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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
OSCAR WILDE DIZIA QUE os prazeres simples são o último refúgio dos homens complicados.
Um dos precursores da autoajuda, Henry David Thoreau, quis experimentar a vida simples e por isso viveu dois anos no meio da floresta. Dessa experiência surgiu seu livro Walden, publicado em 1854 e referência até hoje.
Estas são algumas das conclusões às quais chegou Thoreau em seu retiro campestre:
• A pessoa mais rica é aquela cujos prazeres são os menos dispendiosos.
• Nossa civilização consiste em milhões de seres vivendo juntos, num espaço restrito, em total solidão.
• A natureza é o único local onde um ser humano pode se encontrar consigo mesmo.
• As coisas não mudam – nós mudamos.
• Seguir a trilha dos próprios sonhos e viver a vida que desejamos é garantia de sucesso.
• Investir em bondade é o melhor negócio que você pode fazer.
(Allan Percy - "Nietzsche para estressados")
Estar unido é estar em relação, dizer respeito, ter que ver com, dizer com, convir com, relacionar-se com, ser chegado a, lidar com, comparável, igual, do mesmo modo, de todos os modos, sob todos os respeitos, em todos os sentidos, dependente.
Para que tudo isso seja viável deve haver sinceridade na união. A mentira não tem lugar em uma união. Só a franqueza, a sinceridade e a veracidade. Isto se consegue com confiança, lealdade, probidade, honradez, franqueza, liberdade, isenção, independência, pureza, inteireza, simplicidade, singeleza, consideração, cândura, amor à verdade, falar da forma como pensa, dizer o que sente, ser um livro aberto, não haver constrangimento, dizer as coisas como são.
Ele e ela devem ser verdadeiros, abertos, leais, ter o coração na língua, francos, livres.
Isto tudo antes que chegue a mentira. E aonde está a mentira?
Na falsidade, no êrro, no engano, na ilusão, na falta de sinceridade, no dolo, na invenção, no mito, no charlatanismo, no embuste, na máscara, na reticência, na ironia, na hipocrisia, no fingimento, na simulação, na dissimulação, no encobrimento, no peito falso, no pietismo (ato de afirmar a superioridade das verdades da fé sobre as verdades da razão), na filáucia (amor-próprio, egoísmo, vaidade, presunção, jactância, bazófia), na tartufaria (de Tartuffe, protagonista da comédia homônima de Molière) hipócrita, na carolice (ação própria de carola - pessoa muito assídua à igreja, muito beata; barata-de-igreja, barata-de-sacristia, papa-hóstias, papa-missas, papa-santos), beatice, (devoção afetada e fingida), beatério (hipocrisia religiosa), na malícia, na aleivosia (traição, perfídia, deslealdade, na falsa acusação, na calúnia), no ardil, manhosidade, na manha, na lisonja, na astúcia, no equívoco, na inconstância, na má-fé, na felônia (crueldade), no lobo em pele de ovelha, no falso juramento , no falso profeta, no pseudo-messias, no mágico, no plagiário, no conto do vigário, na pirraça, na mistificação, no calote, na velhacaria, no desfalque, na fraude, no contrabando, na adulteração, na suposição, na usura, na armadilha, na sedução, na indução, na emboscada, na cilada, no embuste, no sedutor e na sedutora, na imitação, na ganância ilícita, no santo de pau ôco, no santarrão, na batota, na balela, na picardia, na embromação, na intriga, na burla, na mosca morta, no contilheiro (aquele que diz histórias), no perjúrio...
E para haver a sinceridade, tanto para o homem como para a mulher?
Deve haver a honradez, a inteireza, a probidade, a lealdade, a honestidade, a solidariedade, o brio, o bom nome, a boa reputação, o crédito, a autoridade, a credibilidade, a franqueza, a fé, a fidelidade, o caráter leal, a integridade, a isenção, independência, imparcialidade, justiça, escrupulosidade, cuidados, rigor, severidade, pontualidade, cumprimento do dever, ser de bem. Ele ser cavaleiro sem medo nem tacha, gentleman, gentil-homem, honrado, de bom conceito, de boa-fé, cumpridor da palavra empenhada (palavra de rei não volta atrás), fazer justiça a todos, justiceiro, franco, isento, imparcial, consciencioso, pontual, de mãos limpas, conceituado.
(Albertino Aor da Cunha - "Mentira nua e crua")
Il sacerdote stava scontando una condanna a dieci anni perché aveva palpato i genitali a un bambino che giocava nella piscina di famiglia ed era in attesa di essere processato per altri centotrenta casi di abuso sessuale su minorenni. Il «caso Geoghan» scatenò una reazione a catena, portando alla luce numerosi casi di pedofilia e mettendo in crisi la Chiesa cattolica statunitense.
Nas redes sociais havia anunciado que o futuro Papa iria se chamar Francisco. E não me enganei. Por que Francisco? Porque São Francisco começou sua conversão ao ouvir o Crucifixo da capelinha de São Damião lhe dizer:”Francisco, vai e restaura a minha casa; olhe que ela está em ruinas”(S.Boaventura, Legenda Maior II,1).
Francisco tomou ao pé da letra estas palavras e reconstruíu a igrejinha da Porciúncula que existe ainda em Assis dentro de uma imensa catedral. Depois entendeu que se tratava de algo espiritual: restaurar a “Igreja que Cristo resgatara com seu sangue”(op.cit). Foi então que começou seu movimento de renovação da Igreja que era presidida pelo Papa mais poderoso da história, Inocêncio III. Começou morando com os hansenianos e de braço com um deles ia pelos caminhos pregando o evangelho em língua popular e não em latim.
É bom que se saiba que Francisco nunca foi padre mas apenas leigo. Só no final da vida, quando os Papas proibiram que os leigos pregassem, aceitou ser diácono à condição de não receber nenhuma remuneração pelo cargo.
Por que o Card. Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome de Francisco? A meu ver foi exatamente porque se deu conta de que a Igreja, está em ruinas pela desmoralização dos vários escândalos que atingiram o que ela tinha de mais precioso: a moralidade e a credibilidade.
Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica que chama a todos os seres com a doce palavra de “irmãos e irmãs”. Francisco se mostrou obediente à Igreja dos Papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: ”O não de Francisco àquele tipo de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético”(em Zeit Jesu, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo.
Creio que o Papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder. Mostrou-o ao aparecer em público. Normalmente os Papas e Ratizinger principalmente punham sobre os ombros a mozeta aquela capinha, cheia de brocados e ouro que só os imperadores podiam usar. O Papa Francisco veio simplesmente vestido de branco e com a cruz de bispo. Três pontos são de ressaltar em sua fala e são de grande significação simbólica.
O primeiro: disse que quer “presidir na caridade”. Isso desde a Reforma e nos melhores teólogos do ecumenismo era cobrado. O Papa não deve presidir com como um monarca absoluto, revestido de poder sagrado como o prevê o direito canônico. Segundo Jesus, deve presidir no amor e fortalecer a fé dos irmãos e irmãs.
O segundo: deu centralidade ao Povo de Deus, tão realçada pelo Vaticano II e posta de lado pelos dois Papas anteriores em favor da Hierarquia. O Papa Francisco, humildemente, pede que o Povo de Deus reze por ele e o abençoe. Somente depois, ele abençoará o Povo de Deus. Isto significa: ele está ai para servir e não par ser servido. Pede que o ajudem a construir um caminho juntos. E clama por fraternidade para toda a humanidade onde os seres humanos não se reconhecem como irmãos e irmãs mas reféns dos mecanismos da economia.
Por fim, evitou toda a espetacularização da figura do Papa. Não estendeu os braços para saudar o povo. Ficou parado, imóvel, sério e sóbrio, diria, quase assustado. Apenas se via a figura branca que olhava com carinho para a multidão. Mas irradiava paz e confiança. Usou de humor falando sem uma retórica oficialista. Como um pastor fala aos seus fiéis.
Cabe por último ressaltar que é um Papa que vem do Grande Sul, onde estão os pobres da Terra e onde vivem 60% dos católicos. Com sua experiência de pastor, com uma nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá reformar a Cúria, descentralizar a administração e conferir um rosto novo e crível à Igreja.
(Leonardo Boff é autor de São Francisco de Assis: ternura e vigor, Vozes 1999.)
Sepolto il papa polacco, si scatenò nel sacro Collegio cardinalizio una lotta tra titani per la nomina del successore e molti porporati organizzarono nel preconclave delle vere e proprie campagne elettorali. Il più potente e attivo fu il cardinale Joseph Ratzinger, che nel 1978 aveva dichiarato: «Non è lo Spirito Santo che detta ai cardinali il nome del nuovo papa». Senza dubbio, il cardinale tedesco aveva la forza della ragione e anche la ragione della forza.
Prima di entrare in conclave, il cardinale Philippe Barbarin di Lione delineò rapidamente le caratteristiche che doveva possedere il successore di Giovanni Paolo II: «Deve essere un uomo aperto a un mondo che cambia. Un uomo che comprenda e conosca il mondo contemporaneo e la sua cultura, affinché, quando parli, la gente possa capirlo». E a questo punto che arrivò il cardinale Ratzinger. Nella quarta e ultima votazione, Ratzinger ebbe ottantaquattro voti, contro i ventisei del cardinale Bergoglio. Così, all'età di settantotto anni, si aggiudicò la tiara papale e assunse il nome di Benedetto XVI (2005-). Anche se il nuovo papa non era conosciuto da molti credenti, erano invece noti i suoi soprannomi:
Panzerkardinal, Ratzinga Z (come il popolare personaggio del cartone animato giapponese degli anni Settanta, Mazinga z), l'Ombra del papa, Bombardiere B-16 o il Grande inquisitore. I quotidiani britannici furono quelli che accolsero con maggiore polemica la nuova nomina. Il Daily Telegraph titolava «Il rottweiler di Dio», e il Sun, «Dalla Gioventù hitleriana a papa Ratzi». Ma chi era in realtà il nuovo Sommo Pontefice?
Era un amante dei capi classici del guardaroba pontificio, quali il camauro e la mozzetta, si faceva fare le scarpe su misura da Adriano Stefanelli e non da Prada, come dichiarò al Washington Post, ed era nato il 16 aprile 1927 nella città tedesca di Marktl am Inn, a meno di venti chilometri, curiosamente, da Branau, il paese natale di Adolf Hitler.
In realtà non si può dire che il futuro papa fosse un nazista.
Sarebbe ingiustificato definirlo tale, ma di sicuro era figlio del suo tempo. Scrive Ratzinger: «Il partito nazista si presentava con sempre maggior forza come l'unica alternativa al caos incombente». Con il passare degli anni, Joseph Ratzinger fece quello che migliaia di tedeschi fecero, cioè dare una giustificazione all'ascesa di Hitler e del Terzo Reich, affermando:
«Io? Io non ne sapevo niente». Negli anni successivi Ratzinger scelse il silenzio e ignorò la domanda sulle ragioni profonde per le quali molti tedeschi, pur sapendo o sospettando, si adeguarono e scelsero il silenzio.
Ancora oggi, Benedetto XVI preferisce, se non evitare, quantomeno stendere uno spesso velo sulle sue considerazioni riguardo a quel periodo.
Nel 1939, quando aveva dodici anni, il futuro papa era entrato nel seminario di Traunstein, ma nel 1943, a sedici anni, era stato reclutato con la forza dalla Gioventù hitleriana e destinato alla contraerea per la difesa di una fabbrica della BMW in cui si costruivano motori per gli aerei da combattimento.
Esiste una fotografia che ritrae Ratzinger con l'uniforme della Gioventù hitleriana e un'altra immagine in cui si vede il futuro papa vestito da sacerdote mentre fa il saluto nazista.. Curiosamente, Ratzinger sulla sua esperienza nella Gioventù hitleriana scrisse: «Conservo un bellissimo ricordo perché il sottufficiale a cui eravamo sottoposti difese con fermezza l'autonomia del nostro gruppo ed eravamo dispensati da tutte le esercitazioni militari». Vuol dire che Ratzinger non sparò un solo colpo contro gli aerei alleati per difendere la sua postazione presso la fabbrica della BMW?
Nel 1945, dopo un anno trascorso nel «servizio lavorativo del Reich», Ratzinger poté assistere all'arrivo degli americani nel suo paese. Da quel momento, non spese una sola parola su Dachau, sui lavoratori schiavizzati, sulla liberazione di Auschwitz, sulla persecuzione di cittadini tedeschi o sul programma di eutanasia portato a termine dai nazisti. Solo nel 1993, durante un'intervista al Time, l'ancora cardinale Ratzinger spiegava:
«Ricordo di aver visto alcuni lavoratori schiavi provenienti da Dachau mentre prestavo servizio alla BMW e di avere assistito all'uccisione di ebrei ungheresi».
Però! Ci sono voluti quarantotto anni per far ritornare la memoria al futuro papa!
Gli studiosi della dottrina teologica degli ultimi due pontefici sono incapaci, al pari dell'autore di questo libro, di differenziare i punti di vista dottrinali di Wojtyla da quelli di Ratzinger.
Cos'è nato prima, l'uovo o la gallina? E impossibile sapere dove finiscono il pensiero e le azioni inquisitorie di Wojtyla e iniziano il pensiero e le azioni inquisitorie di Ratzinger.
Già lo aveva detto Rembert Weakland, arcivescovo di Milwaukee e biografo di Wojtyla: «Non saprei distinguere tra ciò che dice Giovanni Paolo II e ciò che dice Ratzinger». La verità è che quanto più malato e paralizzato diveniva Giovanni Paolo II, maggior potere decisionale acquisiva Ratzinger. Osservando le decisioni adottate da Ratzinger quando era prefetto della Congregazione per la dottrina della fede, l'ex Sant'Uffizio, i titoli dei giornali inglesi appaiono scontati.
Molte delle persone che lavorarono insieme al prefetto tedesco lo definiscono:
Un inquisitore fermo e spietato, ma gentile e dialogante nei modi, che contribuì in maniera decisiva a ridisegnare (o restaurare) la geografia politica romana attraverso l'individuazione dei teologi da bloccare, condannare, emarginare o ricondurre nel grembo materno. […] Verso le voci più progressiste fu, viceversa, intransigente e implacabile. Durante la sua guida, la scure della Congregazione si abbatté su un numero di persone abbastanza impressionante, facendo piazza pulita di ogni dissenso sinistrorso. Nell'ambito della sua azione politica [al fronte del Sant'Uffizio durante il pontificato di Wojtyla], la lista delle persone che il prefetto ha condannato rappresenta un'incontrovertibile, e strabordante, nota a piè pagina.
(Eric Frattini - "I papi e il sesso")
Os varões da minha família eram fervorosamente anticlericais, as damas não perdiam a missa domingueira e muitas outras funções. O esquema é bastante comum na Itália. O derradeiro grande líder do Partido Comunista Italiano, Enrico Berlinguer, aos domingos levava mulher e filhas até a porta da igreja e dali saía para um passeio. Voltava para buscá-las.
O anticlericalismo à moda peninsular tem origem na constante e imperiosa interferência eclesiástica na vida do país e de vários mais. A Igreja de Pedro sempre teve uma presença poderosa desde os tempos do Sagrado Romano Império, que precisava do seu endosso para vingar. Dentro da Itália, o papa dispôs de poder temporal, como dono de uma larga fatia do território, do VIII século ao XIX. Foi o tempo do papa-rei.
Para livrar-se dos inimigos, o pontífice nunca hesitou em convocar exércitos estrangeiros. Pela última vez quando Garibaldi enxotou Pio VII para o Vaticano e proclamou a República Romana em 1849. Desta vez, o papa convocou os franceses com um novo, revolucionário modelo de fuzil, e os garibaldini capitularam depois de seis meses de cerco. Vinte e um anos depois quem invadiu Roma foram os bersaglieri do rei piemontês. Mais uma vez o papa refugiou-se no Vaticano e a cidade se tornou capital da Itália unificada.
Tratou-se de um fecho temporário das guerras do Risogimento, destinadas a unificar a Península e a criar uma nação, encerradas finalmente com o conflito de 1914-1918 e a anexação de Trento e Trieste. O golpe de Mussolini levou em 1929 aos Pactos de Latrão, e a Igreja voltou a exercer um papel fortemente político durante o fascismo e mais ainda logo após. Dos púlpitos, de cardeais a párocos de campo fizeram propaganda a favor do Partido Democrata-Cristão e, portanto, da divisão do mundo em dois blocos antagônicos.
A interferência prosseguiu décadas adentro e hoje chega a se agudizar, tanto mais nestes dias de véspera eleitoral: a Itália vai às urnas no próximo dia 24. Os candidatos da direita e do centro conservador não perdem a ocasião para ajoelhar-se aos pés do altar e deglutir hóstias. É o momento em que o sangue anticlerical ferve. As questões em jogo, na Itália e no mundo todo, transcendem a fé, sincera ou não.
Vivemos uma época intelectualmente e moralmente pobre, instigada pelos avanços tecnológicos e arrepiada por demandas inovadoras em choque com a doutrina eclesiástica. De aborto a casamento gay. Enquanto isso, a Igreja de Pedro tenta em desespero impor seus vetos e se agarra aos dogmas, cada vez mais inviáveis à luz da razão. Nesta moldura, credos mais terrenos passam a representar uma concorrência maciça e desapiedada.
As feições atuais do renunciante Ratzinger mostram a gravidade e a tensão da luta. Em quase oito anos de pontificado, Bento XVI envelheceu como se tivesse decorrido o dobro. Não conhecemos os motivos determinantes da renúncia, mas admitamos que ele se sinta inadequado ao enfrentamento de uma situação tão complexa e obsedante como a atual, inquietada por divergências internas e surdos confrontos de bastidor. Não lhe faltam agora os elogios, assemelhados e epitáfios, e, em meio aos encômios, exalta-se a excelência do teólogo. Sejamos claros, não se trata de um Hans Küng, tampouco de um Carlo Maria Martini.
Se Martini tivesse sido o eleito em 2005, é plausível supor que algo teria mudado no sentido da contemporaneidade. Ratzinger limitou-se a confirmar o passado, o qual remonta à época em que, oficializada a religião, consumou-se a traição à palavra de Jesus. Arrisco-me a dizer, sem temer o Inferno, que o verdadeiro Judas é a própria Igreja, poder igual aos outros, humanos e não divinos, muito mais duradouro e fortalecido sempre e sempre pela carência experimentada pelo homem diante do mistério indecifrável.
Na história, e até na hagiografia, há inúmeros papas hipócritas, tirânicos e devassos. Há, também, estadistas. João Paulo II foi um deles, em proveito de seu abrangente Estado, sem atentar para a lição de igualdade e amor pregada por Cristo, e sem respeito pela mais exaltante das virtudes teologais, a caridade. Voltado integralmente às tarefas de senhor de um poder terreno. Se vieram à tona escândalos como a dos padres pedófilos, useiro e vezeiro, foi porque não houve como continuar a escondê-los. E nem se diga o quanto Wojtyla foi decisivo, pela mão de certo monsenhor Marcinkus, na definição dos alcances do IOR, o Banco do Vaticano, Instituto das Obras da Religião, a entender que obra da religião é também a reciclagem de dinheiro mafioso.
(Mino Carta)
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/cristo-traido/?autor=42