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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
Tendo o corpo se tornado microscopicamente pecaminoso, tanto como receptáculo da tentação quanto como provocador dela, ocorrerá com ele o mesmo que assinalamos a respeito dos sete pecados capitais, isto é, a sexualização de todos os pecados reaparece agora como sexualização do corpo inteiro.
Nesta perspectiva, o pecado da palavra, que São Paulo colocara como um pecado específico (podendo ser contra Deus ou contra o próximo, como a blasfêmia ou a calúnia), torna-se também pecado sexual.
A sexualização dos pecados e do corpo significa, simplesmente, a preocupação cristã com todas as formas da concupiscência, visto ser esta a manifestação da fraqueza da carne, e, conseqüentemente, a preocupação está voltada para a percepção, captura e controle de tudo quanto desperte prazer. É pela via da caça ao prazer que os pecados e o corpo vão sendo sexualizados. E é pela via do prazer que a palavra passará a ser um pecado sexual. Faladas, escritas ou simplesmente pensadas em silêncio (isto é, sem comunicação), ouvidas ou lidas, estão submetidas a rigoroso exame. A peculiaridade da palavra, sob o regime da confissão, não se acha apenas no fato de haver um vocabulário sexual que precisa ser usado com moderação e através dos eufemismos, e sim no fato de que toda e qualquer palavra, dependendo de quem a usa, como, quando e por que a usa, estar investida de prazer sexual. Donde, em muitas ordens religiosas, a obrigatoriedade do voto de silêncio. Mas o espantoso da palavra, descoberta que o confessor hábil consegue produzir no penitente, é que a pronunciamos sem saber o que dizemos e que ela nos faz dizer o que não suspeitávamos existir em nós (um dia, isso receberá nome: inconsciente e retorno do reprimido).
A confissão é o corpo e o mundo postos sob suspeita; mas a palavra é ainda acrescida de outro atributo: é reveladora e por isso mesmo perigosa.
Uma síntese da suspeição-revelação e de seu perigo, ligado ao conhecimento e à diminuição da censura, aparece admiravelmente no romance de Umberto Eco, O Nome da Rosa, no qual o crime, a suspeita, o pecado, o poder e a queda estão distribuídos à volta de um centro, um local feito apenas de palavras: a biblioteca. E o livro proibido, aquele que entre todos os da biblioteca ninguém poderá ler, os que o fizeram tendo sido assassinados, é um livro de elogio ao riso à alegria, ao humor e à graça. Nesse romance, as meditações de Santo Agostinho sobre o pecado da curiosidade ligado diretamente ao conhecimento intelectual e inconscientemente ao prazer sexual constitui uma das tramas da narrativa: ler e escrever são janelas e portas preferenciais do Diabo, por isso a biblioteca não tem janelas e sua única porta é guardada a chaves, antecedida por um corredor onde jazem ossadas. E o guardião do livro proibido, que para protegê-lo assassina, é cego.
Porém, o quadro confessional ainda não está completo.
Nas Confissões, perplexo e atormentado, Santo Agostinho escrevia que todos os esforços de controle da vontade, realizados durante a vigília, eram inteiramente perdidos durante o sono: sonhava pecados.
Assim, à lista dos pecados e de suas ocasiões, o confessor acrescentará os sonhos. Quando nosso corpo e nossa alma relaxam para o descanso, melhor oportunidade dão ao demônio para infiltrar-se sem que haja como combatê-lo e vencê-lo. Donde as regras que serão estabelecidas para diminuir o risco de sonhar: as preces antes de adormecer (para as crianças, a invocação do Anjo da Guarda), a frugalidade da refeição vespertina (o que mostra a relação entre gula e sexo), o cuidado com os divertimentos noturnos para que não deixem a alma preparada para a infiltração demoníaca (donde a recomendação da leitura de vidas de santos, dos livros de oração, da Bíblia; a reticência religiosa face aos bailes e festas noturnas; aregulamentação das ocasiões em que a relação sexual conjugal pode acontecer), e o elogio, levado ao máximo no protestantismo, do trabalho, pois ”mente desocupada, oficina do diabo” (o que mostra a relação entre preguiça e sexo).
A confissão é, poderíamos dizer, uma técnica da fala. O confessor atua num crescendo: indaga inicialmente se houve ato pecaminoso ou intenção pecaminosa; sendo afirmativa a resposta, indaga: houve deleitação?, pois a falta é maior em caso de prazer. Afirmativa a resposta, indaga quais os órgãos que se deleitaram (a falta variando de gravidade conforme os órgãos de prazer), quanto tempo durou a deleitação (a gravidade da falta sendo proporcional ao tempo de prazer), quantos se envolveram nela e onde aconteceu (havendo uma codificação do pecado conforme o número de participantes e os locais). Por fim, o confessor indaga se o penitente está arrependido, pronto para a contrição verdadeira e para não mais pecar. Exige, portanto, que o pecador diga a verdade sobre a sexualidade e que essa verdade, através do ato de contrição ou do arrependimento, atue sobre o comportamento futuro, modificando o ser do penitente. É na exigência da modificação que o controle melhor manifesta o papel da repressão sexual: não se trata apenas de proibir atos, palavras e pensamentos, mas de conseguir que outros venham colocar-se no lugar dos pecaminosos.
Algo também é exigido do próprio confessor, posto que é um ser humano, apesar da graça santificante recebida pelo sacramento da Ordem: não deve pecar ao ouvir a confissão. Esse risco existe se o confessor sentir prazer no que ouve, fantasiar a partir do que escuta, tornar-se cúmplice involuntário do penitente, fazendo-o alongar a fala e detalhar o próprio prazer. O risco da confissão para o confessor foi admiravelmente descrito pelo romancista Eça de Queiroz num romance intitulado O Crime do Padre Amaro.
(Marilena Chaui – “Repressão Sexual”)
Os inquisidores, em toda parte, Brasil ou Europa, usavam um manual denominado Malíeus Maleficarum que fornecia ao interrogador todos os elementos para descobrir os sinais de bruxaria numa mulher, por mais dissimulados ou ínfimos que fossem. A idéia central do manual era a de que o mal está em toda parte, mas que é de dois tipos: natural (pestes, secas, inundações) e maléfico (decisão voluntária de destruir ou sabotar a ordem do mundo, decisão vinda do rival de Deus, o Diabo, o Maléfico ou Maligno).
As mulheres, sem exceção, são colocadas como mal maléfico porque, por natureza, são crédulas, faladoras, coléricas, vingativas, de vontade e memória fracas e insaciáveis, prestando-se a todas torpezas sexuais. Consideradas como desordem (isto é, como Natureza ainda não submetida à regra, à ordem e, portanto, à Cultura), todas as mulheres, sejam elas esposas, parteiras, bruxas, prostitutas ou freiras, são sempre descritas exclusivamente em termos sexuais (a bruxa dorme com o diabo e a freira, com Deus; a puta dorme com todos, a freira, só com Jesus — uma canção de Chico Buarque nos revela como essas imagens exclusivamente sexuadas das mulheres ainda permanecem no imaginário e no cotidiano brasileiro, de tal modo que o encontro matinal da puta, voltando do trabalho, com a freira, indo à missa, é uma espécie da síntese da imagem feminina brasileira para o olhar masculino).
A finalidade da confissão das acusadas, perante o Inquisidor, era a de ser transformada em peça fundamental da própria acusação, sobretudo como auto-acusação e como delação de todas as pessoas próximas envolvidas (muitas vezes, como se sabe, um processo inquisitorial era feito menos para condenar um acusado e mais para que ele, através da delação, apontasse alguém que, de fato, era a pessoa visada pela inquisição). Aceitando confessar-se, a acusada realizava a finalidade principal da Inquisição como instituição: reconhecia o tribunal e, portanto, reforçava o sistema.
Através das confissões, a historiadora nos mostra o quadro da repressão sexual dessas mulheres: a acusação de bigamia decorre da luta entre homens rivais e revela a estrutura do casamento como relação de força; a de sodomia, é meio para eliminar uma mulher indesejável e justificar a separação lícita sem que os espancamentos anteriores recebam punição e sem que o dote da esposa precise ser devolvido, perdendo ela também a dotação do marido (nessa acusação, a prova é obtida pela resposta afirmativa à pergunta: ”houve deleitação?”, isto é, prazer). Mas, de todas as acusações, é a confissão da feiticeira que melhor ilumina a situação sexual dessas mulheres. A acusação de feitiçaria é sempre sexual, pois a feiticeira é aquela que dorme com o diabo. Mas as confissões mostram as dificuldades matrimoniais das mulheres que procuravam solucioná-las pela magia, com poções e filtros, naesperança que os maridos lhes ”dessem a boa vida” e lhes tivessem ”amor e amizade”. A procura da feitiçaria revela a incapacidade da Igreja para ajudá-las.
Todavia, a preocupação da Igreja com as feiticeiras e a sodomia (homossexualidade feminina) se deve ao temor de que criassem um ”mundo feminino”, próprio, desvinculado do controle eclesiástico (mundo feito de solidariedade e sobretudo de profissionalização das mulheres). Reencontramos aqui algo semelhante ao que vimos quando a Igreja decidiu ensinar a ler às mulheres. O mesmo medo de perder o controle sobre elas.
(Marilena Chaui – “Repressão Sexual”)
De acordo com Bauman, a sociedade tardo-moderna decreta a afirmação do indivíduo, mas do indivíduo de jure, não do indivíduo de facto. Sozinho, vulnerável, sem um espaço público a que se referir, sem uma dimensão política que apenas uma ressurreição da ágora pode garantir, o indivíduo contemporâneo não se eleva para o papel de cidadão, mas um isolado à mercê das suas escolhas e das suas derrotas, "com os olhos fixos apenas no seu desempenho."Se até há poucas décadas atrás, a ameaça para o homem vinha da intromissão do poder público, do olho penetrante do Big Brother,do totalitarismo, hoje, ao contrário, os perigos derivam da retirada do indivíduo e da pobreza da dimensão pública.O espaço público está agora reduzido a pouco mais de uma tela grande, “em que se faz pública confissão de segredos e confissões privadas." Não surpreendentemente, uma expressão típica do nosso tempo são os talk shou que proliferam nas televisões a todas as horas, onde quem intervem exibe uma sinceridade frequentemente inautêntica.” Julgado dono de seu destino e, portanto, culpado no caso de insucesso, o indivíduo é forçado pela ideologia triunfante a procurar, nas palavras de Ulrich Beck, uma "solução biográfica para contradições sistêmicas."
O individualismo hodierno é um individualismo pobre, onde prevalecem o interesse egoístico, a incerteza e o medo de falhar. O indivíduo instável do nosso tempo projecta e desloca os próprios medos sobre comprovados bodes expiatórios: o criminoso, o estrangeiro, o político com vida privada insensata, o vizinho, o conspirador.
A existência contemporânea está dominada pelo consumo: o shoping compulsivo é o ritual através do qual tentamos exorciczar os nossos medos. A verdadeira vida é aquela que é apresentada na TV, a vida dispendiosa da elite cheia de recursos. Vivemos na idade do glamour e da aparência. Apesar de tudo, o consumo desenfreado na procura sempre de novos objectos deixa-nos insatisfeitos, não cura a nossa insegurança e o nosso sentimento de precariedade.
A mercantilização diz também respeito às relações pessoais, que são vigentes enquanto garantem mútua satisfação. As relações são "temporárias", tal como os bens de consumo têm uma data de expiração. A fragilidade do novo tipo de união conjugal, especialmente no caso de pessoas comuns, não faz outra coisa senão produzir "miséria, agonia e sofrimento humano e um número crescente de vidas desfeitas, desprovidas de amor e de perspectivas."Os mais fracos, por exemplo, as crianças, que também são parte no processo, raramente são questionados.A saúde na sociedade contemporânea, tornou-se Fitness, na busca incansável e sempre insatisfeita de forma física perfeita. O trabalho, cada vez mais escasso, torna-nos intercambiáveis e licenciáveis."Os trabalhos seguros e em empresas seguras parecem uma recordação do passado; nem existem especializações e experiências que, uma vez adquiridas, possam garantir um emprego certo, e, sobretudo, duradouro."As guilhotinas que pairam sobre as nossas cabeças chamam-se “redimensionamento”, "otimização", “racionalização ", "demanda flutuante ", "concorrência", "produtividade", "eficiência". A "flexibilidade ", tão exaltada por economistas e especialistas contemporâneos, não é outra coisa que sinónimo de trabalho sem segurança, a curto prazo, sem qualquer direito futuro.Um livro para ler, com interesse, em que as teses do autor são expostas com uma clareza desprovida de qualquer subtileza metafísica. As considerações desconsoladas e lúcidas de Bauman tornam-no uma das vozes críticas mais importantes do nosso tempo.
Monsenhor Gianfranco Girotti é o regente da Penitenciaria Apostólica, o organismo que, durante séculos, de acordo com os ditames do Vaticano, "derrama absolvições, dispensas, comutações, sanções e condenações. Além disso, analisa e resolve os casos de consciência que lhe são propostos.
Nestes dias difíceis e vergonhosos para a Igreja de Roma, fortemente envolvida em casos de pedofilia muitas vezes encobertos pela própria Cúria, a Penitenciária reuniu cerca de 600 padres para fazer um curso de reciclagem sobre a confissão e a penitência; impossível, portanto, não falar dos casos mais recentes que estão a minar a credibilidade da Igreja.
"Os pecados são sempre os mesmos – disse monsenhor Girotti em entrevista ao jornal italiano "Il Messagero"- embora possamos falar de novas formas de pecado. Aspectos que antes não existiam e agora são parte da consciência coletiva. [...] Um penitente que é culpado de um crime semelhante (pedofilia), se ele sinceramente se arrependeu, deve ser absolvido. É claro que diante de casos de pessoas consagradas, sujeitas a constantes e graves problemas de moral (sublinho constantes e graves), o confessor, após ter implantado sem sucesso todos os esforços para assegurar a absolvição, aconselhará a deixar a vida da eclesiástica. "
Palavras esclarecedoras e completamente credíveis, se reinterpretados à luz das informações surgidas sobre a atitude das altas esferas da hierarquia da Igreja para o clero responsável pelo abuso e violência sobre as crianças: para Girotti, de fato, não existe sequer a possibilidade remota de que um homem de Igreja se sinta obrigado a denunciar um "colega" pedófilo às autoridades judiciárias do Estado.
"O confessor não só não pode impor-lhe a auto-denúncia, mas não pode sequer dirigir-se a um juiz para denunciá-lo. Quebrar o sigilo sacramental. Uma coisa gravíssima. Se o fizesse, o confessor incorreria em excomunhão ipso facto, de imediato."
Mas se qualquer prelado pode absolver um fiel ou um clérigo responsável pela violência contra crianças indefesas, o mesmo não pode fazer com uma mulher que teve um aborto, a menos que receba uma “dispensa especial" do bispo.
"O aborto é considerado um pecado reservado - acrescenta Girotti - digamos especial. Neste caso, é evidente que a Igreja quer proteger totalmente a vida da pessoa mais fraca e frágil, e o que existe de mais indefeso do que uma vida que está em curso e ainda não nasceu?".
Talvez mais frágil do que um embrião, é a vida de uma criança indefesa, uma vida conturbada e estuprada para sempre por homens que libertam assim as suas frustrações, recebendo em seguida a absolvição da Igreja.
O pensamento da Igreja é então muito claro: a pedofilia é perdoada, o aborto não. Muitas Repúblicas Democráticas a nível mundial, felizmente, pensam o contrário, o aborto é um direito, dentro de certos limites da mulher, a pedofilia é uma abominação contra vidas indefesas.
Mais uma vez a Igreja romana rema contra a maré: será que ainda pretende ressuscitar a Santa Inquisição? Libera nos, Domine!
O flagelo da pedofilia tornou-se uma verdadeira doença orgânica da Igreja Católica. Nas condições actuais não pode ser derrotada pela ação hipócrita de censura, reprovação e condenação do Vaticano. Aliás basta olhar para o que fez a Igreja a todos os padres e bispos pedófilos americanos para perceber como, de facto, não reconhece a pedofilia como um crime e um comportamento inaceitável e classifica-a apenas como mais um "pecado" a ser excluído com a confissão.
No catecismo recentemente atualizado a pedofilia não é sequer mencionada no rol dos pecados. Em qualquer caso, a pena máxima prevista é pedir perdão e se arrepender. Como se o perdão e o arrependimento pudessem curar o dano quase permanente que marca as vidas das crianças abusadas para sempre. Até agora, a Igreja preocupou-se apenas em ocultar ao mundo as suas culpas, sem, na verdade, as reprimir.
Porque, entre as muitas religiões que existem no mundo, apenas a Igreja Católica está fortemente afectada de forma massiça pela doença da pedofilia?
Em primeiro lugar pela satanização da mulher, do sexo e do corpo. A mulher, apesar do culto da Virgem Maria e tantas santas, é concebida como instrumento do Maligno para corromper o homem corrupto.
Em segundo lugar pelo o celibato obrigatório. Se os padres pudessem casar-se e constituir família, poderiam ter uma vida sexual regular com a mulher que amariam, e certamente se criaria um ambiente mais normal dentro da rígida hierarquia da Igreja. Dentro de um par de gerações, o fenômeno da pedofilia poderia reentrar na normalidade fisiológica do mundo secular.
Em terceiro lugar pela monossexualidade da estrutura da Igreja. Do Papa ao padre da igreja de bairro a Igreja é gerida apenas por homens. Se as mulheres fossem admitidas ao sacerdócio em todos os seus graus até ao papado, se houvesse uma verdadeira igualdade entre homens e mulheres dentro da igreja, certamente tudo iria mudar para melhor. Mas isso não é possível e na fantasia da Igreja a figura de uma Papisa é vista como demoníaca. Lembramo-nos da história-lenda da papisa Joana assassinada por uma turba na alta Idade Média, por iniciativa dos cardeais do Idade Média.
Finalmente, devemos considerar que a Igreja vê a vida humana como processo de expiação e de redenção para a vida eterna. Uma espécie de antecâmara, como premissa, que deverá sofrer, sofrer tanta dor para ganhar o céu. Este ponto de vista distorce todos os valores em função de uma almejada vida eterna. Nesta distorção, a concepção demoníaca da carne em oposição ao "espírito", insinua-se a patologia pedófila.
Em conclusão: sacerdócio para as mulheres e o pleno reconhecimento da igualdade de gênero, fim do celibato, reabilitação do corpo humano sobre o chamado "espírito", pode curar a Igreja de pedofilia. Mas é difícil imaginar uma reviravolta humanista e secular de um poder que vive e prospera graças a proibições que impõe ao sexo e é incapaz de encontrar no Evangelho a sua motivação profunda da verdade.
"Sexo na sacristia, no altar, nos bancos da igreja, com meninas católicas e inocentes, masturbação no confessionário." É assim, baseado em documentos espontâneos everdadeiros que o autor, ex-padre da Igreja Católica Romana, questiona o celibato e as aberrações que afectam a Igreja e a sociedade.
"A perturbação dos padres, pelo fato de conviverem o tempo todo com a sensualidade de suas ovelhas e não poderem toca-las, nem ao menos olha-las os leva para o caminho invariável do homossexualismo como válvula de escape para suas emoções sexuais reprimidas. Todas essas práticas seriam solucionadas à lua do casamento. Por que não integrar os padres casados no ministério sacerdotal e deixar que a influencia deles com a demonstração da formação de família possa influenciar aos demais, conduzindo-os para a vida natural do homem e da mulher? Seria o momento da igreja repensar a obrigatoriedade do celibato, tornando-o optativo.
O autor descreve a posição dos padres, que durante a confissão dos fiéis se excitam com a narrativa dos pecados, ficam com seus membros eretos e muitos até se masturbam durante o ato sagrado da confissão. Outros padres se servem das freiras, que trabalham como suas secretarias em várias paróquias, todas belas e sensuais, jovens em sua maioria, se entregam com volúpia e lascívia perpetrando o jogo proibido do sexo entre os filhos do Senhor.
Vários são os relatos de padres que sucumbem ao homossexualismo, conquistando suas vítimas dentre as crianças que vão até a igreja para aprenderem os primeiros passos do catecismo. A igreja tornou-se um lugar perigoso para as crianças!
Esses e outros casos escabrosos que assombram a igreja são narrados de modo imparcial e ao final sugere-se que o celibato seja expurgado da Santa Madre Igreja Católica.
Relatou, no seu relatório final, a advogada Ursula Raue, encarregada pelas autoridades eclesiásticas de investigar sobre os escândalos vindos à luz desde fevereiro passado. A sra. Raue disse que a sua é apenas uma estimativa prudente do número de vítimas, porque ''não tivemos a pretensão de acreditar em tudo". No relatório fala-se, de fato, de outros 50 casos de abuso, que não diz respeito a jesuítas, mas "outras instituições, em sua maioria católica."
Um dos jesuítas responsáveis de abusos ocorridos no liceu berlinense "Canisius Kolleg", já falecido há algum tempo, foi descrito no relatório como um autêntico “sádico, que batia na bunda nua dos alunos e observava quem tinha uma ereção. " Outro jesuíta, apelidado de "Grabbelanton”, o apalpador, violentou uma menina de 14 anos e abusou de outra menina de 9 anos no interior de um confessionário. Quanto à Ordem dos Jesuítas, são 12 padres acusados de abuso, seis dos quais já morreram, enquanto acusações semelhantes foram feitas a outras 32 pessoas, a maioria professores e educadores nas mesmas instituições eclesiásticas.
Os casos citados no relatório ocorreram nos anos 70 e 80, mas a Sra. Raue está convencida de que os líderes das escolas jesuítas abafaram os casos dos padres pedófilos responsáveis de abusos. "Sabia-se que um apalpava de bom grado e havia um outro apelidado como "babuíno", disse a advogada, segundo a qual "é estranho como a Ordem foi tão descuidada com o exterior relativamente às informações sobre abusos sexuais nas suas instituições. "
O Provincial dos Jesuítas, na Alemanha, Stefan Dartmann, pediu desculpas às vítimas, explicando que "o resultado da investigação da Sra. Raue revelou uma realidade escandalosa, que cobriu de vergonha e desonra a nossa Ordem ". Dartmann não se pronunciou sobre os pedidos de reparação financeira feitos por algumas das vítimas de abuso, dizendo que eles estão aguardando as conclusões da mesa-redonda convocada pelo governo alemão para esclarecer todo o assunto, incluindo os abusos que ocorrem nas escolas seculares.
(IAC) - Berlim, 27 de maio
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Em PADRES, CELIBATO E CONFLITO SOCIAL: UMA HISTORIA DA IGREJA CATOLICA NO BRASIL, Kenneth P. Serbin afirma: O sacramento de penitência e o sexo estiveram no centro dos esforços do Concílio de Trento para reformar o clero... criou o confessionário moderno, que separa o padre do penitente por uma tela... Ironicamnete, a missa, as procissões e outras cerimónias religiosas tornaram-se ocasião para o flerte. O confessionário proporcionava a melhor oportunidade de iniciar uma ligação sexual. Só um padre tinha total acesso ao confessionário. Testemunhas da mencionaram grande variedade de estratégias para marcar encontros. Freiras, prostitutas, escravas, pobres brancas e negras, assim como as donas e donzelas de elite, tinham com padres encontros românticos iniciados no confessionário. Ocasionalmente,padres e mulheres já se entregavam às preliminares ou se mastrubavam no confessionário. Padres ofereciam dinheiro ou absolvição dos pecados a mulheres em troca de sexo. Em outras ocasiões, simulavam praticar magia para encantar mulheres. Alguns faziam comentários sádicos ou persuadiam mulheres a falar sobre suas experiências .
E conclui: "Muitos padres faziam propostas sexuais a mulheres (e ocasionalmente a homens) na intimidade do confessionário. Alguns tinham as suas escravas como amantes .
O confessionário aparece pois como um local possível de sedução. "Mesmo que um penitente denunciasse um padre, a corte eclesiástica geralmente pegava leve com ele. Em Fevereiro de 1535, o,padre da paróquia de Almodóver foi acusado de vários abusos sexuais. Estes incluíam frequentar bordéis e praticar assédios no confessionário. Ele recusou-se a dar absolvição a uma jovem a té que ela fizesse sexo com ele. Seu castigo foi uma multa ridícula e o confirmamento em sua casa durante 30 dias... Com heresias, a coisa era bem diferente. (VIDA SEXUAL DOS PAPAS, por NIGEL CAWTHORNE). Afinal, a omertà da igreja de roma já vem de longe: o importante é salvaguardar a face, escondendo ou negando os crimes de seu clero.
"O sexo tornou-se de fato o ponto principal de um confessionário moderno. Segundo Foucault, o confessionário católico foi sempre um meio de controle da vida sexual dos fiéis. Envolvia muito mais que apenas as indiscrições sexuais, e tanto o padre quanto o penitente interpretavam a confissão de tais pequenos delitos em termos de uma ampla estrutura ética."
Mas o mesmo não acontece com a ?, perguntamo-nos. "A comparação da psicanálise com o confessionário é demasiado forçada para ser convincente. No confessionário assume-se que o indivíduo é prontamente capaz de fornecer a informação requerida. A psicanálise, contudo,supõe que os bloqueios emocionais, derivados do passado, inibam um autoconhecimento e uma autonomia de ação por parte do indivíduo." (A TRANSFORMAÇAO DA INTIMIDADE: SEXUALIDADE, AMOR E EROTISMO NAS SOCIEDADES ...por Anthony Giddens).
"Quem sabe, se dentro do confessionário, o padre não está com o pau na mão? E, depois, tudo em nome do Espírito Santo..." (Bernardo Elias Lahdo)
Quase todos os sacerdotes e religiosos (até há poucos anos) entravam no seminário menor aos 10-11 anos de idade, ou seja, depois do ensino básico. Como se preparavam para uma vida em que teriam de permanecer celibatários, logo nessa idade era negado qualquer impulso sexual, reprimido, racionalizado e, muitas vezes, não recebiam uma educação consentânea ao assunto sexo que era até visto como tabu, cada um se desenrascava por conta própria, uns melhor e outros pior. Não se educava, reprimia-se mesmo porque a sexualidade não podia encontrar espaço para expressão num ambiente fechado feito só para rapazes sem qualquer contato com o sexo oposto. Estes rapazes não tiveram condições de ter um bom desenvolvimento psicossexual como acontecia normalmente com os seus coetâneos. A repressão da sexualidade, a supressão da afetividade, a aridez emocional, a negação e demonização dos impulsos sexuais naturais que fazem as pessoas crescer e amadurecer e contribuir significativamente para a construção da sua identidade em relação ao outro foram substituídas por dados intelectuais, racionais que eram relacionados com conteúdos de fé e ideais de vida demasiado elevados e abstratos para aquela idade, e, deste modo, geradores de sentimento de pecado, identidade sexual não resolvida e agressividade reprimida.
Esses ambientes criaram pessoas afetiva e emocionalmente imaturas que se projetam em forma desviada em meninos e meninas da idade na qual o que seu crescimento foi bloqueado. É verdade que são anagraficamente adultos, mas também é verdade que a sua idade sexual e emocional se manteve fixa na fase da pré-adolescência ou da adolescência.
A pedofilia, pelo menos olhando para as queixas e as pessoas envolvidas no âmbito eclesiástico, é, em grande parte, obra de pessoas com tendências homossexuais e, portanto, envolve mais meninos que meninas. Mas nem por isso é honesto dizer-se que o celibato não tem nada a ver com a maioria dos casos de pedofilia.
Talvez haja muitos padres com tendências homossexuais porque nunca atingiram e passaram a fase de desenvolvimento em que os rapazes aprendem a relacionar-se com o sexo oposto, algo que para o adolescente é um obstáculo que deve superar e aprender a gerir . Abrir-se ao sexo oposto é um dos passos mais importantes da maturação sexual.
No seu livro Padres Amantes, o ex-padre F. Mariano Rodrigues fala que "a perturbação dos padres, pelo fato de conviverem o tempo todo com a sensualidade de suas ovelhas e não poderem toca-las, nem ao menos olha-las os leva para o caminho invariável do homossexualismo como válvula de escape para suas emoções sexuais reprimidas." O mesmo autor descreve a posição dos "padres, que durante a confissão dos fiéis se excitam com a narrativa dos pecados, ficam com seus membros eretos e muitos até se masturbam durante o ato sagrado da confissão. Outros padres se servem das freiras, que trabalham como suas secretarias em várias paróquias, todas belas e sensuais, jovens em sua maioria, se entregam com volúpia e lascívia perpetrando o jogo proibido(e, como tal, apetecido) do sexo entre os filhos do Senhor."
Como sabemos, os seminários bem como a imposição do celibato eclesiástico (tal como os confessionários) são frutos do obscurantismo medieval da Igreja. Não será hora da Igreja romana repensar a sua posição intransigente a respeito da sexualidade, da confissão auricular e da obrigatoriedade do celibato?
"É preciso que se entenda que a "castidade" não é e nem poderia jamais ser objeto de um "voto"; ou o homem é casto, ou o homem não é casto. Não se pode dominar essa prodigiosa força (sexual) através de um simples voto (uma intenção). E necessário que o homem se situe em uma esfera consciencial, muitíssimo elevada, para que possa transcendê-la. Todavia, não seria essa mesma esfera consciencial a que se poderia esperar, normalmente, de um verdadeiro "Representante de Deus"? No entanto, esse não é, em absoluto, o caso desses sacerdotes de "Cristo" que, em realidade, não passam de homens comuns que, conduzidos a essa elevada posição (?), vêem-se forçados a essa, absolutamente, desnecessária repressão sexual representada pela exigência do celibato. Como consequência disso, acabam por cair, invariavelmente, na prática desses desvios, abusos e aberrações" (in Regnum, Carlos Alberto Gonçalves).
O fato de essa energia transcendental advir da primitiva energia sexual é que deu origem à superstição de que o sexo é pecaminoso, tal como apregoa a religião cristã. A abstinência sexual dos iluminados não é professada por questões da moral profana, e sim como um recurso de canalizar energia para se obter um estado superior de consciência, que não é atingido sem se pagar um certo preço. A castidade imposta "de fora para dentro" através de regras morais obtusas, tal como a que se impõe aos padres católicos, não possui a menor utilidade prática nem tem o menor valor espiritual. Como já disse o próprio Paulo de Tarso, "é melhor casar-se do que viver abrasado".