"Não lhe restará qualquer dúvida de que o tempo psicológico é uma doença mental, se observar as suas manifestações colectivas. Ocorre, por exemplo, na forma de ideologias como o comunismo, o nacional-socialismo, ou qualquer outro nacionalismo, ou na forma de sistemas rígidos de crenças religiosas, que operam sob a assunção implícita de que o maior bem reside no futuro e que, por conseguinte, os fins justificam os meios. Os fins são uma ideia, um ponto no futuro projectado pela mente, quando a salvação, seja sob que forma for – felicidade, satisfação pessoal, igualdade, libertação, etc. –, será alcançada. Não poucas vezes, os meios para lá chegar são a escravidão, a tortura e o assassínio de pessoas no presente.
Por exemplo, calcula-se que qualquer coisa como cinquenta milhões de pessoas foram mortas para estabelecer o regime comunista, para criar um "mundo melhor" na Rússia, na China e noutros países. Isto é um exemplo assustador de como uma crença num paraíso futuro pode criar um inferno presente. Poderá haver qualquer dúvida de que o tempo psicológico é uma doença mental grave e perigosa?
E como é que este padrão da mente opera na sua vida? Está sempre a tentar chegar a um outro lugar que não aquele onde você se encontra? A maior parte do seu esforço é apenas um meio para alcançar um fim? A sua satisfação pessoal está sempre ao virar da esquina ou confinada a prazeres de curta duração, tais como o sexo, a comida, a bebida, as drogas, ou ainda a entusiasmos e excitações? Está sempre concentrado em transformar-se, em realizar-se, em alcançar objectivos, ou então em correr atrás de qualquer nova excitação ou um novo prazer? Acredita que se adquirir mais coisas terá uma maior satisfação pessoal, será suficientemente bom ou psicologicamente completo? Está à espera que algum homem ou alguma mulher dêem um sentido à sua vida?
No estado de consciência normal, identificado com a mente ou não iluminado, o poder e o infinito potencial criativo que residem no Agora são completamente encobertos pelo tempo psicológico. Então, a sua vida perde a sua vitalidade e a sua frescura e você perde a capacidade de se espantar. Os antigos padrões de pensamento, emoção, comportamento, reacção e desejo são representados em dramas que se repetem vezes sem fim, são um guião na sua mente que lhe dá uma espécie de identidade, mas distorce ou encobre a realidade do Agora. A mente cria então uma obsessão com o futuro como um escape para o presente insatisfatório."
(Eckhart Tolle, in "O Poder do Agora")