Mas então, o que anima nossas partes? “Esse obscuro objeto do desejo”, como o chamou Buñuel. Não estou falando de um adolescente em quem o simples balanço de um ônibus é capaz de produzir embaraços. Mas quando a idade avança, é o desejo quem manda. Qualquer homem que tentou comandar sua ereção, fê-lo debalde, pois o membro teima em desobedecer-lhe, animando-se quando não devia, desanimando-se quando ele mais precisava.
O desejo. Não confundir com a vontade. Ele é obscuro porque se trata de um iceberg imenso, com 10% visíveis (a vontade) e 90% imersos no oceano do inconsciente. São estes que comandam, com sua extrema complexidade, o resultado final.
Considere o exibicionista da capa de chuva. Ele goza com sua nudez mostrada? Não. O objeto de seu desejo é o horror pudico demonstrado pela vítima. Atualmente correria o risco de ser alvo de chacota, “Tudo isso para mostrar essa coisinha?”, e sua ereção desabaria. Não à toa ele saiu de moda.
Mas há nele um denominador comum com o desejo masculino: se a manobra der certo, ele estará no comando, portanto não se sentindo ameaçado. “As deusas são sempre malcomidas, porque nos ameaçam”, é uma crença masculina generalizada.
Quando jovens, nossa musa romântica nunca era parte de devaneios masturbatórios, mas sim as degradadas, que não ameaçavam e podiam ser tão sacanas quanto nós. As outras, coitadas, ficavam prisioneiras de sua santidade. Por isso o bom cafajeste é aquele que permite à mulher ser sexuada, não considera nenhuma como santa, eis o segredo de seu sucesso. A ameaça que impede a ereção se parece com a inibição de urinar, que muitos homens sofrem quando no banheiro do cinema, aquela fila impaciente atrás a lhes cobrar que se despachem. Imagine a profissional dizendo: “Como é, meu filho, vamos logo...”
O fetiche (que vem de “feitiço”) é o truque de despersonalizar a mulher, para tirar a possível ameaça de ter que levá-la em conta. “Se veste de enfermeira para mim?”, equivale a “Deixe de ser você, para eu não ter medo”. “Quando ela espirrou, eu brochei” (a pessoa apareceu, quebrou-se o feitiço).
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Enfim, cobrar sexo de um homem é um tiro no pé.
(Daudt, Francisco - A natureza humana existe: e como manda na gente)