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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
“O escândalo dos abusos sexuais por padres e religiosos "não é - como alguns sugerem - apenas e exclusivamente o produto de mentes doentias e perversas (coisa real). É algo mais sério. Coloca definitivamente em crise um padrão "antropológico" de pessoas dominantes que se permitem a liberdade de ofender aqueles que se sentem inferiores, com a agravante da impunidade." É uma das citações principais de um longo artigo de Vinicio Albanesi publicado no n.° 17 da revista dos Dehonianos “Settimana”, saído hoje. De acordo com Albanesi, "o fenômeno permanente de abusos e a sua aparente impunidade regem-se sobre a concepção dominante que não respeita os mais vulneráveis: crianças, neste caso. (...) O abuso está, em primeiro lugar no domínio; tornando-se perverso, resultando no abuso sexual. Mas a tendência em que o abuso sexual ocorre baseia as suas raízes na suposta superioridade do educador. (...) Se o educador desempenha uma função 'sagrada’, a violência torna-se poder absoluto. (...) O limite em que se deve parar é confiado à pessoa que o infringe, tornando-o efetivamente incontrolado."
"Em parte - insiste - é explicado pela mentalidade de domínio que não permitia ver a gravidade do crime. (...) Além disso, a proteção do bom nome da Igreja, o medo do escândalo, prevaleceu sobre todos os outros motivos de condenação e remoção de sacerdotes e religiosos comprometidos". Mas "toda a história da pedofilia na esfera religiosa mostrou que se pôde fazer tanto mal porque o clima de domínio era de tal modo tão generalizado que se podia esperar a ocultação dos crimes. Nem mesmo o medo do escândalo parou os sacerdotes e religiosos envolvidos. Obviamente, estavam bem cientes do clima de tolerância que iria protegê-los."
Mas, "não há outra via, se não dizer toda a verdade e, se os comportamentos foram abomináveis, o pedido de perdão a Deus e às vítimas é a única via a percorrer." É muito perigoso, no entanto, continua o artigo, "esconder-se por trás da “perseguição dos inimigos da Igreja" para não abordar o drama acontecido, com a certeza de não permitir no futuro o que aconteceu. Isso não significa negar que por trás da exigência de justiça possam esconder-se especulações que camuflem sentimentos de ganância e de hostilidade." Entre as lições a serem aprendidas pela igreja por "eventos tão dolorosos e vergonhosos", é uma das conclusões de Albanesi, é que "um espírito evangélico não pode permitir-se posições de domínio nos confrontos de quem quer que seja (...). Os poderes manifestos trazem sempre consequências devastadoras."