O homem contemporâneo não sabe o que fazer exactamente com a morte. A única saída que nos ocorre é ignorá-la, não falar dela, não pronunciar o nome das doenças incuráveis. Convertemos a morte no moderno «tabu» que substituiu o antigo tabu sexual. Às crianças explica-se-lhes tudo sobre a origem maravilhosa da vida, mas ninguém se atreve a iniciá-las ao mistério da morte. Há muitos pais que, ante a criança que pergunta para onde foi o avô, sentem o mesmo mal-estar ou maior que antes, quando perguntavam de onde vinham os meninos. São admiráveis todos os esforços que fazemos para adiar a morte, ignorá-la e viver afastando de nós tudo o que nos possa recordar a sua proximidade. Toda gente quer parecer jovem, forte, agressivo e invulnerável. Desejamos a juventude, a saúde e a força porque cremos poder encontrar em tudo isso uma protecção contra o irremediável: a velhice e a morte. Não queremos recordar o que na realidade somos: seres profundamente débeis, vulneráveis e, em definitivo, mortais. Mas há, todavia, algo mais. São muitos os que se dizem cristãos porque admiram o evangelho e veneram Jesus Cristo, ainda que confessem modestamente não ambicionar nem desejar ou esperar com alegria a ressurreição. Na realidade, contentar-se-iam com prolongar esta vida de modo indefinido. Não será tudo isto sintoma de um grave empobrecimento e sinal de uma profunda ingenuidade? Se a nossa vida é insatisfatória, não é porque seja curta, mas porque nunca poderá satisfazer as nossas aspirações mais profundas. O homem pode e deve prolongar esta vida, humanizá-la, torná-la sempre melhor. Mas, apenas com isso, não alcança a vida que anela. Apenas desde o realismo profundo da nossa condição mortal e desde a necessidade sentida de salvação, podemos escutar com fé a promessa de Jesus Cristo: «Eu sou a Ressurreição e a Vida: quem que crê em mim, mesmo que morra, viverá» .Talvez, para entender estas palavras, precisamos antes de mais, deixar de lado os auto-enganos ilusórios, libertar-nos da nossa ingenuidade e recordar aquela observação tão certeira de D. Solle: «O homem não vive apenas de pão, morre também apenas com pão» (cfr. Mt. 4,4).