante charmoso e a entende como ninguém. Os encontros se tornam mais e mais frequentes até que ela deixa o marido e acaba engravidando do novo namorado, que pede: “Aborte ou dê a criança para adoção”. Mas a moça não concorda – aliás, sente que o mundo acaba de se abrir sob seus pés. Logo a campainha da casa dela toca. É o superior do rapaz com um envelope em uma das mãos e um contrato na outra. São 50 mil dólares em troca de silêncio. Nunca, em hipótese alguma, ela poderá revelar o nome do pai de seu filho, um padre.
Casos como esse não são incomuns na Igreja, garante Carmelo Abbate, jornalista italiano que lançou em alguns países da Europa e no Canadá o polêmico livro Sex and the Vatican – Viaggio Segreto nel Regno dei Casti (Sexo e o Vaticano – viagem secreta pelo reino dos castos), ainda sem tradução no Brasil. Católico, Abbate fez a reportagem “As noites selvagens dos padres gays” para a revista semanal italiana Panorama, em que fala sobre homens de batina que organizam orgias homossexuais, mantêm famílias fora do Vaticano ou simplesmente engatam romances com jovens sonhadoras e esposas insatisfeitas. Intrigado com o que encontrou, decidiu continuar a investigar o assunto munido de uma câmera escondida, mergulhando em uma investigação que durou meses. Casos de pedofilia e de padres que exercem livremente a sexualidade não são novidade – continuam como feridas expostas da religião. Mas outro dado desconcertante lança mais lenha na fogueira santa: quem são essas mulheres que, em pleno século 21, aceitam viver como criminosas, reféns do amor por um homem ou do medo pela integridade do bebê? Abbate ouviu o relato de várias e também dos “filhos do pecado”, como são chamadas as crianças nascidas desses relacionamentos, que mais parecem ficção.
“Muitas tentam colocar um ponto final no relacionamento, mas têm recaídas. Quando o padre bate à porta no meio da noite, acham difícil resistir”

Amor proibido: mulheres que se apaixonam por padres

 O que leva um católico praticante a expor os podres da própria crença?
Justamente por ser católico, não posso viver como se não fosse, fingindo que os podres não existem. Algumas das coisas que conto no livro me machucam antes de mais nada, mas me lembram também que nunca devemos deixar de lutar por aquilo em que acreditamos. Além disso, sou um repórter. É meu trabalho fazer investigações desse tipo, sejam elas dolorosas ou não.
Por que uma mulher começa a se relacionar com um homem que fez voto de castidade?
Elas se apaixonam de verdade. São jovens que frequentam a igreja local e ficam fascinadas pela figura do padre, geralmente um homem solitário e carente de afeição e de um corpo para amar. Muitas vezes, essas mulheres são casadas e até têm filhos, mas estão infelizes no relacionamento. Elas procuram os homens da Santa Sé em busca de conforto e acabam encontrando alguém que sente o que elas sentem, que as entende como ninguém. Começa então uma vida em segredo, feita de encontros furtivos, promessas e mentiras. Muitas tentam colocar um ponto final no relacionamento, mas têm recaídas. Quando o padre bate à porta no meio da noite, acham difícil resistir. O sentimento é complexo, porque acabam vivendo um misto de paixão intensa e culpa enorme. No fundo, acham que são a causa do sofrimento de um homem que é “forçado” a se esconder e manter vida dupla.
Quando engravidam, recebem de alguém a orientação para que abortem ou encaminhem para adoção?
É comum que os padres, os colegas ou o superior tentem convencê-las a tirar a criança ou encaminhar para adoção. São acompanhadas por enviados da Igreja a clínicas de aborto, mas muitas desistem no último momento. Então, costumam receber ofertas em dinheiro para que os “filhos do pecado” cresçam em silêncio.
E se elas não concordam?
Em geral, não recebem nenhum tipo de intimidação direta. Mas o clero tem um poder de influência extremamente forte na sociedade, especialmente nesses casos em que as vítimas são mulheres que se envolvem em histórias proibidas e saem delas com a autoestima e a autoconfiança devastadas.

Padres podem viver com mulher e filhos

Você se lembra de algum caso mais marcante?
São muitos. A americana Cait Finnegan, que é casada com um ex-padre, fundou no começo dos anos 1980 a ONG Good Tidings (goodtidingsministry.org) para apoiar mulheres nessa situação. Ela já falou com aproximadamente 2 mil e tem cópias dos contratos firmados com a Igreja. Uma das moças, Terri, disse a Cait que, depois do nascimento do filho, o padre alegou estar apaixonado por outra, que “o amava muito mais”. A justificativa: também grávida dele, a mulher não se recusara a dar a criança para a adoção. Outro caso é o de Judy. Ela era professora em Maine, nos Estados Unidos, e tinha 28 anos quando conheceu o reverendo Marcel, oito anos mais velho. Os dois viveram uma história de amor cheia de carinho, atenção e cumplicidade até que ela engravidou e tudo mudou. Marcel a colocou no carro e dirigiu rumo à clínica de aborto em Nova York. No último segundo, Judy decidiu que não faria aquilo. A viagem de volta aconteceu em silêncio absoluto e ela achou que fosse morrer. Dias depois, um colega do padre foi à casa dela levando uma mensagem: “Deixe o estado e dê a criança para adoção. Os custos serão todos pagos pela Igreja”. Outro prelado chegou com 3 mil dólares para pagar as despesas médicas do aborto. Ela recusou todas as ofertas e quando o filho, Christian, hoje com 37 anos, completou 11, recorreu à Justiça e conseguiu ressarcimento financeiro e um valor mensal para ajudar na criação do garoto até que completasse 18 anos.
O que acontece a essas crianças se em algum momento da vida tentam conhecer o pai?
Elas não são assumidas. Por exemplo, Charles, um menino de 3 anos, um dia saiu da escolinha aos prantos: “Mamãe, por que eu tenho de fazer aquelas lembrancinhas chatas de Dia dos Pais se eu nem tenho pai?” A mãe respondeu que tinha, sim, só que ele estava longe. “Vamos ligar!” “Não há telefone lá...” “Então a gente pega um trem.” “Nenhum chega até onde ele mora...” Com o coração apertado, ela ligou para o padre e ouviu que aquilo não era problema dele.
Há padres que vivem com mulher e filhos?
Em países como Alemanha, Áustria e Suíça, muitos padres estão nessa situação porque a sociedade não se sente ofendida – considera normal que mantenham uma família. Na Alemanha, de acordo com uma pesquisa recente, um em cada três. Na Itália, a situação é bem diferente, e as histórias se desenrolam por baixo do pano. Não há dados oficiais. A família dessas mulheres sabe da situação delas? Não, elas mantêm tudo em segredo, para se preservar. São poucas as que tentam transpor o muro do silêncio. Porque a Igreja defende a conduta dos padres, tentando encobrir os escândalos – não se importa com o que acontece com elas nem tenta resolver. Então, o tratamento que recebem é o de amantes do clérigo.
Na sua opinião, um homem consegue abrir mão de sua sexualidade?
Celibato não funciona. É loucura pensar que um ser humano pode suprimir a sexualidade. Só para citar alguns dados, de acordo com estudos do psiquiatra Richard Sipe, ex-padre beneditino, 25% do clero americano teve romances com mulheres depois da ordenação, 30% são gays e outros 20% se envolveram em relacionamentos homossexuais. No Brasil, o Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social (Ceris) conduziu uma pesquisa garantindo o anonimato dos participantes. De 758 padres ouvidos, 41% admitiram ter feito sexo – e metade deles se declarou contra o celibato. O jornal inglês The Guardian fez uma reportagem mencionando a existência de milhares de crianças que são fruto de relacionamentos como esses.

O que significa o abandono do voto de castidade

Por que alguém faz um voto de castidade e depois vai contra a própria escolha? Você acha que a primeira intenção é pura?
A maioria tem boas intenções – o problema é o que acontece depois, desde os tempos do seminário. A mortificação dos desejos pregada dentro da Igreja acaba empurrando muitas dessas pessoas para o lado oposto, o da obsessão sexual.
Acredita que seu trabalho vai mudar alguma coisa?
O processo de mudança vai ser bem lento e difícil porque não existe uma resposta favorável da Igreja. Mas, se os problemas relacionados à sexualidade não forem olhados com a atenção que merecem, a credibilidade da Igreja Católica será destruída para sempre.
Alguma vez pensou em abandonar o catolicismo?
Não. Sou e continuarei sendo católico, mas quero viver em uma Igreja mais transparente, sincera e aberta a todos: gays e lésbicas, separados e divorciados. Sonho com um catolicismo que seja realmente a casa de Deus, onde toda forma de amor seja bem-vinda.

publicado às 02:27

"A maior parte dos crimes sexuais passa-se no seio da família, mas é muito mais fácil acusar o clero", diz ao CM o reitor do Santuário de Nossa Senhora de Fátima (Marie Mediatrie), em Paris, França, padre Nuno Aurélio, sob investigação da Judiciária por abuso sexual de menores, escuteiros de 15 anos, até 2007. 

Nesse ano foi-lhe retirado o cargo de diretor do Secretariado dos Bens Culturais da Igreja, em Lisboa, no Seminário dos Olivais. O sacerdote, de 48 anos, desempenhou as altas funções na capital entre 1999 e 2007, tendo sido enviado para Paris sensivelmente na altura em que D. Jorge Ortiga e D. José Policarpo, respetivamente o antigo e o atual presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, souberam, da parte da Rede de Cuidadores – que é presidida por Álvaro de Carvalho e por Catalina Pestana –, das sete denúncias de abusos sexuais envolvendo a Igreja.
O padre Aurélio é um dos visados – e, a par de outro sacerdote, de 55 anos, hoje colocado no Algarve, mas que foi denunciado por abusos sexuais a mais de dez vítimas nos últimos vinte anos, em paróquias de Lisboa e da região Oeste, são os dois principais na investigação da PJ. Nuno Aurélio é denunciado em pelo menos dois casos de abusos a escuteiros com apenas 15 anos.
Contactado pelo CM em Paris, o padre Nuno Fraga Aurélio admitiu ontem ter conhecimento das suspeitas sobre si, sem se alongar nas respostas: "Isto já não é novo e atualmente não tenho novidades sobre isso. Infelizmente, vivemos num Mundo em que as pessoas gostam de estragar a vida umas das outras e acredito que é isso que querem fazer comigo. Só peço é que me deixem trabalhar em paz, que é o que eu tenho feito até agora."
A PJ de Lisboa continua a ouvir testemunhas e eventuais vítimas deste e de outros padres. 
(Henrique Machado/ Magali Pinto in "Correio da Manhã", 25fev2013)
Curiosa a afirmação do P.e Nuno Aurélio: "A maior parte dos crimes sexuais passa-se no seio da família, mas é muito mais fácil acusar o clero".  Será que este senhor pretende esconder o sol com uma peneira? Ou estará mais preocupado com o seu negócio?
 Esta afirmação faz-me lembrar outra, não menos chocante, do observador permanente junto das agências da ONU, em Genebra, monsenhor Silvano Tomasi, que em Setembro de 2009 disse, palavras textuais, que “apenas entre 1,5% e 5% do clero católico parece ter-se envolvido em casos de abuso de crianças”. Só 5%? Um em vinte? Aplicando um percentual semelhante a toda a população portuguesa, deveríamos concluir que, hoje, em Portugal contaríamos com cerca de meio milhão de pedófilos, que, felizmente, parece um pouco irreal.
É complicado colocar um filho sob os cuidados de um padre, quando se sabe que há 5% de chance de colocá-lo nas mãos de um pedófilo. A igreja tornou-se um lugar perigoso para as crianças.
Tem razão a teóloga inglesa Myra Poole: "É terrível o que estes homens (padres pedófilos) fizeram, mas a responsabilidade é dos bispos e do Papa", que "deviam ir para a prisão com eles", porque este tipo de abusos resulta de "uma cultura aceite pela Igreja"... "A grande tragédia" é que os altos responsáveis "não serão responsabilizados", antecipa. E os padres continuarão a ser "mudados para outras paróquias para continuar com as suas coisas". " É uma situação muito grave.

publicado às 12:50

Quem acompanhou o noticiário dos últimos dias acerca dos escândalos dentro do Vaticano, trazidos ao conhecimento pelos jornais italianos “La Repubblica” e o “La Stampa”, referindo um relatório com trezentas páginas, elaborado por três Cardeais provectos sobre o estado da cúria vaticana deve, naturalmente, ter ficado estarrecido. Posso imaginar nossos irmãos e irmãs piedosos que, fruto de um tipo de catequese exaltatória do Papa como “o doce Cristo na Terra” devam estar sofrendo muito, pois amam o justo, o verdadeiro e o transparente e jamais quereriam ligar sua figura a notórios malfeitos de seus assistentes e cooperadores.
         O conteúdo gravíssimo destes relatórios reforçaram, no meu entender, a vontade do Papa de renunciar. Ai se comprovava uma atmosfera de promiscuidade, de luta de poder entre “monsignori”, de uma rede de homossexualismo gay dentro do Vaticano e desvio de dinheiro do Banco do Vaticano. Como se não bastassem os crimes de pedofilia em tantas dioceses que desmoralizaram profundamente a instituição-Igreja.
         Quem conhece um pouco a história da Igreja – e nós profissionais da área temos  que estuda-la detalhadamente- não se escandaliza. Houve épocas de verdadeiro descalabro do Pontificado com Papas adúlteros, assassinos e vendilhões. A partir do Papa Formoso (891-896) até o Papa Silvestre (999-1003) se instaurou segundo o grande historiador Card. Barônio a “era pornocrática” da alta hierarquia da Igreja. Poucos Papas escapavam de serem depostos ou assassinados. Sergio III (904-911) assassinou seus dois predecessores, o Papa Cristóvão e Leão V.
         A grande reviravolta na Igreja como um todo, aconteceu, com consequências para toda a história ulterior, com o Papa Gregório VII em 1077. Para defender seus direitos e a liberdade da instituição-Igreja contra reis e príncipes que a manipulavam, publicou um documento que leva este significativo título “Dictatus Papae” que literalmente traduzido significa “a Ditadura do Papa”. Por este documento, ele assumia todos os poderes, podendo julgar a todos sem ser julgado por ninguém. O grande historiador das idéias eclesiológicas Jean-Yves Congar, dominicano, considera a maior revolução acontecida na Igreja. De uma Igreja-comunidade passou a ser uma instituição-sociedade monárquica e absolutista, organizada de forma piramidal e que vem até os dias atuais
         Efetivamente, o cânon 331 do atual Direito Canônico se liga a esta compreensão, atribuindo ao Papa poderes que, na verdade, não caberiam a nenhum mortal, senão somente a Deus: ”Em virtude de seu ofício, o Papa tem o poder ordinário, supremo, pleno, imediato, universal” e em alguns casos precisos, “infalível”.
         Esse eminente teólogo, tomando a minha defesa face ao processo doutrinário movido pelo Card. Joseph Ratzinger em razão do livro “Igreja:carisma e poder” escreveu um artigo no “La Croix”(8/9/1984) sobre o “O carisma do poder central”. Ai escreve:”O carisma do poder central é não ter nenhuma dúvida. Ora, não ter nenhuma dúvida sobre si mesmo é, a um tempo, magnífico e terrível. É magnífico porque o carisma do centro consiste precisamente em permanecer firme quando tudo ao redor vacila. E é terrível porque em Roma estão homens que tem limites, limites em sua inteligência, limites em seu vocabulário, limites em suas referencias, limites no seu ângulo de visão”. E eu acrescentaria ainda limites em sua ética e moral.
         Sempre se diz que a Igreja é “santa e pecadora” e deve ser “sempre reformada”. Mas não é o que ocorreu durante séculos nem após o explícito desejo do Concílio Vaticano II e do atual Papa Bento XVI. A instituição mais velha do Ocidente incorporou privilégios, hábitos, costumes políticos palacianos e principescos, de resistência e de oposição que praticamente impediu ou distorceu todas as tentativas de reforma.
         Só que desta vez se chegou a um ponto de altíssima desmoralização, com práticas até criminosa que não podem mais ser negadas e que demandam mudanças fundamentais no aparelho de governo da Igreja. Caso contrário, este tipo de institucionalidade tristemente envelhecida e crepuscular definhará até entrar em ocaso. Os atuais escândalos sempre houveram na cúria vaticana apenas que não havia um providencial Vatileaks para  trazê-los a público e indignar o Papa e a maioria dos cristãos.
         Meu sentimento do mundo me diz que  estas perversidades no espaço do sagrado e no centro de referencia para toda a cristandade – o Papado – (onde deveria primar a virtude e até a santidade) são consequência desta centralização absolutista do poder papal.  Ele faz de todos vassalos, submissos  e ávidos por estarem fisicamente perto do portador do supremo poder, o Papa. Um poder absoluto, por sua natureza, limita e até nega a liberdade dos outros, favorece a criação de grupos de anti-poder, capelinhas de burocratas do sagrado contra outras, pratica  largamente a simonía que é compra e venda de vantagens, promove  adulações e destrói os mecanismos da transparência. No fundo, todos desconfiam de todos. E cada qual procura a satisfação pessoal da forma que melhor pode. Por isso, sempre foi problemática a observância do celibato dentro da cúria vaticana, como se está revelando agora com a existência de uma verdadeira rede de prostituição gay.
         Enquanto esse poder não se descentralizar e  não outorgar mais participação de todos os estratos do povo de Deus, homens e mulheres, na condução dos caminhos da Igreja o tumor causador desta enfermidade perdurará. Diz-se que Bento XVI passará a todos os Cardeais o referido relatório para cada um saber que problemas irá enfrentar caso seja eleito Papa. E a urgência que terá de introduzir radicais transformações. Desde o tempo da Reforma que se ouve o grito: ”reforma na Cabeça e nos membros”. Porque nunca aconteceu, surgiu  a Reforma como gesto desesperado dos reformadores de fazerem por própria conta tal empreendimento.
         Para ilustração dos cristãos e dos interessados em assuntos eclesiásticos, voltemos à questão dos escândalos. A intenção é desdramatizá-los, permitir que se tenha uma noção menos idealista e, por vezes, idolátrica da hierarquia e da figura do Papa e libertar a liberdade para a qual Cristo nos chamou (Galatas 5,1). Nisso não vai nenhum gosto pelo Negativo nem vontade de acrescentar desmoralização sobre desmoralização. O cristão tem que ser adulto, não pode se deixar infantilizar nem permitir que lhe neguem conhecimentos em teologia e em história para dar-se conta de quão humana e demasiadamente humana pode ser a instituição que nos vem dos Apóstolos.
         Há uma longa tradição teológica que se refere à Igreja como casta meretriz,  tema abordado detalhadamente por um grande teólogo, amigo do atual Papa, Hans Urs von Balthasar (ver em Sponsa Verbi,  Einsiedeln 1971, 203-305). Em várias ocasiões o teólogo J. Ratzinger se reportou a esta denominação.
A Igreja é uma meretriz que toda noite se entrega à prostituição; é casta  porque Cristo, cada manhã se compadece dela, a lava e a ama.
          O  habitus meretrius da instituição, o vício do meretrício, foi duramente criticado pelos Santos Padres da Igreja como Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo e outros. São Pedro Damião chega a chamar o referido Gregório VII de “Santo Satanás” (D. Romag, Compêndio da história da Igreja, vol 2, Petrópolis 1950,p.112). Essa denominação dura nos remete àquela de Cristo dirigida a Pedro. Por causa de sua profissão de fé o chama “de pedra”mas por causa de sua pouca fé e de não entender os desígnios de Deus o qualificou de “Satanás”(Evangelho de Mateus 16,23). São Paulo parece um moderno falando quando diz a seus opositores com fúria: ”oxalá sejam castrados todos os que vos perturbam”(Gálatas 5.12).
         Há portanto, lugar para a profecia na Igreja e para a denúncias dos malfeitos que podem ocorrer no meio eclesiástico e também no meio dos fiéis.
         Vou referir outro exemplo tirado de um santo querido da maioria dos católicos brasileiros, por sua candura e bondade: Santo Antônio de Pádua. Em seus sermões, famosos na época, não se mostra  nada doce e gentil. Fez vigorosa crítica aos prelados devassos de seu tempo. Diz ele: “os bispos são cachorros sem nenhuma vergonha, porque sua frente tem cara de meretriz e por isso mesmo não querem criar vergonha”(uso a edição crítica em latim publicada em Lisboa em 2 vol em 1895). Isto foi proferido no sermão do quarto domingo depois de Pentecostes ( p. 278). De outra vez,  chama os prelados de “macacos no telhado, presidindo dai o povo de Deus”(op cit  p. 348).  E continua:” o bispo da Igreja é um escravo que pretende reinar, príncipe iniquo, leão que ruge, urso faminto de rapina que espolia o povo pobre”(p.348). Por fim na festa de São Pedro ergue a voz e denuncia:”Veja que Cristo disse três vezes: apascenta e nenhuma vez tosquia e ordenha… Ai daquele que não apascenta nenhuma vez e tosquia e ordena três ou mais vezes…ele é um dragão ao lado da arca do Senhor que não possui mais que aparência e não a verdade”(vol. 2, 918).
         O teólogo Joseph Ratzinger explica o sentido deste tipo de denúncias proféticas:” O sentido da profecia reside, na verdade, menos em algumas predições do que no protesto profético: protesto contra a auto-satisfação das instituições, auto-satisfação que substitui a moral pelo rito e a conversão pelas cerimônias” (Das neue Volk Gottes,  Düsseldorf 1969, p. 250, existe tradução português).
         Ratzinger critica com ênfase a separação que fizemos com referencia à figura de Pedro: antes da Páscoa, o traidor; depois de Pentecostes, o fiel. “Pedro continua vivendo esta tensão do antes e do depois; ele continua sendo as duas coisas: a pedra e o escândalo… Não aconteceu, ao largo de toda a história da Igreja, que o Papa, simultaneamente, foi o sucessor de Pedro, a “pedra” e o “escândalo”(p. 259)?
         Aonde queremos chegar com tudo isso? Queremos chegar ao reconhecimento de que a igreja- instituição de papas, bispos e padres, é feita de homens que podem trair, negar e fazer do poder religioso negócio e instrumento de autosatisfação. Tal reconhecimento é terapêutico, pois nos cura de toda uma ideologia idolátrica ao redor da figura do Papa, tido como praticamente infalível. Isso é visível em setores conservadores e fundamentalista de movimentos católicos leigos e também de grupos  de padres. Em alguns vigora uma verdadeira papolatria que Bento XVI procurou sempre evitar.
         A crise atual da Igreja  provocou a renúncia de um Papa que se deu conta de que não tinha mais o vigor necessário para sanar escândalos de tal gravidade. “Jogou a toalha” com humildade. Que outro mais jovem venha a assuma a tarefa árdua e dura de limpar a corrupção da cúria romana e do universo dos pedófilos, eventualmente puna, deponha e envie alguns mais renitentes para algum convento para fazer penitência e se emendar de vida.
         Só quem ama a Igreja pode fazer-lhe as críticas que lhe fizemos, citando textos de autoridade clássicas do passado. Quem deixou de amar a pessoa um dia amada, se torna indiferente à sua vida e destino. Nós nos interessamos à semelhança do amigo e  de irmão de tribulação Hans Küng, (foi condenado pela ex-Inquisição) talvez um dos teólogos  que mais ama a Igreja e por isso a critica.
         Não queremos que cristãos cultivem este sentimento de  de descaso e de indiferença. Por piores que tenham sido seus erros e equívocos históricos, a instituição-Igreja guarda a memória sagrada de Jesus e a gramática dos evangelhos. Ela prega libertação, sabendo que geralmente são outros que libertam e não ela.
          Mesmo assim vale estar dentro dela, como estavam São Francisco, Dom Helder Câmara, João XXIII e os notáveis teólogos que ajudaram a fazer o Concílio Vaticano II e que antes haviam sido todos condenados pela ex-Inquisição, como De Lubac, Chenu, Congar,  Rahner e outros. Cumpre  ajuda-la a sair deste embaraço, alimentando-nos mais do sonho de Jesus de um Reino de justiça, de paz e de reconciliação com Deu e do seguimento de sua causa e destino do que de simples e justificada indignação que pode cair facilmente no farisaísmo e no moralismo.

Leonardo Boff

publicado às 15:36

Porque há tantos padres pedófilos? Muitos pensam que este é um dos efeitos do celibato forçado, mas se fosse simplesmente isso, deveríamos verificar semelhanças estatísticas em situações similares de castidade obrigatória, que não confirmam esta tese. Além disso, se a condição de celibato tornou-se insustentável para o padre, porque não replicar na normal heterossexualidade adulta normal, mais ou menos clandestina?
Não, o comportamento pedófilo não pode ser explicado apenas pela repressão sexual, mesmo se exagerada e prolongada ao longo dos anos.
Embora a pedofilia seja um crime particularmente hediondo porque afeta as vítimas mais impotentes e indefesas, deve ser dito que ela evidencia um estado de regressão psíquica por parte de quem a pratica.
Um pedófilo não é nunca totalmente adulto, mas tenta, a nível inconsciente, re-evocar simbolicamente a sua própria infância. A falta de maturidade sexual da parte dos padres, marcada pela experiência do seminário, pode ter "fixado" o estado evolutivo psíquico num estádio pré-adolescencial.
Esta interpretação narcisista do comportamento pedófilo dos padres é confirmada pela observação da idade média das vítimas, geralmente entre 8 e 12 anos. Também deve ser notado que em quase todos os casos se trata de pedofilia homossexual, e também este elemento faz-nos compreender como o padre pedófilo tem conflitos pesados a resolver consigo mesmo, com a própria sexualidade, com a sua história e, especialmente, com a sua identidade .
A pedofilia é de qualquer maneira um fenômeno extremamente complexo, e não simplesmente uma expressão de tendências regressivas infantis em adultos (de outra forma os pedófilos seriam milhões!).
Deve ser considerado outro aspecto crucial: a relação sado-masoquista. Mesmo que não haja violência, é inegável que o pedófilo, para subjugar a vítima, se aproveita da sua autoridade como adulto e da sua superioridade física e psicológica.
É também evidente que o propósito do pedófilo não é dar prazer, mas obtê-lo, usando mesmo a própria presa como um brinquedo inofensivo. Portanto, há uma notável componente ideologicamente autoritária na pedofilia. Um autoritarismo que é expresso como uma necessidade de possessão doentia, invencível, de que não se pode escapar.
É muito significativo que, em muitos incidentes relatados nos mídia, se nota que os padres pedófilos geralmente não costumam tomar precauções especiais para esconder o seu comportamento perverso. No seu delírio de omnipotência (também ele de origem infantil) eles preferem confiar no silêncio das suas vítimas ao invés de implementarem os comportamentos desviantes em ambientes protegidos, talvez longe de seu ambiente.
Neste ponto, podemos avançar uma hipótese que talvez possa dar um sentido lógico a tudo o que foi exposto anteriormente, e que poderia, pelo menos em parte, explicar a relação recorrente entre comportamento pedófilo e condição de padre.
Em resumo, foram analisadas as principais componentes da pedofilia e encontramos regressão, autoritarismo, possessão doentia. Que coincidência: trata-se da essência mais íntima da teologia católica!
O catolicismo, entre todas as religiões do mundo, é de facto a única que oferece ao povo o maior número de símbolos infantis: não por acaso a personagem mais proposta, mais reverenciada, mais representada e respeitada é uma mãe. Então, como se faz com as crianças, são constantemente servidas promessas, ameaças, recompensas e punições. Raramente, ou talvez nunca, se fala de responsabilidade pessoal ou de decisões livres, comportamentos que são muito adultos. Os católicos só devem observar, seguir, acreditar, aderir, obedecer, confessar, arrepender-se, etc. Ser acéfalos!
Ainda falando de regressão infantil, note-se que o principal rito católico, bem como o comportamento mais meritório e santo, é um comportamento "oral", que é a Eucaristia. Que os bons cristãos deveriam comungar todos os domingos, lembra, por incrível que pareça, um velho clichê muito comum: "os bons meninos comem a papinha toda!". Mas não só: na liturgia católica insistiu-se, não por acaso, que a hóstia deveria ser recebida na boca das mãos do sacerdote, e não recebida nas mãos pelo comungante. Tal como acontece com uma mãe que alimenta a criança que não sabe ainda segurar na mão a colher.
Poucos notaram que, na época, houve um apelo do Papa João Paulo II sobre este tema, ou seja, o acolhimento da hóstia recebida do sacerdote na boca, uma vez que muitas igrejas estavam sem preconceitos a sofrer um processo de “protestantização” devido a esta formalidade aparentemente trivial, distribuindo a hóstia nas mãos dos fiéis. Mas alguns detalhes não escapam à igreja, porque conhece a sua enorme importância psicológica.
E é de facto assim que a igreja quer que sejam os seus súbditos: impotentes, inconscientes, crianças que se abandonam cegamente nas mãos de uma entidade protetora e reconfortante. Crianças que não podem sequer usar as mãos. Não por acaso, também os pedófilos precisam de sujeitos passivos e inconscientes. Curioso, não é?
O facto é que a criança violentada, vítima de um pedófilo, talvez o padre-pedófilo, é, assim, uma metáfora do católico perfeito: submisso, temeroso, silencioso, confiante de que o que acontece é para seu próprio bem.

O padre pedófilo não deixa de ser padre ("Tu es sacerdos in aeternum"), pelo contrário, talvez manifeste na forma mais eloquente e explícita a ideologia que a sua mente absorveu durante anos e anos, acabando por identificar-se com ela. Vejamos bem: os padres pedófilos, se descobertos, nunca “abandonam” o sacerdócio, ao contrário dos padres que tiveram "triviais" relações com mulheres. Além disso, dificilmente são suspensos das suas celebrações religiosas, no máximo, são transferidos "para evitar o escândalo."

Agora sabemos a razão: a pedofilia manifesta, na verdade, funções e significados profunda e intimamente "católicos", embora o padre pedófilo tenha o papel paradoxal de ser tanto vítima (seja dos seus problemas pessoais, seja de uma ideologia que é objectivamente nociva para o equilíbrio psíquico) como carrasco (porque comete abusos sem se preocupar com os danos indeléveis que causa nos outros).

A dinâmica "padre pedófilo-criança" é, portanto, uma metáfora eficaz para o relacionamento entre a igreja e os seus fiéis, entre a instituição possessiva e autoritária, e os seus seguidores ingênuos e "crianças".

Por outro lado, a igreja, batizando crianças inconscientes e “indoutrinando-as” desde a infância, observando bem, implementa as mesmas técnicas de aliciamento usadas pelos pedófilos, que, de facto, baseiam a sua sedução propriamente sobre o não conhecimento, sobre a não consciência e, finalmente, sobre o sentimento de temor reverencial que a vítima adverte "depois" do "batismo" ocorrido (neste caso, o termo deve ser interpretado com duplo sentido).

Em ambos os casos, estas crianças "vítimas" (seja de pedófilos, seja de igrejas pedófilas) conseguem apenas provar sentimentos de culpa, e não o oportuno e sacrossanto direito à sua integridade física e mental. Como todos os psicoterapeutas sabem muito bem, por experiência profissional, receber uma educação rigidamente católica não deixa menos efeitos adversos na personalidade do que os efeitos dos traumas psicológicos decorrentes do sofrimento de episódios de pedofilia. Antes, talvez os últimos, sendo mais circunscritos, possam ser superados mais facilmente.

Outra analogia simbólica entre pedofilia e catolicismo encontramo-la, nada mais nada menos, na Missa. O que é a Missa? A re-evocação do sacrifício de uma vítima inocente! O ritual do assim chamado “cordeiro” que é sacrificado no altar para “expiação dos nossos pecados."

Portanto, um padre que celebra a Missa, simbolicamente dramatiza (para a teologia católica, mesmo fisicamente) o "sacrifício de uma vítima inocente." Poderíamos dizer que, paradoxalmente, também os pedófilos "sacrificam vítimas inocentes." Isto é muito importante porque é o coração da ideologia católica. Acostumar a própria mente a pensar que sacrificar vítimas inocentes é um ritual sagrado, positivo, expiatório, purificador e do qual deriva o bem, pode certamente confundir o inconsciente, “habituando-o” a idéias subtilmente perversas e sacralizadas.

O padre pedófilo, estuprando crianças, por mais desviante e assustador que possa parecer, não faz outra coisa que “celebrar uma missa”, usando símbolos diferentes, mas evocando significados semelhantes, a saber: a vítima inocente acaba sacrificada. O seu sangue não é prova de violência humana, pelo contrário, ele "lava-nos” e purifica-nos! Além disso, coisas semelhantes aconteciam também em muitos antigos ritos religiosos. Quantos pobres animais foram torturados, mortos e sangrados para que os sacerdotes se iludissem, assim, de lavar a sua consciência e a dos outros!

Podemos assim concluir que o pedófilo, seja padre ou não, é uma pessoa com graves problemas, que de modo irracional, desviante e, sem dúvida, prejudicial para os outros, procura apenas a si mesmo e a sua identidade sexual. No caso em que o pedófilo é um padre, a situação é ainda mais complicada por causa da influência psíquica perniciosa da teologia que foi objeto dos seus estudos, da sua formação e da sua vida.

O silêncio da igreja, e as suas negações usuais da evidência, além disso, impedem a esses padres de serem curados, apoiados por especialistas em psicologia, talvez encaminhados a uma psicoterapia. E, porque não, mais estudados, para prevenir a contínua repetição destes fenómenos.

Obviamente a igreja preferiu manter os padres pedófilos, que continuariam a fazer vítimas inocentes, em vez de correr o risco de confrontar-se com mentes livres.

Só agora, depois de décadas de silêncio cúmplice ou ocultação de provas e após forte pressão (das vítimas ou de seus familiares, da sociedade e dos tribunais civis), a Igreja parece "disposta" a acabar com a omertà e a purgar os padres pedófilos. Mas, uma pergunta, não menos inquietante, paira no ar: o que deve mudar na Igreja para resolver a fundo esta "lixeira" no seu seio? É que não basta “excomungar” os padres pedófilos, também eles "vítimas" do obscurantismo católico.

publicado às 11:01

A respeito da pedofilia na ICAR, o cardeal patriarca de Lisboa afirmou que "o delito de um padre não é um delito da Igreja" numa clara  tentativa de exorcizar um delito que, como tem sido provado nos últimos anos, está profundamente enraizado na cultura da igreja católica romana. ( http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/sociedade/padres-isentos-de-revelar-abusos-com-video )

Os episódios de pedofilia que, pouco a pouco, vão-se manifestando por todo o mundo, evidenciam contradições estruturais da instituição Igreja. É claro que cada pedófilo deve responder individualmente perante as vítimas e perante a justiça, mas a responsabilidade individual não absolve a responsabilidade da instituição.
Bento XVI e grande parte dos bispos falam de tolerância zero para com os padres pedófilos, curiosamente utilizando uma linguagem de extrema direita, mas ignoram a procura das raízes do fenômeno na estrutura da própria instituição eclesial. Tinha que ser aí mesmo, na estrutura do sagrado, que se deveria aplicar a tolerância zero. É por demais conhecida a relação estreita entre sexo e poder. Já para os gregos e romanos o falo era símbolo do poder. Na Roma antiga, as dimensões e a forma do pénis não raramente favoreciam a carreira militar e política. Tudo o que se ergue parece ter uma referência fálica. Obeliscos, campanários, torres, o báculo, a pastoral, a mitra episcopal, que coisa são se não símbolos fálicos?! Não é por acaso que na igreja romana o poder é reservado ao sexo masculino e negado em absoluto às mulheres.
A pedofilia é interna a esta relação entre sexo e poder. Quem procura crianças para satisfazer o seu apetite sexual, fá-lo para exprimir a própria sede de domínio para com uma criatura mais frágil. É esta sede de domínio a raiz mais profunda da pedofilia. É esta sede de domínio que deveria ser extirpada da estrutura do sagrado.
E que dizer das lavagens cerebrais feitas nas homilías e nas catequeses ou nas aulas de moral onde se procura incutir nos fiéis o sentimento de culpa e de pecado. Como uma mãe possessiva a Igreja parece querer manter os seus fiéis numa perene condição infantil. Não querendo ser mal interpretado, vem a vontade de chamar a tudo isso “pedofilia estrutural” da Igreja que endoutrina homens e mulheres de forma acrítica de modo a permanecerem perenemente crianças. E a sacralização do poder eclesiástico, a teologia e a pastoral do desprezo do corpo, do sexo e do prazer, a condenação das relações entre sexos que não seja consagrada pelo sacramento do matrimónio, não pertence tudo isso ao domínio da violência?
É hora de criar-se um movimento em grande escala para restituir ao cristianismo o sentido da libertação do sagrado, enquanto realidade separada, libertação não apenas de opressões econômicas e políticas, mas também psicológicas, ético-morais, simbólicas. Talvez a pedofilia não desapareça de vez, mas sem dúvida sofrerá um golpe profundo e não apenas os padres pedófilos.

publicado às 15:44

Enquanto a Igreja ainda está marcada por numerosos escândalos – dos sexuais aos financeiros - Bento XVI tenta mandar para canto essas questões. Lança acusações ao extremismo secular e ao ateísmo. E fala dos nazistas. Que não eram tão ateus como isso.
Durante a última visita à Grã-Bretanha, o Papa Bento XVI começou a admitir uma certa responsabilidade, ainda que mínima - pelo menos moral - de seu magistério, sobre o silêncio doentio por tantos escândalos a começar com os abusos sexuais de crianças - que tiveram nos últimos anos por protagonistas muitos homens da Igreja. O Papa reconheceu publicamente que a Igreja Católica não agiu "rapidamente" nos casos de abusos. Um primeiro ato de sincero arrependimento e contrição cristã?
Talvez sim, mas provavelmente não. Na verdade, o próprio Ratzinger também tentou mudar o assunto lembrando que os verdadeiros inimigos da Igreja hoje são o secularismo e o ateísmo. Evidentemente, muito mais que certos prelados com o "viciozito" da pedofilia. O Papa falou do "extremismo secular" e, em seguida, para ficar seguro de não falhar o golpe, inscreveu no rol dos “sem Deus” o partido nazista de Adolf Hitler. Um raciocínio que se baseia no seguinte paradoxo trivial: os nazistas eram ateus, ergo os ateus e os leigos são todos nazistas.

"Recebemos novos uniformes e marchamos para Traunstein cantando canções de guerra, talvez para mostrar à população  que o Führer dispunha ainda de soldados jovens e recentemente  treinados..."                                       
(Joseph Ratzinger, La mia vita, edizioni San Paolo, pag.34-35).

 



Pelos vistos o homem anda falho de memória!

publicado às 13:23

Querer reduzir a pedofilia dos padres a simples “pecado” atribuível às tentações de um demônio imaginário, como tantas declarações emanadas pela Igreja parecem indicar, é uma alteração aberrante da realidade. E no passado, postos ao corrente de abusos no confronto de crianças por obra destes “predadores” de batina, os seus superiores hierárquicos tornaram-se responsáveis de uma incrível tolerância que configura o crime de conivência: em muitíssimos casos, limitaram-se a transferir os “pecadores” – na realidade “predadores” – para um novo rebanho que acabou por fornecer outras vítimas a estes lobos travestidos de pastores de almas.
Os sacerdotes têm uma missão espiritual. Pregam a moral cristã. Celebram a inocência. Crêem no juízo de um Deus que vê tudo e que punirá no além os pecadores.

publicado às 13:17

Provavelmente muitos dos que leram as palavras destes dias de um tal monsenhor Scicluna, arquivaram o todo como uma das muitas declarações, focadas neste último período por parte de mais ou menos importantes porta-vozes da igreja, sobre o escândalo pedofilia/igreja.
Pela minha parte apenas algumas breves reflexões. A primeira diz respeito à questão ridícula ínsita a toda a questão céu/inferno, é claro para aqueles que não acreditam. De fato a idéia que um eventual e hipotético (muito hipotético) deus distribua recompensas ou punições, dependendo de que você faça o que ele diz ou não, é uma daquelas coisas que está em desacordo não só com o senso comum e a lógica, mas mesmo com o nível mínimo de racionalidade que todo ser humano deve ter.
Mas o que disse o citado prelado, é um absurdo por outros motivos. Desconheço, de fato – corrijam-me eventualmente- que na Bíblia ou nos Evangelhos sejam indicados diferentes graus de severidade do inferno. Ou se vai ou não se vai. Não é que, se a fazes menos grossa, tens uma sentença mais branda, e, se a fazes mais grossa, terás uma pena mais pesada. Ou será que nós realmente acreditamos que existe uma espécie de 41bis também para o inferno? Era o que faltava!
Outra coisa. O monsenhor pensa realmente que a sua ameaça assusta algum dos padres que se mancharam de tal infâmia? Aqueles que fazem estas coisas não se importam nada, logo à partida, com essa questão céu/ inferno. Ou devemos acreditar que um padre pedófilo pense que possivelmente ainda tem uma chance de ganhar o paraíso? Absolutamente. A realidade é que a igreja, diante da enormidade do escândalo que a envolve não sabe o que fazer, é como se estivesse em debandada. Então, para tentar apaziguar um pouco o rebanho, dá vigor e vida nova à historieta do inferno e do céu que o padre contava quando éramos crianças.
Exatamente, quando éramos crianças.

publicado às 13:08


Pedofilia: padres vítimas do estigma

por Thynus, em 06.12.10

"Nos tempos que correm, recai sobre os padres um estigma injusto. Imagino que isso provoque grande sofrimento. Mas será que com esta experiência a Igreja Católica está a provar do seu próprio veneno?"
Durante séculos a vetusta Igreja milenar, perseguiu, atormentou, subjugou, assassinou, todos aqueles que, pura e simplesmente, viviam uma vida diferente daquela que ela preconizava. A igreja assumiu o papel do odioso; o papel do conquistador que provoca o caos para reinar. Até rebentar o escândalo quantos padres por esse Mundo fora vociferavam contra o casamento homossexual? Quantos não defendiam a suposta família salazarista/cerejeirista tradicional? Mas, claro, como o alvo desses canhões tinha muitos machos antagonizantes, toca de os disparar sem fazer os cálculos, pois acertariam sempre! Deram-se mal, muito mal, pois agora as balas caíram-lhes em cima e transformaram-nos a eles em carne para canhão.
"Imagino o que sentem, nos dias que correm, muitos padres. Caiu sobre eles a suspeita da pedofilia. Vítimas do preconceito, muitos deverão sofrer em silêncio com tantos comentários que substituíram uma avaliação serena das suas opções individuais e legitimas - servir a Igreja e, em muitos casos, a sua comunidade - por generalizações injustas e absurdas.


Agora a Igreja Católica conhece o sofrimento que tem provocado a todos os que foram e são vítimas do seu preconceito, acusados de todas as perversões, pecados e vícios. Os homossexuais, por exemplo. Agora sabem o que é sentir na pele a ignorância e o ódio dos outros. Agora sabem o que é a violência do estigma. Se eu fosse crente diria que Deus resolveu dar uma lição ao clero. Como não sou, digo apenas que, mais tarde ou mais cedo, todos acabamos por provar o nosso próprio veneno."
A igreja católica foi (é) a organização mais preconceituosa, menos tolerante. A INQUISIÇÃO foi o exemplo extremo.

publicado às 13:04


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