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O beijo

por Thynus, em 28.10.14
“Estávamos sentados juntos e, de repente, vi um brilho em seus
olhos, que nunca havia percebido antes. Meus lábios se
aproximaram dela e nos beijamos. Impossível descrever
exatamente o que senti naquele momento, mas parecia
que a minha vida inteira estava resumida naquele
maravilhoso momento de prazer."
(Oscar Wilde)
O Beijo de Auguste Rodin
Há beijos de todo jeito — respeitosos, melosos, românticos, falsos, voluptuosos. Por isso mesmo, também foi representado de centenas de maneiras. Na escultura quase minimalista de Brancusi, datada de 1907, o casal enlaçado demonstra sua paixão com boca na boca, olho no olho, tudo em poucos traços.
O beijo não é apenas prazer dos lábios, é a representação da vida (Deus criou Adão com um sopro) e o símbolo da morte (o último suspiro); além de apontar a traição (o beijo de Judas em Jesus no Getsêmani). Desde tempos imemoriais, existe a crença de que através do beijo é possível se apoderar da vida e da alma de outra pessoa. A célebre história de Drácula, do inglês Bram Stocker, é uma recriação desse mito. Nela, o conde Vlad precisa do sangue de mulheres jovens para viver eternamente. Isso só é possível depois de um beijo terrível, no qual crava seus caninos no pescoço das amantes. Elas morrem, mas têm uma compensação: ganham a vida eterna ao se transformarem em vampiras.
Um beijo é geralmente a primeira vez em que dois povos têm um contato próximo um com o outro. Uma fonte anônima, no Livro dos Beijos, de William Bastão, descreve um beijo como algo que você não pode dar sem fazer exame e não pode fazer exame sem dar. Uma outra fonte anônima diz que você não deve esperar para conhecer melhor alguém antes de beijá-la; você deve beijá-la primeiramente para depois então conhecê-la melhor.
A beleza do beijo é que traduz cada língua e religião. Jr. de Vaughn Bryant, professor do departamento de antropologia no Texas A&M, dita que o primeiro beijo erótico foi trocado aproximadamente 1500 a.C. na Índia. Antes desse tempo não há nenhuma evidência (tabuletas de argila, pinturas em cavernas ou registros escritos) que indiquem o histórico do beijo. Bryant disse também que o ato de friccionar e pressionar os narizes e a troca das línguas entre amantes, se popularizou aproximadamente em 1500 a.C.
Foram os romanos que descobriram o beijo. Eles beijavam-se cumprimentando uns aos outros, beijavam as vestes e os anéis de seus líderes e estátuas dos deuses, mostrando submissão e respeito.
É um fato científico que beijar estimula nosso cérebro a produzir o oxytocina, um hormônio que nos dá aquela ótima sensação que sentimos ao beijar.
Sabe-se também que a química provocada faz com que um beijo alerte outro. Quando beijamos, os interiores de nossas bocas e as bordas de nossos lábios produzem uma substância química que aclama para mais beijos.
Um estudo em 1997, na Universidade de Princeton, concluiu que nossos cérebros estão equipados com os neurônios que nos ajudam a encontrar os lábios de nossos amantes no escuro. Não é nenhuma novidade que muitos casais apreciem se beijar em um teatro escuro.
Acredita-se que o beijo tenha surgido 1.500 anos a.C, época em que os amantes começaram a ser retratados nas esculturas e nos murais dos templos de Khajuraho, na Índia. Mas o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) em sua teoria das espécies, afirma que a origem dessa carícia é mais antiga. Segundo ele, trata-se de uma sofisticação das mordidas que os macacos trocavam em seus ritos pré-sexuais.
Há também uma tese de que seria uma evolução das lambidas que o homem pré-histórico dava no rosto dos companheiros para suprir a necessidade de sal em seu organismo. Ou um ato de amor da mãe na época das cavernas. Sem utensílios para cortar os alimentos, elas mastigavam a comida antes de depositar na boca de seus filhos pequenos.
De lá para cá o beijo na boca ganhou várias conotações. Na Idade Média, era visto como uma forma de selar acordos. Com a boca fechada, os homens se beijavam com firmeza. O toque leve demonstrava traição. Com o tempo foi perdendo a força devido às pestes que dizimavam populações.
Aos poucos o beijo ficou restrito ao convívio amoroso.
Entre os persas, na Antigüidade, o beijo na boca era usado para saudar um amigo. Mas só valia para pessoas do mesmo nível. Na Grécia, beijo na boca é só entre família — pais e filhos ou irmãos — ou amigos, muito amigos.
Esses hábitos, de um jeito ou de outro, chegaram até nós. Vai dizer que não? Mais para frente, na Inglaterra, lá pelo século XII, o beijo era um pacto entre o vassalo e seu senhor, que por sua vez o protegia. O beijo selava o pacto e só se quebrava com a morte de um dos dois.
O beijo é uma das mais antigas demonstrações de carinho da humanidade.
Beijo, beijinho, beijoca, ósculo... Vários podem ser os termos para um dos gestos mais afetuosos do ser humano. É muito comum o bebê aprender a dar beijinhos antes mesmo de falar. Na infância, já sabendo o que é o beijo, a criança depara com histórias como a da Bela Adormecida. Na préadolescência, o beijo ganha, de fato, uma relação mais sensual. A menina passa a imaginar que aquele príncipe de faz-de-conta se parece muito com o colega da carteira ao lado. E vice-versa.
Assim como os relacionamentos, o beijo também amadurece. Basta se lembrar do primeiro. Qual adolescente não se desesperou pelo fato de não saber beijar na iminência do primeiro encontro? "Treina na laranja", aconselham os amigos. Depois, os mais experientes não conseguem entender como alguém pode achar que beijar e chupar laranja são a mesma coisa.

(Pedro Paulo Carneiro - Dossiê do beijo: 484 formas de beijar)
Beijo de Brancusi

publicado às 21:19



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