A intriga, a maledicência, a prosápia falada do que se
não ousou fazer, o contentamento de cada pobre bicho vestido
com a consciência inconsciente [?] da própria alma,
a sexualidade sem lavagem, as piadas como cócegas de macaco,
a horrorosa ignorância da inimportância do que são...
Tudo isto me produz a impressão de um animal monstruoso
e reles, feito no involuntário dos sonhos, das códeas húmidas
dos desejos, dos restos trincados das sensações.
(Fernando Pessoa - O livro do desassossego)
A Inveja, a Maledicência e o Furor pertencem à casta
que reconhece o Ódio por pai.
Exterminai os pais e não tereis que vos ocupar dos descendentes.
(WILLIAM WALKER ATKINSON - A Força do Pensamento)
"Hoje ser é aparecer, vivemos numa sociedade da imagem
e quem não aparece é como se não existisse...
Assim, meu Deus!, o esforço que se faz para aparecer, para se mostrar, para ser visto!...
Até certo ponto, é natural. Precisamos de ser conhecidos e reconhecidos. Se conquistássemos um lugar na história, teríamos superado de algum modo a angústia da morte, pois tínhamos vencido o anonimato, alcançando uma certa forma de imortalidade...
Por outro lado, quantos entraram na história pela porta errada!... Quantos cobardes não foram guindados à categoria de heróis apenas porque fugiram, mas pela porta que se veio mais tarde a mostrar que foi a porta certa!... Quantos medíocres não entraram na boca da fama sem qualquer mérito, mas apenas porque as circunstâncias os arrastaram para lá!... Em contraposição, quantos homens e mulheres com mérito real não acabaram por ficar enterrados para aí..., na ignorância, no desprezo..., simplesmente porque tudo lhes foi adverso!...
A pergunta que surge então é a seguinte: O que é decisivo: ficar com um grande nome na história? Ou, pelo contrário, haverá algo de realmente universal dado a todos e que é determinante para qualificar uma existência humana autêntica? Algo que seja da ordem do ser e não do ter, da ordem do ser e não do mero parecer e aparecer?...
Esse algo, essa capacidade e realidade é o amor. Não o amor-paixão, mas o amor verdadeiramente comprometido com o bem de alguém, com o bem dos outros."
Anselmo Borges - Janelas do (In)Visível
não ousou fazer, o contentamento de cada pobre bicho vestido
com a consciência inconsciente [?] da própria alma,
a sexualidade sem lavagem, as piadas como cócegas de macaco,
a horrorosa ignorância da inimportância do que são...
Tudo isto me produz a impressão de um animal monstruoso
e reles, feito no involuntário dos sonhos, das códeas húmidas
dos desejos, dos restos trincados das sensações.
(Fernando Pessoa - O livro do desassossego)
A Inveja, a Maledicência e o Furor pertencem à casta
que reconhece o Ódio por pai.
Exterminai os pais e não tereis que vos ocupar dos descendentes.
(WILLIAM WALKER ATKINSON - A Força do Pensamento)
"Hoje ser é aparecer, vivemos numa sociedade da imagem
e quem não aparece é como se não existisse...
Assim, meu Deus!, o esforço que se faz para aparecer, para se mostrar, para ser visto!...
Até certo ponto, é natural. Precisamos de ser conhecidos e reconhecidos. Se conquistássemos um lugar na história, teríamos superado de algum modo a angústia da morte, pois tínhamos vencido o anonimato, alcançando uma certa forma de imortalidade...
Por outro lado, quantos entraram na história pela porta errada!... Quantos cobardes não foram guindados à categoria de heróis apenas porque fugiram, mas pela porta que se veio mais tarde a mostrar que foi a porta certa!... Quantos medíocres não entraram na boca da fama sem qualquer mérito, mas apenas porque as circunstâncias os arrastaram para lá!... Em contraposição, quantos homens e mulheres com mérito real não acabaram por ficar enterrados para aí..., na ignorância, no desprezo..., simplesmente porque tudo lhes foi adverso!...
A pergunta que surge então é a seguinte: O que é decisivo: ficar com um grande nome na história? Ou, pelo contrário, haverá algo de realmente universal dado a todos e que é determinante para qualificar uma existência humana autêntica? Algo que seja da ordem do ser e não do ter, da ordem do ser e não do mero parecer e aparecer?...
Esse algo, essa capacidade e realidade é o amor. Não o amor-paixão, mas o amor verdadeiramente comprometido com o bem de alguém, com o bem dos outros."
Anselmo Borges - Janelas do (In)Visível
A Fama é uma deusa estranha: pequena, quando sai de casa, vai aumentando progressivamente de tamanho enquanto avança no cumprimento de sua missão. Por enquanto é apenas uma minúscula criatura, portando uma pequena trombeta em suas mãozinhas; uma menina, ainda. Mas é uma deusa veloz, por sua própria natureza; por isto não anda, mas voa, agitando graciosamente suas duas asas, que escondem uma miríade de olhos, feito o arguto Argos e o pavão espaventado.
A Fama é uma deusa de aparência encantadoramente bela, embora aos olhos dos amantes do pudor possa parecer às vezes extraordinariamente feia.
Com suas asas amplas ela fende os ares da ardente Líbia; o dardejante carro de Apolo apenas percorreu a metade do seu percurso e a núbil Fama já é agora uma moça crescida, de espantoso viço. Seu magnetismo e charme são inigualáveis: quase nenhum outro ser tem como ela o dom maravilhoso da persuasão. Por isto a sua estada em qualquer lugar é muito rápida; não precisa mais do que alguns instantes para transmitir a sua mensagem e ser acreditada imediatamente. Suas mensagens são quase sempre fidedignas e não têm nenhuma eiva de perversidade.
Ela está agora na corte do rei Jarbas, na Getúlia, e já fez soar pelos ares a sua divina trombeta — pois a Fama jamais desce à Terra para transmitir as suas novas — e já vai deixando aquele reino, pronta para levar adiante o seu ofício.
Entretanto, logo no seu encalço, vem outro ser, de natureza semelhante. É apenas um pouco mais discreto e tem a espantosa capacidade de dobrar de tamanho e volume a cada milímetro que avança. É, assim, um imenso ser alado, que rola com asas pelos céus, tendo uma aparência francamente repulsiva: gordo -imensamente gordo -, com bochechas estufadas que fazem lembrar o velho Bóreas, o poderoso vento do norte. Sua boca, entretanto, é pequena, quase um orifício, pois este ser não fala, mas antes cicia as suas novas.
Quando chega, cercado sempre pela Calúnia e pela Maledicência, amigas inseparáveis, a primeira coisa que faz é dizer, baixinho, ao primeiro que encontra, com voz maviosa e infinitamente sedutora:
— Venha, incline agora seus ávidos ouvidos a meus discretos lábios. Este deus é o Boato, irmão mais novo da graciosa Fama.
(A. S. Franchini / Carmen Seganfredo - AS 100 MELHORES HISTÓRIAS DA MITOLOGIA)