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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
(Robert Ambelain - O Homem que criou Jesus Cristo)
Não há História, seja de qualquer dinastia asiática ou européia, por mais devassa que tenha sido, do que a História dos Papas, que ocuparam a famosa cadeira de Pedro.
Mais adiante, numa resenha que faremos, salientaremos somente algumas dúzias de verdadeiros Paxás da Turquia, que fizeram do Vaticano o maior harém conhecido e onde os crimes de defloramentos, de incestos, de pederastia não encontram paridade com os praticados nos maiores lupanares da Roma antiga.
Há mesmo no Vaticano, junto aos aposentos particulares do Papa, uma escadaria subterrânea para acesso de pessoas mais íntimas, que não passam pelas portas protocolares.
Não há quem não conheça a história de Lucrécia Bórgia e da Papisa Joana, que deu à luz em plena procissão. O escândalo foi de tal ordem que a Congregação dos Ritos teve de criar a Cadeira furada, na qual teriam de se sentar futuros papas, para o reconhecimento, em pleno cerimonial da sua máscula personalidade. Dizem mesmo, mas não garantimos, que eram pronunciadas as seguintes palavras, acompanhadas por órgãos e cantochão: "Em quan... ti... da... de... Amém!".
Onze séculos após a morte do pobre Cristo, o escândalo público era de tal ordem, não só internamente, como entre o clero civil, que o papa Hildebrando foi forçado a decretar o Celibato do padre.
Após uma série de peripécias, a Igreja, ora permitindo aos que fossem casados residirem com suas esposas e filhos, de acordo com a recomendação de São Paulo, era proibida a convivência sob o mesmo teto, ora permitindo a concubinagem aos celibatários, ora proibindo, ora substituindo-a pela convivência com dois noviços, ora com um só, ora anulando esse pernicioso costume, nos dá uma idéia do espírito de dissolução que sempre reinou no Vaticano.
O voto de celibato, na opinião de Estanislau Orichorius, cônego na Catedral de Premislaw, citado por M. Gregóire, bispo de Blois, em sua obra Histoire des mariages des prêtres (1826), é idêntico ao voto que ele tivesse feito de tocar o céu com o dedo, pois tal voto não o obriga a coisa alguma.
Valham-nos, ao menos, os Jainas, da Índia, de cuja seita só fazem parte os que triunfam da sensualidade.
Pio II escreveu que, "por invencíveis razões, interditou-se o casamento dos padres; porém, por mais invencíveis razões, era preciso permiti-lo".
Entretanto, ainda em 1859, era hábito no Vaticano castrarem-se jovens seminaristas, ainda não tonsurados para servir nos coros da igreja de São Pedro, a fim de cantar os hinos da dor e da compunção, por ocasião da Semana Santa.
Quem nos poderá garantir que tal costume não continue em vigor, dado o conservadorismo dos regulamentos?
É possível que se tal medida, copiada dos haréns da Turquia, onde se castravam os eunucos, não fosse revogada e prevalecesse como uma das condições da ordenação, o clero católico seria hoje bem reduzido, mas composto de homens comprovadamente inofensivos à moral pública e, quiçá, verdadeiros cristãos.
Isso corroboraria a frase de Bermond Choveronius, cônego de Viviers, em seu livro De publicis concubinariis, página 8: "O mugir dos bois ou o grunhir dos porcos são mais agradáveis a Deus que os cânticos dos padres fornicadores".
Quando o clero for casado, o confessionário só se prestará para guarita de soldados.
Não há religião ou Culto no mundo que use de tal processo para santificar seu clero. Essa formalidade só tem trazido formidáveis escândalos.
Sem recorrermos a milhares de casos, extrairemos um dos processos arquivados na Torre do Tombo, em Lisboa, armário 5°, maço 7°, datado do ano 1478, referente à sentença lavrada contra o padre Fernandes Costa, que extraímos do jornal A Fraternidade da cidade de Coimbra.
Diz este documento:
"Padre Fernandes Costa, prior que foi de Trancoso, da idade de 62 anos, será degradado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas ao rabo de cavalos, esquartejado o seu corpo e posto em quartos e a cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime de que foi argüido, que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com 29 afilhadas, tendo delas 97 filhas e 37 filhos; de cinco irmãs teve 18 filhos e filhas; de nove comadres teve 38 filhas e 18 filhos; de nove amas teve 29 filhas e cinco filhos; de duas escravas teve 21 filhas e sete filhos; dormiu com uma tia chamada Anna da Costa de quem teve três filhos e ... da própria mãe teve dois filhos!!! Total 275 filhos sendo 200 do sexo feminino e 75 do masculino, sendo concebidos de 54 mulheres!
“O rei João II perdoou ao fecundo sotaina e o mandou pôr em liberdade em 17 de março de 1487 e guardar no Real Arquivo da Torre do Tombo esta sentença e mais papéis que formam o processo!"
É impossível que o leitor não tenha corado e sentido seus nervos irritados, íamos continuar com uma lista de escandalosos fatos, ocorridos no nosso país, de autoria de padres inescrupulosos, alguns já falecidos e outros vivos, que não cessavam de pregar a moral; mas que se tranqüilizem; o arrependimento ainda poderá ser útil às suas almas.
As escabrosas questões a respeito de mulheres improdutivas nunca foram abordadas por nenhuma religião do mundo e ainda menos pelo Rabino da Galiléia que se limitou a dizer à mulher adúltera: "Vai e não peques mais". Isto é, não engane mais seu marido.
Mais adiante, porém, voltaremos ao assunto quando tratarmos de Moral Jesuítica.
Contudo, antes de fecharmos este artigo, vamos citar um dos milhares de pequenos casos que se repetem na nossa pátria, mas que a imprensa trata de embaralhar, ou por ignorância, ou por malícia, para encobrir o nome do segundo delinqüente, visto como, em ambas as notícias, trata-se do padre Victor Coelho de Almeida, ora chamado na notícia do A Noite, de dezembro de 192r — Padre Victor Coelho, ora chamado na de O Globo, de 11 de agosto de 1932 (dois anos e meses depois) de Victor de Almeida, ora Victor Coelho; não podendo, porém, ser o mesmo, pois o do A Noite "teve 15 filhos, goza a vida e sem mais explicações, abandona mulher e filhos e recolhe-se ao claustro", a: passo que o de O Globo, três anos depois, "abandona a mulher com uma filha de 15 anos, recolhe-se ao convento, produzindo o suicídio de sua infeliz esposa"!
Disse Jesus que não há pior cego do que aquele que não quer ver. Pior. porém, é aquele que procura tapar o sol com uma peneira para que os outros não possam vê-lo.
É lógico que os que se comprazem nessa prostituição rebatam os honestos colegas que romperam com esse foco de miasmas, dizendo às suas incautas ovelhas: Não os ledes, não os acrediteis, são filhos do diabo, que não puderam resistir à cruz do Cristo e fugiram para o inferno; mas não dizem que aqueles se afastaram envergonhados desse centro de prostituição, ao passo que eles permanecem, hipocritamente, usufruindo os gozos da vida.
E bom chamarmos a atenção desde já do leitor para nossa abstenção em tocar no dogma da "Confissão". São tais os horrores, são tais as infâmias e os crimes cometidos e relatados em centenas de obras, não por hereges, mas por inúmeros padres que, muitos, enojados e apavorados desse antro de perdição de moças virgens e senhoras casadas ou viúvas, despiram as vestes sacerdotais e deram o grito de alarme.
Contudo, vejamos o que diz a tal respeito um dos Sumos Pontífices da Igreja:
Chiniqui, à página 44, relata que o Papa Pio IV, em 1560, ordenou que todas as mulheres solteiras e casadas que tivessem sido seduzidas pelos seus confessores fossem denunciá-los.
Principiou-se por Sevilha. Tornado conhecido o Edito do Papa, o número de mulheres foi tão considerável que, apesar de haver três escrivãs, não puderam concluir o trabalho no prazo determinado. Mais 60 dias foram concedidos; mas tiveram de reconhecer que o número de padres sedutores era tanto que se tornaria impossível castigá-los e a coisa ficou nisso!
Como não ser assim se o padre é forçado a perguntar às penitentes, cautae et poucae!
Estupenda moral! E são esses que pregam contra o divórcio e o casamento civil por desorganizador da família!
(E. Leterre - A VIDA OCULTA E MÍSTICA DE JESUS)
"Se ouvirdes dizer que o Evangelho de Jesus é a guerra e o derramamento de sangue, eu vos digo, em verdade, que esse é o Evangelho dos rancorosos e vingativos, mas não o de Jesus, que amou os homens e lhes pregou a paz. Se vos disserem que o Evangelho é o fausto, as riquezas, as comodidades dos ministros da palavra, eu vos digo, em verdade, que esse é o Evangelho dos mercadores do Templo, mas não o de Jesus que recomendou aos seus discípulos a pobreza de coração e o desprendimento dos bens da Terra. Se vos disserem que o Evangelho é a sua água, as mãos levantadas aos céus, as pancadas no peito, as formas e o culto externo, eu vos digo, em verdade, que esse Evangelho é o dos hipócritas, mas não o de Jesus, que recomendou o amor e a adoração a Deus em espírito e em verdade. Se vos disserem que o Evangelho é a resistência às leis e aos princípios que governam os povos, eu vos digo, em verdade, que esse Evangelho é o dos rebeldes e ambiciosos, mas não o de Jesus, que mandou dar a César o que era de César e a Deus o que era de Deus”.
“Se vos disserem que o Evangelho é a intolerância, o anátema, a perseguição, a violência e o ódio, eu vos digo, em verdade, que esse Evangelho é o da Soberba e da Ira, mas não o de Jesus, que rogava ao Pai de Misericórdia pelos seus mortais inimigos".Pergunta o padre E. Loyson (Ni cléricaux, ni athées — pp. 178-182): "Devemos acreditar no Cristianismo, senhores?"
20 melhores ideias sobre poemas |
Mário Quintana(1906-1994). Foi um dos melhores poetas brasileiros. Publicou cerca de trinta livros e algumas de suas poesias foram vertidas para o espanhol, o francês, o inglês e o italiano. E traduziu obras de diversos autores como Guy de Maupassant, André Maurois, Marcel Proust, Voltaire, Honoré de Balzac, Aldous Huxley e Somerset Maugham, entre outros.
Era também um poeta-filósofo.
VRB – Mário, você é um dos grandes poetas brasileiros. Pergunto-lhe então: o que a poesia?
Quintana – A Poesia é a invenção da Verdade.
A beleza de um verso não está no que diz, mas no poder encantatório das palavras que diz: um verso é uma fórmula mágica.
A poesia é um sintoma do sobrenatural.
Só a poesia possui as coisas vivas. O resto é necropsia.
VRB – Há leitores que, ao lerem um poema, querem saber a sua interpretação.
Quintana – Mas para que interpretar um poema? Um poema já é uma interpretação.
VRB – Qual a sua opinião sobre a influência de um escritor sobre outro?
Mário Quintana – O que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional e que no entanto me deixaram indiferente. De quem é a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família.
VRB – A imaginação é uma característica dos romancistas e dos poetas. O que é a imaginação?
Quintana – A imaginação é a memória que enlouqueceu.
VRB – Qual é sua filosofia de vida?
Quintana – A gente deve atravessar a vida como quem está gazeando a escola e não como quem vai para a escola.
Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada.
VRB – Autores, como Domenico de Masi , fazem apologia do ócio, inclusive como fonte de criatividade.
Quintana – A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.
O que prejudica a minha preguiça prejudica o meu trabalho.
VRB – Temos respostas confiáveis para a Vida? Ou só podemos perguntar?
Quintana – Quase tudo neste mundo são perguntas e as respostas são quase sempre reticências...
VRB – A idéia do destino sempre esteve presente na filosofia, na religião, na literatura. Na sua concepção, o que é o destino?
Quintana – O Destino é o acaso atacado de mania de grandeza.
VRB – A morte é certa, mas o instante da morte é sempre incerto. E essa incerteza do instante do morrer, você o retrata belamente em uma de suas poesias.
Quintana – Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia...
VRB – A sobrevivência da alma após a morte do corpo é uma esperança da grande maioria das pessoas, porque acreditam no que dizem todas as religiões. O que é a alma para você?
Quitana – A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.
Meu Deus! Como será uma alma deste mundo?!
VRB – Você tem medo de fantasmas?
Quintana – O fantasma é um exibicionista póstumo.
Os fantasmas também sofrem de visões: somos nós...
VRB – Karl Marx afirmou que a religião é o ópio do povo. Você concorda?
Quintana – O ópio do povo é o trabalho.
VRB – Há pessoas que se preocupam tanto com o espírito a ponto de desprezar o corpo. Pensam que sabem muito sobre a alma, mas, na sua maioria, nada sabem sobre o seu organismo.
Quintana – Conhecer o mistério de um corpo é talvez mais importante do que conhecer o mistério de uma alma.
VRB – Você acha que a teologia aproxima o homem de Deus?
Quintana – A teologia é o caminho mais longo para chegar a Deus.
Mas como livrar Deus dos teogogos?
Deus é impróprio para adultos.
VRB – Você acredita em oração?
Quintana – Rezar é uma falta de fé: Nosso Senhor bem sabe o que está fazendo....
VRB – Há pessoas que mudam de religião porque perderam a fé no que acreditavam. Essa dúvida poderá ser neutralizada pela fé que encontraram noutra religião?
Quintana – Uma das coisas que não consigo absolutamente compreender são os que se convertem a outras religiões. Para que mudar de dúvidas?
VRB – Você se preocupa com o Além e seus mistérios?
Quintana – Por favor, deixa o Outro Mundo em paz! O mistério está aqui.
VRB – Acredita em milagres?
Quintana – O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto.
Milagre é acreditarem nisso tudo.
VRB – O que o amedronta em relação à morte?
Quintana – Falam muito no Sono Eterno. Sempre falaram, aliás... E daí?
Daí, só uma coisa me impressiona, e muito: a ameaça de uma Insônia Eterna.
O pior da morte é essa brusca mudança de hábitos...
VRB – Costuma-se dizer que a morte iguala todas as pessoas.
Quintana – A morte não iguala ninguém: há caveiras que possuem todos os dentes.
VRB – O maior perigo para o idoso é a aposentadoria. Se ela não for bem aproveitada poderá, como conseqüência, acelerar o envelhecimento e antecipar a morte. Como você encara o trabalho na velhice?
Quitana – O trabalho é a farra dos velhos.
VRB – O que é o tempo?
Quintana – O tempo é a insônia da eternidade.
VRB – O tempo sempre foi uma das grandes preocupações do ser humano. Os saudosistas dão um grande valor ao passado e fazem do presente uma janela de onde contemplam tudo o que foi e tudo o que foram.
Quintana – O passado não reconhece o seu lugar: está sempre no presente.
VRB – A maioria dos idosos sempre fala dos bons velhos tempos, por inadaptação aos costumes dos tempos atuais.
Quintana – Mas os tempos são sempre bons, a gente é que não presta mais.
VRB – Cada fase do tempo tem seus próprios sentimentos, e todos eles sempre são vividos no presente.
Quintana – Essas duas tresloucadas, a Saudade e a Esperança, vivem ambas na casa do Presente, quando deviam estar, é lógico, uma na casa do Passado e outra na do Futuro. Quanto ao Presente – ah! – esse nunca está em casa.
VRB – Qual o tipo de saudade mais dolorida?
Quintana – A saudade que dói mais fundo – e irremediavelmente – é a saudade que temos de nós.
VRB – Há filósofos que ensinam que o homem deve superar a si mesmo, exceder os seus limites.
Quintana – Ultrapassar-se? Mas como?! A gente só se ultrapassa, mesmo, quando vai para o outro mundo.
VRB – Consideramo-nos o ápice da escala evolutiva do nosso planeta. Apesar de os macacos estarem muito próximos a nós quanto à genética, há uma diferença qualitativa entre nós e eles. Graças à ciência e à tecnologia essa diferença é cada vez maior dentro de uma perspectiva estritamente operacional. Em compensação, os perigos do nosso progresso podem culminar na destruição da raça humana. O que você pensa a respeito?
Quintana – O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de ele venha a ser o nosso futuro.
VRB – Um dos nossos maiores medos é o da solidão. E ela vem se agravando nas grandes megalópoles. Assim, há pessoas que viajam para fugir da solidão.
Quintana – Viajar é mudar o cenário da solidão.
VRB – Vivemos a experiência das megalópoles. Como você definiria uma cidade assim?
Quintana – Cidade grande: dias sem pássaros, noites sem estrelas.
VRB – A ficção científica alerta para a possibilidade de o homem ser, um dia, superado e dominado pela máquina. É terrível essa visão de um mundo dirigido por robôs.
Quintana – O que há de terrível nos robôs não é como eles se parecem conosco, mas como nós nos parecemos com eles.
VRB – Como você se relaciona com o livro?
Quintana – O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Há duas espécies de livros: uns que os leitores esgotam, outros que esgotam os leitores.
VRB – Você já alguma vez releu seus livros?
Quintana – Nunca me releio... Tenho um medo enorme de me influenciar. É verdadeiramente catastrófico quando um autor se transforma no seu discípulo.
VRB - Há escritores que procuram ser coerentes em todas as suas obras. Você tem essa preocupação?
Quintana - Um autor que nunca se contradiz deve estar mentindo
VRB – O que é o sonho?
Quintana – Sonhar é acordar-se para dentro.
VRB – Você, alguma vez, já sentiu remorso?
Quintana – Há noites em que não posso dormir de remorsos por tudo o que deixei de cometer...
VRB – Quais as expressões humanas que demonstram autêntica sinceridade.
Quintana – Os sorrisos mais sinceros são os sorrisos dos desdentados.
VRB – Qual a palavra que denomina melhor o agrupamento humano.
Quintana – Nós – o pronome do rebanho.
VRB – Como você entende a criação do mundo?
Quintana – Se antes era o Nada, como poderia haver Alguém para tirar dele o mundo?
(Valter da Rosa Borges)
FRASES DE MARIO QUINTANA
* A amizade é um amor que nunca morre.
* Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo...
* Há 2 espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e ... os amigos, que são os nossos chatos prediletos.
*Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
* O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.
* O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...
* A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.
* DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
* DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
* AS INDAGAÇÕES
A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.
* Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho.
* DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
* A arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!
* Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.
* DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...
* DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
* O passado não reconhece o seu lugar: esta sempre presente.
* O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.
* [O Trágico Dilema]
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.
* POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
* Não importa saber se a gente acredita em Deus: o importante é saber se Deus acredita na gente...
* Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.
* Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!
* A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.
* Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça...
* E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando a vidas dos insetos...
* Reflexão de Lavoisier ao descobrir que lhe haviam roubado a carteira: nada se perde, tudo muda de dono.
* Sonhar é acordar-se para dentro.
* Amor
Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo
* Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas...
* Dizes que a beleza não é nada? Imagina um hipopótamo com alma de anjo... Sim, ele poderá convencer os outros de sua angelitude - mas que trabalheira!
* DOS MILAGRES
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
* No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
* Autodidata é um ignorante por conta própria.
* Melancolia
Maneira romântica de ficar triste.
* Esses que puxam conversa sobre se chove ou não chove - não poderão ir para o Céu! Lá faz sempre bom tempo...
* Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
* SIMULTANEIDADE
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.
* A poesia não se entrega a quem a define.
* O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.
Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.
Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...
* Não me ajeito com os padres, os críticos e os canudinhos de refresco: não há nada que substitua o sabor da comunicação direta.
* Quiseste expor teu coração a nu.
E assim, ouvi-lhe todo o amor alheio.
Ah, pobre amigo, nunca saibas tu
Como é ridículo o amor... alheio!
* Vale a pena viver - nem que seja para dizer que não vale a pena...
* Dupla delícia/ O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
* Se alguém te perguntar o quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo...
* Só se deve beber por gosto: beber por desgosto é uma cretinice.
* INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"
* Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua...
* Esses padres conhecem mais pecados do que a gente...
* Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?
* A verdadeira arte de viajar...
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
* OS DEGRAUS
Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
* Ah, esses moralistas... Não há nada que empeste mais do que um desinfetante!
* Minha vida é uma colcha de retalhos. Todos da mesma cor.
* Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação.
* Da Perfeição da Vida
Por que prender a vida em conceitos e normas?
O Belo e o Feio... O Bom e o Mau... Dor e Prazer...
Tudo, afinal, são formas
E não degraus do Ser!
* Do bem e do mal
Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa na vida inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?
* Quem pretende apenas a glória não a merece.
* Quando guri, eu tinha de me calar, à mesa: só as pessoas grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças falarem.
* Da calúnia
Sorri com tranquilidade
Quando alguém te calunia.
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade...
* O Eterno Espanto
Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez?
* Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.
* No céu é sempre domingo. E a gente não tem outra coisa a fazer senão ouvir os chatos. E lá é ainda pior que aqui, pois se trata dos chatos de todas as épocas do mundo.
* Há uns que morrem antes; outros depois. O que há de mais raro, em tal assunto, é o defunto certo na hora exata.
* De um autor inglês do saudoso século XIX: O verdadeiro gentleman compra sempre três exemplares de cada livro: um para ler, outro para guardar na estante e o último para dar de presente.
* INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...
* Diálogo Bobo
- Abandonou-te?
- Pior ainda: esqueceu-me...
* [Do Bem o do Mal]
No fundo, não há bons nem maus. Há apenas os que sentem prazer em fazer o bem e os que sentem prazer em fazer o mal. Tudo é volúpia...
* O tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais velho que a gente...
* O ruim dos filmes de Far West é que os tiroteios acordam a gente no melhor do sono.
* Três amores... Quem me deu
Tão estranha sorte assim?
Três amores, tenho-os eu
E nenhum me tem a mim!
* A indulgência é a maneira mais polida de desprezar alguém.
* Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo...
* Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
* [Inscrição para um portão de cemitério]
A morte não melhora ninguém...
* LEGÍTIMA APROPRIAÇÃO
Copio e assino essa frase encontrada no velho Schopenhauer: "A soma de barulho que uma pessoa pode suportar está na razão inversa de sua capacidade mental".
* Se um poeta consegue expressar a sua infelicidade com toda a felicidade, como é que poderá ser infeliz?
* O mais triste da arquitetura moderna, é a resistência do seu material.
* O grande consolo das velhas anedotas são os recém-nascidos...
* Qual Ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas.
* Tudo o que acontece é natural - inclusive o sobrenatural.
* Sinônimos
Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.
* Senhora, eu vos amo tanto / Que até por vosso marido / Me dá um certo quebranto.
* [A Arte de Ler]
O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.
* Diálogo Noite Adentro
- Mas há as que nos compreendem...
- Ah, essas são as piores!
* Mau Humor
Os que metem uma bala na cabeça retiram-se deste mundo batendo com a porta.
* Tempo
Coisa que acaba de deixar a querida leitora um pouco mais velha ao chegar ao fim desta linha.
* Nos acontecimentos, sim, é que há destino:
Nos homens, não - espuma de um segundo...
Se Colombo morresse em pequenino,
O Neves descobriria o Novo Mundo.
* O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo
que não admite acompanhamento sólido. Mas eu o driblo,
saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas-na-manteiga
que alguém pediu na mesa próxima.
* Já trazes, ao nascer, a tua filosofia.
As razões? Essas vêm posteriormente,
Tal como escolhes, na chapelaria,
A forma que mais te assente...
* [Busca]
Subnutrido de beleza, meu cachorro-poema vai farejando poesia em tudo, pois nunca se sabe quanto tesouro andará desperdiçado por aí...
Quanto filhotinho de estrela atirado no lixo!
* [A Carta]
Quando completei quinze anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.
* SEMPRE QUE CHOVE
Sempre que chove
Tudo faz tanto tempo...
E qualquer poema que acaso eu escreva
Vem sempre datado de 1779!
* Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento... Minha pedra de Calcutá!
* [Leitura]
Se é proibido escrever nos monumentos, também deveria haver uma lei que proibisse escrever sobre Shakespeare e Camões.
* Ah! Essas Precauções...
Para desespero de seus parentes, o velho rei Mitridates, como todo mundo sabe, conseguiu tornar-se imune a todos os venenos... até que um bom tijolaço na cabeça liquidou o assunto.
* Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!
* Um poema como um gole d'água bebido no escuro.
Como um pobre animal palpitando ferido.
Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na
[floresta noturna.
Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição
[de poema.
Triste.
Solitário.
Único.
Ferido de mortal beleza.
* Opinião só não muda quem não tem.
* Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo; a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará jamais.
* O luar, é a luz do Sol que está sonhando.
* A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão.
* A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer.
* A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitados de sapatos.
* Despertador é bom para a gente se virar para o outro lado e dormir de novo.
* A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta.