Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.
Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo, portanto, quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.
Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.
O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não viver não é um mal.
Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve.
Se podemos criar realidade, como seria a realidade ideal? Para começar, seria pessoal. Como o cérebro se remodela constantemente, ele se conforma ao que cada indivíduo quer da vida. Felicidade? Podemos supor que ela ocupe o topo da lista. Mas o desejo de felicidade imediatamente expõe uma séria fraqueza. Embora sejamos concebidos para criar realidade, a maioria das pessoas não tem capacidade de criar uma realidade feliz.
Só recentemente, com o surgimento de uma nova especialidade conhecida como “psicologia positiva”, a felicidade tem sido cuidadosamente estudada. As descobertas são contraditórias. Quando solicitadas a dizer o que as faria felizes, as pessoas listam coisas aparentemente óbvias: dinheiro, casamento e filhos. Mas a coisa não é bem assim. Cuidar de crianças pequenas é muito estressante para jovens mães. Metade dos casamentos termina em divórcio. O dinheiro só compra felicidade no que diz respeito à segurança. A pobreza é com certeza uma fonte de infelicidade, mas o dinheiro também é, porque, uma vez atendidas as necessidades básicas, o dinheiro extra não faz as pessoas mais felizes – na verdade, a maior responsabilidade, junto com o medo de perder o dinheiro, muitas vezes as torna mais infelizes.
Surpreendentemente, o quadro geral é que, mesmo quando as pessoas obtêm o que desejam, a maioria não fica feliz como esperava. Chegar ao topo da profissão, ganhar um campeonato esportivo ou fazer um milhão de dólares parecem excelentes como objetivos futuros, mas quem os realiza conta que o sonho era melhor do que a realidade. A competição pode tornar-se um processo sem fim, e suas recompensas diminuem com o tempo. (Uma pesquisa com campeões de tênis revelou que eles se sentiam menos motivados pela alegria da vitória do que pelo medo e decepção da derrota.) E quantas pessoas sonham em ficar ricas e não ter que trabalhar pelo resto da vida? Numa pesquisa, vencedores da loteria, para os quais o sonho se tornou realidade, afirmaram que isso na verdade havia tornado suas vidas piores. Alguns não sabiam lidar com o dinheiro e o perderam; outros enfrentaram problemas nos relacionamentos ou se entregaram a comportamentos temerários, como participar de jogos de azar e fazer investimentos arriscados. Todos foram perseguidos por parentes e estranhos com incessantes pedidos de ajuda.
Se as pessoas não sabem prever sobre como ser felizes, o que podemos fazer?
A tendência atual da psicologia sustenta que a felicidade nunca é permanente. Pesquisas revelaram que cerca de 80 por cento dos americanos – e muitas vezes mais – afirmam ser felizes. Mas, quando analisadas individualmente, cada pessoa experimenta apenas momentos de felicidade, estados temporários de bem-estar, que não são de forma alguma permanentes. Portanto, muitos psicólogos afirmam que tropeçamos na felicidade sem saber conquistá-la.
Mas nós, os autores, divergimos dessa conclusão. Sentimos que o problema está na criação da realidade. Se a pessoa tiver mais habilidade para criar sua realidade, a felicidade permanente virá.
Rumo à felicidade duradoura
Procure…
… doar-se. Cuide dos outros e se preocupe com eles.
… trabalhar em algo que ame.
… estabelecer objetivos de longo prazo que levem anos para ser alcançados.
… manter a mente aberta.
… ter resiliência emocional.
… aprender com o passado, mas saber também abandoná-lo. Viva o presente.
… planejar o futuro sem ansiedade ou medo.
… criar laços sociais íntimos e calorosos.
Não…
… coloque sua felicidade em recompensas externas.
… adie a felicidade para o futuro.
… espere que alguém o faça feliz.
… confunda felicidade com prazer momentâneo.
… persiga mais e mais estímulos.
… permita que suas emoções se tornem habituais ou que sejam bloqueadas.
… se feche a novas experiências.
… ignore os sinais de tensão ou de conflito interior.
… viva no passado ou com medo do futuro.
Numa sociedade consumista, é fácil fazer o que não se deve, porque todos os itens da lista do “não” ligam a felicidade ao prazer temporário e a recompensas externas. Mas vou contar a história de um homem chamado Brendon Grimshaw, que deve ter um instinto muito afiado para a felicidade, já que criou seu próprio paraíso.
O PARAÍSO É PESSOAL
Grimshaw nasceu em Devonshire, na Inglaterra, e trabalhava como jornalista na África do Sul quando abandonou o emprego, em 1973. Ele tinha comprado uma ilha tropical – a ilha Moyenne, nas Seychelles, entre a Índia e a África – por 8.000 libras, cerca de 12.000 dólares, nove anos antes. Então, deu o salto decisivo na vida: foi viver lá sozinho, com um empregado nativo. O que esse moderno Robinson Crusoé enfrentou foi incrível. Ele fez o contrário de relaxar na praia. A vegetação era tão densa quando ele chegou que os cocos caídos dos coqueiros não atingiam o solo.
Grimshaw decidiu limpar a vegetação rasteira e, depois de fazer isso, deixou que a ilha falasse com ele – foi assim que ele descreveu como planejou as novas plantações. Descobriu que árvores de mogno se davam bem lá, e então importou algumas mudas. Hoje são setecentas, que chegam a 20 metros de altura. Mas elas são apenas uma pequena fração das 16.000 árvores que plantou com as próprias mãos.
Ele deu abrigo à rara tartaruga gigante das Seychelles e hoje há 120 delas. Pássaros voam em busca da proteção de seu santuário e 2.000 são novos na ilha.
Em 2007, seu empregado morreu e, aos 86 anos, Grimshaw passou a cuidar sozinho da ilha, pela qual recebeu – e recusou – uma oferta de 50 milhões de dólares.
Ele se aborrece quando os visitantes só veem as árvores de mogno como madeira para móveis e as praias virgens como paraíso de ricos em férias. Moyenne continuará sendo uma área preservada depois de sua morte. Grimshaw parece queimado pelo sol e envelhecido quando caminha pela ilha, de shorts e chapéu de caçador, mas está extraordinariamente vivo. Seu contentamento se deve, quase item por item, às coisas que fazem parte da nossa lista para conquistar a felicidade duradoura. Ele se doou a um trabalho que amava. Estabeleceu um objetivo que levou anos para alcançar. Não dependeu de nada nem de ninguém que lhe desse constante aprovação.
O único aspecto da felicidade duradoura que ele não tem são os laços sociais.
Mas, para algumas pessoas, a solidão é uma companhia mais rica que a sociedade, e assim é para Grimshaw. Sua vida está adequada ao conceito de um cérebro totalmente integrado, no qual se fundem todas as necessidades que ele deve servir, como:
• Estar conectado com o mundo natural
• Ser útil
• Fazer exercícios físicos
• Achar um trabalho que dê satisfação
• Preencher a vida com um propósito
• Ter um objetivo que transcende os limites do ego
Isoladamente, nenhuma área do cérebro é capaz de supervisionar a fusão de todas essas necessidades para criar uma pessoa plenamente desenvolvida. Isso exige o cérebro inteiro, atuando como um todo integrado. A felicidade tem então sua raiz no sentimento de completude. A versão mais crível de um cérebro plenamente integrado foi dada pelo psiquiatra da Universidade de Havard, o dr. Daniel J. Siegel, hoje na Universidade da Califórnia, que fez carreira estudando a neurobiologia dos humores e estados mentais humanos. Siegel foi pioneiro na fascinante pesquisa sobre a correlação entre os estados subjetivos e o cérebro. O que o diferencia dos pesquisadores que realizam milhares de tomografias para descobrir como o cérebro se excita durante certos estados é seu objetivo terapêutico. Siegel quer que seus pacientes se sintam melhor. O caminho da cura, afirma, é localizar sintomas como depressão, obsessão, ansiedade etc. na área exata do cérebro que está causando o bloqueio.
Como todo pensamento e todo sentimento ficam registrados no cérebro, faz sentido que sintomas psicológicos como depressão e ansiedade sejam indicações de uma gravação defeituosa – ou seja, uma rota neural foi traçada e continua a repetir os sintomas ou comportamentos indesejáveis. Funciona como um microchip que não tem outra opção senão repetir o mesmo sinal. Mas a “gravação” neural pode ser mudada, entre outros meios, através de terapia – Siegel usa a terapia da fala em conjunto com sua teoria cerebral.
O objetivo de Siegel é um cérebro saudável, que mantenha o bem-estar do paciente. Para ele, o cérebro precisa de nutrição saudável todos os dias. Sua abordagem está de acordo com a nossa, uma vez que prescreve uma “dieta da mente saudável” a ser praticada diariamente, com base na ideia de que uma mente saudável produz um cérebro saudável. Em sua “dieta”, Siegel e seu colega David Rock incluem sete “pratos”:
• Tempo de sono
• Tempo físico
• Tempo de concentração
• Tempo interior
• Tempo de repouso
• Tempo de diversão
• Tempo de conexão
Anos de pesquisas cerebrais estão por trás dessas simples prescrições, mas, à medida que a ciência comprova cada vez mais que todos os aspectos da vida têm relação com o cérebro, a nutrição oferecida pela dieta mental de Siegel pode ser bem mais importante para o corpo do que qualquer conselho convencional. Nosso cérebro tem um enorme talento para a integração. Se usado holisticamente, ele consegue organizar tudo.
(DEEPAK CHOPRA, RUDOLPH E. TANZI - SUPERCÉREBRO)