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A mulher na Igreja

por Thynus, em 28.11.14
"Se a verdade é mulher, não teremos razões para suspeitar que todos os filósofos, na medida em que foram dogmáticos, pouco entenderam de mulheres?" É com estas palavras que Nietzsche inicia a sua obra Para Além do Bem e do Mal, escrita em Sils-Maria, 1885.
É bem possível que esta afirmação se aplique não só aos filósofos, mas também aos teólogos, e, em geral, aos dirigentes, por princípio homens, da Igreja Católica.
Embora se não excluam traços maternos em Deus, a Bíblia chama a Deus Pai e não Mãe. Em primeiro lugar, porque se vivia numa sociedade patriarcal, e, depois, porque era necessário evitar toda uma linguagem que lembrasse as deusas pagãs da fertilidade...
É claro que Deus não é sexuado; portanto, chamar-lhe Pai é uma metáfora. Assim, tanto poderíamos dirigir-nos a ele como a ela, isto é, tanto poderemos chamar-lhe Pai como Mãe.
No Credo cristão, referimo-nos a Deus como Pai omnipotente criador do céu e da terra. Não dizemos: Mãe omnipotente. Isso está também vinculado à concepção da biologia grega, concretamente aristotélica, que, no acto da geração, atribuía toda a actividade ao sémen masculino. Portanto, a mulher era considerada essencialmente passiva. Não se esqueça que o óvulo feminino só em 1827 foi descoberto. Por isso, Tomás de Aquino dirá expressamente que "a mulher é algo de falhado": de facto, de si, a força activa do sémen está orientada para gerar uma realidade plenamente semelhante, portanto, do sexo masculino; a geração do feminino acontece devido a uma fraqueza. Daqui concluirá Tomás de Aquino que por natureza a mulher é subordinada ao homem, que os filhos devem amar mais o pai do que a mãe, que o sacerdócio está vedado às mulheres, que as mulheres não podem pregar, pois a pregação é um exercício de sabedoria e autoridade, etc...
Estas e outras razões, como, por exemplo, influências gnósticas e o celibato obrigatório dos padres, contribuíram para que a Igreja Católica se tornasse altamente hierarquizada e masculinizada, patriarcal. Note-se como a própria língua, que é sedimentação e forma de um mundo, está, no referente à autoridade, estruturada de modo machista: basta pensar que, se já nos não causa hoje dificuldade ouvir falar em ministra, por exemplo, ainda constitui autêntica agressão dizer, por exemplo, uma bispa...
Assim, não quereria simplificar, mas é bem possível que então muitos exageros de católicos na sua devoção a Nossa Senhora, exageros que são uma das causas de legítima crítica por parte do protestantismo, tenham aqui o seu fundamento e surjam precisamente como compensação para este estado de coisas, ou seja, para extremos de masculinização. Esta compensação pode até derivar para excessos tais que chegam à quase divinização de Maria, fazendo dela uma figura fora do nosso mundo e da nossa humanidade. Atribui-se-lhe uma concepção especial, sem mácula, uma maternidade que nada teria a ver com nenhuma mãe, chega-se ao ponto de ser ela a impedir a ira de Deus e do Filho sobre os homens...
Esquece-se então que, quando se fala em virgindade de Maria, o Credo não é nenhum tratado de biologia. Esquece-se sobretudo que, se os cristãos vêem em Maria um modelo, é porque ela também soube o que é sofrer, amou, não abandonou o Filho mesmo no extremo da ignomínia, quando tudo desabava, continuou a confiar em Deus, rezou, acreditou, esperou, continuou a amar...

(Anselmo Borges - Janela do (In)Visível)

publicado às 16:32



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