A exploração do planeta e de seus recursos tem consequências cada vez mais alarmantes. No entanto, apenas se fala sobre os aspectos técnicos: o buraco de ozônio, por exemplo. Não psicológicos. Quando soa o alarme, porque nos deparamos com limites exteriores - tais como o superaquecimento da Terra - já é tarde. Observamos os efeitos de um processo - as crescentes necessidades - postas em movimento muito antes. Porque não somos mais capazes de limitar as nossas necessidades? Se discutim os limites do desenvolvimento, devemos nos perguntar por que temos a tendência a um desenvolvimento ilimitado. Então aperceber-nos-emos que esta tendência é relativamente recente e historicamente condicionada. Quase até ontem, o mundo era agrícola, procurava apenas reproduzir os ciclos do ano e seus frutos da estação. A história do Ocidente é a história do contornar desse modo de vida, substituído pela expansão sem limites; da metástase das produções, que é uma conseqüência de metástase das necessidades. Tal como para a economia, para entender a história, também temos que usar um olhar psicológico. A origem, na verdade, está é numa conversão inconsciente dos nossos antepassados.
O tese central da “História da Arrogância” é a hýbris (arrogância) e seu castigo inevitável. O autor desenvolve o conceito de Limite a partir da Grécia clássica: os antigos gregos acreditavam que o "pecado" da arrogância (o pecado de querer ultrapassar os limites impostos pelos deuses aos homens) era duramente punido por Nêmesis, deusa da justiça. A profunda análise dos antigos textos gregos, na primeira metade do livro, é seguida por um estudo das narrativas ocidentais sobre os castigos impostos a quem quebra o Limite: o Gênese bíblico, o Inferno de Dante e O Aprendiz de feiticeiro de Goethe. Para os gregos antigos, a moral estava sujeito aos limites. Os deuses queriam a felicidade só para eles, eram invejosos, puniam aqueles que tinham ou queriam em excesso. Mas os próprios gregos se ensoberbeceram de seus sucessos e reverteram o tabu dos limites: começaram a substitui-se aos deuses. Se é verdade que uma cultura pode negar apenas superficialmente as suas origens, que os deuses antigos desaparecem, mas os seus mitos renascem em formas modernas, então a nossa ânsia pelos limites do desenvolvimento não é apenas uma questão técnica, mas traz à tona um tormento e uma culpa infinitamente mais antiga.