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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
O laço afetivo é oportunidade de desenvolver em nós o que é humano, no sentido modificado que o ideal da civilização representa. Nasce daí nossa capacidade de empatia, que seria em ultima instância o patrocinador da ética. Se o laço não é adequadamente formado e não adquirimos essa habilidade de reconhecer o outro, nenhum de nossos impulsos mais egoístas e agressivos pode ser freado. Não há o desenvolvimento da culpa que aqui referese ao pesar pelo dano que causamos a quem nos é caro.
Se não desenvolvemos a capacidade de nos ligar libidinalmente a alguém, aquilo que chamamos amor, nenhum pesar será possível já que os demais nos serão indiferentes. Só o temor de uma retaliação pode ser o freio, resultando num estado de coisas mais primitivo e distante do que pretende a civilização, em termos ideais.
Desenvolver esse laço afetivo é nossa maior aquisição, no sentido de nos tornarmos humanos e é, ao mesmo tempo, o maior alimento de nosso psiquismo. Receber cuidados e atenção amorosa nos leva a desenvolver um apego tal, que dirige nosso ser para o outro, cria em nossa vida a sua presença e organiza nosso caos interior, preenchendo nossos vácuos, e estabelecendo a confiança que nos salva do desespero.
O não estabelecimento desse vínculo pode levar à morte, à doença mental em seus mais variados níveis de gravidade, incluindo a sociopatia. Um homem não existe sem o outro, e talvez precise desse elo mais do que qualquer outra espécie.
Perceber que a doença mental passava por estas relações interpessoais, sua importância decisiva para a saúde ou enfermidade foi um mérito inegável de Freud.
Claro que era mais fácil, e pode ser ainda hoje, atribuir todo desequilíbrio e sofrimento mental aos azares da biologia. Olhar para nossas relações interpessoais e sociais, nossos parâmetros serem colocados em discussão, é mais complicado, mexe com a estrutura de muitas coisas que afinal não sabemos como mudar ou tememos fazê-lo.
Não há dúvidas de que se pode encontrar uma predisposição genética para o desenvolvimento de uma ou de outra doença mental, porém colocar toda a explicação na biologia negando a influência do meio, é um mecanismo arriscado.
Do equilíbrio de nossas relações afetivas e da capacidade, à partir daí desenvolvida, de confiar e interagir, depende a saúde mental humana. Simples, básico, mas bem difícil de ser posto em prática. Muitos complicadores surgirão ao longo da vida, porém nossa capacidade de reagir a eles será sempre diretamente proporcional às experiências de gratificação amorosa e confiança que tenhamos tido.
Uma ressalva: quando falo relação amorosa na educação, está incluída a colocação de limites que posteriormente nos capacitará a abrirmos mão daqueles impulsos e condutas que se mostrem incompatíveis com a convivência entre nós.
(Manoelita Dias dos Santos - "A lógica da emoção, da psicanálise à física quântica")