Se você trabalhasse numa empresa que tivesse dez telefones e se durante todo o tempo as pessoas usassem os telefones para falar com outras, teríamos os dez aparelhos permanentemente ocupados. Se alguém telefonasse para a empresa, não conseguiria completar a ligação, pois não haveria linhas desocupadas.
Pode ser que exista uma telefonista que receba as ligações; ela põe a pessoa que chamou à espera; depois de algum tempo a linha será desligada, a empresa praticamente ficará sem comunicação com o exterior.
Assim funciona uma pessoa na qual o processamento das autocríticas, sejam positivas ou negativas, seja muito intenso. Apesar de estar recebendo estímulos de fora, não os irá assimilar, porque estará fechada às comunicações externas.
Muitas pessoas ficam constantemente em agitação interna— escutando vozes e respondendo a elas o tempo todo, e por isso acabam não tendo comunicação com os outros.
As vezes o outro pode ficar esperando um espaço para falar, porém se a pessoa segue sem abertura, o outro irá desistir.
Ficar sem comunicação com o exterior, ocorre nos diálogos internos, nos sistemas psicossomáticos, ou seja, em situações em que a pessoa se fecha tanto em si que desqualifica a importância dos outros. E aí, pode ficar exclamando que... ninguém a ama ninguém a valoriza ninguém a procura Porém o básico é que esta pessoa não esta aberta. Por estar aberta é importante que a auto-estima esteja num nível pelo menos satisfatório, porque a nossa tendência é procurar os outros quando estamos bem e nossa auto-estima tem muita relação com as auto-carícias.
É muito importante que cuidemos bem de nosso sistema de auto-carícias. E aqui vão algumas sugestões: Identifique suas auto-carícias Quando estiver passando por uma crise, aproveite para dar-se conta do que você faz consigo mesmo. Perceba se você fala consigo as mesmas frases que ouviu no passado e qual está sendo a conseqüência disso. Saber o que você faz consigo é fundamental para saber o que você vai mudar. Trocar auto-carícias negativas por positivas Ao invés de ficar na fossa, se machucando e sofrendo, porque está com algum problema, comece a cuidar bem de você, apesar de não estar em um momento bom. Não repita a situação clássica, em que as pessoas criticam alguém, quando estão atravessando uma situação crítica. Pode até ser que os outros façam isso com você, mas não é justo que você faça isso consigo mesmo. Não ficar esperando que o outro resolva o seu problema.
Quando uma pessoa está com a bateria de carícias descarregada, sua tendência é entrar em curto-circuito; neste momento toda uma gama de autocarícias vai cuidar para aumentar a carga, geralmente com autocarícias negativas. Uma auto-carícia importante nesse momento é no sentido de cada um procurar cuidar de si o melhor que possa, identificando a necessidade do momento para que possa sentir-se bem, independentemente dos outros. Logicamente o relacionamento com as pessoas é bem-vindo. Mas, se o circuito interno de auto-carícias negativas estiver muito intenso, a tendência é de desqualificar o outro. É preciso pois, primeiramente, acertar o circuito interno de carícias. Dar-se auto-carícias positivas físicas
Grande número de problemas do homem acontece por razões mecânicas; isso porque a máquina humana não foi preparada para esse ritmo de competição e 'stress'. Quando não se tem consciência que o nosso corpo é o nosso indicador de que somos seres humanos (e como seres humanos somos ótimos), começa-se a forçar o corpo até que ele não agüenta mais e explode. Vamos começar a, além de problemas orgânicos apresentar também problemas psicológicos. E é importante saber que a solução para esses problemas é basicamente cuidar do corpo. Se alguém estiver doente e trabalhando duro, certamente ficará irritadiço e triste e a solução para isso será cuidar-se e descansar. Certamente, a pergunta de caráter psicológico será: 'Por que alguém doente está trabalhando tanto?' Mas o mais eficiente, no momento, será cuidar do corpo. Muitos dos nossos problemas se resolvem quando mudamos nosso estilo de vida, de alimentação, de exercícios físicos, de sono e de descanso.
Um exemplo de dar auto-carícias positivas físicas é cuidar do sono. Muita gente dorme mal porque cuida mal do sono. No dia seguinte acorda tensa e cansada. Assim vai ao trabalho, fica tensa e mais cansada, acaba dormindo pior e assim segue... Provavelmente se ela tiver: colchão e travesseiros gostosos, não ficar discutindo na cama antes de dormir, comer comida leve à noite, não ler as desgraças dos jornais nessa hora, escutar música suave, fazer um relaxamento, seu sono será muito mais gratificante e, no dia seguinte, acordará relaxada e descansada: isso certamente influenciará sua maneira de realizar as tarefas do dia-a-dia.
Perceba como suas auto-carícias podem estar levando você a não escutar os outros É o caso da empresa sem comunicação. As vezes as pessoas ficam olhando para baixo e não percebem os outros. Outras vezes ficam pensando no futuro (ou no passado). Enfim, perceber que a chuva que cai no final de semana, cai para todos. Que não está chovendo somente para estragar o nosso programa. Uma dificuldade que surge não aparece deliberadamente para nos agredir. Se nós falamos: 'Tudo acontece comigo', isto é uma autocarícia negativa e a chuva é só um pretexto para alguém sofrer. Perceba como você pode estar usando as pessoas, as situações, para martirizar-se. E se você quiser vai poder sofrer bastante!
(ROBERTO SHINYASHIKI - A CARÍCIA ESSENCIAL, Uma psicologia do afeto)