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EMOÇÃO, O PRIMEIRO SENTIDO

por Thynus, em 31.10.13

 

 

O sistema nervoso de qualquer ser vivo se rege por um princípio da economia de estímulos. O animal procura afastar-se da estimulação, se for externa, ou fazê-la cessar se for interna. O ruído excessivo, por exemplo, é uma fonte de desconforto que se origina no exterior, e que provoca no animal o reflexo de afastar-se. O medo é uma excitação interna, que procuraremos fazer desaparecer, buscaremos qualquer coisa que nos faça parar de senti-lo. Ambos são exemplos de sensações desagradáveis, uma objetiva, a outra subjetiva.
Nelas o psiquismo trabalha no sentido de fazer cessar o estímulo e voltar o equilíbrio.
Os estímulos internos, em um animal irracional, representam as necessidades de seu corpo traduzidas pelo cérebro como sensações objetivas, como a fome e a sede. É um mecanismo bem simples, em que há poucas fontes de sensações e poucas necessidades.
Tudo o que o animal deve fazer é manter-se vivo, alimentar-se, escapar dos predadores e reproduzir-se, seguindo o comando de sua biologia, sem uma subjetividade. O subjetivo nasce à partir de um certo grau de percepção.
A emoção existe neste modelo animal, mas é menos variada e complexa que a humana. Não há possibilidade de emoções conflitantes neste sistema singelo. Assim, o nível de tensão psíquica mantém-se baixo, elevando-se apenas em situações de ameaça ou nas variações relativas a atividade sexual (que neles não se dissocia da reprodutiva).
É um sistema que mantém-se mais facilmente em equilíbrio, salvo se algo de fora vier a ameaçá-lo.
No homem, a capacidade de sentir afetos, ou seja: a emoção, ampliou-se muito. Por emoção, entende-se as percepções mais subjetivas, que se manifestam na consciência em forma de sentimentos.
Esse crescimento da emoção pode ter ocorrido graças ao prolongado e estreito contato entre os homens e suas crias. Humanos tem uma infância longa, que os faz dependentes por muitos anos dos cuidados paternos, criando um vínculo forte entre eles. Uma capacidade acentuada de sentir afetos desenvolve-se à partir dessas primeiras relações e pode-se dizer que amplia a inteligência.
Esta capacidade sensitiva, que é algo inato, dirige-se aos outros humanos, tal como o olfato se dirige aos odores.
Houve algo semelhante a uma mutação quando a emoção agregou-se às respostas possíveis na mente humana; tanto que fez surgir diferenciações fundamentais, ampliou a inteligência. Através dela adquirimos uma percepção diferenciada.
Este sentido subjetivo, cujos rudimentos existem nos irracionais, mudou a trajetória do desenvolvimento humano em direção à evolução mental.
A subjetividade pressupõe a propriedade de sentir algo como um afeto. Essa é a emoção, sentido superior só encontrado em grandes proporções no homem, transformando-se na forma de energia psíquica característica da espécie. Quando algo se liga a este tipo de energia, tem maior poder de fixação na memória. Se for acompanhada de um registro afetivo, uma vivência estará investida de energia psíquica latente. Sempre lembramos mais do que é emocionalmente significativo.
Assim, a memória humana foi se tornando um banco de dados com dimensões crescentes, a cada geração ele se amplia. As imagens dos fatos são armazenadas pela memória junto com a emoção que lhes correspondem. Cada vivência humana vai para o abstrato reino da memória acompanhada de uma determinada quantidade e qualidade de afeto, que tem uma qualidade energética. Freud chamava esse processo de catexia: o investimento da energia mental em uma idéia, imagem ou sensação.
Todos os demais sentidos presentes na experiência serão também registrados; é por esta razão que uma impressão sensorial pode despertar um correspondente afetivo.
Os estímulos encontram na memória uma cena à qual se associam, e o sentimento daquele instante vem para a consciência. Um novo investimento energético é feito naquela lembrança e ela pode despertar. Há um banco de dados formado pela soma das percepções sensoriais ( que vêm dos sentidos) a cada experiência da vida, incluindo a emoção. Ao lembrar de algo, pode-se ter a imagem, os sons, os odores, a sensação táctil, o paladar, e o sentimento correspondente.
A emoção funciona como um sentido. Ela é uma forma de percepção e registro sensorial da energia psíquica, quer provenha de fonte interna ou externa.
Após processar as percepções originárias de todos os sentidos, a mente registra sensações cujo conteúdo tem da natureza de um afeto, e à partir disso, fornece energia para os circuitos cerebrais.
A diferença fundamental entre a emoção e os demais sentidos conhecidos é que estes se dirigem à percepção de tudo o que está fora de nós, aquilo que pode estimular nosso corpo. Os cinco sentidos conhecidos dependem de estímulos físicos como o toque, o cheiro, a cor, a forma, a luz, o sabor... Chegando ao cérebro despertam sempre uma sensação objetiva. A sensibilidade que chamamos emoção, é totalmente voltada para o abstrato, ela não deriva necessariamente de um estímulo físico, embora possam participar do processo.
No total, a emoção é a resposta interior à interpretação das sensações externas.
Emoções correspondem à sensações que, na maior parte das vezes, são despertadas através da interação entre pessoas. É um sentido que percebe o Outro; está também ligada à memória e através dela percebe-se o que é interno.
Recebe estímulos desde duas fontes: o exterior e o interior do homem. Seus desejos, necessidades, experiências reais ou fantasias. Como tudo que se liga a um afeto é mais facilmente armazenado na memória, a emoção humana mais desenvolvida, torna-se responsável pela ampliação da capacidade de memorizar. Havendo mais registros na memória e estando livres as possibilidades de conexão, cresce a inteligência.
A capacidade de compreensão é ampliada, pois recorre aos registros internos para avaliar o momento presente e determinar como agir. Sem o desenvolvimento dos afetos não se desenvolve a inteligência. A emoção é uma capacidade sensitiva que cria afetos e desenvolve a inteligência através da interação com outras pessoas. Os sentimentos vão criando o ser, a personalidade.
Da forma como está sendo usado, o termo emoção refere-se apenas a um potencial de sensibilidade, os afetos e a inteligência são as formas de energia psíquica que esta sensibilidade pode criar. Amor, tristeza, raiva ou quaisquer outros, são formas assumidas por essa energia básica, e dependem de como se desenrolem as relações entre as pessoas.
O desconforto subjetivo não se deve à emoção como sentido, mas ao surgimento de formas negativas dela: os sentimentos que trazem sensações desagradáveis, estão programadas de tal forma que podem ser sentidas até fisicamente.
Há quem considere a emoção algo inferior, que deva ser superado à medida que se evolui mas, não é o desaparecimento dela que deve ser desejado ou buscado. Sem a emoção não somos humanos, apenas o que se busca é manter saudáveis as percepções para sustentar um estado de equilíbrio interno. Se deixássemos de sentir emoção, teríamos que abrir mão de nossa essência: somos o que sentimos!

Este é um grande potencial, permite ao homem realizar suas mais admiráveis obras, possibilita criar, perceber a beleza e reproduzi-la, compreender o universo da matéria e traduzi-lo como ciência. A emoção não é algo inferior, embora possa manifestar-se de forma desorganizada e destrutiva, o que corresponde a um uso imaturo ou inadequado deste sentido, por deficiência na sua educação ou doença do sistema nervoso.
Educar a emoção tem sido difícil para o homem. Ela se relaciona tanto com o interno como com o externo, desta forma é um sentido que capta realidades distintas. Os cinco outros sentidos captam apenas a realidade externa, objetiva. Por captar estímulos de realidades diferentes, a emoção pode confundir-se. Há um mundo inteiramente subjetivo e outro absolutamente concreto. Cada um deles tem leis e exigências diferentes.
Além disso, se assumir duas formas distintas e conflitantes a emoção se tornará confusa. Por exemplo, quando temos sentimentos de amor e ódio pela mesma pessoa, isso gera um conflito: a mesma energia está ligada de duas maneiras opostas a um mesmo ser, ou quando precisamos fazer algo que contraria nossos sentimentos.
Quanto menos contradições entre as formas como a emoção se manifesta, melhor será o funcionamento da mente.
A emoção em si é serena, quando não está dividida em múltiplas formas, há uma sensação de calma. Acreditou-se então que, neste estado, a emoção estaria suprimida, mas está apenas integrada e saudável.
Para manter o equilíbrio e desenvolvê-lo mais, o homem inventou a disciplina mental.
Uma sensação de equilíbrio onde tudo parece calmo, relaxado, nenhuma tensão existe é um estado de plenitude, a emoção está em sua forma pura e satisfeita. Sensações de saciedade semelhantes prevalecem no momento seguinte ao orgasmo, se há entre os parceiros uma ligação abrangente.
Como sempre surgem novas necessidades na matéria viva, a inquietude sempre voltará e reduzi-la tem sido ambição humana desde o início dos tempos.
Provavelmente a emoção seja o sentido responsável pela telepatia e pela transmissão de pensamentos. Não uma emoção específica, mas a energia deste sentido. Através dele podemos sentir exatamente a mesma coisa que a outra pessoa: isto é empatia.
Ao poder sentir o mesmo que o outro, talvez possamos estabelecer contato com o que pensa, o que se passa em sua mente, incluindo imagens e sensações.
Essa seria então, a forma de sintonizarmos o mesmo canal de outra pessoa, a via de acesso ao inconsciente alheio.
Além de captar estímulos vindos da realidade externa e da interna, o sentido da emoção capta também sensações que não pertencem originalmente à nós, mas àqueles que nos cercam. É através dessa energia comum que dois seres podem comunicar-se sem o uso de qualquer linguagem criada pelo homem. É uma maneira espontânea de comunicação, já nascemos com ela.
A possível explicação sobre essa habilidade de comunicação seguramente refere-se a que, a energia psíquica assume sua forma mais potente na emoção. E, que a natureza deste tipo de energia, que compõe nosso psiquismo, não necessita de um meio físico para propagar-se. Voltaremos a este tema mais adiante.
Por representar uma porta aberta para três fontes diferentes de estímulo, a emoção é um sentido que requer especial cuidado e atenção. É fácil gerar doença e mal estar devido à excessiva quantidade de estímulos, ou à qualidade destes.
Fazer serenar as emoções, reduzindo os estímulos nocivos, ajuda a alcançar sua forma mais integrada e livre de conflitos, reduzindo a carga dentro do sistema nervoso.
Este sistema energético, representado fisicamente pelos neurônios, deve ser poupado de uma exigência além do que sua natureza aceita como agradável. Sua desorganização deve ser evitada, por isso a disciplina é usada.

(Manoelita Dias dos Santos - "A lógica da emoção, da psicanálise à física quântica")

publicado às 18:31



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