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O Padre

por Thynus, em 13.09.15
Um diabo jovem vem correndo até seu chefe. Está tremendo e diz ao diabo velho:
– Algo tem que ser feito imediatamente, porque na Terra um homem encontrou a verdade! E depois que o povo souber a verdade, o que vai acontecer com a nossa profissão?
O diabo velho riu e então disse:
– Sente-se, descanse e não se preocupe. Está tudo providenciado. Nosso pessoal já chegou lá.
– Mas – disse ele – eu vim de lá. E não vi um único diabo lá.
O velho argumentou:
– Os padres fazem parte do meu povo! Já cercaram o homem que encontrou a verdade. Agora eles vão se tornar mediadores entre o homem da verdade e as massas. Vão levantar templos, vão escrever escrituras, vão interpretar e distorcer tudo. Vão pedir às pessoas para adorar e orar. E em todo esse burburinho a verdade vai ser perdida! Este é o meu método antigo, e que sempre fez sucesso.
Os padres que representam a religião não são amigos desta. São os maiores inimigos da religião, porque a religião não precisa de mediadores, uma vez que entre o homem e a existência há uma relação imediata. Tudo o que se deve aprender é como compreender a linguagem da existência. As linguagens do homem são conhecidas, mas não são as linguagens da existência. A existência conhece apenas uma linguagem, que é a do silêncio. Aquele que também puder ficar em silêncio será capaz de compreender a verdade, o sentido da vida, o significado de tudo o que existe. E não há ninguém que possa interpretar isso para as pessoas. Todos têm que encontrar a verdade por si mesmos, ninguém pode fazer o serviço por eles. No entanto, é isso que os padres vêm fazendo há séculos.
Mantêm-se de pé, como a Muralha da China, entre o homem e a existência. Há apenas alguns dias o Vaticano, na pessoa do papa, informou a todos os católicos: “Tenho sido informado, repetidas vezes, que muitos católicos estão se confessando a Deus diretamente. Não estão se dirigindo ao confessionário, ao padre. Declaro a confissão diretamente a Deus como um pecado. Vocês têm que se confessar com o padre, não podem se relacionar com Deus diretamente.”
Não deu qualquer razão para tal, porque não há razão alguma, exceto o fato de o padre ter que manter sua profissão e de ele próprio ser um sumo sacerdote. Se as pessoas começam a se aproximar da realidade sem que ninguém as lidere, sem que ninguém lhes diga o que é bom e mau, sem que ninguém lhes dê um mapa que tenham que seguir, milhões de pessoas serão capazes de compreender a existência, pois o batimento cardíaco do ser humano também é o batimento cardíaco do universo, a vida do ser humano faz parte da vida do universo. O homem não é um estranho nem vem de algum outro lugar, o homem cresce dentro da existência. Ele é parte da existência, parte essencial da existência. Precisa apenas permanecer em silêncio, o suficiente para que possa ouvir aquilo que não pode ser dito em palavras: a canção da existência, a imensa alegria da existência, a constante celebração da existência.
Depois que isso começa a penetrar em seu coração, vem a transformação. Essa é a única maneira de alguém se tornar religioso, não é frequentando igrejas, que são feitas pelo homem, não é pela leitura das escrituras, que também são feitas pelo homem.
Porém, os padres fingem que suas escrituras sagradas são escritas por Deus. A própria ideia é simplesmente idiota! Basta examinar essas escrituras: não se encontra nenhuma assinatura de Deus. Encontra-se coisas que não haveria razão para Deus escrever. Os hindus creem nos Vedas e acreditam que foram escritas pelo próprio Deus. Os Vedas são os livros mais antigos da existência, mas nenhum hindu se dá o trabalho de analisá- los. Se Deus os escreveu, há de ser algo extremamente valioso, mas 98% dos Vedas são apenas lixo, e é tão lixo que prova que não são escritos por Deus. Por exemplo, uma oração realizada por um padre... por que Deus haveria de escrevê-la? E a oração consiste em suas vacas que não estão dando leite suficiente: “Tenha piedade de mim, aumente o leite das minhas vacas.” E não é só isso, aqui continua: “Reduza o leite das vacas de todos os outros!” Deus vai escrever isso? “Mate meus inimigos e ajude meus amigos.” E até mesmo essas coisas estúpidas como: “As chuvas estão chegando, cuide para que toda a água alcance os meus campos e evite o campo da vizinhança, porque pertence ao meu inimigo. Apenas regue sua água no meu campo.” Por que Deus deveria escrever essas coisas? Todas as escrituras dão evidências intrínsecas de que são escritas pelos homens, e homens muito estúpidos, homens primitivos.
As chamadas escrituras sagradas não são nem mesmo consideradas como boa literatura, uma vez que são infantis, brutas, feias, porém, em função de estarem escritas em línguas mortas... E algumas estão em línguas que nunca estiveram em uso por pessoas comuns, como, por exemplo, os Vedas. Essa língua nunca foi usada pelas pessoas comuns, era a língua dos brâmanes, a língua dos sacerdotes. E estes foram muito relutantes à tradução, porque sabiam que, depois que fossem traduzidos, os Vedas perderiam toda a santidade. As pessoas vão ver que esse absurdo não é sequer profano, que dirá sagrado!
Tanta obscenidade, tanta pornografia é o que se encontra nas escrituras sagradas de todas as religiões. Entretanto, estão escritas em sânscrito, que não é usado por pessoas comuns; em árabe, que não é usado por pessoas comuns; em hebraico, que não é usado por pessoas comuns; em pali, em prakrit… Essas línguas estão mortas! E todas as religiões relutam em ter suas escrituras sagradas editadas em línguas modernas, que as pessoas entendam. No entanto, apesar da relutância, as escrituras sagradas têm sido traduzidas. Primeiro, eram contra a impressão das escrituras, depois, ficaram contra sua tradução. A única razão era que sabiam que, depois que fossem impressas, as escrituras seriam vendidas no mundo inteiro, qualquer pessoa poderia comprá-las. E se forem traduzidas para línguas vivas, então, quanto tempo é possível esconder a verdade? E como vai se provar que foram escritas por Deus? As escrituras são feitas pelo homem, as estátuas de Deus são feitas pelo homem, os templos e as igrejas são feitos pelo homem, mas milhares de anos de condicionamento deram a esses feitos um certo caráter sagrado, uma certa santidade. E não há nada de sagrado neles, nada de santo neles.
Os padres, mais do que ninguém, têm enganado o homem. Esta é a pior profissão do mundo, pior até do que a profissão das prostitutas. Pelo menos a prostituta dá às pessoas algo em troca, enquanto que o padre lhes dá apenas ar quente, o padre não tem nada para oferecer. E isso não é tudo: sempre que alguém percebeu a verdade, esses padres ficaram contra ele. É óbvio que têm que ficar contra, afinal, se a verdade for reconhecida pelas pessoas, milhões de padres no mundo vão ficar desempregados. E seu emprego é completamente improdutivo. Eles são parasitas, se mantêm sugando o sangue do homem. A partir do momento em que a criança nasce, até que entre no túmulo, o padre está sempre encontrando maneiras de explorá-la.
A menos que a religião seja libertada das mãos dos padres, o mundo permanecerá apenas com uma pseudorreligião, que não vai nunca se tornar uma religião. E um mundo religioso não pode ser assim tão sofrido, o mundo religioso deve ser uma constante celebração.
Um homem religioso não é nada além de puro êxtase. Seu coração é cheio de canções. Seu ser, por inteiro, está pronto para dançar a qualquer momento. Mas o padre levou embora a busca pela verdade, dizendo que não há necessidade de busca, que a verdade já foi encontrada, e que o homem tem apenas que ter fé. O padre faz as pessoas sofrerem, porque condena todos os prazeres do mundo. Condena os prazeres do mundo para que ele possa louvar os prazeres do outro mundo. O outro mundo é a sua obra de ficção. E quer que a humanidade sacrifique sua realidade em prol de uma ideia fictícia, e as pessoas a sacrificam.

(Osho - O livro dos homens)

publicado às 22:59



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