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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
Num estudo dos mais interessantes, o padre Louis Beirnaert, examinando a aproximação que a linguagem dos místicos introduz entre a experiência do amor divino e a da sexualidade, sublinha "a atitude da união sexual simbolizando uma união superior". Ele se limita a lembrar, sem insistência, o horror habitual com que se encara a sexualidade: "Fomos nós", diz ele, "que, com nossa mentalidade científica e técnica, fizemos da união sexual uma realidade puramente biológica..." A seu ver, se a união sexual tem a virtude de exprimir "a união do Deus transcendente com a humanidade", é que ela, já na experiência humana, "tinha o caráter intrínseco de significar um acontecimento sagrado". "A fenomenologia das religiões mostra-nos que a sexualidade humana é, de início, significativa do sagrado." O parti pris que a coloca como "significativa do sagrado" opõe-se, aos olhos do padre Beirnaert, à "realidade puramente biológica" do ato genital. É que o mundo sagrado só muito mais tarde adquiriu o sentido unilateralmente elevado que tem para o religioso moderno. Ele tinha ainda na Antiguidade clássica um sentido duvidoso. Aparentemente, para o cristão, o que é sagrado é forçosamente puro. O impuro está do lado profano. Mas o sagrado para o pagão podia ser também o imundo. Numa análise mais demorada, logo veremos que Satã, no cristianismo, está bem próximo do divino, e que o pecado não poderia ser tomado como radicalmente estranho ao sagrado. O pecado é em sua origem interdito religioso e o interdito religioso do paganismo é precisamente o sagrado. É sempre ao sentimento de horror inspirado pela coisa interdita que se associam o medo e o pavor de que nem mesmo o homem moderno consegue se livrar face ao que lhe é sagrado. Creio, no caso presente, que não é sem deformação que se conclui: "O simbolismo conjugal de nossos místicos não tem, pois, uma significação sexual. É bem diferente: é a união sexual que já tem um sentido que a ultrapassa". "O que a ultrapassa" quer dizer: o que nega o seu horror, ligado à realidade suja.
Vejamos. Nada está mais distante de meu pensamento que a interpretação sexual da vida mística, tal como o fizeram Marie Bonaparte e James Leuba. Se, de alguma forma, a efusão mística é comparável aos movimentos da volúpia física, não deixa de ser uma simplificação afirmar, como o faz Leuba, que o prazer de que falam os contemplativos implica sempre um certo grau de atividade dos órgãos sexuais. Marie Bonaparte apóia-se numa passagem de Santa Teresa: "Eu vi então que ele tinha uma longa lança de ouro, cuja ponta parecia de fogo e senti como se ele a enterrasse várias vezes em meu coração, transpassando-a até minhas entranhas! Quando a retirava, parecia também arranca-las, e me deixava esbraseada do grande amor de Deus. A dor era tão grande que me fazia gemer e, no entanto, a doçura dessa dor excessiva era tal que eu não podia querer livrar-me dela... A dor não é corporal, mas espiritual, se bem que o corpo tenha sua parte e mesmo uma larga parte. É uma carícia de amor tão doce que acontece então entre a alma eDeus que eu peço a Ele, em sua bondade, que a faça sentir aquele que pensa que estou mentindo". Marie Bonaparte conclui: "É desta célebre transverberação de Teresa que aproximarei a confissão que me fez um dia uma amiga. Ela havia perdido a fé, mas aos quinze anos sofrera uma crise mística intensa e quis ser religiosa — ela se lembrava de ter um dia, ajoelhada diante do altar, sentido um prazer tão natural, que pensou que o próprio Deus estava descendo sobre ela. Só mais tarde, quando se entregou a um homem, foi que reconheceu que aquela descida de Deus sobre ela tinha sido um violento orgasmo venéreo. A casta Teresa nunca teve a ocasião de fazer essa aproximação que, no entanto, parece se impor também para sua transverberação". "Tais reflexões levam à tese segundo a qual", precisa o dr. Parcheminey, "toda experiência mística não é senão uma sexualidade transferida, logo, uma conduta neurótica." Para dizer a verdade, seria difícil provar que a "transverberação" de Teresa não justifica a aproximação proposta por Marie Bonaparte.
Nada, evidentemente, poderia permitir afirmar que ela não teve um violento orgasmo venéreo. Mas isto não se pode provar. Com efeito, Marie Bonaparte negligencia o fato de que a experiência da contemplação está associada desde cedo ao mais forte movimento concernente às relações da alegria espiritual com a emoção dos sentidos. "Contrariamente ao que diz Leuba", diz padre Beirnaert, "os místicos tiveram perfeitamente consciência dos movimentos sensíveis que acompanhavam sua experiência. São Boaventura fala dos que in spirituali bus affectionibus carnalis fluxus liquore raaculantur. Santa Teresa e São João da Cruz falam disso claramente. Mas trata-se neste caso de alguma coisa que eles consideram extrínseca à sua experiência; quando lhes acontece esta emoção, não lhe dão importância e a olham sem medo ou pavor... A psicologia contemporânea mostrou, por seu lado, que os movimentos sexuais orgânicos são freqüentemente a causa de uma emoção forte que se libera por todas as vias possíveis. Ela vai assim juntar-se à noção de redundantia, familiar a São João da Cruz. Notemos, enfim, que tais movimentos que acontecem no início da vida mística não persistem nas etapas posteriores, sobretudo no casamento espiritual. Em suma, a existência de movimentos sensíveis durante o êxtase não significa de forma alguma a especificidade sexual da experiência." Esta realização não poderia talvez responder a cada questão que se pode colocar, mas ela distingue, com muita precisão, domínios cujas características fundamentais, psicanalistas, estranhos talvez a toda experiência religiosa, que certamente não tiveram vida mística, não podiam discernir.
Há semelhanças flagrantes, e mesmo equivalências e trocas, entre os sistemas de efusão erótica e mística. Mas essas relações não podem aparecer tão claramente senão a partir do conhecimento experimental das duas espécies de emoção. Os psiquiatras, é verdade, ultrapassam expressamente a experiência pessoal na medida em que observam doentes, cujos males eles não poderiam sentir intimamente. Em resumo, se eles falam com tanta segurança da vida mística sem a terem experimentado, devem reagir da mesma forma diante de seus doentes. O resultado é inevitável: um comportamento que foge à sua própria experiência é visto, aprion, como anormal: há uma identidade entre o direito que eles se arrogam possuir para fazer um julgamento de fora e a atribuição de um caráter patológico. A que se acrescenta que os estados místicos manifestados por distúrbios equívocos são ao mesmo tempo os mais fáceis de conhecer e os mais parecidos com o ardor sexual. Eles levam, pois, a assimilação superficial do misticismo a uma exaltação doentia. Mas as dores mais profundas são as que não se manifestam por gritos, o mesmo acontecendo com a experiência interior das profundezas possíveis do ser que é a mística: não há correspondência entre momentos "sensacionais" e o que se diz deles. Praticamente, os estados que teriam preservado os psiquiatras de um julgamento precipitado não entram no campo de sua experiência, não nos são conhecidos senão na medida em que são pessoalmente experimentados. As descrições dos grandes místicos poderiam em princípio atenuar essa ignorância, mas elas desconcertam na razão exata de sua simplicidade, não oferecendo nada que as aproxime dos sintomas dos neuropatas ou das exclamações dos místicos "transverberados". Não só elas dão pouco motivo à interpretação dos psiquiatras, mas também seus dados inacessíveis escapam de ordinário à atenção deles. Se queremos determinar o ponto em que se esclarece a relação do erotismo com a espiritualidade mística, devemos voltar à visão interior, de onde sozinhos, ou quase, partem os religiosos.
(George Bataille - "O Erotismo")
Toda a concretização do erotismo tem por fim atingir o mais íntimo do ser, no ponto em que o coração nos falta. A passagem do estado normal ao de desejo erótico supõe em nós a dissolução relativa do ser constituído na ordem descontínua. O termo dissolução responde à expressão familiar de vida dissoluta, ligada à atividade erótica. No movimento de dissolução dos seres, a parte masculina tem, em princípio, um papel ativo, enquanto a parte feminina é passiva. É essencialmente a parte passiva, feminina, que é dissolvida enquanto ser constituído. Mas para um parceiro masculino a dissolução da parte passiva só tem um sentido: ela prepara uma fusão onde se misturam dois seres que ao final chegam juntos ao mesmo ponto de dissolução. Toda a concretização erótica tem por princípio uma destruição da estrutura do ser fechado que é, no estado normal, um parceiro do jogo.
A ação decisiva é o desnudamento. A nudez se opõe ao estado fechado, isto é, ao estado de existência descontínua. É um estado de comunicação que revela a busca de uma continuidade possível do ser para além do voltar-se sobre si mesmo. Os corpos se abrem para a continuidade através desses canais secretos que nos dão o sentimento da obscenidade. A obscenidade significa a desordem que perturba um estado dos corpos que estão conformes à posse de si, à posse da individualidade durável e afirmada. Há, ao contrário, desapossamento no jogo dos órgãos que se derramam no renovar da fusão, semelhante ao vaivém das ondas que se penetram e se perdem uma na outra. Esse desapossamento é tão completo que no estado de nudez, que o anuncia, e que é o seu emblema, a maior parte dos seres humanos se esconde, mais ainda se a ação erótica, que acaba de desapossá-los, acompanha a nudez. O desnudar-se, visto nas civilizações onde isso tem um sentido pleno, é, quando não um simulacro, pelo menos uma equivalência sem gravidade da imolação. Na Antiguidade, a destituição (ou a destruição) que funda o erotismo era bastante sensível para justificar uma aproximação do ato de amor e do sacrifício. Quando eu falar do erotismo sagrado, que diz respeito à fusão dos seres com um além da realidade imediata, retomarei o sentido do sacrifício. Mas, desde já, insisto no fato de que o parceiro feminino do erotismo aparecia como a vítima, o masculino como o sacrificador, um e outro, durante a consumação, se perdendo na continuidade estabelecida por um ato inicial de destruição.
O que tira em parte o valor dessa comparação é a pouca gravidade da destruição de que estamos falando. Poderíamos dizer apenas que se o elemento de violação, e mesmo de violência, que a constitui, falha, a atividade erótica atinge com mais dificuldade a plenitude. Entretanto, a destruição real, o ato de morrer propriamente dito, não introduziria uma forma de erotismo mais perfeita que a bem vaga equivalência de que falei. O fato de, em seus romances, o marquês de Sade ver no assassínio o ápice da excitação erótica tem somente este sentido: que, levando às últimas conseqüências o movimento esboçado que descrevi, não nos afastamos necessariamente do erotismo. Há na passagem da atitude normal ao desejo uma fascinação fundamental da morte. O que está em jogo no erotismo é sempre uma dissolução das formas constituídas. Digo: a dissolução dessas formas de vida social, regular, que fundam a ordem descontínua das individualidades definidas que nós somos. Mas no erotismo, menos ainda que na reprodução, a vida descontínua não está condenada, apesar de Sade, a desaparecer: ela está somente posta em questão. Ela deve ser incomodada, perturbada ao máximo. Existe uma busca de continuidade, mas em princípio somente se a continuidade, que só a morte dos seres descontínuos estabeleceria definitivamente, não triunfar. Trata-se de introduzir, no interior de um mundo fundado sobre a descontinuidade, toda a continuidade de que este mundo é suscetível. A aberração de Sade excede essa possibilidade. Ela tenta um pequeno número de seres, e às vezes há os que vão até o fim. Mas, para a totalidade dos homens normais, atos definitivos não dão senão a direção extrema das ações essenciais. Há um terrível excesso do movimento que nos anima: o excesso ilumina o sentido do movimento. Mas isto é para nós apenas um signo monstruoso, a nos lembrar constantemente que a morte, ruptura dessa descontinuidade individual a que a angústia nos prende, se nos propõe como uma verdade mais eminente que a vida.
O erotismo dos corpos tem de qualquer maneira algo de pesado, de sinistro. Ele guarda a descontinuidade individual, e isto é sempre um pouco no sentido de um egoísmo cínico. O erotismo dos corações é mais livre. Ele se separa, na aparência, da materialidade do erotismo dos corpos, mas dele procede, não passando, com freqüência, de um seu aspecto estabilizado pela afeição recíproca dos amantes. Ele pode se desligar inteiramente daquele, mas isto são exceções, justificadas pela grande diversidade dos seres humanos. Em sua origem, a paixão dos amantes prolonga no campo da simpatia moral a fusão dos corpos entre si. Ela a prolonga ou lhe serve de introdução. Mas, para aquele que a sente, a paixão pode ter um sentido mais violento que o desejo dos corpos. Nunca devemos esquecer que, apesar das promessas de felicidade que a acompanham, ela introduz inicialmente a confusão e a desordem. A paixão venturosa acarreta uma desordem tão violenta que a felicidade em questão, antes de ser uma felicidade cujo gozo é possível, é tão grande que é comparável ao seu oposto, o sofrimento. Sua essência é a substituição de uma descontinuidade persistente por uma continuidade maravilhosa entre dois seres. Mas essa continuidade é sobretudo sensível na angústia, na medida em que ela é inacessível, na medida em que ela é busca na impotência e na agitação. Uma felicidade tranqüila, onde o sentimento de segurança predomina, só tem sentido se encontrar a calma para o longo sofrimento que a precedeu. Pois há para os amantes mais chance de não poder se reencontrar longamente do que gozar de uma contemplação alucinada da continuidade que
os une.
As chances de sofrer são tão grandes que só o sofrimento revela a inteira significação do ser amado. A posse do ser amado não significa a morte; ao contrário, a sua busca implica a morte. Se o amante não pode possuir o ser amado, algumas vezes pensa em matá-lo: muitas vezes ele preferiria matar a perdê-lo. Ele deseja em outros casos sua própria morte. O que está em jogo nessa fúria é o sentimento de uma continuidade possível percebida no ser amado. Ao amante parece que só o ser amado — isto tem por causa correspondências difíceis de definir, acrescentando à possibilidade de união sensual a união dos corações — pode neste mundo realizar o que nossos limites não permitem, a plena fusão de dois seres, a continuidade de dois seres descontínuos. A paixão nos engaja assim no sofrimento, uma vez que ela é no fundo a procura de um impossível e, superficialmente, sempre a busca de um acordo dependente de condições aleatórias. Entretanto, ela promete ao sofrimento fundamental uma saída. Nós sofremos com nosso isolamento na individualidade descontínua. A paixão nos repete incessantemente: se você possuísse o ser amado, este coração que a solidão de-, ora formaria um só coração com o do ser amado. Pelo menos em par-e, esta promessa é ilusória. Mas, na paixão, a imagem dessa fusão toma corpo, às vezes de maneira diferente para cada um dos amantes, um uma louca intensidade. Para além de sua imagem, de seu projeto, a fusão precária que reserva a sobrevivência do egoísmo individual pode, por seu lado, entrar na realidade. Pouco importa: dessa fusão precária ao mesmo tempo profunda, o sofrimento — a ameaça de uma separação — deve, o mais freqüentemente, manter a plena consciência.
Nós devemos, seja como for, tomar consciência de duas possibilidades opostas.
Se a união dos dois amantes é o efeito da paixão, ela invoca a morte, o desejo de matar ou o suicídio. O que caracteriza a paixão é um halo de morte. Abaixo dessa violência — à qual responde o sentimento de contínua violação da individualidade descontínua — começa o campo do hábito e do egoísmo a dois, o que quer dizer uma nova forma de descontinuidade. É somente na violação — com estatuto de morte — do isolamento individual que aparece essa imagem do ser amado que tem para o amante o sentido de tudo o que é. O ser amado para o amante é a transparência do mundo. O que transparece no ser amado é aquilo de que falarei daqui a pouco a propósito do erotismo divino ou sagrado. É o ser pleno, ilimitado, que não limita mais a descontinuidade pessoal. É, em síntese, a continuidade do ser percebida como uma libertação a partir do ser do amante. Há uma absurda, uma enorme desordem nessa aparência, mas, através do absurdo, da desordem, do sofrimento, uma verdade de milagre. Nada, no fundo, é ilusório na verdade do amor: o ser amado equivale para o amante, para o amante só, sem dúvida, pouco importa, à verdade do ser. O acaso quer que, através dele, a complexidade do mundo tendo desaparecido, o amante perceba o fundo do ser, a simplicidade do ser.
(George Bataille - "O Erotismo")
Uma mulher sedutora num filme de detetive dos anos 40 passa as mãos lentamente dos lados de seu corpo para arrumar o casaco. Ela anda lentamente ao entrar na sala, olhando de alto a baixo para o detetive rude, e depois senta-se sobre a mesa dele e cruza as pernas.
A atração sexual normalmente estimula as pessoas a fazerem contato. Qualquer ação que revele, enfatize ou atraia a atenção para a sexualidade de alguém pode ser vista como um sinal de interesse sexual. Existem listas de comportamentos que são conhecidos como sinais de interesse sexual, e muitos livros foram escritos sobre esse assunto. A lista a seguir inclui apenas os traços mais óbvios.
Os sinais de interesse sexual incluem:
Estabelecer contato ocular.
Sorriso exagerado.
Riso.
Olhar fixamente.
Piscar.
Umedecer os lábios.
Cruzar e descruzar as pernas.
Projetar o peito ou os quadris para a frente.
Andar sinuoso ou rebolante.
Andar lentamente.
Enfeitar-se.
Sorriso recatado.
Balançar a cabeça ou o cabelo.
Entrar no espaço pessoal de alguém.
Qualquer roupa reveladora (especialmente se não for adequada à ocasião).
Tocar em si mesmo (alisar as meias de náilon ou brincar com os botões da blusa).
Tocar a pessoa em quem se está interessado.
Maquiagem exagerada, ou perfume excessivo.
Vestir-se bem demais para a ocasião.
Murmurar ou outro modo de tentar ser íntimo.
Ouvir atentamente.
Olhar atentamente de cima a baixo para a outra pessoa.
Tentar ficar sozinho com a outra pessoa.
(Jo-Ellan Dimitrius & Mark Mazzarella - DECIFRAR PESSOAS)