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O segredo do sucesso

por Thynus, em 26.05.13

 

“Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada” (Albert Einstein). Ou: como 6 milhões de crentes deixaram de acreditar em Jesus!


O Sucesso é tudo aquilo que queremos obter na vida. Para consegui-lo, além de alguma sorte, há que ter em conta pelo menos essas três variantes de que fala Einstein: trabalho, lazer e... boca fehada!. Trabalho é a primeira e principal variante: sem trabalho nada se consegue. Trabalho que tem que ser feito com gosto e não como imposição ou por uma choruda remuneração monetária. É pelo trabalho que o homem, qual artista, dá significado à sua vida (é assim que o "tripalium", donde derivou a palavra "trabalho", perde a conotação de castigo ou  imposição e alcança a dimensão do "lazer"). Finalmente, para que não haja desvios no objetivo do sucesso temos que ter em conta também que é preciso fechar a boca. Como diz o povo, e bem, "pela boca morre o peixe" ou, também, "quem muito fala, pouco acerta". Ou ainda: "quem bota foguetes antes da festa, arrisca-se a ter que apanhar as canas!"


Do desfecho da final da Taça de Portugal, esta tarde, no Estádio do Jamor, (Benfica 1 - Guimarães 2) fica uma lição: por paradoxal que pareça, milhões não rima com campeões! E muito menos com o midiatismo das Televisões. Nem sempre a voz do dinheiro fala mais alto. Que não haja dúvida que é a combinação perfeita entre as três variantes citadas por Einstein (trabalho, lazer e boca fechada) que define a diferença entre os campeões e os "quase-campeões"! Entre o sucesso e o insucesso! E não vale a pena procurar bodes expiatórios ou arranjar desculpas esfarrapadas. Ou se é competente ou não se é. Há 15 dias o S.L.Benfica sonhava ser campeão nas três frentes em que estava empenhado (Liga Portuguesa, Liga Europa e Taça de Portugal). Em 15 dias enterrou tudo: derrota com o F.C.Porto para a Liga Portuguesa (2-1), derrota com o Chelsea na final da Liga Europa (2-1), derrota com o Vitória de Guimarães na final da Taça de Portugal (2-1). Não é verdade que um raio pode cair três vezes no mesmo sítio? Curioso, não é?! Não sei se o treinador do Benfica, Jorge Jesus, alguma vez terá pensado nisso.


Sempre aprendi desde criança que o desporto, nomeadamente o futebol, é uma escola de virtudes. Nem todos podem ganhar e, no desporto, como na vida, temos também que saber perder com dignidade e fair-play. Glória ao vencedor, honra aos vencidos! Evidentemente esta saudação estende-se a todos os clubes participantes da Taça de Portugal 2012-2013, menos aos jogadores do Benfica que, depois de receberem as medalhas de finalistas  da Taça de Portugal 2013, se dirigiram directamente para os balneários, sem se dignarem esperar pela entrega da Taça ao finalista vencedor, o Vitória de Guimarães. É lamentável que os jogadores do SLB tenham acabado assim: sem glória nem honra. Mas esta falta de fair-play, afinal, não é novidade no SLBenfica: já em Abril de 2012, depois da derrota com o F.C.Porto, no estádio da Luz, e que definiu o campeão 2011-2012, alguém deu ordem para desligar as luzes do estádio e ligar os aspersores de rega do relvado, enquanto os jogadores do FCP comemoravam no estádio com os seus adeptos. Não basta ser grande nas vitórias; é preciso também ser grande nas derrotas. Perder uma competição, acontece! Perder a honra e o respeito ou não reconhecer o mérito do vencedor, é falta de carácter! É preciso saber honrar os pergaminhos das instituições.

PARABÉNS, VITÓRIA DE GUIMARÃES!



 

Hyperlinks: 

* V. Guimarães vence Taça de Portugal e Benfica perde a cabeça

* Afinal, um raio pode cair três vezes no mesmo sítio!  

* Jesus-Cardozo: o maior sinal de desnorte

* Benfica não esperou pela entrega da Taça ao Vitória

* Glória aos Vencedores e Honra aos Vencidos

publicado às 23:14


Signos

por Thynus, em 26.05.13

 

Os signos são meios para superar a experiência transcendente de outrem e do seu mundo. O mundo de outrem transcende o meu num duplo sentido: a) por um lado, há zonas que estão ao meu alcance imediato que não estão ao seu alcance imediato e vice-versa; b) por outro lado, o sistema de relevâncias de Outrem, fundado na sua situação biográfica única, não é coincidente com o meu. Embora não me seja possível colocar ao meu alcance imediato os pensamentos do meu co-associado, posso, através da relação apresentacional de signos, compreender as suas cogitações a partir da esfera do meu alcance imediato e, ao fazê-lo, consigo superar a transcendência da experiência de Outrem.
O signo, por um lado, remete a alguma intenção de expressão e utilização por parte do seu utilizador e, por outro lado, aponta para alguém que lê o signo e recebe a sua mensagem. Quando olhamos para um signo não o olhamos como um objecto mas como algo representativo de outra coisa qualquer. A nossa atenção não se foca nele mas naquilo que representa. Schutz cita Husserl para afirmar que é da natureza da relação sígnica que o signo e aquilo pelo qual ele se encontra, pelo qual ele vale, nada têm a ver um com o outro. Será esta característica que levará diversos autores a falarem do carácter convencional e arbitrário do signo. O signo é sempre um termo apresentativo tornado presente através de uma percepção imediata, a qual se relaciona com o termo apresentado. Na relação significativa, temos o objecto apresentativo como percebido no campo intuitivo. Porém, não estamos dirigidos para ele directamente mas, através do médium de uma apresentação secundária, para algo mais que é indicado ou apresentado pelo primeiro objecto.
Schutz revela uma sensibilidade para a vida social dos signos e para o seu uso individual, antecipando algumas reflexões que se farão, posteriormente, na Semiótica. Assim, diz existir uma certa ambiguidade no dito comum segundo o qual “o signo se encontra sempre em lugar de algo”. O signo é de facto um “signo por” que se encontra na vez do que quer que seja por ele representado, o significado do signo. Mas o signo é, também, um “signo por” aquilo que ele expressa, nomeadamente as experiências subjectivas da pessoa que usa o signo. Por isso, no mundo da natureza não há signos (Zeichen) mas apenas indicações (Anzeichen). O signo também se refere sempre a um acto de escolha por parte de um ser racional – uma escolha deste signo em particular. Nesse sentido, também é indicação de um evento na mente de um seu utilizador. A isto Schutz chama a “função expressiva” do signo.
Porém, na interpretação do signo não é necessário ter em conta que alguém o construiu ou usou. O intérprete apenas tem de conhecer o significado do signo. Por outras palavras, têm que estabelecer a correlação entre o esquema interpretativo do objecto que é o signo e o esquema interpretativo do  objecto que ele significa. Quando vemos um sinal na estrada, pensamos “obrigatório virar à esquerda!” e não “de que é feito este sinal” ou “quem o construiu?”. Podemos então definir os signos como artefactos ou objectos-acto (um objecto-acto é, por exemplo, um dedo que aponta, uma mão que apela à paragem ou indica que pode seguir) que não são interpretados de acordo com os esquemas interpretativos que lhe são adequados como objectos do mundo exterior mas antes de acordo com outros esquemas interpretativos referindo-se a outros objectos. Mais ainda, deve acrescentar-se que essa relação entre o signo e o seu correspondente esquema interpretativo – que, como já dissemos, é um esquema interpretativo que não lhe é adequado, referindo-se antes a outros objectos pelo qual o signo está – se baseia na experiência. A aplicabilidade do esquema daquilo que é significado é ela própria, um esquema interpretativo baseado na experiência, chamada sistema sígnico.
O sistema sígnico é um contexto de significado configurado por esquemas interpretativos. O utilizador ou intérprete do signo localizam-no dentro deste contexto de significado. Judiciosamente, Schutz repara porém que existe uma ambiguidade intrínseca a este conceito de sistema sígnico. Como não lhe parece pensável que a relação em questão (entre o signo e o seu correspondente esquema interpretativo) exista independentemente do efectivo uso ou interpretação do signo, tais relações não se verificam entre os signos propriamente ditos mas entre os significados, o que é outro modo de dizer entre experiências de uso e interpretação dos signos. Porém, como tais significados só são apreensíveis por signos, urge recorrer a um sistema sígnico.
O sistema sígnico emerge perante quem o interpreta como um contexto de significado de ordem mais elevada entre signos previamente experimentados: por exemplo, a língua alemã e o sistema de notação musical são contextos de significado para as palavras e notas que os integram. Porém, como a relação do signo com o esquema interpretativo aplicado àquilo que ele significa depende do seu uso, obviamente dar conta da pertença de um signo a um determinado sistema não é a mesma coisa que perceber o que o signo quer dizer e qual a experiência vivida do seu utilizador do qual é veículo expressivo. Nesse sentido, parece haver uma espécie de “tensão dialéctica” entre o sistema sígnico que permite o acesso aos significados e o uso dos signos na vida quotidiana.
Um signo tem significado objectivo dentro do seu sistema sígnico quando pode ser inteligivelmente coordenado dentro desse sistema, independentemente de quem o usa ou interpreta. É a idealidade do «posso de novo fazê-lo ». Porém, a linguagem como código de interpretação e de expressão não consiste apenas nos símbolos linguísticos catalogados nos dicionários e nas regras sintácticas enumeradas numa gramática ideal. De modo diverso das semiologias estruturais, Schutz preocupa-se efectivamente com a dimensão pragmática da linguagem. Mesmo o significado objectivo das palavras, aquele que lhe é atribuído idealmente em relação a esquemas de experiência, fundados nas reservas de experiência partilhados intersubjectivamente como tal, admite um horizonte de indeterminação. Ao fim e ao cabo, o sentido de um signo pode ser decomposto em dois elementos: a) o sentido objectivo, o seu nó de significação em torno do qual os interlocutores acordam e se entendem implicitamente, graças ao fundamento em reservas de experiências intersubjectivamente partilhadas; e b) um sentido subjectivo e ocasional em que as suas orlas de sentido (Sinnfrasen) remetem para uma rede de circunstâncias singulares e contingentes pelas quais se inscreve o uso da palavra no contexto de sentido daquilo que se exprime e daquele que interpreta.
Em relação a este segundo ponto, Schutz faz questão de lembrar que, num sistema de significação como a linguagem, há uma margem de incerteza que remete para o plano afectivo e irracional: toda a palavra, toda a frase, é cercada de auréolas que a liga, de um lado, com elementos passados e futuros do universo de discurso a que pertence e, de outro, com um halo de valores emocionais e implicações irracionais, de natureza inefável. Assim, esses termos, frases e formas estão imbuídos de significados particulares que são envolvidos por auréolas de associação e de emoção. Alguns desses significados adicionais, sobrepostos, são essencialmente privados, particulares a uma pessoa ou a um pequeno círculo íntimo de pessoas; outros são típicos de determinados grupos e classes, profissões, idade ou sexo; outros, ainda, pertencem à mesma comunidade linguística como um todo, embora não possam ser apreendidos por um estrangeiro por meio de um dicionário ou de uma gramática. Para além das conotações estandardizadas, cada elemento de fala adquire o seu próprio significado secundário, original no contexto ou no ambiente social no qual é usado, e recebe, ainda, em certas ocasiões, tonalidades especiais conforme a situação em que é utilizado.
Todo o grupo social, por menor que seja, tem o seu próprio código privado, compreensível apenas para aqueles que participaram de experiências passadas comuns onde o código se criou. Graças a isso, toda a história do código linguístico está espelhada no seu modo de dizer as coisas. Tais traços só são acessíveis aos membros internos do grupo. A fim de dominar fluentemente uma língua como meio de expressão, a pessoa tem de ter escrito cartas de amor nessa língua. Somente para os membros do grupo o código de expressão é genuíno e está à mão e somente eles o dominam fluentemente dentro do seu pensar como sempre.

(José Manuel Santos, Pedro M.S. Alves, Joaquim Paulo Serra - "Filosofias da Comunicação")

publicado às 18:03


Sinais do Espírito no mundo atual

por Thynus, em 26.05.13

 


Desenvolveu-se, já há bastante tempo, toda uma teologia dos “sinais dos tempos” como forma de percepção de um desígnio divino para a história humana. Esse procedimento é  arriscado, pois para conhecer os sinais precisa-se primeiramente conhecer os tempos. E estes nos dias atuais são complexos, quando não contraditórios. O que é sinal do Espírito para alguns pode ser um antissinal  para outros.
Mas há alguns eventos que se impõem à consideração de todos, pois possuem uma evidência em si mesmos. Vamos nos referir a alguns pela densidade de sentido que contém.
O primeiro é sem dúvida o processo de planetização. Esta, mais que um fato econômico e político inegável, representa  um fenômeno histórico-antropológico: a humanidade se descobre como espécie, habitando a mesma e única Casa, o planeta Terra, com um destino comum. Ele antecipa o que já Pierre Teilhard de Chardin dizia em 1933 a partir de seu exílio eclesiástico na China: estamos na antessala de uma nova fase da humanidade: a fase da noosfera, vale dizer, da convergência das mentes e dos corações constituindo uma única história junto com a história da Terra. O Espírito que é sempre de unidade, de reconciliação e de convergência na diversidade.
Outro sinal relevante é constituído pelos Fóruns Sociais Mundiais que a partir do ano 2000 começaram a se realizar a partir de Porto Alegre, RS. Pela primeira vez na história moderna, os pobres do mundo inteiro, fazendo contraponto às reuniões dos ricos na cidade suíça de Davos, conseguiram acumular tanta força e capacidade de articulação que acabaram, aos milhares, se encontrando para apresentar suas experiência de resistência e de libertação e alimentar um sonho coletivo  de que um outro mundo é possível e necessário. Aí se notam os brotos do novo paradigma de humanidade, capaz de organizar de forma diferente a produção, o consumo, a preservação da natureza e a inclusão de todos num projeto coletivo que garanta um futuro de vida.
A Primavera Árabe surge também como um sinal do Espírito no mundo. Ela incendiou todo o Norte da Africa e se realizou sob o signo da busca de liberdade, de respeito dos direitos humanos e na integração das mulheres, tidas como  iguais, nos processos sociais. Ditaduras foram derrubadas, democracias estão sendo ensaiadas, o fator religioso é mais e mais valorizado na montagem da sociedade mas deixando de lado aspectos fundamentalistas. Tais fatos históricos devem ser interpretados, para além de sua leitura secular e sociopolítica, como emergências do Espírito de liberdade e de criatividade.
Quem poderia negar que numa leitura bíblico-teológica, a crise de 2008 que afetou principalmente o centro do poder econômico-financeiro do mundo, lá onde estão os grandes conglomerados  econômicos que vivem da especulação à custa da desestabilização de outros países e do desespero de suas populações, não seja também um sinal do Espírito Santo? Este é um sinal de advertência de que a perversidade tem limites e que sobre eles poderá vir um juízo severo de Deus: a sua completa derrocada.
Em contrapartida ao sinal negativo anterior, está o sinal positivo dos movimentos de vítimas que se organizaram na Europa como os “indignados” na Espanha e na Inglaterra e os “occupies Wall Street” nos EUA. Eles revelam uma energia de protesto e de busca de novas formas de democracia e de organizar a produção, cuja fonte derradeira, na leitura da fé, se encontra no Espírito.
Outro sinal do Espírito no mundo  ganhou forma na  crescente consciência ecológica de um número cada vez maior de pessoas no mundo inteiro. Os fatos não podem ser negados: tocamos nos limites da Terra, os ecossistemas mais e mais estão se exaurindo, a energia fóssil, o motor secreto de todo nosso processo industrialista, tem os dias contados e o aquecimento global que não para de aumentar e que, dentro de algumas décadas, pode ameaçar toda a biodiversidade.
Somos os principais responsáveis por este caos ecológico. Faz-se urgente um outro paradigma de civilização que vai na linha das visões já testadas na humanidade como o ’bem-viver” e o “bem-conviver” (sumak kawsay) dos povos andinos, o “índice de felicidade bruta” do Butão, o ecossocialismo, a  economia solidária e biocentrada, uma bem entendida economia verde ou projetos cuja centralidade é posta na vida, na humanidade e na Terra viva.
Por fim, um grande sinal do Espírito no mundo é o surgimento do movimento feminista e do ecofeminismo. As mulheres não apenas denunciaram a dominação secular do homem sobre a mulher (questão de gênero) mas especialmente toda a cultura patriarcal. A irrupção das mulheres em todos os campos da atividade humana, no mundo do trabalho, nos centros de saber, no campo da política e das artes, mas principalmente com uma vigorosa reflexão a partir da condição feminina sobre toda a realidade, deve ser vista como uma irrupção poderosa do Espírito na história.
A vida está ameaçada no planeta. A mulher é conatural à vida, pois a gera e cuida dela durante todo o tempo. O século 21 será, creio eu, o século das mulheres, daquelas que, junto com os homens, assumirão mais e mais responsabilidades coletivas. Será por elas que os  valores que elas mais testemunham como o cuidado, a cooperação, a solidariedade, a compaixão e o amor incondicional estarão na base do novo ensaio civilizatório planetário.

(Leonardo Boff é autor de A civilização planetária: desafios à sociedade e ao cristianismo, Sextante, Rio 2003)

publicado às 15:40


1-Não tem faltado aqui, nestas crónicas, a denúncia das patologias da religião. Como ser insensível ao sofrimento das vítimas da pedofilia do clero? Vítimas de escrúpulos, vítimas da humilhação intelectual, vítimas da intolerância religiosa, de um deus mesquinho e escravizador... O historiador católico Jean Delumeau escreveu: "As minhas investigações convenceram-me de que a imagem do Deus castigador e vingativo foi um factor decisivo para uma descristianização cujas raízes são antigas e poderosas".
Parece que, enquanto pôde, o clero controlou a vida sexual dos fiéis, a ponto de outro historiador, Guy Bechtel, afirmar que a fractura entre a Igreja católica e o mundo moderno se deu na teoria do sexo e do amor, com uma confissão inquisitorial centrada na actividade sexual.
Será preciso lembrar os homens e mulheres que foram assados nas fogueiras da Inquisição e não só, porque tinham ideias novas? E houve o medo-pânico da mulher, que se chegou a acusar de manter relações sexuais com o diabo. E os livros considerados heréticos também foram queimados. E houve as cruzadas, as guerras de religião, a missionação forçada. Pio VI condenou essa "detestável filosofia dos Direitos do Homem". Pio IX condenou expressamente a evolução como uma aberração. No século XX, o teólogo E. Drewermann escreveu: "Há 500 anos, a Igreja recusou a Reforma; há 200, o Iluminismo; há 100, as ciências naturais; há 50, a psicanálise. Como viver com tantas rejeições?"
Apesar de tudo, creio que é inegável que, no cômputo geral, o saldo é superior a favor da religião, nomeadamente do cristianismo. E não estou sozinho nesta apreciação.
2-Cada quarta-feira, a Cambridge Union Society, um clube de debate ligado à Universidade de Cambridge, realiza um debate sobre temas actuais. No passado dia 31 de Janeiro, com a presença de mais de 800 pessoas, sendo a maioria constituída por estudantes universitários, o tema era debater a necessidade da religião neste século, a partir das seguintes perguntas: "A religião é compatível com a vida do século XXI? Como pode conseguir-se que encaixe com as leis e os valores modernos? E se fosse compatível, a religião faz mais bem do que mal?"
Para o debate, partindo da premissa, "A religião não tem espaço no século XXI", foram convidados vários intervenientes, entre os quais o arcebispo Rowan Williams, que deixou há pouco a liderança da Igreja Anglicana, e o biólogo Richard Dawkins, ateu convicto e apóstolo do ateísmo a nível mundial.
Segundo R. Dawkins, a religião é "redundante e irrelevante", para lá de "uma traição à inteligência, uma traição ao melhor de nós, ao que nos torna humanos", continuando: "parece responder à pergunta enquanto a não examinas e te dás conta de que o não faz. Espalha explicações falsas, quando se poderia ter oferecido explicações reais, explicações falsas que obstaculizam a iniciativa de descobrir explicações reais." No contexto científico, funciona como um "charlatão pernicioso". Em suma: a sociedade funcionaria melhor, se as religiões estabelecidas desaparecessem.
Para R. Williams, a religião "foi sempre uma questão de construir comunidades, uma questão de construir relações de compaixão e de inclusão". A questão fundamental é ver qual deveria ser a atitude que se tem para com ela. Os direitos das pessoas "têm profundas raízes" nas comunidades de fé. "A Declaração dos Direitos Humanos não teria sido o que é se não tivesse havido o debate filosófico e religioso." Assim, o respeito pela vida humana e a igualdade são inerentes a todas as religiões organizadas. Por isso, pretender que "o compromisso religioso deve ser um assunto meramente privado vai contra a história da religião".
No final, depois de todas as intervenções, parte do público votou. Aí, os favoráveis à afirmação "a religião não tem espaço no século XXI" saíram derrotados: 136 contra 324. A religião autêntica pratica o amor, faz comunidades, oferece transcendência e sentido final. Mas é claro que, também no domínio da religião, se não pode abandonar a presença da razão crítica.

(ANSELMO BORGES)

publicado às 15:28

 

Se fosse vivo, teria feito 100 anos no passado dia 27 de Fevereiro. É um dos maiores filósofos do século XX, que "se tornou filósofo para se não tornar esquizofrénico".

 

 

Refiro-me a Paul Ricoeur, sendo o que aí fica, evitando tecnicismos, uma homenagem ao grande pensador humanista e cristão, que também influenciou a teologia, com a hermenêutica.
1. Pergunta nuclear da filosofia é: o que é o Homem?, quem sou eu? Ora, não se pode duvidar do facto de que eu sou; mas quem sou, o que é que eu sou: isso é duvidoso. O Homem não é transparente a si próprio. Para chegar a si mesmo, tem de fazer um grande desvio de interpretação, passando pelas obras da cultura: a literatura, as artes, as religiões, as ciências naturais - no quadro das neurociências, em diálogo com J.-P. Changeux, fez questão de acentuar a distinção fundamental entre o conhecimento científico e a experiência vivida: o sujeito não é redutível a dados empíricos -, as ciências humanas... É mediante esse percurso que o Homem vem a si próprio; reconhece-se, narrando a sua própria história, sempre aberta e em transformação. A identidade humana é narrativa.
2. A ética ocupa lugar central no pensamento ricoeuriano. É famoso, neste campo, o seu triângulo ético: a ética é "o desejo da "vida boa" com e para outrem em instituições justas". Tudo arranca do desejo: o esforço de existir, a capacidade de querer e agir, ser. Mas "eu" (primeira pessoa) não sou sem o outro, sem o "tu" (segunda pessoa), que me solicita: "O outro é meu semelhante. Semelhante na alteridade, outro na semelhança." O encontro, porém, dá-se no contexto de um "ele", "ela" (terceira pessoa), que remete para o impessoal e institucional (instituições justas).
3. A sua filosofia está profundamente enraizada. Di-lo também um texto sobre a Europa, numa entrevista de 1997, agora publicada pela Philosophie Magazine: "Estamos em guerra económica. É um problema muito perturbador, sobre o qual nunca tinha dito nada. É hoje o problema de toda a Europa ocidental. Onde, para sobrevivermos, devemos manter uma ética e uma política da solidariedade. O combate a travar tem duas frentes: por um lado, as nossas economias têm de permanecer competitivas; por outro, não podem perder a alma - o seu sentido da redistribuição e da justiça social. Um problema enorme, quase tão difícil de resolver como a quadratura do círculo...
Ainda não acabámos com a herança da violência e da última guerra. Nem com a dureza e a brutalidade do sistema capitalista, que deu KO ao comunismo, ficando sem rival. É hoje a única técnica de produção de riqueza, mas com um custo humano exorbitante. As desigualdades, as exclusões são insuportáveis.
Estou um pouco tentado por uma solução que se poderia dizer cínica. Pode causar-lhe espanto da minha parte, mas enquanto este sistema não tiver produzido efeitos insuportáveis para um grande número, continuará o seu caminho, pois não tem rival... Penso que vamos conhecer na Europa ocidental uma travessia no deserto extremamente dura. Porque já não somos capazes de pagar o preço que os mais pobres do que nós pagam. A ascensão das jovens economias asiáticas, concretamente a da China, supõe um custo que seremos incapazes de suportar. Não só não queremos isso, mas não devemos fazê-lo. Não vamos voltar aos tempos do trabalho infantil!... É por isso que eu sou tão fortemente pró-europeu; só uma economia de grande dimensão permitirá à Europa sair disto."
4. "O Homem é a Alegria do Sim na tristeza do finito." Ricoeur sabe da finitude e do mal e da violência e da morte. Mas, em primeiro lugar, há a vida e o seu esforço de ser: "a morte não é eu como a vida, é sempre a estrangeira." Aqui, radica a esperança como sentimento fundamental: "a esperança diz: o mundo não é a pátria definitiva da liberdade; consinto o mais possível, mas espero ser libertado do terrível." Assim, na última página da sua última grande obra: La Mémoire, l"Histoire, l"Oubli (2000), publicada aos 87 anos, deixou este texto que dá que pensar e que assinou pelo próprio punho: "Sob a história, a memória e o esquecimento. Sob a memória e o esquecimento, a vida. Mas escrever a vida é uma outra história. Inacabamento. Paul Ricoeur."

(ANSELMO BORGES)

publicado às 15:27


SUICÍDIO OU HOMICÍDIO?

por Thynus, em 25.05.13

No jantar de premiação anual de Ciências Forenses, em 1994 nos Estados Unidos, o perito médico-legista Dr. Don Harper Mills impressionou o público com as complicações legais de uma morte bizarra. Aqui está a história: Em 23 de março de 1994, o médico legista examinou o corpo de Ronald Opus e concluiu que a causa da morte fora um tiro de espingarda na cabeça.O Sr. Opus pulara do alto de um prédio de 10 andares, pretendendo suicidar-se. Ele deixou uma nota de suicídio confirmando sua intenção. Mas quando estava caindo, passando pelo nono andar, Opus foi atingido por um tiro de espingarda na cabeça, que o matou instantaneamente. O que Opus não sabia era que uma rede de segurança havia sido instalada um pouco abaixo, na altura do oitavo andar, a fim de proteger alguns trabalhadores. Portanto, Ronald Opus não teria sido capaz de consumar seu suicídio como pretendia. O Dr. Mills relata que "quando uma pessoa inicia um ato de suicídio e consegue se matar, sua morte é considerada suicídio, mesmo que o mecanismo final da morte não tenha sido o desejado." Mas o fato de Opus ter sido morto em plena queda, no meio de um suicídio que não teria dado certo por causa da rede de segurança, transformou o caso em homicídio. O quarto do nono andar, de onde partiu o tiro assassino, era ocupado por um casal de velhos. Eles estavam discutindo em altos gritos e o marido ameaçava a esposa com uma espingarda. O homem estava tão furioso que, ao apertar o gatilho, o tiro errou completamente sua esposa, atravessando a janela e atingindo o corpo que caía.
Quando alguém tenta matar a vítima "A", mas acidentalmente mata a vítima "B", esse alguém é culpado pelo homicídio de "B". Quando acusado de assassinato, tanto o marido quanto a esposa foram enfáticos, ao afirmarem que a espingarda deveria estar descarregada. O velho disse que tinha o hábito de ameaçar sua esposa com a espingarda descarregada durante suas discussões. Ele jamais tivera a intenção de matá-la. Portanto, o assassinato do sr. Opus parecia ter sido um acidente, ou seja, ambos achavam que a arma estava descarregada, portanto a culpa seria de quem carregara a arma.
A investigação descobriu uma testemunha que vira o filho do casal carregar a espingarda um mês antes. Foi descoberto que a senhora havia cortado a mesada do filho, e este, sabendo das brigas constantes de seus pais, carregara a espingarda na esperança de que seu pai matasse sua mãe. O caso passa a ser, portanto, do assassinato do Sr. Opus pelo filho do casal.
As investigações descobriram que o filho do casal era, na verdade, Ronald Opus
. Ele se encontrava frustrado por não ter até então conseguido matar sua mãe. Por isso, em 23 de março, ele se atirou do décimo andar do prédio onde morava, vindo a ser morto por um tiro de espingarda quando passava pela janela do nono andar. Ronald Opus havia efetivamente assassinado a si mesmo, por isso a polícia encerrou o caso como suicídio. 

Interessante, não?!...



ThunderBird

publicado às 19:27


Ética a partir do aquecimento global

por Thynus, em 25.05.13

 

 

Em alguns lugares da Terra se rompeu, há dias, a barreira dos 400 ppm de CO2, o que pode acarretar desastres sócio-ambientais de grande magnitude. Se nada de consistente e coletivamente  fizermos, podemos conhecer dias tenebrosos. Não é que não podemos fazer mais nada. Se não podemos frear a roda, podemos no entanto diminuir-lhe a velocidade. Podemos e devemos nos adaptar às mudanças e nos organizar para minorar os efeitos prejudiciais. Agora se trata de viver radicalmente os quatro erres: reduzir, reutilizar, reciclar e rearborizar.
Precisamos de uma orientação ética que nos ajude alinhar nossas práticas para a superação da crise atual. Nesse quadro dramático, como fundar um discurso ético minimamente consistente que valha para todos?
Até agora as éticas e as morais se baseavam nas culturas regionais. Hoje na fase planetária da espécie humana precisamos refundar a ética a partir de algo que seja comum a todos e que todos a possam entender e realizar.É o que propunha Paulo Freire com sua Etica Universal do Ser humano que nós acrescentaríamos do ser humano e da Mãe Terra.
Olhando para trás, identificamos duas fontes que   orientaram e ainda orientam ética e moralmente as sociedades até os dias de hoje: as religiões e a razão.
As religiões continuam sendo os nichos de valor privilegiados para a maioria da humanidade. Elas nascem de um encontro com o Supremo Valor, com a Última Realidade. Desta experiência nascem os valores de veneração, respeito, amor, solidariedade, compaixão e perdão, fundamentais para a preservação da vida.  Muitos pensadores reconhecem que a religião mais que a economia e a política é a força central que mobiliza as pessoas e as leva até a entregar a própria vida (Huntington). Outros chegam até a propor as religiões como a base mais realista e eficaz para se construir “uma ética global para a política e a economia mundias”(Küng). Para isso as religiões devem dialogar entre si. No diálogo acentuar mais os pontos em comum do que os pontos de diferenciação. Com isso pode se inaugurar a paz entre as religiões. Esta paz não se basta a si mesma mas deve animar a paz entre todos os povos e a paz com a natueza e uma paz perene com a Mãe Terra.
A razão crítica, desde que irrompeu, quase simultaneamente em todas as culturas mundiais, no século 6ª a. C. no assim chamado tempo do eixo(Jaspers), tentou estatuir códigos éticos universalmente válidos, baseados fundamentalmente nas virtudes, cuja centralidade ocupava a justiça. Mas afirma também a liberdade, a verdade, o amor e o respeito ao outro.
A fundamentação racional da ética e da moral – ética autônoma – representou um esforço admirável do pensamento humano, desde os mestres gregos Sócrates, Platão, Aristóteles, passando por Immanuel Kant até os modernos  Jürgen Habermas, Enrique Dussel e entre nós Henrique de Lima Vaz e Manfredo Oliveira entre outros de nossa cultura.
Entretanto o nível de convencimento desta ética racional foi parco e restrito aos ambientes ilustrados. Por isso com limitada incidência no cotidiano das populações. Mesmo assim está se impondo a justiça ecológica: tratar de forma adequada os processos naturais para que possam ser sustentáveis, vale dizer, se manter, se reproduzir e melhorar.
Esses dois paradigmas não ficam invalidados pela crise atual, mas precisam ser enriquecidos se quisermos estar à altura das desafios que nos vêm da realidade hoje profundamente modificada.
Faça-se urgente uma ética do cuidado e da responsabilidade solidária. Para instaurar este tipo de ética precisamos descer descer àquela instância na qual se formam continuamente os valores, conteúdo principal da ética. A ética, para ganhar um mínimo de consenso, deve brotar da base comum e  última da existência humana. Esta base não reside na razão, como sempre pretendeu o Ocidente. A razão – e isso é reconhecido pela própria filosofia – não é nem primeiro nem o último momento da existência. Por isso não explica tudo nem abarca tudo. Ela se abre para baixo de onde emerge, de algo mais elementar e ancestral: a afetividade e o sentimento profundo. Irrompe para cima, para o espírito, que é o momento em que a consciência se sente parte de um todo e que culmina na contemplação e na espiritualidade. Portanto, a experiência de base não é “penso, logo existo”, mas “sinto, logo existo”. Na raiz de tudo não está a razão (“logos”), mas a paixão (“pathos”) que se expressa pela sensibilidade e pelo afeto.
Daí o esforço atual de resgatar a razão sensível e cordial (Meffesoli,Cortina,Duarte, Muniz Sodré). Por este tipo de razão captamos o caráter precioso dos seres, aquilo que os torna dignos de serem apetecíveis. É a partir do coração e não tanto da cabeça que vivenciamos os valores. E é por valores que nos movemos e somos. Em último termo, está o amor que é a força maior do universo e o nome próprio de Deus. Essa ética nos pode engajar em práticas para enfrentar o aquecimento global. O cuidado é uma expressão do amor, amor que protege, confere descanso, cura feridas passadas e evita futuras.
Mas temos que ser realistas: a paixão é habitada por um “demônio” que pode ser destruidor. É um caudal fantástico de energia que, como águas de um rio, precisa de margens, de limites e da justa medida. Caso contrário irrompe avassaladora. É aqui que entra a função insubstituível da razão. É próprio da razão ver claro e ordenar, disciplinar e definir a direção da paixão.
Eis que surge uma dialética dramática entre paixão e razão. Se a razão reprimir a paixão, triunfa a rigidez e a tirania da ordem. Se a paixão dispensar a razão, vigora o delírio das pulsões do puro defrute das coisas. Mas, se vigorar a justa medida e a paixão se servir da razão para um auto-desenvolvimento regrado, então pode surgir uma consciência ética que nos torna responsáveis face ao caos ecológico e ao aquecimento global.
Por ai há caminho a ser percorrido. Para um novo tempo, uma nova ética. E esta nova ética de cunho universal e salvador é o cuidado essencial para com tudo o que existe e vive que está atualmente ameaçado pela voracidade ilimitada humana. Como o cuidado é da essência humana e por isso se encontra em cada pessoa e em todo o ser vivo, ele pode ser acordado e ser transformado num atitude consciente e permanente. Desta forma nos fará ativos face ao aquecimento global, impedindo que ameace nossa existência nesta planeta, tão pequeno, tão belo e tão radiate de vida em todas as suas formas.

(Leonardo Boff é autor do livro Proteger a Terra- cuidar da vida: como evitar o fim do mundo, Record, Rio de Janeiro 2010)

publicado às 12:13

 

 

 

O uso preferencial da mão esquerda tem efeitos colaterais. O canhoto diminui a expectativa de vida em nove anos, segundo estudo publicado pelo The New England Journal of Medicine, uma das mais respeitadas revistas de medicina dos EUA.

Foram estudados 987 casos. Na média os destros vivem 75 anos. Os canhotos, apenas 66. Mas, não são apresentadas razões conclusivas para os canhotos viverem menos do que os destros. São apresentadas como possíveis causas, o maior risco de sofrer acidente. Dentre os casos estudados 7,9% dos canhotos morreram em acidentes. Para os destros o índice foi de somente 1,2%. A pesquisa aponta como exemplo uma natural desvantagem dos canhotos em relação aos destros quando dirigem um automóvel.

 

 


Ao enfrentar uma situação inesperada ao volante, o destro logo levantaria mais a mão esquerda do que a direita, para proteger o rosto. Com isto o carro vai mais para a direita. Já com o canhoto, acontece o contrário, portanto o carro vai mais para a esquerda, lugar de onde vem o tráfego em sentido contrário.

Em média, os destros vivem 75 anos e os canhotos 66, segundo a pesquisa. Outros dados também relacionam o canhoto com maior ocorrência de distúrbios no sistema imunológico (sistema de defesa do nosso organismo). Parece haver a possibilidade dos canhotos serem mais sujeitos a doenças neurológicas. Portanto podem morrer mais cedo.

O estudo afirma que o hormônio testosterona é o responsável pelo distúrbio na gestação, pois o hemisfério esquerdo do cérebro, que controla o lado direito do corpo, é mais sensível a esta substância. Assim, caso a mãe produza mais testosterona na gestação, o hemisfério esquerdo do cérebro do bebê, pode ser enfraquecido e o lado direito passaria ao controle. Mas os próprios pesquisadores acham que ainda precisam estudar muito mais os canhotos, considerando um tanto insólitos os resultados até o momento.

Mesmo porque, Chaplin era canhoto e viveu 88 anos e Gandhi, 79, fora muitos outros. Chegamos nós então a conclusão de que: ria muito e faça rir, como Chaplin e mantenha a paz interior sem deixar de lutar, como Gandhi.

 

 

 

publicado às 01:19

 

 

 

Em 1938 iniciava-se em Harvard o estudo mais completo sobre o bem-estar de homens adultos. Em 1966, George Vaillant, então com 32 anos, tomou as rédeas do que ficou conhecido como Grant Study. Basicamente acompanhou a vida de 268 homens que estudaram em Harvard para determinar que fatores predizem o bem-estar. Há algumas semanas Vaillant publicou as conclusões no livro “Triumphs of Experience”, onde sugere que o denominador comum do bem-estar são as relações íntimas.
Após décadas de entrevistas, pesquisas e viagens para visitar os voluntários do estudo, Vaillant acredita que a essência de nossa existência neste mundo não está somente em “ser” senão em “ser com”, a alteridade está na chama da vida que permite viver mais e melhor.
Quando formularam este experimento, os pesquisadores, segundo os preconceitos da época, consideravam que os fatores mais importantes a seguir tinham a ver com a fisionomia de um homem: sua estatura, seu tipo de corpo e inclusive a importância do tamanho de seu pinto. Este último, infelizmente não mudou muito, a ponto de que ontem mesmo uma mulher matou seu filho de nove anos afogado porque o coitado tinha o peru muito pequenininho.
Mas voltando ao Grant Study: não permite asseverar que o corpo (ao menos não em seu tamanho) é destino (ou felicidade). Em vez disso as características mais decisivas têm a ver com o aspecto qualitativo das relações pessoais. Primeiramente, os homens que vinham de um meio familiar cálido tiveram uma maior ascendência no exército, durante a Segunda Guerra Mundial, que aqueles que cresceram em lares mais frios e com relações parentais menos amorosas.
O tipo e a beleza corporal ou facial resultou inútil para predizer como um homem se daria bem na vida. Também nem sua afiliação política ou inclusive sua classe social, mas ter um alto coeficiente de carinho na infância foi um preditor muito alto de bem-estar. Curiosamente, os homens que mostraram ter um melhor vínculo emocional com seu pai conseguiram viver mais tempo e encontrar maior bem-estar e estado pleno de felicidade, segundo o índice de Vaillant.
Há que salientar que estas relações de carinho entre pai e filho primavam pela educação e responsabilidade, muito diferente do que vemos hoje quando alguns pais tratam os filhos como reizinhos, fazendo tudo o que os pequenos desejam. O resultado pode ser apreciado no dia a dia onde as crianças acham que são donas do mundo e, como no caso de um garoto de 10 anos, reportado pela mídia hoje, que ligou para a polícia para reclamar da mãe, porque não queria ir para a cama. E, pior, ao invés de esquentar a bunda do garoto com uma boa cintada, achou bonitinho, que ele é inteligente… (Ah que lindo!)
Voltando novamente ao Grant Study: dos 31 homens no estudo que não conseguiram desenvolver vínculos íntimos, só quatro permanecem vivos. Enquanto aqueles que sim conseguiram formar relações íntimas, mais de 1/3 continuam desfrutando de sua família e relação. Casal e filhos, esse parece ser o verdadeiro elixir da longevidade dentro de nossa sociedade.
Vaillant considera que as pessoas podem eludir experiências negativas na infância desde que tenham uma influência íntima positiva, a qual, sugere, ofusca aquilo que pode ter saído errado mais cedo. De modo que mais do que falar de idílios infantis, o importante é estabelecer uma relação íntima que guie o desenvolvimento, para além do aspecto das vicissitudes. Outro dos fatores que, segundo ele, se correlacionam são a ordem, a disciplina e a capacidade afetiva.
Ainda que para alguns, àqueles emocionalmente introvetidos ou que não conseguimos manter as relações íntimas, este estudo poderia parecer como uma condenação psicológica (um pouco freudiana), Vaillant notou que algumas pessoas conseguiram mudar já na maturidade, inclusive aos 80 e 90 anos e aprender novos truques: basicamente abrindo seu coração à expressividade e à vinculação emocional. Alguns homens conseguiram “florescer” entre os 60 e 70 anos, abrindo uma brecha de esperança no velho saco de ossos. Segundo escreve David Brooks para o NY Times:
- “Os homens do estudo frequentemente tornaram-se mais conscientes de suas emoções ao envelhecer, mais aptos a reconhecer e expressar emoções. Parte desta explicação é biológica. As pessoas, especialmente os homens, tornam-se mais alertas de suas emoções ao envelhecer[...] Parte disto é provavelmente histórico. Nos últimos 50 anos, a cultura americana descobriu o poder das relações. A masculinidade mudou, ao menos um pouco”.
A visão de Brooks sugere que existe uma pequena revolução emocional, inclusive fala de um efeito Grant similar ao efeito Flynn (que descreve um progressivo aumento nas pontuações QI.), mas em questões de aumento de “inteligência emocional em massa”, ou “o coração torna-se mais inteligente”, com a idade e com a evolução cultural. Isto é discutível, algumas pessoas poderão considerar que em realidade os homens adultos se tornam mais duros -são os idosos e as crianças que tendem à ternura-.
Mas talvez e somente talvez estejamos sim atravessando um período de reconhecimento do valor emocional, uma preponderância sobre o racional e material que antecipa uma mudança de paradigma -algo possivelmente relacionado a um gradual giro de uma sociedade de domínio masculino a uma maior igualdade e a uma maior admissão das qualidades relacionadas historicamente com o feminino-.
Sabemos cientificamente que o contato humano (físico e psicológico) tem efeitos positivos na saúde (entre e quanto mais íntimo, mais poderosos). Sabemos que a forma principal na qual se encontra este contato humano, esta intimidade, é através da abertura emocional, fundamentalmente do desenvolvimento de capacidades empáticas. Seria interessante realizar provas psicométricas e eletroencefalográficas nos homens do estudo para determinar sua facilidade de formar laços de empatia -isto e sua correlação com um índice de felicidade-. De qualquer forma fica, para aquele que quer emular os senhores felizes do estudo de Grant, a tarefa de aguçar sua sensibilidade e percorrer o caminho da desnudez emocional com afinco, tanto como pai tanto como filho ou marido, desta forma talvez podendo subverter a predeterminação das primeiras experiências infelizes.

(O segredo do bem-estar está nas relações íntimas)

publicado às 00:32


38 Curiosidades sobre o Corpo Humano

por Thynus, em 25.05.13

 

1. É verdade que não se consegue digerir o chiclete, mas se engolires um, ela não se cola ao estômago, por isso, não faz mal engoli-lo.
2. Ao lamber um selo se consome 1 décimo de caloria.
3. O nosso estômago tem de produzir uma nova camada de muco de 2 em 2 semanas. Caso contrário digeria-se a ele próprio.
4. É impossível espirrar com os olhos abertos. (NÃO TENTEM ISTO EM CASA).
5. As pessoas inteligentes têm mais cobre e zinco no cabelo.
6. O músculo mais potente do corpo é a língua.
7. É impossível suicidar-se parando a respiração.
8. Os nossos olhos são sempre do mesmo tamanho, desde o nascimento, enquanto que as orelhas e o nariz nunca param de crescer.
9. É impossível lamber o cotovelo.
10. O suor não tem odor. São as bactérias da pele que criam o cheiro.
11. Apenas uma pessoa em cada 2 bilhões viverá mais de 116 anos.
12. Se gritares durante 8 anos, 7 meses e 6 dias, a energia libertada é igual à necessária para aquecer uma chávena de café.
13. O coração bombeia o sangue com uma pressão suficiente para esguichar o sangue a uma altura de 9 metros.
14. Os destros vivem em média 9 anos a mais do que os canhotos.
15. Uma pessoa pisca os olhos aproximadamente 25 mil vezes por dia.
16. Se as doenças do coração, o cancro e os diabetes fossem erradicados, a expectativa de vida do homem seria de 99,2 anos.
17. A cada ano, 98% dos átomos do nosso corpo são substituídos.
18. O crânio tem 29 ossos.
19. As unhas da mão crescem aproximadamente 4 vezes mais rápido que as do pé.
20. Os pés possuem um quarto dos nossos ossos.
21. 15 vezes ao dia é o número médio de vezes que um adulto normal dá risada. No entanto uma criança ri em média 400 vezes por dia.
22. 4 kg é o peso do cérebro humano. Este consome 25% do oxigênio que respiramos.
23. Uma pessoa normal tem á volta de 1460 sonhos por ano.
24. Todos temos 300 ossos quando nascemos, mas chegamos a adultos apenas com 206.
25. A força necessária para dar três espirros consecutivos, queima exatamente o mesmo numero de calorias que um orgasmo.
26. Cada soluço dura menos de 1 segundo e ocorrem com um frequência normal e regular de 5 a 25 vezes por minuto. O livro dos recordes menciona um soluço que durou 57 anos.
27. Por cada sílaba que o homem fala, 72 músculos entram em movimento. Para sorrir, são utilizados 14 músculos. Para beijar, 29.
28. O intestino delgado mede entre 6 a 9 metros. O intestino grosso tem 1,5 metros, mas é 3 vezes mais largo.
29. Um adulto elimina 3 litros de água por dia, por meio da urina, suor e da respiração.
30. O corpo humano é formado por 70% de água, que corresponde a metade do nosso peso. No organismo, a água transporta alimentos, resíduos e sair minerais; lubrifica tecidos e articulações; conduz glicose e oxigênio para o interior das células, e regula a temperatura.
31. Se não exercitarmos o que aprendemos, esquecemos 25% em seis horas, 33% em 24 horas e 90% em seis meses.
32. Com uma média de 70 batidas por minuto, o coração bate 37 milhões de vezes por ano.
33. Se dormirmos, em média, 8 horas por dia, aos 40 anos teremos dormido 13 anos.
34. O olho humano é capaz de distinguir 10.000.000 de diferentes tonalidades.
35. Você fala sem pensar? Os cientistas calcularam que a velocidade de um pensamento é de 240 km/h!
36. O esqueleto de um homem de 64 quilos pesa cerca de 11 quilos.
37. Em média, uma criança de 4 anos faz 437 perguntas por dia.
38. Numa vida, um ser humano passa, em média, 8 anos em filas de espera.

(38 Curiosidades sobre o Corpo Humano)

publicado às 00:31



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