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O ressentimento e a autocomiseração são duas das drogas mais tóxicas.
(Allan Percy)

Já alguma vez viu uma flor infeliz ou algum carvalho com stresse? Conhece algum golfinho deprimido, alguma rã com problemas de auto-estima, algum gato que não relaxe, ou algum pássaro que sinta ódio e ressentimento? Os únicos animais que ocasionalmente poderão sentir algo parecido com negatividade ou mostrar sinais de comportamento neurótico são os que vivem em contacto íntimo com os seres humanos e se ligam desse modo à mente humana e à sua insensatez.
(Eckhart Tolle)

ASSIM COMO O SORRISO traz benefícios óbvios para a saúde, o ressentimento não apenas incide negativamente no estado de ânimo, como também pode desencadear doenças e distúrbios.
(Allan Percy

Ame-se a si próprio. Não se preocupe com as opiniões dos outros. Quando lhe fizerem uma proposta, ou quando se vir confrontado com a um compromisso que não lhe convenha aceitar, ou que não queira aceitar, diga não. Se não proceder desse modo, você estará a criar uma abertura para a entrada da raiva. Sentir-se-á ressentido com o facto de ter aceite o compromisso e esse ressentimento estender-se-á à pessoa que o obrigou a aceitar.
(Brian L. Weiss)
 
 
Nietzsche foi o primeiro filósofo a perceber de forma clara o ressentimento como marca humana essencial. Nesse sentido, foi mais profundo do que todo o blábláblá da luta de classes, tema na moda por décadas. Mas essa moda se deve justamente ao fato de a luta de classes ser um conceito que deita raízes justamente no ressentimento que a vida social gera porque somos o tempo todo lançados a conviver com gente melhor do que nós.
O ressentimento tem uma raiz profunda (o pânico diante da indiferença no universo vazio), mas um dos seus efeitos mais marcantes é exatamente a tendência de nos tornar superficiais, porque assim nos protege da consciência do próprio ressentimento. Desse modo, uma vida para o consumo cai bem, porque o ressentimento vive bem com a vida desperdiçada no consumo. A alegria breve do consumo alivia o peso da chaga do vazio que segue sendo nossa sombra. Não existe cura para a causa do ressentimento, existem modos distintos para nos relacionarmos com ele. Não há cura para uma verdade, apenas modos de enfrentá-la ou de evitá-la. A covardia contemporânea é nosso modo específico de evitar essa verdade íntima.
Nietzsche conta que, num recanto distante do universo, uma estrela tinha um planeta a sua volta. Neste, uma raça de insetos viveu por 1 milhão de anos e criou uma coisa chamada conhecimento, que os insetos tinham em alta conta. Com a morte da estrela, tudo se apagou. E o universo continuou no seu silêncio e na sua indiferença. Nasce aí nosso ressentimento. É da indiferença do universo que nasce nossa mágoa.
Para Nietzsche, as religiões, a metafísica, a moral são criações do ressentimento. Esta crítica é largamente conhecida. Não me interessa aqui refazê-la. Prefiro falar da espiritualidade ressentida contemporânea. Morto Deus, poderíamos pensar que o ressentimento morreria junto. Ledo engano: a praga sobreviveu à morte de Deus, prova de que sua raiz é mais profunda do que a crença em Deus. De lá para cá, os sintomas do ressentimento assumiram formas infinitas. Estética, política, ética, sexual.
Nietzsche anuncia a morte de Deus. Ele condena e lamenta que o cristianismo tenha prevalecido sobre o mundo antigo, e com ele o NÃO à vida
 
NÃO SOU
Deus já tinha nos dito na Bíblia que nossa missão é dar nome às coisas. Costumo dizer que não devemos falar mal da Bíblia como fazem grandes inteligentinhos como Saramago. A Bíblia é um reservatório de sabedoria, como todo livro de grandes tradições religiosas. Dar nome às coisas é essencial, devemos chamar o ressentimento por seu nome e seus atributos: inveja de quem é melhor, sentimento sufocante de que eu tenho o “direito” de ser melhor do que ele é, conclusão aterrizadora de que não sou. Toda vez que encontramos Deus, deuses ou gente melhor do que nós, afundamos no ressentimento.

(Luiz Felipe Pondé - A era do ressentimento)

publicado às 14:23



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