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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
Ler Bauman é sempre uma experiência desafiadora. O seu dom mais precioso é ser capaz de penetrar profundamente no mundo social, que aparece na sua natureza mais óbvia, para fazer-nos ver significados difíceis de entender porque tão quotidianos e tão óbvios.Na sociedade de consumo da modernidade líquida, não há líderes nem hierarquias, pois o consumo é uma atividade solitária, mesmo quando ocorre em conjunto.A sociedade dos consumidores aspira à satisfação dos desejos de consumo mais do que qualquer outra sociedade do passado, mas, paradoxalmente, tal gratificação deve continuar a ser uma promessa e as necessidades não devem ter fim, porque a satisfação plena resultaria numa estagnação econômica.O contraaltar do “homo consumens” é o “homo sacer”, o pobre que, por falta de recursos, foi expulso do jogo como consumidor deficiente ou "avariado". A miséria dos excluídos não é mais considerada uma injustiça a ser corrigida, mas o resultado de um pecado individual: assim, as prisões substituem-se às instituições de assistência social.A contribuição que Bauman nos oferece, com as suas análises críticas, é repropôr a questão da acção moral: um acto intrinsecamente livre e, portanto, sempre em risco de falhar, mas que também é uma característica original do ser humano, na base do seu ser social e, finalmente, da sua sobrevivência como espécie.Outrora - na fase sólida da modernidade - a "sociedade dos produtores", época de massas, regras vinculativas e poderes políticos fotes. Os valores que a regiam eram segurança, estabilidade, durabilidade. Esse mundo desmoronou-se e agora vivemos na "sociedade de consumo", cujo valor supremo é o direito-obrigação da "busca da felicidade", uma felicidade instantânea e perpétua que não deriva tanto da satisfação dos desejos quanto da sua quantidade e intensidade . No entanto, diz Bauman, em comparação com os nossos antepassados, não somos mais felizes: quando muito, mais alienados, isolados, muitas vezes perseguidos, drenados por vidas agitadas e vazias, forçados a participar numa competição grotesca para a visibilidade e o status, numa sociedade que vive para o consumo e transforma tudo em mercadoria. Mas tudo, até os próprios consumidores. Não obstante estamos no jogo e nãos nos rebelamos, nem sentimos qualquer impulso para fazê-lo.
Para o filósfo Decartes a máxima era “cogito, ergo sum!” (“penso, logo existo”. Na sociedade dos consumidores a máxima é “Consumo, logo existo!”. Falsa ilusão.