DIMITRI: Tenho de admitir, Tasso, às vezes eu gostaria de ser mais parecido com você.
TASSO: Mas não pode ser! Em termos existencialistas, você é um ser totalmente auto-originado! Você é quem você cria!
DIMITRI: Isso é maravilhoso! Porque eu sempre quis ser da sua altura.
Para mergulhar de cabeça no existencialismo, temos de dar uma provadinha no absolutismo hegeliano do século XIX, a visão filosófica de que só se obtém uma imagem verdadeira da vida olhando de fora para dentro. Foi o humorista Rodney Dangerfield quem disse: "Grande parte do melhor humor se pode encontrar na tensão entre o absoluto hegeliano e o estranhamento existencial do homem"? Provavelmente não. Mas se foi ele, a seguinte piada, clássica, traduz provavelmente o que Rodney queria dizer.
Um homem está fazendo amor com a esposa de seu melhor amigo quando ouve o carro do marido chegando na casa. Ele se enfia no guarda-roupas. O marido entra, vai ao guarda-roupas para pendurar o paletó, vê o amigo nu lá dentro e diz:
- Lenny, o que você está fazendo aí?
Lenny cordatamente encolhe os ombros e diz:
-Todo mundo tem de estar em algum lugar.
Essa é uma resposta hegeliana a uma pergunta existencialista. O marido quer saber por que Lenny especificamente está naquela situação existencial particular - nu e dentro de seu armário. Mas o amigo putativo, Lenny, por razões pessoais, escolhe responder a uma outra pergunta: "Por que alguém está em algum lugar em vez de em nenhum lugar?" Pergunta que só faz sentido se você for um eminente filósofo alemão como Hegel.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel dizia que a história se contitui do desdobramento no tempo de "Espírito Absoluto". O espírito de uma época (digamos, o rígido conformismo dos anos 1950) dá origem à sua antítese (o movimento hippie dos anos 1960), e o choque dos dois gera uma nova síntese (os "hippies de plástico" dos anos 1970, como os banqueiros de Wall Street com cabelos cortados à moda dos Beatles).
E assim vai, sempre e sempre, uma dialética de tese/antítese/síntese (que se transforma na nova tese) e assim por diante.
Hegel achava que tinha saltado fora da história e estava olhando de cima para o "todo", de um ponto de vista transcendental. Ele chamava esse ponto de vista de Absoluto. E de lá de cima, as coisas pareciam estar bem. Guerras? Só um movimento na dialética. Pestes? Outro movimento. Ansiedade? Nem se preocupe. A dialética está em movimento e nada se pode fazer a respeito. Só ficar ali e apreciar a paisagem. Georg Wilhelm Friedrich achava que olhava a história do ponto de vista de Deus!
Pense na velha canção de sucesso de Bette Midler "From a Distance", na qual a Divina Miss M imagina que está olhando o mundo lá de cima e acha que a coisa toda é harmoniosa e bacana. É dessa distância que Hegel olha o mundo. No final da canção, Deus em pessoa está olhando por cima do ombro de Bette, apreciando a bela vista. Quem poderia imaginar que Bette Midler é uma hegeliana?
Entra em cena o contemporâneo de Hegel, Soren Kierkegaard, e vem irado. "Que diferença faz se está tudo bem do ponto de vista do Absoluto?", pergunta Soren. Esse não é, nem pode ser, o ponto de vista de indivíduos existentes. Com essa declaração, nasce o existencialismo. "Eu não sou Deus", diz Soren. "Sou um indivíduo. Que importa que tudo pareça muito pacífico lá de cima? Eu estou bem aqui neste pedaço finito da coisa e estou ansioso, estou em perigo de desespero. Eu. E daí que o universo está inelutavelmente rolando em frente - é ameaçador que possa rolar por cima de mim!"
Então, se Kierkegaard encontra você dentro do armário dele e pergunta "O que você está fazendo aí?", não diga "Todo mundo tem de estar em algum lugar." Nosso conselho: invente.
O filósofo francês do século XX Jean-Paul Sartre pegou a ideia kierkegaardiana do assustador isolamento do indivíduo e desenvolveu as implicações disso sobre a liberdade e a responsabilidade humanas. Jean-Paul coloca a coisa assim: "a existência precede a essência", com o que ele quer dizer que os seres humanos não têm essência predeterminada, do jeito que, digamos, um cabide de roupas tem. Somos indeterminados, sempre livres para nos reinventar.
Jean-Paul Sartre era caolho e não era lá um sujeito muito bonito. Portanto, ele pode ter ficado chocado quando seu colega existencialista Albert Camus expandiu a ideia sartreana de liberdade humana dizendo: "Ah, depois de certa idade todo homem é responsável pela cara que tem."
Curiosamente, Camus parecia muito com Humphrey Bogart.
Se vemos a nós mesmos apenas como objetos com identidades fixas, cessamos de Ser, com S maiúsculo. E uma das maneiras de nos vermos como objetos é nos identificarmos com um papel social. Isso, diz Sartre, é mauvaise foi, ou má-fé. E não é nada bom.
Sartre olha o garçom do café e observa que ser garçom é fingir ser garçom. Garçons aprendem a ser garçons construindo sua impressão de um garçom. Garçons andam de um certo jeito, assumem uma certa atitude, estabelecem algum ponto na escala entre intimidade e distância etc. Tudo bem com isso, contanto que o garçom tenha consciência de que é apenas um papel. Mas todos nós sabemos que garçons acreditam que realmente são garçons, que isso é o que são essencialmente. Três mauvaise foi!
As piadas caçoam de nossa tendência impensada de nos identificarmos com as atitudes e valores de nosso grupo social nos apresentando exemplos exagerados. Isso é, em si, um gambito filosófico: o reductio ad absurdum.
Reductio ad absurdum é um tipo de argumento lógico que leva uma premissa até o ponto do absurdo e então afirma que a premissa oposta deve, portanto, ser verdadeira. Um argumento reductio que tem aparecido muito ultimamente é assim: "Se estendermos a ideia de casamento até o ponto de incluir uniões do mesmo sexo, o que irá nos impedir de aprovar casamentos entre pessoas e ornitorrincos?"
Na piada reductio abaixo, Sol atribui um novo sentido à má-fé inerente à identificação com um grupo.
Abe e seu amigo Sol estão dando um passeio. Passam na frente de uma igreja católica, onde um cartaz anuncia "Mil dólares para quem se converter". Sol resolve entrar e ver o que é aquilo. Abe fica esperando do lado de fora. Passam-se horas. Por fim, Sol sai.
- E aí? - pergunta Abe. - O que aconteceu?
- Me converti - diz Sol.
- Não brinca! - diz Abe. - Ganhou os mil dólares?
Sol diz:
- É só nisso que vocês pensam?
(E daí que não somos politicamente corretos? Somos filósofos. Se quiser nos processe!)
Por outro lado, também é má-fé nos ver como donos de possibilidades ilimitadas sem nenhum limite à nossa liberdade.
Duas vacas estão paradas num campo. Uma diz para a outra:
- O que você acha dessa doença da vaca louca?
- Não me importa nem um pouco! - diz a outra.- Eu sou um helicóptero.
Para os filósofos existencialistas, a ansiedade genuína, aquela que chamam de "angst" porque tem um gosto tão amargo quando você diz a palavra, não é sintoma de patologia a ser tratada com terapia. Não, é uma reação humana básica à própria condição da existência humana: nossa moralidade, nossa inabilidade em compreender plenamente nosso potencial e a ameaça de falta de sentido. Quem sabe, é melhor ser um filósofo cabeça-de-vento a ser um existencialista.
Os existencialistas se apressam em diferenciar entre "ansiedade existencial", tal como a ansiedade da morte, que eles sentem brotar da condição humana, e a ansiedade neurótica comum, como a ansiedade de Norman:
Norman começou a ficar ofegante quando viu o médico.
-Tenho certeza de que estou doente do fígado.
- Ridículo - disse o médico. -Você nunca saberia se tivesse doença de fígado porque não há nenhum desconforto.
- Exatamente! - disse Norman. - É esse o meu sintoma.
Martin Heidegger - existencialista alemão do século XX - responderia assim: "Você chama isso de ansiedade, Norman? Você ainda não viveu." E por "viver" eu quero dizer pensar sobre a morte o tempo todo!
Heidegger chegou ao ponto de afirmar que a existência humana é ser-indo-para-a-morte. Para viver autenticamente, temos de encarar de frente o fato de nossa mortalidade e assumir responsabilidade por viver vidas significativas à sombra da morte. Não devemos tentar escapar da ansiedade pessoal e da responsabilidade pessoal negando o fato da morte.
Três amigos morrem em um acidente de carro e se encontram numa sessão de orientação no Céu. O moderador celestial pergunta o que eles mais gostariam de ouvir a respeito de si mesmos quando os amigos e parentes os vissem no caixão.
O primeiro disse:
- Espero que as pessoas digam que eu era um ótimo médico e um bom pai de família.
O segundo disse:
- Gostaria que as pessoas dissessem que como professor eu dei uma grande contribuição à vida das crianças.
O terceiro disse:
- Gostaria de ouvir alguém dizendo: "Olhem, ele está se mexendo!"
Para Heidegger, viver à sombra da morte não é apenas mais corajoso; é o único jeito autêntico de viver, porque nossa hora pode chegar a qualquer minuto.
Esse cartum ilustra os limites de nossa liberdade. Um homem pode, dentro do limite do razoável, pensar em se tornar testemunha de Jeová. Mas pode significativamente pensar em se transformar em pato?
Existe uma outra charada existencialista oculta nessa ilustração, que é a seguinte: "Que diabos esses patos pensam que são?"
Um homem pergunta a uma vidente como é o céu. A vidente olha a bola de cristal e diz:
- Hum. Vejo uma boa notícia e uma má notícia. A boa notícia é que existem vários campos de golfe no céu e que são todos incrivelmente bonitos.
- Nossa! Fantástico! Qual a má notícia?
- É que você tem uma partida marcada para amanhã às 8h30.
Ainda não aceita? Tente esta aqui:
PINTOR: Como é que estão as vendas?
DONO DA GALERIA: Bom, tem uma notícia boa e uma notícia ruim. Um homem entrou e me perguntou se você era um pintor daqueles cuja obra valoriza depois que morre. Eu disse que achava que sim, então ele comprou tudo seu que havia na galeria.
PINTOR: Nossa! Que ótimo! E qual a notícia ruim?
DONO DA GALERIA: Era o seu médico.
Porém, de vez em quando ouvimos uma história sobre a morte que ousa olhar a maior angst na cara e dar risada. Gilda Radner teve a coragem de contar esta aqui na frente de uma plateia quando recebeu o diagnóstico de que estava com câncer terminal:
Uma mulher com câncer vai ver o oncologista, que diz:
- Bom, infelizmente acho que chegamos ao fim da linha. Você só tem mais oito horas de vida. Vá para casa e aproveite ao máximo.
A mulher vai para casa, dá a notícia ao marido e diz:
- Querido, vamos só fazer amor a noite inteira. E o marido diz:
- Sabe como você às vezes está a fim de sexo e às vezes não? Bom, eu simplesmente não estou com vontade hoje.
- Por favor - pede a mulher. - É o meu último desejo, querido.
- Mas eu não estou com vontade - diz o marido.
- Eu imploro, querido.
- Olhe - diz o marido -, para você é fácil dizer isso. Não vai ter de levantar cedo amanhã.
A ênfase existencialista em encarar a ansiedade da morte deu vida a uma nova mini-indústria, o movimento hospice, fundado na filosofia bioética da Dra. Elisabeth Kiibler-Ross, que estimula a aceitação honesta da morte.
CLIENTE DE RESTAURANTE: Como vocês preparam o frango?
COZINHEIRO: Ah, nada especial, não. A gente só conta para eles que eles vão morrer.
TASSO: Do que você está rindo? Estou falando da angst da morte. Não é para rir.
DIMITRI: Mas existe coisa pior que a morte.
TASSO: Pior que a morte? O quê?
DIMITRI: Já passou uma noite inteira com Pitágoras?
(Tom Cathcart e Daniel Klein - Platão e um Ornitorrinco Entram Num Bar...)