Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Consumo, logo existo!

por Thynus, em 21.07.11

Ler Bauman é sempre uma experiência desafiadora. O seu dom mais precioso é ser capaz de penetrar profundamente no mundo social, que aparece na sua natureza mais óbvia, para fazer-nos ver significados difíceis de entender porque tão quotidianos e tão óbvios.Na sociedade de consumo da modernidade líquida, não há líderes nem hierarquias, pois o consumo é uma atividade solitária, mesmo quando ocorre em conjunto.A sociedade dos consumidores aspira à satisfação dos desejos de consumo mais do que qualquer outra sociedade do passado, mas, paradoxalmente, tal gratificação deve continuar a ser uma promessa e as necessidades não devem ter fim, porque a satisfação plena resultaria numa estagnação econômica.O contraaltar do “homo consumens” é o “homo sacer”, o pobre que, por falta de recursos, foi expulso do jogo como consumidor deficiente ou "avariado". A miséria dos excluídos não é mais considerada uma injustiça a ser corrigida, mas o resultado de um pecado individual: assim, as prisões substituem-se às instituições de assistência social.A contribuição que Bauman nos oferece, com as suas análises críticas, é repropôr a questão da acção moral: um acto intrinsecamente livre e, portanto, sempre em risco de falhar, mas que também é uma característica original do ser humano, na base do seu ser social e, finalmente, da sua sobrevivência como espécie.Outrora - na fase sólida da modernidade - a "sociedade dos produtores", época de massas, regras vinculativas e poderes políticos fotes. Os valores que a regiam eram segurança, estabilidade, durabilidade. Esse mundo desmoronou-se e agora vivemos na "sociedade de consumo", cujo valor supremo é o direito-obrigação da "busca da felicidade", uma felicidade instantânea e perpétua que não deriva tanto da satisfação dos desejos quanto da sua quantidade e intensidade . No entanto, diz Bauman, em comparação com os nossos antepassados, não somos mais felizes: quando muito, mais alienados, isolados, muitas vezes perseguidos, drenados por vidas agitadas e vazias, forçados a participar numa competição grotesca para a visibilidade e o status, numa sociedade que vive para o consumo e transforma tudo em mercadoria. Mas tudo, até os próprios consumidores. Não obstante estamos no jogo e nãos nos rebelamos, nem sentimos qualquer impulso para fazê-lo.
Para o filósfo Decartes a máxima era “cogito, ergo sum!” (“penso, logo existo”. Na sociedade dos consumidores a máxima é “Consumo, logo existo!”. Falsa ilusão.

publicado às 20:28



Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog

Arquivo

  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2017
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2016
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2015
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2014
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2013
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2012
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2011
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2010
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2009
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2008
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2007
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D