Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
Para o Papa Francisco, a Igreja não é uma empresa, uma multinacional ou uma ONG. Ela é "a família de Deus", do Deus que é amor, misericórdia e que perdoa sempre, se houver arrependimento. Deus está a caminho, "quando o procuramos e deixamos que ele nos procure. A experiência religiosa primordial é a do caminho. A vida cristã é uma espécie de atletismo, de conflito, de corrida, em que temos de nos desfazer das coisas que nos afastam de Deus".
No caminho, há perigos e tentações. Francisco acredita na existência do Diabo (como símbolo do mal ou uma entidade pessoal?): "O Demónio é, teologicamente, um ser que optou por não aceitar o plano de Deus. A obra-prima do Senhor é o homem; alguns anjos não o aceitaram e rebelaram-se. O Demónio é um deles. No Livro de Job é o tentador, que nos leva à suficiência, à soberba. Jesus define-o como o pai da mentira. Os seus frutos são sempre a destruição, a divisão, o ódio, a calúnia. E, na minha experiência pessoal, sinto-o de cada vez que sou tentado a fazer algo que não é aquilo que Deus me pede. Acredito que o Demónio existe. Talvez o seu maior sucesso nestes tempos tenha sido fazer-nos acreditar que não existe." De qualquer modo, "uma coisa é o Demónio e outra é demonizar as coisas ou as pessoas. O homem é tentado, mas não é por esse motivo que deveremos demonizá-lo". Mas o ser humano é um ser caído, o que "se explica a partir da queda da natureza depois do pecado original". Portanto, "as pessoas podem fazer algo de mau devido à sua própria natureza, ao seu "instinto", que se potencia devido a uma tentação exógena."
O fundamentalismo não é o que Deus quer, e ele não consiste apenas em matar em nome de Deus, o que é "uma blasfémia". "Por exemplo, quando eu era pequeno, na minha família havia uma certa tradição puritana; não éramos fundamentalistas, mas estávamos nessa linha. Se alguém do nosso círculo próximo se divorciava ou se separava, não entrávamos na sua casa; e também acreditávamos que os protestantes iam todos para o inferno, mas lembro-me de uma vez em que estava com a minha avó, uma grande mulher, e passaram precisamente duas mulheres do Exército de Salvação. Eu, que tinha uns cinco ou seis anos, perguntei-lhe se eram monjas. Ela respondeu-me: "Não, são protestantes, mas são boas." Esta foi a sabedoria da verdadeira religião."
Não se admite um clero de burocratas e carreiristas. Por exemplo, é "uma hipocrisia" negar o baptismo a crianças de pais não casados. E há o ecumenismo e o diálogo inter-religioso práticos: o das pessoas "que não partilham a minha fé, mas que partilham o amor pelo irmão". A verdadeira liderança religiosa é conferida pelo serviço. "Para mim, esta ideia é válida para a pessoa religiosa de qualquer confissão. Assim que deixa de servir, o religioso transforma-se num mero gestor, no agente de uma ONG. O líder religioso partilha, sofre, serve os seus irmãos." Foi esta dinâmica que o levou, já Papa, num gesto surpreendente, a Lampedusa, com esta mensagem: "A globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar. Peçamos ao Senhor a graça de chorar sobre a nossa indiferença, sobre a crueldade que há no mundo, em nós, também naqueles que no anonimato tomam decisões socioeconómicas que abrem o caminho a dramas como este."
Para a pedofilia, tolerância zero. "O problema não está associado ao celibato. Se um padre for pedófilo, é-o antes de ser padre. Ora, quando isso acontece, nunca se poderá tolerar. Não se pode assumir uma posição de poder e destruir a vida de outra pessoa. Na diocese, nunca me aconteceu, mas, uma vez, um bispo telefonou-me para me perguntar o que se deveria fazer numa situação semelhante, e eu disse-lhe que lhe retirasse a autorização, que não lhe permitisse exercer mais o sacerdócio e que desse início a um julgamento canónico no tribunal."
A humildade é garantia de que o Senhor está presente. "Quando alguém tem todas as respostas para todas as perguntas, é uma prova de que Deus não está com ele." A Igreja tem uma herança a preservar e que não pode negociar, mas é preciso, com tempo, "dar respostas com a herança recebida às novas questões de hoje."