O homem aprisiona a ave, que foi feita para voar cruzando meio mundo, num decímetro cúbico em que ela pouco a pouco morre, languescendo e cantando, pois
L'uccello nella gabbia
canta non di piacere ma di rabbia
[O pássaro na gaiola canta não por prazer, mas de raiva].
Como se não bastasse, o homem ainda amarra na corrente seu amigo mais fiel, o cão, que é tão inteligente! Nunca consegui ver um cão sem sentir enorme compaixão por ele e profunda indignação por seu dono, e com satisfação relembro o caso, relatado há alguns anos pelo Times, do lorde que mantinha um cachorro grande preso corrente e um dia, ao atravessar o jardim, aproximou-se para acariciá-lo e teve imediatamente o braço dilacerado de cima a baixo — com razão! Com isso, o cão quis lhe dizer: "Você não é meu dono, mas meu demônio, que faz da minha breve existência um verdadeiro inferno." Que isso aconteça a todos os que prendem os cães às correntes.
(Arthur Schopenhauer - A ARTE DE INSULTAR)