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"Caro Papa Francisco, somos um grupo de mulheres de todas as partes da Itália (e além), que te escreve para romper o muro de silêncio e indiferença com que nos deparamos todos os dias. Cada uma de nós está vivendo, viveu ou gostaria de viver uma relação amorosa com um sacerdote, do qual está apaixonada."
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 18-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Assim começa uma carta enviada ao Vaticano e assinada por 26 mulheres que afirmam ser "uma pequena amostra" em nome de muitas que "vivem no silêncio". As mulheres pedem que Bergoglio reveja a regra do celibato sacerdotal e que as receba "para levar diante de ti, humildemente, as nossas histórias e as nossas experiências".
No texto, as signatárias escrevem que as alternativas à situação que vivem "são o abandono do sacerdócio ou a persistência vitalícia de um relacionamento secreto": mas, no primeiro caso, "também nós, mulheres, desejamos que a vocação sacerdotal dos nossos companheiros possa ser vivida plenamente"; no segundo, "entrevê-se uma vida no contínuo escondimento, com a frustração de um amor não completo que não pode esperar por um filho". E concluem que o serviço "a Jesus e à comunidade" seria desempenhado "com maior impulso" por um sacerdote "apoiado por esposa e filhos".
O Abandono do sacerdócio ou a persistência vitalícia de um relacionbamento secreto?
 
No passado, Bergoglio não se isentou do tema do celibato, mas com uma posição bastante diferente. No livro escrito pelo cardeal com o amigo rabino Abraham Skorka, ele explicava que a tradição celibatária "é uma questão de disciplina, não de fé" e "pode-se mudar", mas acrescentava: "Por enquanto, sou a favor de que se mantenha o celibato, com os prós e os contras que ele tem, porque são dez séculos de boas experiências mais do que de falhas".
Sobre os relacionamentos dos padres, ele havia sido claro: "Se um deles vem e me diz que engravidou uma mulher, eu o ouço, procuro que ele tenha paz e, pouco a pouco, faço com que ele se dê conta de que o direito natural é anterior ao seu direito como padre. Portanto, ele tem que deixar o ministério e assumir esse filho, […] porque esse filho tem o direito de ter o rosto de um pai. Comprometo-me a ajeitar todos os papéis em Roma, mas ele tem que deixar tudo".
Na Igreja Católica, já existem padres casados. A disciplina do celibato vale para a Igreja latina, não nas católicas orientais. Existe a possibilidade de que, no futuro, se vá rumo a uma "dupla disciplina", também na Igreja latina. Talvez com as mesmas regras: apenas os celibatários podem ser bispos.
Não é um tabu. O cardeal Martini propôs que se "ordenassem homens casados que tenham experiência e maturidade". O secretário de Estado, Pietro Parolin, explicou em setembro passado que o celibato "não é um dogma da Igreja e pode ser discutido". Mas sem generalizar: Bergoglio dizia que, "se, hipoteticamente, o catolicismo ocidental revisasse o tema do celibato, creio que ele o faria por razões culturais (como no Oriente), não tanto como opção universal".

(''Somos 26 mulheres apaixonadas por padres'': a carta ao Papa Francisco)

publicado às 20:03



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