Por que dediquei este livro a todos que estão fugindo? Porque fugir do mundo é sempre uma opção que povoa minha mente. Na verdade, alimento o sonho de um dia fugir. Este livro elenca algumas das razões para esse desejo de fuga.
A fuga mundi é um tema recorrente na Filosofia e na espiritualidade. Na Antiguidade, estoicos defendiam a fuga mundi como um modo de se defender das ilusões e frustrações causadas pela vida em sociedade. Pensavam em viver próximos à natureza e, com ela, reaprender o fato de que tudo está morrendo. E, ao final, é sempre da morte que fugimos, ou de suas representações. O homem contemporâneo é, talvez, o mais covarde que já caminhou sobre a Terra, sobre a qual deixará sua marca de incompetência em lidar com a morte, a dor e o fracasso.
Monges de várias religiões fugiram e fogem do mundo em busca de alguma forma mais sólida de vida, no silêncio, na solidão, longe do vazio da vida civilizada. Deus, na tradição hebraica, colocou sua tenda no deserto e nas trevas. Isso significa muita coisa para quem Nele crê. Apesar de não ter fé, considero Deus muito inteligente.
Muitos continuam fugindo por recusarem os vícios de um mundo dado a vaidades. Nossa época, com suas luzes e seus direitos, será lembrada como um período de trevas por conta de nossa irrelevância, causada por preocupações excessivamente pessoais. Gente medíocre a nossa volta que imagina um mundo de gente feliz. Eis os idiotas do bem.
(Luiz Felipe Pondé - A era do ressentimento)