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É bem verdade que nos tempos que correm há fenómenos que enchem as praças públicas e os teatros da vida - tão estranhos e contraditórios, que até os  engolimos sem sequer os mastigar. No domínio da tecnologia, o que ontem era, hoje deixou de ser. Num só dia saltam para a ribalta realidades que equivalem a um ano inteiro. E há transformações sociais (mais retumbantes que as alterações climáticas) tão subtis que fazem de um ano uma sucessão de séculos.

Mas não só na tecnologia. Também no pensamento e na religião. O caso que acaba de passear-se diante dos nossos olhos, sem que lhe ponderássemos o significado, teve o nome de Dia do Corpo de Deus, nomenclatura que devia regressar ao original Corpus Christi, Corpo de Cristo.

Paremos um pouco diante da garbosa procissão de Quinta-Feira passada. Muita cor, muito espanejar de roupas brilhantes, cheirando a baú,  em que o vermelho era rei, anjinhos e saloias, bandeiras e generais, ministros e presidentes e, atrás do pálio medieval, a grande multidão, toda feliz, sacralizada e, paradoxalmente,  mundanizada. “Que bonito! Graças a Deus que voltámos a ter este dia! Graças ao Santíssimo que voltou a ser Dia Santo de Guarda”!

Graças a quem?...A Deus, não. Nem ao Santíssimo. Graças àqueles que  os profanadores, os destruidores do Dia Santo, apelidaram de “Geringonça”.  Não foram  nem os bispos nem os cardeais nem os padres nem as freiras, com todo o turbilhão de bênçãos e rezas. Foram os deputados da Assembleia da República (malevolamente taxados de genéricos  comunistas)  foram eles que fizeram o “milagre” de outras rosas: transformar em dia santo aquela Quinta-Feira que os outros – até a cristianíssima Cristas – profanaram, em 2013! Mais escandaloso foi ver  a própria Igreja, o Patriarca e a Conferência Episcopal Portuguesa que, sem tugir nem mugir,  até conluiaram com a  “beatíssima”  coligação que nos governava, para riscar do mapa o feriado do Corpus Christi e o de Todos os Santos. No entanto, foram estes mesmos, fariseus profissionais, que se pavonearam pelas ruas e avenidas, drapejando pendões e penduras…

 Não haverá por aí alguém que recolha o sumo da festa, o sentido mais íntimo deste estranho fenómeno? … Julgo que sim. Em primeiro lugar, a conclusão de que foi o Povo (menos o que votou na coligação PaF) que, através dos ilustres deputados,  restituíu ao Corpus Christi  a dignidade perdida. Em segundo lugar, as “fintas” cinzentas de uma Igreja oportunista que se alia aos detentores do poder, mesmo atraiçoando a sua matriz identitária. Como dizia o Mestre: “Quem tem ouvidos de entender, entenda”!

Sempre foi assim. A propósito da comemoração dos 40 anos de Autonomia Regional, recorto e recordo a quem me lê o “mimo” de contradição que marcou o dealbar de “Abril” na Madeira, 1974: para a direcção do matutino laico, Diário de Notícias, foi convidado um distinto  sacerdote madeirense, Paquete Oliveira. Para o diocesano Jornal da Madeira, o bispo expulsou um ilustre padre, professor, doutor formado em Roma, Abel Augusto da Silva,  e lá colocou um rapaz, quase imberbe, que mais tarde viria a ser líder do maior partido e presidente do governo regional. Para quê mais testemunhas?!

 Tal como na vida política de qualquer país, também será sempre o Povo esclarecido quem mudará as obsoletas  e matreiras  estruturas   da Igreja do circo e do trapézio.  Outra luta não tem sido a do Papa Francisco para limpar do Vaticano os “velhos abutres” camuflados de púrpura.

Sejamos dignos da nossa Hora.

27.Mai.16

Martins Júnior

publicado às 11:52


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