A tolerância é uma virtude, pelo menos é o que pensam muitos. Claro que essas pessoas têm motivos nobres: sociedades diferentes possuem morais diferentes, elas dizem, e não deveríamos assumir de maneira arrogante que a nossa moral é a correta, portanto, “vamos ser tolerantes com as diferenças”. Mas esse tipo de tolerância universal realmente não faz sentido. Se você acredita que certa prática é moralmente errada, então não deveria tolerá-la, porque seria aprová-la. E se você acredita que a prática é moralmente aceitável, não está “tolerando”, está concordando! Assim, se você realmente acha que uma prática está errada, deveria pensar que está errada para todos.
Suponhamos que você fosse um professor e aplicasse testes idênticos a duas turmas de séries diferentes. Os estudantes ficariam escandalizados. Por quê? Porque você estaria concedendo uma diferença no “valor” – uma série diferente – onde não havia nenhuma diferença subjacente nos “fatos” – aqui, respostas – para justificá-la. E isso está claramente errado.
Mas aqueles nobres tolerantes estão fazendo a mesma coisa. Os ocidentais condenam (por exemplo) “a mutilação genital feminina”, ao passo que vários outros consideram isso uma obrigação moral. Um tolerante – que acredita que não “tolerar” os outros está errado – está, na verdade, criando uma diferença “no valor”: aquela prática é errada para “nós”, mas aceitável “para eles”. Mas agora, quais são as diferenças relevantes nos fatos entre os dois casos para justificar a criação desses valores diferentes? Não há nenhuma.
É verdade que diferentes sociedades possuem diferentes crenças com relação à moral, mas pensemos que alguém acredita que sexo entre um adulto e uma criança seja moralmente aceitável. Não importa quão nobres tolerantes possamos ser, não toleraríamos essa pessoa. Por quê? Simplesmente porque sua crença de que sexo com crianças é aceitável não faz com que seja, nem seria se este homem tivesse uma dúzia de amigos que compartilhassem sua crença, ou mesmo algumas centenas ou milhares, ou toda a sociedade. A legitimidade moral não pode ser encontrada em números.
Se você acredita que uma prática está errada, então tenha a coragem de defender suas convicções: é errado para todos.
Você não deveria tolerar os tolerantes.
(Andrew Pessin - Filosofia em 60 segundos : expanda sua mente com um minuto por dia!)