Toda a felicidade é baseada no amor. Assim procurou demonstrar Frei Betto no artigo “Feliz ano-novo aos corações velhos” publicado no O Estado de São Paulo, referindo-se ao novo ano de 2000: “Feliz ano-novo às mulheres que destilam antigos amores em cápsulas de veneno e aos homens que, ao partir, mostram, às costas, a face diabólica que traziam mascarada sob-juras de amor”. “Feliz ano-novo aos jovens enfermos de velhice que, travestidos de adolescentes, bailam aos desafinados acordes do ridículo. E aos que atravessam o tempo sem se livrar de bagagens inúteis e ainda sonham em ingressar numa nova era sem tornar carne o coração de pedra”. “Feliz ano-novo aos navegadores cibernéticos, mariposas de noções fragmentadas, amantes virtuais que se entregam, afoitos, ao onanismo eletrônico, digitando a própria solidão”. “Feliz ano novo a todos que temem a felicidade ou consideram, equivocadamente, que ela resulta da soma de prazeres. E aos que enchem a boca de princípios e se retraem, horrorizados, diante do semelhante que lhe é diferente”. “Feliz ano-novo às mulheres que se embelezam por fora e colecionam vampiros e escorpiões nos lúgubres porões do espírito. E aos homens que malham o corpo enquanto definha a inteligência, transgênicos prometeus acorrentados ao feixe dos próprios músculos”.
Indivíduos que não se amam não podem ser felizes. Todos os estados depressivos estão ligados a sensações de odio que podem evoluir até ao odio destruidor, contra si próprios. A embriaguez de felicidade daquele que ama é conseqüência de seu êxtase amoroso. Homens que duvidaram muito tempo da sua possibilidade de amor, tornam-se escravos humildes e reconhecidos de uma companheira que os força a amar.
(Albertino Aor da Cunha - "A Mentira Nua e Crua)