Fernando Pessoa era uma pessoa que mergulhava nas profundezas de si mesmo.
Como seria Deus para uma pessoa assim?
Vamos descobrir pelas palavras do próprio autor.
Mas antes, o que é Imago Dei?
Palavras de outro ser que mergulhava nas profundezas de si mesmo:
Carl Gustav Jung (Aion: estudos sobre o simbolismo do si-mesmo, § 116) diz que “[…] como individualidade, o si-mesmo é único e singular, mas como símbolo arquetípico é uma imagem divina e, consequentemente, também universal e ‘eterno’”.
O dito por Jung possibilita não só uma relação entre o Deus teológico que também é divino, universal e eterno; com o Self que, como símbolo arquetípico, apresenta as mesmas características.
Porém, apesar da característica de universalidade, a concepção psíquica de Deus e a singularidade do Self têm representações particulares na psique de cada ser humano, pois cada um concebe Deus e vivencia seu Self dentro da configuração de sua própria individualidade psíquica.
A representação de Deus dentro da configuração da individualidade psíquica de cada um é a imagem particular de Deus.
Esta imagem pessoal de Deus é a Imago Dei do indivíduo.
Conheçamos agora um pouco da Imago Dei de Fernando Pessoa.
A Imago Dei de Fernando Pessoa
Goethe diz, com verdade, que o Deus de cada homem é como esse homem; não será então o Deus do maior homem o maior Deus?
Haja ou não deuses, deles somos servos.
Desde o momento em que nos sentimos consciência-criadora-do-universo, sentimo-nos Deus.
Deus é racionalista, porque Deus é mesmo Razão.
Deus, Deus, Deus? disse o anarquista. Há séculos que Deus morreu; mas tem levado tanto tempo a fazer-lhe o caixão que já infesta o ar de seu apodrecimento.
Não haver deuses é um deus também.
Somos o não-ser de Deus.
Plurais, não existimos; compostos, estamos mortos.
Age como se não houvesse Deus, lembrando-te porém que Ele existe.
Deus é um conceito econômico.
À sua sombra fazem a sua burocracia metafísica os padres das religiões todas.
Para cada filósofo, Deus é da sua opinião.
O Deus do idealista alarga-se para além da definição e da mais absoluta convertibilidade.
Os Deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser.
Prouvera aos deuses, meu coração triste, que o Destino tivesse um sentido!
Prouvera antes ao Destino que os deuses o tivessem!
Tudo é a história de um motivo e fala de Deus por um momento.
A diferença entre Deus e nós deve ser não de atributos, mas da própria essência do ser.
Ora tudo é o que é.
Portanto Deus é não só o que é mas também o que não é.
Confunde-nos de Si com isso.
Deus é o existirmos e isto não ser tudo.
Quem tem as flores não precisa de Deus.
A natureza é a diferença entre a alma e Deus.
Pertenço a uma geração — supondo que essa geração seja mais pessoas que eu — que perdeu por igual a fé nos deuses das religiões antigas e a fé nos deuses das irreligiões modernas.
Não posso aceitar Jeová, nem a humanidade.
Cristo e o progresso são para mim mitos do mesmo mundo.
Não creio na Virgem Maria nem na eletricidade.
Deus é o Seu melhor gracejo.
O milagre é a preguiça de Deus, ou, antes, a preguiça que Lhe atribuímos, inventando o milagre.
Não criou Deus ao mundo, senão só ao mundo que criou.
A realidade é o gesto visível das mãos invisíveis de Deus.