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A lei do celibato clerical

por Thynus, em 05.08.16
A escassez de padres celibatários na Igreja Católica é tão grave que muitas paróquias estão sendo forçadas a fechar. Ao mesmo tempo, existem mais de 3.000 padres casados nos Estados Unidos. Para colocar tal assunto sob uma perspectiva melhor, um em cada 3 padres se casou. Existe um grande número de padres disponíveis para trabalhar em paróquias - em média mais de 400 padres em cada Estado. Os padres casados continuam sendo padres, porém deixam de ser clérigos. Um padre se encaixa numa vocação de serviço, uma vocação divina. Um clérigo ocupa uma posição organizacional na igreja institucional.

Quando um padre se casa, ele é dispensado do seu estado clerical. Contudo, ele conserva a totalidade do sacerdócio. Ele deveria ser referido como um ex-clérigo. A ordenação é permanente. Este fato é validado pela Lei Canônica número 290 da Igreja. Vinte e uma leis da igreja possibilitam os católicos a usarem padres casados. No casamento, em razão da Lei Canônica 290 e de nossa educação ou ordenação, e ainda dos doze séculos de tradição católica romana, os padres mantém o seu papel de servir ao povo, conforme Jesus o fez.

Os padres casados não abandonam a sua fé. Continuam a ajudar os católicos em suas necessidades, enquanto aguardam o completo restabelecimento, quando a lei do celibato, feita pelo homem, for anulada. No início deste milênio, 30% dos padres são casados. Muitos padres casados e suas esposas ministram como um casal.

Padres Casados Na Igreja Antiga

A história registra amplamente o apoio ao sacerdócio casado. O celibato existia no primeiro século, com os eremitas e monges, mas este era considerado um estilo de vida opcional, alternativo. Os políticos medievais deram origem à disciplina do celibato obrigatório dos padres. O apóstolo Pedro era casado. Existem referências no evangelho sobre a esposa de Pedro e sua sogra. É provável que todos os apóstolos de Jesus, exceto o jovem João, fossem casados. Os apóstolos casados e suas esposas foram os primeiros pastores e os primeiros missionários na igreja primitiva. Eles e seus sucessores no ofício da pregação levaram a mensagem de Jesus através das culturas e a protegeram contra muitas adversidades. Eles guiaram a frágil igreja jovem através do crescimento primitivo e a ajudaram a sobreviver a numerosas perseguições.

O Papa JP2, em 1993, declarou publicamente que o celibato não é essencial ao sacerdócio. Este pronunciamento dá aos padres casados uma grande esperança de ver solucionado o problema da escassez de padres celibatários.

A igreja primitiva fazia um trabalho de equipe embasado em pequenas comunidades familiares, através da região mediterrânea. A vida era marcada por um sentimento de alegre expectação. Jesus disse que iria voltar e os primeiros cristãos acreditavam que isso logo iria acontecer. Dirigidos pelos apóstolos e outros discípulos do Senhor, eles se encontravam nas casas uns dos outros para estudar a Palavra de Deus e ter comunhão. Os estranhos eram convidados a compartilhar o pão e o vinho e ninguém era excluído de recebê-los. Os estranhos logo se tornavam amigos, juntavam-se à jovem igreja e traziam outras pessoas para ouvir as boas novas do Evangelho de Jesus Cristo.

A Sagrada Escritura registra que os apóstolos e os bispos eram casados. No Novo Testamento, na 1 Timóteo 3:1-7, Paulo discute as qualificações necessárias a um bispo. Ele descreve uma espécie de “pai sereno”, um pai de família. Como parte de sua descrição, S. Paulo até mesmo pergunta: ”Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?” (1TM 3:5) Paulo estabeleceu muitas comunidades pequenas e as deixou nas mãos dos pastores e bispos casados.

A liderança da igreja era embasada no serviço e prestava contas ao povo. Cada membro da igreja tinha voz na comunidade. Conforme lemos em Atos dos Apóstolos 15:22, as decisões do grupo eram tomadas de acordo com toda a assembléia. A igreja primitiva era retratada como democrática, onde a liderança escutava a comunidade e satisfazia suas necessidades.

Influência Romana na Igreja

Como foi possível chegar à grande instituição eclesiástica que existe hoje? O que teria acontecido com o ministério dos cristãos casados? Tudo começou no ano 313 d.C, quando o Imperador Constantino legalizou o Cristianismo dentro do Império Romano. Sob a sua legislação, a igreja primitiva mudou de um grupo de pequenas comunidades perseguidas na fé oficial para um poder mundial sob o imperador Teodósio, no ano 380 d.C.

As intenções de Constantino ao adotar o Cristianismo não eram totalmente espirituais. Sua posição foi sendo desafiada por grupos políticos. Constantino precisava exibir o seu poder. Forçar outros políticos a se tornarem cristãos foi o teste de lealdade. Constantino usou a nova religião como uma ferramenta eficaz, no sentido de desalojar os seus inimigos. Ela fortaleceu o seu poder político. Constantino também teve de enfrentar a unificação de muitos povos que seus exércitos haviam vencido. O Cristianismo foi a chave para estabelecer uma nova identidade romana nos povos conquistados. Aparentemente, ele os tornou cristãos para salvar suas almas, porém essa nova religião foi simplesmente o ato final de sua conquista sobre eles.

Com o Cristianismo sendo agora a religião do Império Romano, muitas coisas mudaram para os cristãos. Seus líderes deixaram de se esconder, temendo por suas vidas. Em vez disso, passaram a receber pagamento pelos seus serviços eclesiásticos e gozavam de privilégios especiais na sociedade romana. Aos bispos era concedida autoridade civil e determinada jurisdição sobre o povo em sua área. Os romanos, que eram membros da elite governante local, depressa “converteram-se” ao Cristianismo, conforme era exigido pelo Imperador. Eles eram homens treinados na vida publica e hábeis na política urbana. Foi então que se tornaram padres, sem qualquer bem embasamento bíblico. Esses políticos romanos com o seu recém adquirido sacerdócio trouxeram atitudes impessoais e legalistas do governo romano para a Igreja. A celebração da Ceia passou de pequenas reuniões nos lares para o que hoje nós chamamos “Missa” englobando gigantescos números de pessoas em grandes edifícios. A celebração da Ceia tornou-se um ritual altamente estruturado, que imitava as cerimônias da corte da Roma imperial. Esta influência romana pagã é a fonte das vestimentas sacerdotais, da genuflexão, da postura e da estrita formalidade da Missa.

A estrutura da igreja institucional emergiu da imitação do governo romano. Grandes edifícios, cortes de tribunal eclesiástico, governantes e súditos começaram a substituir as pequenas comunidades embasadas na família, as quais eram servidas por um sacerdócio local casado. Os novos padres romanos agiram no sentido de retirar a autoridade dos ministros casados nas pequenas comunidades, a fim de consolidar o poder político ao seu redor. Com a assistência do império romano, a liderança da igreja tornou-se uma hierarquia, a qual se afastou de suas origens familiares, caindo na mentalidade romana de uma classe governante que estava acima do povo na rua.

Outras mudanças aconteceram, as quais retiraram os direitos do povo, em favor dos políticos romanos. A igreja adotou a prática romana de permitir que somente os homens mantivessem a autoridade institucional. A Igreja Romana fez o contrário do que o Senhor Jesus havia feito. Ele exaltou o papel da mulher, enquanto a igreja rebaixou a sua condição. O celibato foi criado.

Celibato Obrigatório - Ataque às Mulheres e à Intimidade conjugal

Com o passar do tempo, o celibato adquiriu o status de espiritualidade especial. Certas facções promoveram-no, começando a denegrir a santidade matrimonial e a vida familiar. A prática romana de abster-se das relações conjugais, para conservar a energia, antes de uma batalha ou de um evento esportivo, encontrou o seu caminho na pratica litúrgica. Aos padres foi ordenado absterem-se de intimidade com suas esposas, na véspera da celebração das missas. A mensagem resultante foi que a sexualidade e o matrimônio já não eram santos. O celibato tornou-se também outra oportunidade política nas mãos dos padres e bispos ambiciosos. Eles usavam o estilo de vida celibatário como ferramenta política, no sentido de diminuir a influência dos padres casados. Uma atitude negativa em direção às mulheres e à sexualidade começou a emergir da hierarquia, a qual se colocou em árduo contraste à saudável perspectiva familiar, que era central à igreja primitiva. Por causa disso o celibato foi estabelecido como o mais elevado estado de santidade e conseqüente supressão do sacerdócio casado.

Por exemplo, em 366, o Papa Damásio começou a perseguir o sacerdócio casado, quando declarou que os padres podiam continuar a casar, porém ficavam proibidos de fazer amor com suas esposas. Tanto os padres como o povo rejeitaram essa lei. No ano 385, o Papa Sirício abandonou a própria esposa e os filhos, a fim de ascender à posição papal. Ele decretou imediatamente que nenhum dos padres poderia mais continuar casado, porém não conseguiu obediência à sua odiosa e nova lei.

Durante os próximos 1.000 anos, uma ética sexual não natural emergiu da teologia em desenvolvimento na igreja. Essa nova preocupação com a sexualidade era contrária às relações normais do homem e fora do andamento natural da vida, conforme estabelecido por Deus. Em 401, Santo Agostinho escreveu: “Nada é tão poderoso para neutralizar o espírito de um homem como a carícia de uma mulher”. A crescente atitude contra a sexualidade e as mulheres foi designada a controlar os aspectos íntimos da vidas das pessoas e essa pratica prossegue até ao dia de hoje. Por serem pais de família, os padres casados podiam ver a agenda política por trás da obsessão da hierarquia em relação à sexualidade. Os padres casados continuaram solidários com o povo, tendo feito o possível para atrapalhar os contínuos esforço da hierarquia romana para ganhar poder sobre eles e suas famílias.

Proibida a Comunhão Para os Católicos Divorciados 
Que se Casavam Novamente

Com a proibição do divórcio e de um segundo casamento, outra prática política entrou em jogo. A hierarquia da igreja medieval estava em luta com muitas monarquias e famílias reais, através da Europa. Com a capacidade de controlar os casamentos reais, Roma verificou que poderia influenciar as alianças políticas e manipular os assuntos de Estado. Como resultado desse novo esforço em controlar as alianças reais, privando-as da comunhão e dos sacramentos, caso se divorciassem, imediatamente o povo comum passou a ser punido, quando se divorciava e se casava novamente. Era negada total participação na vida da Igreja, quando o povo não concordava com a vontade das autoridades eclesiásticas. O status legal substituiu a espiritualidade como modelo de santidade e boa posição na igreja institucional, o que ainda hoje continua sendo uma poderosa influência. [Como se pode ver, não foi por obediência às Escrituras, mas por conveniência política que a Igreja Católica se colocou contra o divórcio].

Infalibilidade, um conceito criado pelo Homem

Nessa crescente atmosfera de poder e legalismo, alguns papas medievais abusaram de sua autoridade. No ano de 1075, o Papa Gregório VII declarou que ninguém poderia julgar um papa, exceto Deus. Introduzindo o conceito de infalibilidade, ele foi o primeiro papa a declarar que Roma jamais podia errar. Ele mandou fazer estátuas à sua imagem e as colocou nas igrejas através da Europa. Ele insistia em que todo mundo deveria obedecer ao papa, e que todos os papas eram santos, por causa de sua associação com S. Pedro. [No século 19, o Papa Pio IX estabeleceu definitivamente o dogma da Infalibilidade papal].

Como proprietária de terras, a hierarquia medieval sabia que iria ganhar mais poder político, o qual tentava conseguir em cada continente europeu. Um benefício adicional da propriedade de terras era o dinheiro. Ela agora podia coletar impostos dos fiéis e cobrar pelas indulgências e outros ministérios sacramentais. Essa prática contribuiu para a Reforma Protestante e a divisão da comunidade da Igreja Católica Romana, no século 16.

No século 11, os ataques contra os padres casados aumentaram de intensidade. Em 1074, o Papa Gregório VII legislou que qualquer homem que fosse ordenado deveria, antes, declarar o celibato. Prosseguindo em seus ataques contra as mulheres, Gregório declarou publicamente que “a Igreja não pode escapar das garras do laicato, a não ser que os padres escapem das garras de suas esposas”. Dentro de 20 anos as coisas pioraram ainda mais. Em 1095 houve uma escalada de violência contra os padres casados e suas famílias. O Papa Urbano II ordenou que os padres casados que ignorassem a lei do celibato fossem aprisionados para o bem de suas almas. Em seguida, ordenou que as esposas e os filhos dos padres casados fossem vendidos como escravos e que o dinheiro fosse levados aos cofres da Igreja.

O esforço para consolidar o poder da Igreja na hierarquia medieval a desapropriação dos bens e das terras das famílias dos padres alcançaram o ápice em 1139. A legislação que oficializou definitivamente o celibato veio no Concílio de Latrão, sob o papa Inocêncio II. A motivação para essas leis foi adquirir terras em toda a Europa, fortalecendo, assim, o poder do papado. A lei do celibato usava uma linguagem falando de pureza e santidade, mas o seu verdadeiro intento foi solidificar o controle sobre o clero mais baixo e eliminar qualquer confrontação aos objetivos políticos da hierarquia medieval.

Os padres cometem pecados muito piores do que os da fornicação

Um homem corajoso, o bispo italiano Ulrich de Imola, argumentou que a Igreja não tinha o direito de proibir o casamento dos padres e aconselhou os bispos a não abandonarem suas famílias. Ele disse: “Quando o celibato é imposto, os padres cometem pecados muito piores do que a fornicação”. O grande número de prisões de padres envolvidos em má conduta sexual tem comprovado que o Bispo Ulrich estava certo. A evidência científica que está emergindo demonstra que o celibato obrigatório está ligado aos abusos sexuais cometidos pelos padres. A respeitável tradição do sacerdócio casado foi virtualmente diluída pelo celibato forçado. As saudáveis origens das famílias de nossa fé foram desperdiçadas com a supressão do sacerdócio casado e da desvalorização da mulher na Igreja.  

110.000 padres casados em todo o mundo

Muitos dos problemas que hoje enfrentam os padres casados podem ser traçados de volta ao período da história da Igreja. Nos últimos 25 anos, mais de 100.000 padres católicos romanos, no mundo inteiro, têm se casado e muitos têm continuado, discretamente, a praticar o sacerdócio. Para cada três padres católicos romanos nos Estados Unidos, existe atualmente um padre casado e esse número continua a crescer. O matrimônio tem dado a esses padres uma nova perspectiva. Eles praticam o sacerdócio com uma compaixão mais profunda pelas pessoas e as contemplam na face. Casais de padres casados têm visitado idosos em casas de repouso, quando nenhum padre celibatário está disponível. Os padres casados entendem as necessidades especiais dos católicos divorciados que desejam contrair um segundo matrimônio. O público tem comprovado apreciar o seu estilo afetuoso e sua compaixão diante dos problemas da vida. Principalmente as mulheres se mostram profundamente comovidas pela honestidade e respeito demonstrados pelos padres casados às suas esposas e pela sensibilidade que demonstram diante dos problemas femininos.

70% dos católicos americanos querem padres casados

Quando tentam mudar do celibato para o matrimônio, aos padres não é dada opção alguma que não seja a de assinar uns papéis mo Vaticano, os quais inferem que eles não tiveram realmente uma vocação para o sacerdócio e que são, psicologicamente, instáveis ou moralmente fracos. A verdade é exatamente o oposto. Muitos católicos americanos têm formalmente reconhecido a sua coragem, especialmente os que têm sido alcançados através do programa “Rent a Priest” (Alugue um Padre). Nas pesquisas nacionais, 70% dos católicos desejam que os seus padres reassumam na Igreja Católica o seu ofício como padres casados. Eles ficaram impressionados com a integridade dos padres casados e com a compassiva compreensão que eles demonstram às pessoas passando por situações difíceis.

“O celibato não é essencial ao sacerdócio” (Papa João Paulo II)

Além da declaração do Papa JP2 de que o celibato não é essencial ao sacerdócio, têm acontecido outros movimentos promissores no Vaticano com relação aos padres casados. A maioria dos católicos ignora que Roma está ordenando ministros protestantes casados ao sacerdócio e lhes destinando paróquias aqui os Estados Unidos. Em alguns casos, esses ministros protestantes, agora padres católicos, substituirão os padres que foram obrigados a deixar suas paróquias por terem se casado. Roma está permitindo que eles continuem casados e está provendo apoio às suas famílias. Estudos mostram que o custo de manter a família de um padre casado é menor do que o de um celibatário, com governanta e outros assistentes.

O Vaticano ordena ministros protestantes casados

O celibato obrigatório é uma regra feita pelo homem, uma disciplina, exatamente como a obsoleta proibição de moças coroinhas. Essas práticas disciplinares não são necessárias à fé católica romana e devem ser mudadas. Hoje existem muitas paróquias fechadas por causa da regra do celibato. Com uma simples assinatura o Vaticano poderia suspender essa regra para todos os padres. Ao fazer isso, a Igreja poderia mobilizar 110.000 casais de padres/esposas no mundo inteiro e reabrir as paróquias que foram obrigadas a se fecharem.

O Papa JP2 está tomando outra iniciativa que pode envolver os padres casados. Existe um desligamento de 20 ritos universais. Quem não ouviu falar da Igreja Bizantina, do Rito Caldeu, do Rito Copta? Nem todos eles estão em comunhão com Roma e o Papa JP2 está tentando unificar todos esses ritos, formando uma única família eclesiástica. A maioria das igrejas orientais tem conservado durante séculos a tradição do sacerdócio casado e desejará continuar com a mesma, ao formar qualquer nova aliança com Roma.

Leis Canônicas - O público deve fazer a requisição

Cada lei eclesiástica é referida como um Cânon. O corpo de leis da Igreja foi formado logo após a imposição do celibato obrigatório. Parece que o monge Graciano, o qual formulou a Lei Canônica, não estava a par da injusta perseguição feita aos padres cassados e às suas famílias. Creio que ele escreveu, no Código, leis que os protegeriam e permitiriam, eventualmente, a restauração do sacerdócio casado. Existem 21 leis eclesiásticas que permitem pedir ajuda a um casal de padre/esposa. Eu gostaria de mencionar duas dessas leis, a fim de explicar como podem elas ser usadas para ajudar os católicos a se sentirem à vontade, quando chamam um padre casado.

O Cânon 290 é muito especial. Ele fala da indissolubilidade do sacerdócio. Vou citar: “Após ter sido recebida, validamente, a ordenação ela jamais poderá ser invalidada”. Esta lei confirma que os sacramentos que os padres casados dão aos fiéis são válidos. Muitas pessoas acham que, quando um padre se casa, ele fica excomungado e deixa de ser um padre. Mas o Cânon 290 mostra que isso não é verdade. Está no Código que nós sempre nos referimos a nós mesmos como “padres católicos romanos casados”.

Convém esclarecer que os sacramentos dados pelos padres casados são válidos, embora não sejam lícitos. Isso é tecnicamente correto e eu gostaria de dar um exemplo para explicar a diferença entre os dois termos: “válido” e “lícito”. Vou usar uma analogia médica, a fim de esclarecer o assunto. Imaginemos que um médico do Novo México está voando para Chicago, a fim de assistir a uma conferência. Ele desce no aeroporto em O’Hara, aluga um carro e, a caminho do hotel, ele presencia um acidente de tráfego. Um homem é arremessado do seu carro e está sangrando muito de um ferimento no braço. O médico corre para socorrer a vítima, faz estancar o sangue e imobiliza o novo paciente, até a chegada da ambulância. Em tal situação de emergência, o auxílio médico é válido, visto como o médico é formado numa Faculdade de Medicina credenciada. Porém sua ajuda não é lícita, pois ele não tem licença para praticar a Medicina no Estado de Illinois. Eis a diferença entre “válido” e “lícito”. Podem ter certeza de que a vitima do acidente ficou feliz em que um médico válido estivesse ali para ajudá-la, quando ela tanto precisou de ajuda.

Quando os católicos (ou alguém precisando de ajuda) não encontram um padre celibatário disponível, eles já estão apelando aos padres casados com a mesma compreensão de sua validade, segundo as leis da Igreja. Os padres casados são pessoas que receberam uma vocação divina para o sacerdócio. Eles completam com sucesso anos de treinamento nos seminários e são validamente ordenados pelos bispos católicos romanos. Receberam diplomas em Teologia e em outras disciplinas.

Sob o prisma das leis da Igreja, estamos num estado de emergência, pois a escassez de padres celibatários está causando o fechamento de paróquias e ameaçando a disponibilidade das missas e dos sacramentos, essenciais às atividades da Igreja. É muito provável que aconteça, futuramente, uma mudança nesse quadro. De fato, todos os estudos feitos, inclusive os patrocinados pela CNBUSA, indicam que essa crise [da falta de padres ativos] apenas vai piorar nos anos vindouros. Existem pouquíssimos padres celibatários - e já idosos - para atender ao crescente número de católicos.

Os bispos aplaudem pacificamente

Os bispos americanos lidam, diariamente, com a escassez de padres celibatários. Um em cada quatro bispos tem dito, não oficialmente, que estão prontos a dar boas vindas e receber de braços abertos a volta dos padres casados. Esses bispos são excelentes líderes que desejam o melhor para o seu povo. Eles sabem que existem em média 400 padres casados em cada Estado. Trabalhando em conjunto, os padres celibatários e os casados poderiam impedir o fechamento das paróquias. Trabalhando lado a lado, eles poderiam melhorar drasticamente a disponibilidade da missa e dos sacramentos. Muitos bispos americanos desejam que a educação e a experiência que os padres casados têm para oferecer à Igreja não sejam desperdiçadas. Muitos deles nos têm encorajado a continuar promovendo o sacerdócio casado, pois é uma tradição da Igreja que a prática se torne um costume e que o costume se torne lei. Isso já está sendo feito com a aceitação de ministros protestantes ao sacerdócio e a declaração do Papa JP2 de que o celibato não é essencial ao sacerdócio. O próximo passo é que os fiéis comecem a pedir ajuda pastoral dos padres casados.

Talvez vocês não estejam sabendo que algumas mudanças na Igreja têm acontecido através do povo. As moças coroinhas são um exemplo excelente. Muitas paróquias treinaram moças e rapazes para ajudarem na missa. O Vaticano emitiu uma regra contra moças coroinhas, em 1987. Visto como essa regra não foi aceita e a atuação de moças coroinhas continuou pelo mundo, o Vaticano acabou relaxando a regra. A prática se torna hábito e o hábito se torna lei. Quanto maior for o número de católicos exigindo padres casados, a fim de lhes proverem os sacramentos, mais depressa essa prática redundará no completo restabelecimento dos padres casados, dando-se um fim ao fechamento das paróquias, com melhor assistência sacramental aos fiéis católicos. Já tomamos muito espaço nesta fita, portanto, vamos resumir. Nossa mensagem é simples e direta. Como católicos romanos, vocês têm o direito de exigir que os padres casados celebrem missas e dêem os sacramentos.

John Shuster (padre católico casado)
Movimento Nacional dos Padres Casados

publicado às 22:15



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