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Terá de ser forçosamente breve este olhar de quem vê a banda passar. A banda – entenda-se, a amarela – febril,  estridente,  ululante,  pela estreita Rua de São Bento abaixo. Breve e magra esta nota, como breve e magro é o argumentário que lhe deu origem.

Explicando:

Congratulo-me com a atenção das largas  centenas de acompanhantes do meu último texto, o tal da febre amarela. Aí, referi-me apenas ao processo da “cruzada asiática” -  fardadinhos todos da mesma cor com que Kim-Jong-Un  veste os seus pupilos na Coreia do Norte. O que eles andaram para  ali chegar… os becos sem saída, as artimanhas… os hissopes de água benta… os pulos de saltimbancos, como anteontem  demonstrei.

Hoje, sem correr o risco de repetir as duras, mas justas, críticas dos defensores da escola pública, transcrevo dois dos argumentos dos “camaradas amarelos”. O primeiro é que os contratos devem ser respeitados. O ministério também o diz. Se há divergência de interpretações, entregue-se  o caso ao poder judicial. E aguarde-se o veredicto. Não queiram fazer da rua o que sempre condenaram: um   tribunal popular. E mesmo que entendam ter razão (na base do brocardo pacta sunt servanda – “os pactos são para cumprir” ), opõe-se-lhe  um outro  axioma  latino : non sunt multiplicanda entia sine necessitate – “ não se devem multiplicar os entes (as coisas, os instrumentos de trabalho, os prédios e os gastos) sem  que haja necessidade”. E, sem mais delongas: quem é que, tendo casa própria, vai deixá-la ao abandono para ir  viver em casa de aluguer? Só de um lunático multi-milionário! E  Estado que se preze não é louco nem perdulário.

O outro argumento abana-se como um espantalho de melros na horta: “queremos liberdade de escolha”. Na melhor das hipóteses, que o façam, mas entre  iguais, entre duas escolas públicas, ou entre duas escolas privadas, nunca entre  concorrentes ao mesmo lugar e aos mesmos destinatários. O “ideal asiático” seria escolher um professor de serviço em cada casa, ao gosto do cliente! Volto a lembrar que na zona suburbana de Machico, há uma escola privada que tem mais alunos que as duas escolas públicas existentes. E estas, que têm capacidade para o dobro dos alunos, estão em risco de ser abandonadas pelo governo regional.

Resta sublinhar o normativo constitucional que “impende ao governo prover ao ensino universal e tendencialmente gratuito”. Se faltarem escolas, é ao Estado que os cidadãos vão pedir contas,  não aos privados, que apenas andam por conta própria e para interesses fechados.

Comentando, agora, a observação de um amigo de longa data, o Duarte Caldeira – “faltou referência ao papel da Igreja Católica”. Oh, o que eu tinha a assinalar nesta “romagem de agravados”! Nem imaginam. Mas já me doía a cabeça e fugiam os dedos do teclado para ter que cheirar a neftalina bolorenta, manhosa, farisaica das sotainas sacristas que, como dizia o Mestre, “enojam-se d os que comem um mosquito, mas são capazes de engolirem um camelo” . Ou, como bem traduziu Sophia de Melo das pessoas sensíveis, que “são incapazes de matar uma galinha, mas são capazes  de  comer cem galinhas”. Há alguma dúvida que esses colégios, ditos “de élite” – até já se esgotou o cardápio dos santos para baptizá-los – são uma coutada tenra e fértil toda-a-vida  para o episcopado e suas tropas, com mordomias, capelanias e que tais e que tias?!… Conheço relativamente bem o terreno. Lamentável que no marasmo de um silêncio sepulcral perante dezenas de milhares de professores anteriormente lançados no desemprego, venha agora a mitra patriarcal, vazia de argumentos sérios, empunhar o báculo dourado para condenar quem procura o bem geral da população em vez das benesses doadas a privados.  Sempre foi assim. Ainda estou sob a emoção daquela  jovem, Joana d’Arc, condenada à fogueira pelos bispos, só pelo crime de defender os direitos colectivos do povo a que pertencia. Fez ontem, 30 de Maio, 585 anos!

Aconselho a leitura do “Banquete  da Palavra” de 30 de Maio, em que o  Pe. José Luis Rodrigues reproduz o pensamento do  Papa Francisco nesta matéria das escolas privadas, de matiz clerical. ´Diz tudo.

Não resisto, porém,  a citar aquele apoteótico linguado de uma quarentona, agitando a cabeleira como bandeira despregada. em cima do palco improvisado diante da AR: “Somos uma minoria, mas somos de uma perfeita excelência. Somos uns grandes professores”! A tanto chega a arrogância elitista.

Só me apraz ver o folclore e dizer: Deixa a banda passar.. para gáudio do zé-povinho. Porque ainda há quem governe Portugal.

 

31.Mai,16


Martins Júnior

publicado às 11:16



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