Em francês [como em português] o termo cosmos deu, entre outras, a palavra cosmético. Na origem, é a ciência da beleza dos corpos, que deve estar atenta à justeza das proporções, e, posteriormente, à arte da maquilagem que deve pôr em relevo o que é “benfeito” (e dissimular, caso seja necessário, o que é menos...). É essa ordem, esse cosmos como tal, essa estrutura ordenada do universo todo que os gregos chamam de “divino” (theion), e não, como para os judeus ou os cristãos, um Ser exterior ao universo, que existiria antes dele e que o teria criado.
(Luc Ferry - Aprender a Viver)
“Quanto mais vazia a carroça, maior o barulho que faz” |
O escritor austríaco do início do século 20, Karl Kraus, escritor de aforismos como eu, conhecido como “língua de fogo”, dizia que a cosmética era a cosmologia da mulher. Claro que os chatinhos e as chatinhas acham que ele está dizendo que as mulheres não são capazes de entender cosmologia. Mas viver no nível banal do óbvio é típico dos corretos. Karl Kraus fala do lugar da beleza no universo feminino e de como isso é profundo na alma da mulher. Uma mulher que se sente feia é como um universo criado por um deus mau. Claro, os feinhos e as feinhas são contra a beleza porque não conseguem atingi-la e, sempre que se deseja muito algo e não se atinge, a alma deforma de inveja.
Dizer em voz alta que a cosmética é a cosmologia da mulher me dá vontade de sair na rua e agarrar a primeira mulher que eu encontrar e beijá-la. E provar seu gosto. Há uma certa leveza na constatação que faz Karl Kraus, leveza essa invisível para uma alma politicamente correta.
(GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DO SEXO, LUIZ FELIPE PONDÉ)