Chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de caráter.
Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes questões da vida: (1) quero?; (2) devo?; (3) posso?
Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve.
Mario Sergio Cortella Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve.
Meu conselho é que se case. Se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo.
Sócrates O que são valores morais? Todo mundo fala, mas ninguém sabe ao certo. Uma dica: quando você ouvir alguém falando muito de valores isso, valores aquilo, cuidado! Ele vai bater sua carteira (excluí o “ela” aqui porque não acho que as mulheres costumam ser tão criminosas como os homens, e, quando o são, o dano moral é sempre maior para elas). Outro papo comum hoje sobre o tema valores é: “Ninguém hoje tem mais valores”. O interessante dessa ladainha é que, ao mesmo tempo, quem lamenta a morte dos valores é o mesmo que acha que tudo deve ser novo e dissociado do passado. Valores só existem quando existem condutas bem marcadas por expectativas sociais que herdamos para além de nossa vontade. Essa moçada pensa que valores são coisas que você escolhe como um desodorante ou uma banda de música.
Crise de valores |
O filósofo que mais falou desses valores foi o próprio Nietzsche, para dizer que eram uma criação dos fracos para controlar os fortes, porque estes eram fonte de valor para si mesmos. Isso significa que esse homem nietzschiano, o superhomem, não precisa de marcas de comportamento exteriores a ele, e que essas marcas sejam criadas pela sociedade para controlá-lo. Para o romântico alemão, a força, a coragem, a espontaneidade são valores que brotam da força interna do homem ou da mulher, que são superiores. Essa força interna é a vontade de potência de que tanto fala Nietzsche.
No mundo contemporâneo, a herança nietzschiana, principalmente de corte francês, em filósofos como Gilles Deleuze e Michel Foucault, e o caráter relativo dos valores ficaram expostos, e, portanto, sua validade é relativa a tempo e espaço específicos. Se formos para trás um pouco no tempo, e chegarmos ao século XVII, em filósofos como Blaise Pascal, ou no XVI, em Michel de Montaigne, ambos carregados de teor cético em seus argumentos, ou mais atrás ainda, e formos aos últimos séculos da era pré-cristã na Grécia, e ouvirmos as vozes dos sofistas e céticos, veremos que todos eles, apesar de não usarem a expressão valores, sempre foram relativistas. Pascal chega a afirmar que, se o nariz de Cleópatra fosse outro, a história do mundo seria outra. Logo, os valores seriam outros.
O problema da ética dos valores é que ela é, no fundo, uma ética que pressupõe tradições históricas que se impõem às pessoas que nelas vivem. A modernidade, e seu ódio à ideia de tradição e permanência no tempo, anseia por valores, mas é arredia à própria ideia de valores morais, porque os considera opressores. A paixão pelo novo, traço brega da modernidade, a impede que valorize qualquer noção de passado, e os valores, para funcionar, precisam estar ancorados numa experiência de perenidade.
Entretanto, não duvide que existam valores no mundo contemporâneo, e posso dar alguns exemplos deles: eficácia, objetividade, produtividade. Você já imaginou recusá-los? Como é a vida de alguém que não aceita esses valores? Boa sorte se você quiser fazer a experiência. É assim, sentindo o peso dos valores, que você percebe o que são os valores de uma cultura. Os bonitinhos de nosso mundo gostam de posar de valores éticos, mas a ética deles é mesmo a do sucesso, da vaidade e da eficácia. Suspeito que nunca existiu uma época tão ridícula como a nossa em sua farsa ética.
(Pondé, Luiz Felipe - Filosofia para corajosos)
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