E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...
Você já se perguntou como as pessoas conseguem funcionar sabendo que podem deixar de existir a qualquer momento? Já acordou no meio da noite suando frio, pregado à cama, por causa do terrível conhecimento de que há uma ameaçadora eternidade de não existência à sua espera?
Você não está só. A consciência da morte é o que nos separa dos animais. E o modo como escolhemos lidar com isso — quer optemos por acreditar em Deus e em vida após a morte, conciliar-nos com a ideia da não existência ou simplesmente reprimir todos os pensamentos a esse respeito — é algo que nos separa uns dos outros.
Jack Gladney, professor de estudos sobre Hitler em uma faculdade do Meio-Oeste dos Estados Unidos, sofre de um medo agudo da morte. Jack é obcecado por quando vai morrer, se é ele ou sua esposa, Babette, quem se vai primeiro (ele torce secretamente para que seja ela) e sobre o tamanho de “buracos, abismos e fendas”. Um dia, ele descobre que Babette tem tanto medo da morte quanto ele. Até aquele momento, sua esposa grande e loira havia estado entre ele e seu medo, representando “a luz do dia e a vida densa”. A descoberta abala sua alma — e as bases de um casamento até então feliz.
Jack explora todos os tipos de argumentação e de filosofias para superar o medo da morte, desde colocar-se dentro do domínio protetor de uma multidão até a reencarnação. (“Como você pretende passar sua ressurreição?”, pergunta um amistoso testemunha de Jeová, como se estivesse perguntando sobre um fim de semana prolongado.) Seu método mais bem-sucedido para aliviar o medo (e se distrair) é sentar-se e observar os filhos dormirem, uma atividade que o faz se sentir “devoto, parte de um sistema espiritual”. Para aqueles com a sorte de ter filhos dormindo à mão, esse é um bálsamo que recomendamos sinceramente, não só para o medo da morte, mas para medos de todos os tipos. Talvez uma das argumentações de Jack funcione para você. Se não funcionar, pelo menos Ruído branco lhe proporcionará uma associação entre pensamentos de morte e risadas. DeLillo é um escritor divertido, e sua descrição de Jack tentando pronunciar palavras alemãs recebe nosso voto como uma das passagens mais engraçadas da literatura. Procure-a à noite, quando o terror da morte atacar, e testemunhe a metamorfose do medo em risos.
A outra cura para manter junto à cama é Cem anos de solidão. Esse romance sobre a família Buendía, de Macondo, pode ser lido e relido, já que os eventos ocorrem em uma espécie de ciclo eterno, e é tão densamente escrito que você encontrará novos encantos e revelações a cada leitura. Uma vez que a narrativa se estende por um século, a morte aparece com frequência e de forma natural, e os personagens aceitam sua parte na ordem natural das coisas — uma atitude que, com o tempo, pode passar para você.
Se isso não acontecer, continue lendo. De novo e de novo. E uma noite, talvez, quando chegar cansado à última página e voltar ao início, você comece a entender que o fato de todas as coisas boas terem fim, em algum momento, é necessário.
( Ella Berthoud e Susan Elderkin - Farmácia literária)
( Ella Berthoud e Susan Elderkin - Farmácia literária)