Em vez de juízes instruídos e experientes, que envelheceram desvendando cotidianamente as artimanhas e os truques dos ladrões, dos assassinos e dos trapaceiros, de tal modo que aprenderam a descobrir seus crimes, sentam agora nos tribunais o compadre alfaiate e o compadre sapateiro que, com sua inteligência habitual, desajeitada, grosseira, inexperiente, tola e que não é capaz nem mesmo de manter uma atenção contínua, tentam descobrir a verdade do tecido enganador da fraude e da aparência enquanto pensam no seu pedaço de pano e no seu couro e desejam voltar para casa. Não possuem a menor idéia da diferença entre verossimilhança e certeza; fazem, antes, uma espécie de calculus probabilium em sua mente estulta, com base no qual depois decidem tranqüilamente o que fazer com a vida alheia. [...] Permitir que um júri popular julgue os crimes contra o Estado e seu chefe, bem como os delitos de imprensa, é o mesmo que entregar o ouro ao bandido.
(Arthur Schopenhauer - A ARTE DE INSULTAR)