Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Já está mais do que na hora de a ética ser, de uma vez por todas, submetida a um sério interrogatório. Há mais de meio século ela repousa naquela cômoda almofada que Kant lhe preparara: o imperativo categórico da razão prática. Nos nossos dias, esse imperativo costuma ser apresentado sob o título menos suntuoso, porém mais fácil e corrente, de "lei moral", sob o qual, após uma ligeira reverência à razão e à experiência, ele se insinua sem ser visto. Entretanto, uma vez dentro de casa, não cessa de dar ordens e comandos, sem fornecer mais explicações. O fato de Kant, enquanto inventor do imperativo e depois de tê-lo usado para eliminar erros grosseiros, ficar tranqüilo com ele era justo e necessário. Porém, não é nada fácil ter de ver até os asnos rolarem na almofada preparada por ele e desde então cada vez mais acolhedora: refiro-me aos compiladores cotidianos de compêndios que, com a confiança serena que acompanha a falta de juízo, presumem ter fundado a ética quando se reportam apenas àquela lei moral que, segundo eles, reside na nossa razão, e depois quando se estendem tranqüilos sobre aquele tecido de frases prolixas e confusas, com o qual conseguem tornar incompreensíveis as situações mais claras e simples da vida. Ao empreender tal iniciativa, nem chegam a se questionar seriamente se tal lei moral também estaria de fato escrita, como um código confortável da moral, na nossa cabeça, no nosso peito ou no nosso coração. Sendo assim, confesso o prazer peculiar que sinto ao tirar da moral aquela larga almofada e declaro com toda franqueza meu propósito de demonstrar que a razão prática e o imperativo categórico de Kant constituem hipóteses totalmente injustificadas, infundadas e inventadas.

(Arthur Schopenhauer - A ARTE DE INSULTAR) 

publicado às 17:03



Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog

Arquivo

  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2017
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2016
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2015
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2014
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2013
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2012
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2011
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2010
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2009
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2008
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2007
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D