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Theotokos

por Thynus, em 05.12.10

 Maria, mãe de Jesus, pouca ou nenhuma importância teve no cristianismo primitivo. Paulo não a menciona em suas cartas (claro Paulo não menciona a ninguém a não ser um Cristo Jesus que parecia mais bem um conceito espiritual que outra cosa). Nos evangelhos as referências são quase depreciativas. Jesus não parecia exactamente um defensor de amor filial ou de valores familiares:

"Se alguém me quer seguir e não odeia o seu pai e mãe, a sua mulher e filhos, a seus irmãos e irmãs, e incluso a sua própria pessoa, não pode ser meu discípulo". ( nas traduções modernas, odiar foi substituído por desprender-se de) (Luc. 14:26)

"Aquele que ama a seu pai ou a sua mãe mais que a mim, não é digno de mim; e o que ama a seu filho ou a sua filha mais que a mim, não é digno de mim "(Mat.10:37-38)

Então, a pergunta é: de onde este repentino interesse em converter a desprezada Maria na Theotokos, a portadora de Deus, Virginem Deiparam et Deigenitricem, em suma, "A MÃE DE DEUS"? A explicação, como sempre, é de tipo político/social e puramente oportunista. A necessidade de uma figura feminina no cristianismo surgiu já no princípio do século IV com o fim de poder atrair os milhões de seguidoras da Grande Deusa - pouco importava o nome que lhe era atribuído localmente - a Mater Magna, a Mater Domina. A primeira introdução de Maria na sociedade foi com a proclamação em 345 da Natividade como festa oficial. A partir daquele momento era cada vez mais urgente elevar Maria de condição já que a Igreja não logrou erradicar as religiões matriarcais não obstante o afã com que ia destruindo todos os seus lugares de culto, pelo menos em Roma. O mais resistente de todos os símbolos matriarcais era o de Isis com o menino Horus. Não havia maneira de acabar com ela em especial, e o conceito da Deusa em geral, já que a sua veneração na sua forma mais primitiva remontava a 35 séculos a.C. e estava, portanto, quase genéticamente condicionada. A Deusa com o menino é provavelmente uma das imagens mais veneradas através do tempo, como estas 3 imagens correspondentes respectivamente à Pérsia, Egipto e Índia, demonstram claramente. Como não é de estranhar, a veneração a Maria surgiu muito forte em Alexandria e, como não havia estatuetas de Maria, os cristãos usavam - com reminiscências da antiga tolerância - as de Ísis com Horus nos braços. Até tal ponto eram tolerantes neste particular, que as devotas entravam com a mesma facilidade num templo dedicado a Ísis ou numa Igreja cristã, para adorar a mesma imagem (a origem da Virgem negra data daqueles tempos já que muitas das estatuetas de Ísis estavam esculpidas em basalto negro).


Com a aceitação da Santa Trindade em 381, definir a posição de Maria tornou-se cada vez mais urgente e a ocasião estratégica surgiu no Concílio de Éfeso celebrado em 431 e convocado por Teodosio II para pôr fim à controvérsia nestoriana. Durante o concílio a polémica surgiu rapidamente quando Nestório, patriarca de Constantinopla, defendeu a sua tese, contrária à Trindade, por considerar que Cristo era na realidade duas pessoas distintas (Deus e homem). Por esta razão também se opôs a considerar Maria como Theotokos, já que para ele, Maria era a mãe de Cristo, Christotokos, mas não do Verbo Divino. O Concílio depôs Nestório, condenou os seus postulados, e sancionou a doutrina de que Jesus Cristo é Deus verdadeiro e homem verdadeiro, que tem duas naturezas (humana e divina) fundidas numa só pessoa. Como extensão lógica, o Concílio aprovou o título de "Mãe de Deus" para Maria. (a sua posterior denominação de "Madonna" vem de Madoma, a contracção de Mater Domina, um dos títulos da Grande Deusa).

Há um facto curioso que demonstra claramente o oportunismo da aprovação em questão; no mesmo concilio uma moção atribuindo a possessão de uma alma à mulher foi apenas aprovado por maioria de um miserável voto, o mesmo resultado que em Niceia mais de cem anos atrás. A Igreja, ao contrário do que tinha pretendido, sempre foi profundamente misógina. Os santos varões (padres da Igreja) sempre tiveram um grande desprezo para com a mulher. "As mulheres não devem ser iluminadas nem educadas de forma alguma. De facto, deveriam ser segregadas, já que são causa de insidiosas e involuntárias erecções nos santos varões." (Santo Agostinho de Hipona, Padre da Igreja). Não se compreende muito bem como continuam a existir mulheres cristãs. Uma estranha síndrome de "Belém"?
Quanto às "insidiosas e involuntárias erecções", citadas pelo santo bispo (coitado, depois que perdeu a virilidade, ele, como tantos outros, teve que valer-se do cajado episcopal, curiosamente também ele um símbolo fálico), teríamos pano para mangas... O testemunho de vinte séculos da História da Igreja não é nada abonatório para os varões da igreja romana no referente à santa(?) castidade... Ainda bem que a mulher é "causa da nossa alegria"... Benditas erecções! Não é do pau hasteado que vem a salvação?

publicado às 19:28


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