Por toda parte e em todas as épocas houve muita insatisfação com os governos, as leis e as instituições públicas; em grande parte, porém, porque há sempre alguém pronto a imputar a estes a miséria, que é inseparável da existência humana, uma vez que — evoquemos o mito — é a maldição que atingiu Adão, e com ele toda a espécie humana.
No entanto, nunca essa falsa ilusão foi adotada de maneira tão mentirosa e atrevida como pelos demagogos da "atualidade". Estes, enquanto inimigos do cristianismo, são otimistas: o mundo é para eles um "fim em si mesmo" e, portanto, na sua essência, ou seja, segundo sua constituição natural, é organizado com a máxima excelência, a verdadeira sede da felicidade. Eles atribuem inteiramente aos governos os males colossais do mundo, que clamam contra tudo isso: se os governos de fato cumprissem seu dever, o céu seria na terra, ou seja, todos poderiam comer, beber, propagar-se e morrer sem esforço nem dificuldades, pois esta é a paráfrase do seu "fim em si mesmo" e o objetivo do "progresso infinito da humanidade", que eles não se cansam de proferir com frases pomposas.
(Arthur Schopenhauer - A Arte de Insultar)