As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor,
pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja,
seu corpo, da qual Ele é o Salvador.
(Efésios 5, 22-23)
Os arquétipos da Grande Mãe e do Pai são os dois arquétipos
básicos da psique. Eles têm um poder psicológico tão grande que a
dominância de um tende a desequilibrar o self individual ou cultural às
expensas das características do outro. O dinamismo matriarcal
(arquétipo da Grande Mãe) é regido pelo princípio do prazer, da
sensualidade e da fertilidade. Por isso, nas culturas,
ele é geralmente representado pelas deusas e deuses das forças da natureza.
Por outro lado, o dinamismo patriarcal (arquétipo do Pai) é regido pelo princípio da
ordem, do dever e do desafio das tarefas. O poder, com o qual se impõe,
divide a vida em polaridades altamente desiguais e exclusivamente opostas
como bom e mau, certo e errado, justo e injusto, forte e fraco, bonito
e feio, sucesso e fracasso. Estas polaridades estão reunidas em
sistemas lógicos e racionais. Seus deuses, deusas e ideais são
conquistadores e legisladores. Foi esse dinamismo que codificou os papéis sociais
rígidos do homem e da mulher, atribuindo a ela uma condição inferior
junto com a maioria das funções matriarcais. Esse dinamismo é
característico das guerras de conquista, das sociedades de classe com
acentuada hierarquia social e rígida codificação ideológica da conduta.
(CARLOS AMADEU B. BYINGTON, in Prefácio a "O Martelo das Feiticeiras",
HEINRICH KRAMERe JAMES SPRENGER)
"O cristianismo ressuscitou Maria. Mas acaso essa transformação das deusas pagãs em uma virgem cristã marca um progresso para o gênero feminino? Certamente não, nós estamos longe de uma Atena, de uma Diana, de uma Deméter, que iluminaram a humanidade e lhe deram leis. Maria, a partir de então o ideal de mulher no cristianismo, é a encarnação da nulidade, do apagamento; a negação de tudo quanto constitui a individualidade superior: a vontade, a liberdade, o caráter."
(Maria Deraismes)
Como Ísis se converteu em Virgem Maria
Este culto é uma das ocorrências mais surpreendentes na história primitiva da Igreja Cristã. Não houve nenhuma justificação para este facto nos Evangelhos. A figura de Maria é bastante obscura. Ela e a restante família se opuseram totalmente à missão de Jesus, chegando ao ponto de considerá-lo louco (Mc 3,21). Jesus separou-se totalmente de sua família e mantinha una muito tensa relação com sua mãe: " Mulher, que tenho a ver contigo?"(Jo 2,4). Apesar disso, a crescente aceitação de Jesus como o Filho de Deus, criou uma tendência inclinada a conceder uma posição especial a sua mãe. Apenas Mateus e Lucas tinham feito uma vaga menção da possível virgindade de Maria. Nesta escassa informação se baseou o posterior culto à Mãe Virginal de Deus. A veneração da Mãe de Deus recebeu um forte impulso quando a partir de 312 a. C.(acto de tolerância por parte de Constantino) a Igreja Cristã se converteu, pouco a pouco, em Igreja Imperial, com a consequente conversão das massas pagãs do Império. Esta gente acostumada a milénios de culto à Grande Mãe, a Deusa, a Virgem Divina, etc. não podia aceitar sem mais o patriarcalismo Judaico integrista adoptado pelo Cristianismo primitivo.
Não é surpreendente que foi no Egipto onde se originou a adoração de Maria sob o título de Teotokos (prenhe de Deus). Mais tarde, no concílio de Éfeso (431 A.D.) esta designação egípcia foi convertida em dogma da Igreja. Como vemos foi no Egipto, onde até à era cristã, Ísis (com o filho Horus nos braços) fora adorada sobre todas as coisas, onde se cristalizou o culto à Virgem Maria (com o menino Jesus nos braços). Ou melhor dito, onde a Deusa Ísis se converteu na Virgem Maria. Parece então, que o destino de Ísis foi converter o Cristianismo primitivo, descendente direto do Judaísmo monoteísta patriarcal, numa religião sincrética.
Até ao século XI a posição da mulher cristã melhorou muito em relação ao que tinha sido nas sociedades puramente patriarcais anteriores. A mulher tinha direito à propriedade, a explorar um comércio e, por tanto, tinha uma certa independência. Esta atitude tão liberal da Igreja foi, como se demonstrou depois, puramente estratégica. Durante estes séculos a Igreja estava em plena expansão, convertendo, uma depois da outra, as tribos e povos pagãos. Como esta conversão sempre começou com as mulheres, era muito conveniente que estas se dessem conta de que a posição da mulher no Cristianismo era muito superior ao que estavam habituadas. Não somente isto, mas até ofereceram à mulher conversa a oportunidade de libertar-se de matrimónios inconvenientes já que a nova religião somente considerava válidos os matrimónios cristãos.
O Cristianismo sempre foi propenso a anular os matrimónios juntos por outros Deuses (sic). Em finais do século XI todas as tribos pagãs Europeias tinham sido convertidas à fé, e a posição da mulher mudou drasticamente. Não recuperou a sua semi-liberdade de séculos anteriores até ao bem entrado século XX.
A exterminação de qualquer suposta heresia, a Inquisição, a caça às bruxas (e até o mesmo conceito de bruxaria) foram instrumentos para eliminar qualquer vestígio "matriarcal" da face da terra cristã. Não puderam eliminar a veneração à Virgem, mas a converteram num símbolo eficaz de consolação para que as mulheres submissamente aceitassem o seu destino.