A idéia de que as plantas podem exercer um poderoso efeito sobre nós é muito antiga – vem, pelo menos, desde a história do fruto proibido que “abriu os olhos” de Adão e Eva, ainda que para desgraça de ambos. E desde há muito tempo remédios vêm sendo extraídos de vegetais. No século XVII, o médico inglês William Withering aprendeu com uma curandeira a usar a dedaleira em pacientes inchados; daí surgiu a digital, poderosa droga contra a insuficiência cardíaca. Os opiáceos foram extraídos da palpoula. O quinino, usado no tratamento da malária, também teve origem vegetal.
Mas aí a química começou a se desenvolver; a ideia de sintetizar as drogas em laboratórios, em vez de buscá-las na natureza, propagou-se cada vez mais e gerou a poderosa indústria farmacêutica. Para cada problema de saúde haveria um produto químico capaz de resolvê-lo.
Aos poucos descobriu-se que não era bem assim. Drogas sintéticas acarretavam riscos inimagináveis, como o demonstrou o doloroso episódio da talidomida: mulheres que tinham tomado esse tranquilizante durante a gravidez davam à luz crianças deformadas. Remédio poderia ser muito perigoso. Isso ensejou uma espécie de volta ao natural: substâncias extraídas de plantas não poderiam ser prejudicias. A Mãe Natureza não poderia ser madrasta.
Mas os riscos também não tardaram a aparecer.Um exemplo foi da efedra, usada como supressora do apetite. Como é produto natural, nos Estados Unidos pode ser vendida sem receita. E aí começaram a surgir relatos de sérios efeitos, incluindo convulsões, acidente vascular cerebral e morte. A venda da efedra foi proibida em muitos lugares. Ou seja: natural não quer dizer inócuo. Afinal, venenos não faltam na natureza. Isso não significa rejeitar as preparações vegetais, inclusive mais baratas e até mais seguras que as drogas químicas.
Qual a recomendação prática, então? Algumas perguntas precisam ser respondidas:
- O produto natural foi devidamente testado?
- Revelou-se eficaz em relação ao problema que a pessoas tem?
- Quais são os riscos?
- Balançando riscos e benefícios potencias, vale a pena usar o produto?
Notem que estas perguntas podem ser usadas numa variedade de situações (cirúrgicas, por exemplo). Porque são a simples aplicação prática do bom senso. Que é, afinal, a melhor forma de medicação.
((Moacyr Scliar – O Olhar Médico)