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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
É. Quando se chega a uma certa idade e mais um ano passa, o que mais dói é cair sobre nós as ausências de tantos que partiram. Partiram para onde? Ah, esse partir sem deixar endereço, e a falta que nos fazem!
Um novo ano novo começa. Novo: 2014. Por mais diagnósticos e prognósticos, é novo, imprevisível. Não está pré-escrito em parte alguma. Também é nosso: vamos fazê-lo. Mas é na surpresa que ele vem.
Envelhecemos, mas, por mim, não tenho inveja da juventude. Pelo contrário, agora, à distância, o que quero é que os jovens vivam intensamente cada tempo. Na dignidade livre e na liberdade com dignidade. O que deveria ser norma para todos. Que vivam com atenção e intensidade, pois tudo passa muito rápido.
Essa norma também pode ter outra expressão, que vou buscar ao início do Evangelho segundo São João, o passo mais filosófico do Novo Testamento. "No princípio, era o Verbo. Mediante Ele tudo foi criado. E o Verbo fez-se carne." Encontra-se aqui todo um programa para a existência. No princípio, era o Verbo. No original grego, está: era o Logos, a Razão, a Palavra. E tudo foi criado mediante o Logos, a Razão, a Palavra. E o Logos, a Razão, a Palavra, fez-se carne, tornou-se um de nós, por amor. Chama-se Jesus Cristo. O que sustenta o mundo é o Logos, a Razão, a Palavra, que não é impessoal, mas uma pessoa.
Onde deve então assentar a vida senão no vínculo da Razão e do Amor? Tantas vezes perdemos a vida, porque agimos sem razão e até contra a razão. Afinal, de que valem o ódio e o rancor e a exploração dos outros e a inimizade e a imensa estupidez de não pensar? Mas não basta a razão, pois a razão, só, pode ser cruel e mortal. Tem de ser a razão aliada à bondade e a bondade vinculada à razão, pois a bondade, só, sem a razão, pode lutar em vão e perder-se. Uma vida humana plena vive dessa aliança entre a razão que não olvida a bondade e a bondade que se ilumina com a razão.
O objectivo final só pode ser a felicidade, uma tarefa simples, que é ao mesmo tempo terrivelmente complexa. Como todos sabem por experiência. De qualquer forma, se me fosse permitido, gostaria de deixar aqui que muitas vezes fui chamado à cabeceira - isso: à cabeceira - de quem estava de partida, a tal de que falei no início. E devo dizer que não era propriamente a carreira - é certo que alguns/algumas nem carreira tiveram - que os ocupava ou preocupava naqueles momentos derradeiros nem o dinheiro ou a fama. Apenas a verdade maior, que tinha que ver com a família, com os amigos e o pouco tempo para eles e para o mais importante e decisivo. E queriam arrumar com verdade as coisas do aqui e do Além.
Mas isto tudo que para aí fica talvez se diga melhor de modo mais simples. Socorro-me de algumas regras para o bom viver de Manuela Santos, no seu blogue "umavidacomsentido". "Aproveite cada dia para aprender algo diferente. Não viva apenas para o trabalho, pois existe outra vida para além dele. Cuide da sua família todos os dias com amor. Aproveite para cuidar do seu bem-estar interior. Ouça música. Dedique-se a um hobby. Conheça os seus limites e não vá além deles. Aprenda a perdoar. Cultive a honestidade, a verdade, a humildade. Ame-se e namore todos os dias. Seja feliz! Dedique algum tempo à meditação, é muito importante."
Algum tempo, todos os dias, para meditar. É realmente muito importante, decisivo mesmo, vital. Significativamente, meditação, moderação e medicina têm o mesmo étimo: mederi (radical med-, "pensar, medir, julgar, tratar um doente"), que significa: cuidar de, tratar, dar remédio a, medicar, curar.
Quem quiser uma vida sensata e feliz tem de ir por aqui: dedicar todos os dias algum tempo à meditação, para ir ao encontro do essencial, do mais fundo, que é também o mais perto, porque mora dentro de cada um de nós, para ouvir a Palavra primeira, que fala no silêncio e diz a sabedoria do viver na sabedoria e que leva a cuidar do mais importante e melhor e a pensar e a julgar, a dar remédio e a curar. Seja feliz! Bom Ano Novo!
(Anselmo Borges)