Os mais nítidos são os ombros erguidos, entre os quais parece querer esconder-se uma cabeça medrosa. Como em um caracol ou uma tartaruga, ela se mete para dentro ao confrontar os perigos do mundo lá fora. Quando algo nos assusta, nós automaticamente encolhemos a cabeça. Então, quando o susto passa, os ombros retornam á postura não assustada e a cabeça se atreve novamente para diante. Conseqüentemente, ombros cronicamente erguidos mostram que seu proprietário permanece constantemente nesse estado abaixado e chocado e não consegue mais livrar-se do medo. Talvez, também, ele já tenha levado tanto na cabeça que inconscientemente prefere abaixar-se e passar de maneira furtiva pela vida com a cabeça metida entre os ombros. O medo crônico congelado na área dos ombros mostra-se também na estreiteza da postura. Não é raro que a esses ombros faltem a largura e a energia para suportar o fardo da vida e a responsabilidade correspondente. O ombro esquerdo erguido unilateralmente serve tanto para proteger o coração como para bloqueá-lo.
O pólo oposto anatômico é constituído por pessoas com os ombros caídos, que expressam resignação. Eles lembram pássaros com as asas caídas e, de fato, as omoplatas têm certa semelhança com asas recolhidas. Ombros caídos necessariamente suportam mais carga (responsabilidade) do que são capazes, seus possuidores estão sobrecarregados. Os ombros tentam deixar escorregar aquilo que é demasiado para eles, e tentam subtrair-se. Há algo nisso que desperta compaixão, sobretudo quando os ombros são além do mais estreitos. Os afetados dão a impressão de que tomam para si todo o peso do mundo. Dá vontade de abraçá-los sob os braços (igualmente caídos) e aliviá-los um pouco.
Ombros acentuadamente estreitos evidenciam uma capacidade reduzida de assumir a carga da responsabilidade pela própria vida. Seus possuidores se recolhem para poder ater-se com a vida. Eles dão a impressão de que teriam de fazer um esforço imenso para suportar os encargos que têm pela frente. Como base para o âmbito em questão, tais ombros são um pressuposto bastante fraco, o controle da vida somente pode ser assumido com grandes fadigas. É natural que os possuidores de ombros que servem mais para ornamento que outra coisa tenham uma grande necessidade de apoio, preferindo ombros especialmente largos onde possam apoiar a cabeça e, juntamente com ela, a responsabilidade.
Entre os ombros erguidos e os ombros caídos localizam-se os ombros em ângulo reto, que denotam um estado normal. Entretanto, mesmo neste caso há sinais de exagero que não deixam de ser significativos. Os ombros tipicamente masculinos, com os másculos estirados, sinalizam para todo o mundo que aqui alguém está disposto a assumir a responsabilidade por si mesmo e mais. Acentuando especialmente essa expressão, talvez através de massa muscular obtida à custa de treinamento ou dos enchimentos correspondentes, alguém mostra o quanto pensa no efeito que exerce sobre os outros. Neste ponto, ele levanta também a suspeita de simular coisas que gostaria de ter. Os soldados, que não somente usam galões em suas jaquetas mas também tiras em todas as camisas, se traem como coletividade em relação a isso. A voz popular fala de ombros inchados. Indica-se para o exterior quanto poder e quanta responsabilidade se está disposto a assumir, sendo que na verdade a maioria teve a espinha quebrada para exercer, sob ordens, a falta de responsabilidade. Ombros superdimensionados indicam egos similares, enquanto ombros estreitos indicam o contrário. Quando, além disso, eles são caídos, isso indica que neste caso alguém desistiu de se afirmar e de mostrá-lo ao mundo.
Os ombros, portanto, dizem algo sobre o tipo de conflito que se tem com o mundo, sendo que os ombros em ângulo reto estão realmente na altura certa. Quando caídos, mostram o desânimo de seu proprietário; erguidos, que querem eludir a responsabilidade para cima. Pois ombros erguidos também se tornam estreitos, dando proteção adicional á cabeça em sua tentativa de eclipsar-se.
Além disso, a altura relativa dos ombros mostra, com o lado mais baixo, qual metade da polaridade é acentuada na vida. Assim, nos homens é geralmente o ombro direito que está mais baixo, indicando com isso que estão mais distendidos nesse âmbito e tendendo a ir de encontro ao mundo de maneira masculinamente controlada e agressiva. O ombro esquerdo mais baixo, que ocorre em mulheres na maioria das vezes, indica que se encara seu ambiente de maneira femininamente passiva. Com o ombro mais baixo mostra-se ao mundo o lado do qual se está mais seguro.
A função própria dos ombros é dar liberdade de ação aos braços. Mas de maneira similar a como eles, com o tempo, podem mover-se para cima e proporcionar um esconderijo para a cabeça, eles podem mover-se também para a frente para abrigar entre si o peito e o coração. Esta é uma típica postura de auto-proteção, com a qual os afetados mostram como se sentem vulneráveis e carentes de proteção. Muitas vezes, nas mulheres, há por trás disso a sensação de ter de proteger ou ainda ocultar seu peito do mundo. Essas más posturas remetem-se freqüentemente à puberdade. Quando a menina na verdade deveria ter sido um menino, os seios que começam a crescer não são saudados com alegria e sim escondidos com vergonha. Seios grandes, em uma situação de insegurança de si mesmo, podem levar a que se prefira ocultar uma feminilidade tão demonstrativa. Sentimentos de inferioridade e inseguranças em relação ao próprio papel feminino que não são confrontados conscientemente encarnam-se e, nas regiões correspondentes, tornam-se visíveis e palpáveis como couraças. Quando a postura protetora tem por objetivo o coração e seus sentimentos, é especialmente o ombro esquerdo que está especialmente curvado para a frente.
Com essa postura os afetados se fazem estreitos, é como se eles se escondessem em si mesmos. Dessa maneira, seu interior torna-se estreito e seus pulmões já não podem expandir-se da maneira correspondente. A respiração curta que dai resulta explícita a pobre disposição para a comunicação. A imagem de isolar-se e de fechar-se para fora combina com a tendência de conservar as emoções para si mesmo e de praticamente não se defender de golpes eventuais. Em vez disso, as vitimas dessa postura tendem a retirar-se ainda mais para seu espaço protegido, que consiste de ombros adiantados, e braços e costas curvadas. Mas, juntamente com a proteção desejada, todo bunker eficaz traz também consigo estreiteza, rigidez e opressão que podem levar até a falta de ar.
(Rüdger Dahlke - A Doença como Linguagem da Alma)