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Durante a Idade Média os livros eram escritos à mão pelos copistas. Precursores dos taquígrafos, os copistas simplificavam seu trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não faltava, naquela época!). O motivo era de ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.
Assim, surgiu o til (~), para substituir o m ou n que nasalizava a vogal anterior. Se reparar bem, você verá que o til é um enezinho sobre a letra.
O nome espanhol Francisco, também grafado Phrancisco, foi abreviado para Phco e Pco – o que explica, em Espanhol, o apelido Paco, comum a quase todo Francisco.
Ao citarem os santos , os copistas os identificavam por algum detalhe significativo de suas vidas. O nome de São José, por exemplo, aparecia seguido de Jesus Christi Pater Putativus, ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde, os copistas passaram a adotar a abreviatura JHS PP, e depois, simplesmente, PP. A pronúncia dessas letras em sequência explica por que José, em Espanhol, tem o apelido de Pepe.
Já para substituir a palavra latina et (e), eles criaram um símbolo que resulta do entrelaçamento dessas duas letras: o &, popularmente conhecido como e comercial em Português, e ampersand, em Inglês, junção de and (e, em Inglês), per se (por si, em Latim) e and.
E foi com esse mesmo recurso de entrelaçamento de letras que os copistas criaram o símbolo @, para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de casa de.
Foram-se os copistas, veio a imprensa - mas os símbolos @ e & continuaram firmes nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço. Por exemplo: o registro contábil 10@£3 significava 10 unidades ao preço de 3 libras cada uma. Nessa época, o símbolo @ significava, em Inglês, at (a ou em).
No século XIX, na Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar as práticas comerciais e contábeis dos ingleses. E, como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses davam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo devia ser uma unidade de peso. Para isso contribuíram duas coincidências:
1 - A unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cuja inicial lembra a forma do símbolo;
2 - Os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba. Por isso, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de 10@£3 assim: dez arrobas custando 3 libras cada uma. Então, o símbolo @ passou a ser usado por eles para designar a arroba.
O termo arroba vem da palavra árabe ar-ruba, que significa a quarta parte: uma arroba ( 15 kg , em números redondos) correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe, o quintar, que originou o vocábulo português quintal, medida de peso que equivale a 58,75 kg .
As máquinas de escrever, que começaram a ser comercializadas na sua forma definitiva há dois séculos, mais precisamente em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados), trouxeram em seu teclado o símbolo @, mantido no de seu sucessor - o computador.
Então, em 1972, ao criar o programa de correio eletrônico (o e-mail), Roy Tomlinson usou o símbolo @ (at), disponível no teclado dessa máquina, entre o nome do usuário e o nome do provedor. E foi assim que Fulano@Provedor X ficou significando Fulano no provedor X.
 Na maioria dos idiomas, o símbolo @ recebeu o nome de alguma coisa parecida com sua forma: em Italiano, chiocciola (caracol); em Sueco, snabel (tromba de elefante); em Holandês, apestaart (rabo de macaco). Em alguns, tem o nome de certo doce de forma circular: shtrudel, em iídisch; strudel, em alemão; pretzel, em vários outros idiomas europeus. No nosso, manteve sua denominação original: arroba.

publicado às 09:23

RELIGIÃO, AS PESSOAS PODEM TER OU NÃO TER. JÁ A RELIGIOSIDADE É UM ELEMENTO ESTRUTURANTE DA EXISTÊNCIA.

Sempre é tempo de balanço, de rever trajetórias, de refazer escolhas. Fim de ano nos chama especialmente para isso. Em meio à correria das compras, dos encontros, dos comes e bebes, conseguimos um intervalo para a reflexão? Para nos perguntar: afinal, o que estamos fazendo nesta vida? O filósofo Mario Sergio Cortella tem levado esse tema a vários ambientes. Professor da Pontifícia Universidade Católica e da Fundação Getulio Vargas, ambas em São Paulo, e da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte, ele foi discípulo do educador Paulo Freire e atuou como secretário municipal de Educação de São Paulo. "Minha pretensão não é dar respostas, mas elementos para as pessoas formularem melhor suas perguntas", disse no início da entrevista.

Em época de Natal, a sensação é de que há algo a mais na atmosfera. Para uns, é encantamento, elevação. Para outros, apenas nervosismo, que se traduz em febre de consumo, excessos alimentares e conflitos interpessoais. Existe lugar para a espiritualidade em meio a tanta agitação?
Em algumas situações, aquilo que chamamos de espírito de Natal" é algo cínico, que agrega os indivíduos em torno de festividades de conveniência. Mas há muitas pessoas que, independentemente de serem cristãs ou não, têm, nesta época do ano, uma verdadeira experiência do "comemorar". Gosto dessa palavra porque "comemorar" significa "lembrar junto". E do que nós lembramos? De que estamos vivos, partilhamos a vida, de que a vida não pode ser desertificada.

Há uma pulsão de vida.
Claro que, a todo instante, está colocada também a possibilidade de que a vida cesse. Somos o único animal que sabe que um dia vai morrer. Aquele gato, que dorme ali, vive cada dia como se fosse o único. Nós vivemos cada dia como se fosse o último. Isso significa que você e eu, como humanos, deveríamos ter a tentação de não desperdiçar a vida. Escrevi um livro chamado Qual É a Tua Obra?, que começa com uma frase de Benjamin Disraeli, primeiro-ministro britânico no século 19. Ele disse: "A vida é muito curta para ser pequena".

Como não apequenar a vida?
Dando-lhe sentido. A espiritualidade ou religiosidade é uma das maneiras de fazê-lo. A religiosidade, não necessariamente a religião. Religiosidade que se manifesta como convivência, fraternidade, partilha, agradecimento, homenagem a uma vida que explode de beleza. Isso não significa viver sem dificuldades, problemas, atribulações. Mas, sim, que, apesar disso tudo, vale a pena viver. Meu livro Viver em Paz para Morrer em Paz parte de uma pergunta: "Se você não existisse, que falta faria?" Eu quero fazer falta. Não quero ser esquecido.

Fale mais da diferença entre religiosidade e religião.
Religiosidade é uma manifestação da sacralidade da existência, uma vibração da amorosidade da vida. E também o sentimento que temos da nossa conexão com esse mistério, com essa dádiva. Algumas pessoas canalizam a religiosidade para uma forma institucionalizada, com ritos, livros - a isso se chama "religião". Mas há muita gente com intensa religiosidade que não tem religião. Aliás, em minha trajetória, jamais conheci alguém que não tivesse alguma religiosidade. Digo mais: nunca houve registro na história humana da ausência de religiosidade. Todos os primeiros sinais de humanidade que encontramos estão ligados à religiosidade e à ideia de nossa vinculação com uma obra maior, da qual faríamos parte.

De onde vem essa ideia?
Existe uma grande questão que é trabalhada pela ciência, pela arte, pela filosofia e pela religião. A pergunta mais estridente: "Por que as coisas existem? Por que existimos? Qual é o sentido da existência?" Para essa pergunta, há quatro grandes caminhos de reposta: o da ciência, o da arte, o da filosofia e o da religião. De maneira geral, a ciência busca os comos". A arte, a filosofia e a religião buscam os "porquês", o sentido. A arte, a filosofia e a religião são uma recusa à ideia de que sejamos apenas o resultado da junção casual de átomos, de que sejamos apenas uma unidade de carbono e de que estejamos aqui só de passagem. Como milhões de pessoas no passado e no presente, acho que seria muito fútil se assim fosse. Eu me recuso a ser apenas algo que passa. Eu desejo que exista entre mim e o resto da vibração da vida uma conexão. Essa conexão é exatamente a construção do sentido: eu existo para fazer a existência vibrar. E ela vibra em mim, no outro, na natureza, na história.


Existe também a religiosidade que quer beber diretamente na fonte, que busca a relação sem mediações com o divino.
O divino, o sagrado, pode ganhar muitos nomes. Pode ser Deus no sentido judaico-cristão-islâmico da palavra; pode ser deuses; pode ser uma vibração, uma iluminação. Independentemente de como o denominamos, há algo que reconhecemos como transcendente, que ultrapassa a coisificação do mundo e a materialidade da vida, que faz com que haja importância em tudo o que existe. Desse ponto de vista, não basta que eu me conecte com os outros ou com a natureza. Preciso fazer uma incursão no interior de mim mesmo, em busca da vida que vibra em mim e da fonte dessa vida. É essa fonte que alguns chamam de Deus. A conexão com essa fonte é aquilo que os gregos chamavam de sympatheia, que significa simpatia. Trata-se de buscar uma relação simpática com o divino.

Como você busca essa relação?
De várias maneiras. Às vezes, na forma de um agradecimento. Às vezes, na forma de um pedido. Às vezes, por meio de uma oração consagrada pela tradição - porque, como dizia Mircea Eliade, o maior especialista em religião do século 20, "o rito reforça o mito". Às vezes, recorrendo a um gesto espontâneo. Outro dia, eu estava em uma cidade litorânea, onde iria palestrar. Em frente ao hotel, havia uma praia. Caminhando descalço sobre a areia, às 5 e meia da manhã, sentindo o sol que nascia, me veio um forte sentimento de gratidão e rezei, em silêncio, uma oração, das consagradas. Já ontem, eu estava reunido com a família em volta da mesa. Diante da cena dos meus filhos com as esposas, novamente senti gratidão. Ergui a taça de vinho e brindei em agradecimento por aquele momento. Nem sempre a minha relação é de gratidão. Às vezes, é de apelo. Na crença, verdadeira para mim, de que a fonte de vida pode reforçar a minha capacidade de viver, eu peço.

Existe, hoje, um maior impulso para a espiritualidade ou trata-se apenas de mais uma onda passageira?
Guimarães Rosa disse que "o sapo não pula por boniteza, pula por precisão". De acordo com o headhunter e professor de gestão de pessoas Luiz Carlos Cabrera, a grande virada no mundo empresarial brasileiro ocorreu, de fato, no dia 31 de outubro de 1996 às 8h15, quando um avião da TAM, com 96 pessoas a bordo, todos eles executivos, exceto a tripulação, caiu sobre a cidade de São Paulo. Perdi dois amigos de infância nesse acidente. Aquele foi um momento de inflexão no mundo corporativo. Eu compartilho dessa opinião. As pessoas começaram a pensar: eu podia estar naquele voo e o que eu fiz até agora? Toda a ânsia que caracteriza o mundo corporativo, focada no lucro, na competitividade, na carreira, começou a ser relativizada.

Mas existem também fatores de fundo, que afetam o mundo.
É claro. Um fator, talvez o principal, foi que o século 20, apostando na ciência e na tecnologia, nos prometeu a felicidade iluminada e ofereceu angústia. Em prol da propriedade, sacrificou-se a vida, a convivência, a consciência. O stress tornou-se generalizado, afetando adultos, jovens e até as crianças. Há uma grande diferença entre cansaço e stress. O cansaço resulta de um trabalho intenso, mas com sentido; o stress, de um trabalho cuja razão não se compreende. O cansaço vai embora com uma noite de sono; o stress fica.

Há uma forte cultura da pressa e da distração.
A tecnologia nos proporcionou a velocidade. Mas, em vez de usá-la apenas para fazer as coisas rapidamente, nós passamos a viver apressadamente. Assim como existe uma grande diferença entre cansaço e stress, existe também entre velocidade e pressa. Eu quero velocidade para ser atendido por um médico, mas não quero pressa durante a consulta. Quero velocidade para ser atendido no restaurante, mas não quero comer apressadamente. Quero velocidade para encontrar quem eu amo, mas não quero pressa na convivência. Tempo é uma questão de prioridades. Muita gente argumenta não ter tempo para a espiritualidade, para cuidar do corpo. E segue nesse ritmo apressado até sofrer um infarto. Se não for fatal, o infarto funciona como um sinal de alerta. O dia continua a ter 24 horas, mas quem sobrevive passa a acordar uma hora mais cedo para caminhar e se exercitar. O impulso espiritual também é um sinal de alerta. Não há pressa em segui-lo. Mas cuidado: é muito arriscado adiar indefinidamente para o ano que vem.

Na juventude, o filósofo Mario Sergio Cortella experimentou a vida monástica em um convento da Ordem Carmelitana Descalça. Durante três anos, aprendeu a viver em comunidade, a não ter propriedades, a guardar silêncio. Abandonou a perspectiva de ser monge – mas não a espiritualidade – para seguir a carreira acadêmica. Hoje, com 55 anos, é professor universitário de educação, conferencista em instituições públicas, empresas e ONGs, comentarista em vários órgãos da mídia e autor de 10 livros, que prefere chamar de “provocações filosóficas”.

publicado às 09:20

"Havia em Bokhara um homem rico e generoso. Porque tinha uma alta posição na hierarquia invisível, era conhecido como o Presidente do Mundo.
Cada dia ele distribuía ouro a uma categoria de pessoas — os doentes, as viúvas, e assim por diante. Mas nada era dado àquele que abrisse a boca.
Nem todos podiam guardar silêncio.
Um dia era a vez dos advogados receberem sua parte da subvenção. Um deles não se conteve e fez o pedido mais completo possível. Nada lhe foi concedido.
Mas esse não foi o fim dos seus esforços. No dia seguinte, os inválidos estavam sendo ajudados, assim ele fingiu que suas pernas haviam se quebrado.
Mas o Presidente o conhecia e ele nada obteve. Tentou outra e outra vez, até mesmo disfarçando-se de mulher, mas sem resultado.
Finalmente, o advogado encontrou um coveiro e lhe pediu que o embrulhasse numa mortalha. "Quando o Presidente passar", disse o advogado, "talvez ele presuma que seja um cadáver e jogue algum dinheiro para o meu funeral — e eu lhe darei uma parte".
E assim foi feito. Uma peça de ouro caiu da mão do Presidente sobre a mortalha. O advogado a apanhou logo, com medo de que o coveiro a pegasse primeiro.
Então ele disse ao seu benfeitor: "Você me negou sua subvenção — veja como a consegui!".
"Você nada pode obter de mim", replicou o homem generoso, "antes que você morra".
Este é o significado da frase enigmática: "O homem precisa morrer antes que morra". O prêmio vem depois desta "morte", e não antes. E mesmo esta "morte" não é possível sem ajuda.



HÁ religiões e religiões, mas o Sufismo é religião — o próprio coração, a essência mais profunda, a própria alma.
O Sufismo não é parte do islamismo; ao contrário, o islamismo é parte do Sufismo. O Sufismo existia antes de Maomé ter nascido e existirá mesmo quando Maomé estiver completamente esquecido.
Os islamismos vêm e vão, as religiões tomam forma e se dissolvem, e o Sufismo permanece, continua, pois não é um dogma, mas a própria essência de ser religioso.
Você pode não ter ouvido falar do Sufismo e pode ser um Sufi — se for religioso. Krishna é um Sufi e Cristo também; Mahavira é um Sufi e Buda também — e eles jamais ouviram falar da palavra e jamais souberam que algo como o Sufismo existe.
Quando uma religião está viva, é porque o Sufismo está vivo nela.
Quando uma religião está morta, isso apenas mostra que o espírito, o espírito Sufi, a deixou. Agora existe apenas um cadáver, não importa o quão decorado — na filosofia, na metafísica, nos dogmas, nas doutrinas —, mas sempre que o Sufismo a abandona, a religião cheira a morte. Isto aconteceu muitas vezes, e está acontecendo em quase todo o mundo. E preciso que se tenha consciência disso, de outro modo você pode se apegar a um cadáver.
Agora o cristianismo não tem Sufismo. Ele é uma religião morta — a igreja a matou. Quando a "igreja" se torna demasiada, o Sufismo precisa abandonar aquele corpo. Ele não pode existir com dogmas.
Ele pode viver bem com uma alma dançante, mas não com dogmas; não pode existir com teologias, elas não são boas companheiras; e com papas e sacerdotes, é impossível o Sufismo existir. Ele é justamente o contrário! O Sufismo não necessita de papas ou pregadores, não precisa de dogmas; ele não é da cabeça, e pertence ao coração. O coração é a Igreja, não uma igreja organizada, porque toda organização é da mente. E uma vez que a mente tome posse, o coração precisará simplesmente abandonar a casa de vez. A casa fica estreita demais para o coração. Ele precisa da totalidade do céu, nada menos que isso lhe servirá.
O coração não pode ser confinado nas igrejas; a existência toda é a única igreja para ele. Ele só pode vibrar sob o céu, na liberdade, mas morre quando tudo se torna um sistema, um padrão organizado, um ritual — o estado de Sufismo simplesmente desaparece ali."

(In "Antes Que Você Morra", Osho)

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publicado às 09:17


A Cruz

por Thynus, em 05.01.13
Durante séculos os cristãos não usavam a cruz como símbolo religioso, provavelmente porque sabiam perfeitamente bem que era, conjuntamente com o círculo e o triângulo, um símbolo matriarcal por excelência. A cultura egípcia estava cheia de cruzes em suas muitas formas: +, X (Santo André), Y, T (tau), a swastika , etc.. Além destes símbolos houve também muitas combinações como a cruz dentro de um círculo, a swastika dentro de um círculo (a "roda solar" simbolizando o caminho solar anual) e a cruz de Ankh (ainda a cruz da Igreja Copta). A origem totalmente feminina desta cruz é tão óbvia que foi adoptada (ligeiramente estilizada) como símbolo biológico/anatómico do sexo feminino.
Os símbolos cristãos dos primeiros séculos foram o "Bom Pastor", um adolescente com um cordeiro sobre os ombros, e o Peixe (Ichtus, posteriormente interpretado como "Iesous Christos Theou Uios Soter = Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador"), uma demonstração que ainda se estava num período de transição de Aries a Piscis. Um ápodo para os cristãos até finais do século II foi "Pisciculi". Compare o desenho feito de uma estátua de Hermes, 500 anos mais velho que o "Bom Pastor" cristão. De igual forma, os Egípcios - mais respeitosos com os signos do Zodíaco - já chamavam desde 250 anos a.C. a Horus "o pescador de homens". O que comprova que a simbologia da Cruz, bem como a do Peixe e do Bom Pastor, não são originais do cristianismo
  
Hermes Kriophoros, ou Carregador de Carneiro

O crucifixo não se converteu em símbolo oficial do Cristianismo até ao pontificado de Agatão (678-681 d.C.) depois de ter sido proclamado pelo VI Concílio de Constantinopla.

publicado às 09:11




“É breve, é pequena a distância que separa o avô do neto.

Feito o arado que rasga a terra, a passagem do tempo deixa
sulcos na alma e no rosto.

“As viagens sucedem-se como as gerações; entre o neto que
foste e o avô que serás, que pai terás sido?” (José Saramago).

A única coisa que nós temos de fato é a vida. E com ela
podemos fazer tudo ou nada.

Pais, filhos, netos.

No fim das contas, cada um tem que caminhar com seus próprios
passos.

Buscar uma experiência de significação, trilhar a senda do
auto-aperfeiçoamento.

A vida é um instante, um sopro. Quantas gerações já vieram,
quantas ainda virão e igualmente passarão…

Memórias poéticas e afetivas.

Os pequenos gestos e instantes é que revestem de beleza e
ternura o tempo.

Nos vagões da existência terrena por um breve instante
passeamos.

O ato de observar é a única chave que abre a porta dos
mistérios.

A paisagem de fora, a vemos com os olhos de dentro.

A paisagem é um estado de alma. Na realidade, o que vemos,
está em nós.

Não vemos o que vemos, vemos o que somos…

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

Ter olhos para a beleza do céu, para a poesia das nuvens.

Cultivar a quietude do espírito como potência de
transformação.

Ter um olhar capaz de discernir a beleza invisível.

A filosofia oriental nos ensina que a mais bela imagem não
tem forma.

Resgatar a beleza, a poesia e a espiritualidade capazes de
suavizar a nostalgia do Absoluto.

Cultivar a magia e o encantamento de estar no mundo.

Cultivar a via do silêncio dentro de nós.

Felizes os que aproveitam com sabedoria a preciosa aventura
que é o existir.”
(José Saramago)

publicado às 09:03

 


Nos tempos que correm, tempos de depressão económica em que parece que o mundo se vai desmoronar, tempos em que os valores fundamentais da vida humana e social estão invertidos, onde grassa a corrupção e a mentira, falar de Feliz Natal ou próspero Ano Novo parece paradoxal, algo que vai contra o senso comum das pessoas. Mas pensando bem, acho que nunca como hoje não faltam razões de sobra para desejarmos felicidade e prosperidade.
Assim como o brilho dos olhos dos apaixonados vem do amor que brota no seu coração, também, no dizer do grande Fernando Pessoa, “não vemos o que vemos, vemos o que somos”. Se estamos alegres, a nossa alegria projeta-se sobre o mundo e ele fica mais alegre e brincalhão. É este o grande desafio que nos é apresentado no início da cada Ano Novo que (re)começa. Lembro-me de uma recomendação do saudoso Raúl Solnado: “Façam o favor de ser felizes!”. O Ano Novo será próspero e mais feliz, se a alegria brotar de dentro do coração de cada um de nós. Até podemos estar rodeados de pessoas alegres e felizes, mas se o nosso coração está triste, esse ambiente de alegria e felicidade não permeia a nossa existência. "Não vemos o que vemos, vemos o que somos": só vêem as belezas do mundo, aqueles que têm beleza dentro de si.

"As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.

Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente" (Fernando Pessoa).

Que sejamos capazes de fazer de cada minuto do novo ano que começa um acto de magia contagiante. A vida não é medida pelo número de respirações que damos, mas sim pelos momentos que nos fazem prender a respiração. Que no novo ano tenhamos paz, saúde, amor e trabalho... Muitas emoções... o resto é consequência e conquista.

publicado às 08:55


Do esforço e do repouso

por Thynus, em 04.01.13

Para endurecer-se, é preciso, enquanto se desfruta de boa saúde, submeter o corpo, em seu conjunto como em cada uma de suas partes, a muitos esforços e cansaços, e habituar-se a resistir a toda espécie de influências adversas. Por outro lado, quando se manifesta um estado mórbido, seja no todo, seja numa de suas partes, deve-se recorrer imediatamente ao procedimento contrário, e cuidar de todas as maneiras do corpo ou de sua parte enferma; porque o que é delicado e débil não é passível de endurecimento.
Com um emprego vigoroso, os músculos se fortificam, porém os nervos se debilitam. Convém, pois, exercitar nossos músculos com todos os esforços convenientes, mas guardar disso os nossos nervos; por conseguinte, guardemos nossos olhos de toda luz demasiado viva, sobretudo quando é refletida, contra todo esforço à meia-luz e contra o exame prolongado de objetos demasiado pequenos. Preservemos igualmente nossos ouvidos dos ruídos demasiado fortes. Acima de tudo, não devemos expor o cérebro a esforços excessivos, demasiado prolongados ou intempestivos. Desse modo, devemos deixá-lo repousar durante a digestão; pois nesse momento essa mesma força vital que, no cérebro, forma o pensamento, trabalha com todas as suas forças no estômago e no intestino, preparando o quimo e o quilo. Pelo mesmo motivo, nunca devemos utilizar o cérebro durante, ou imediatamente após, um trabalho muscular vigoroso. Porque, nesse respeito, sucede o mesmo com os nervos motores que com os nervos sensoriais; e assim como a dor sentida num membro lesionado tem seu verdadeiro fundamento no cérebro, de igual modo não são as pernas e os braços os que caminham e trabalham, senão o cérebro, ou seja, a porção de cérebro que, por intermédio da medula oblonga e da medula espinhal, excita os nervos desses membros e os faz moverem-se. Por conseguinte, a fadiga que sentimos nos braços ou nas pernas tem seu fundamento real no cérebro; por esse motivo, os músculos que se cansam são aqueles cujo movimento é arbitrário e voluntário, ou seja, proveniente do cérebro, não os que trabalham involuntariamente, como o coração. Portanto, é certamente prejudicial ao cérebro exigirmos dele atividade muscular e intelectual enérgicas simultaneamente, ou depois de um curto intervalo. Isso não está em contradição com o fato de que ao começo de um passeio ou, em geral, durantes curtas marchas, sentimos uma atividade reforçada do espírito; pois ainda não houve fadiga das partes respectivas do cérebro. Por outro lado, essa ligeira atividade muscular, acelerando a respiração, auxilia o fluxo de sangue arterial melhor oxigenado ao cérebro. Porém devemos dar especialmente ao cérebro a quantidade de sono necessária para seu descanso; porque o sono é ao cérebro o que a corda é ao relógio. (Cf. O Mundo como Vontade e Representação, vol. II, c. 19.) Essa quantidade deve variar de acordo com o desenvolvimento e a atividade do cérebro; não obstante, ir além disso seria desperdiçar tempo, porque o sono perde então em profundidade o que ganha em extensão. (Cf. O mundo como vontade e representação, vol. II, fim do cap. 19.) [1] Em geral, devemos compreender bem o fato de que nosso pensar não é outra coisa que a função orgânica do cérebro e, portanto, no que tange a atividade e o repouso, trabalha de uma maneira análoga a qualquer outra atividade orgânica. Um esforço excessivo estraga os olhos assim como o cérebro. Disse-se com razão que, assim como o estômago digere, o cérebro pensa. A idéia errônea de uma alma imaterial, simples, essencial e constantemente pensante – e, portanto, infatigável, como se estivesse alojada no cérebro e não tivesse necessidade de nada no mundo – tem levado muitos a condutas insensatas e ao embotamento de suas forças mentais. Por exemplo, Frederico o Grande certa vez tentou prescindir em absoluto do sono. Os professores de filosofia fariam bem em não encorajar tal noção, prejudicial até na prática, com sua filosofia ortodoxa para mulheres velhas que tenta se entender com o catecismo. Devemos aprender a considerar as forças intelectuais como funções absolutamente fisiológicas, a fim de saber dirigi-las adequadamente, economizá-las ou empregá-las, e lembrar que todo sofrimento, todo incômodo, toda desordem em qualquer parte do corpo afeta o espírito.

(Arthur Schpenhauer - "Aforsimos para a sabedoria e vida")

publicado às 10:42


Não há caminho que nos distancie mais da felicidade que a grande vida, a vida de festas e banquetes, a high life; porque seu objetivo é transformar nossa miserável existência em uma sucessão de alegrias, de delícias e de prazeres, um processo que inevitavelmente culmina na decepção e na desilusão; assim como seu acompanhamento obrigatório, o hábito das pessoas de mentir umas para as outras. [Assim como nosso corpo está envolto em roupas, nosso espírito está revestido de mentiras. Nossas palavras, nossas ações, toda a nossa natureza é enganosa; e apenas através desse envoltório podemos às vezes adivinhar o que alguém realmente pensa, assim como podemos adivinhar a forma do corpo a partir das roupas.]
Toda sociedade envolve necessariamente, como condição básica de sua existência, a acomodação e a restrição mútuas por parte de seus membros; assim, quanto mais numerosa é, mais insípida se torna. O homem só pode ser si mesmo por completo enquanto estiver sozinho; por conseguinte, quem não ama a solidão, não ama a liberdade; pois o homem só é livre quando está sozinho. A restrição e a ânsia por liberdade são companheiras inseparáveis de toda sociedade; e os sacrifícios que exige serão tanto mais custosos quanto mais acentuada for a própria individualidade do homem. Por conseguinte, cada qual evitará, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor de seu próprio ser. Porque na solidão o mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o espírito elevado toda a magnitude de sua grandeza; em suma, cada qual sente aquilo que é. Ademais, quanto mais elevada for a posição que um homem ocupa na hierarquia da natureza, mais solitário será; isso é essencial e inevitável. Mas será benéfico a esse homem que a solidão física esteja em acordo com sua solidão intelectual, do contrário a frequente relação com seres de natureza distinta exerce sobre ele um efeito inquietante e mesmo prejudicial, visto que roubam-no de si mesmo, e não têm nada para oferecer-lhe em troca. Ademais, enquanto a natureza estabeleceu as maiores diferenças, tanto morais como intelectuais, entre os homens, a sociedade, a despeito disso, os têm como iguais ou, melhor dizendo, substitui essa desigualdade natural com as distinções e os graus artificiais de posição e categoria, que muitas vezes são completamente opostos à hierarquia estabelecida pela natureza. Como resultado, essa disposição eleva aqueles que a natureza colocou muito abaixo e rebaixa os poucos colocados muito acima. Decorre que os últimos, em geral, se retiram da sociedade, onde a vulgaridade prevalece assim que se torna numerosa. O que ofende os espíritos superiores na sociedade é a igualdade de direitos e de aspirações que se derivam dela frente à desigualdade das faculdades e das produções (sociais) dos demais. A chamada boa sociedade admite os méritos de todas as classes, exceto os intelectuais, que são como um contrabando. Impõe o dever de manifestar uma paciência ilimitada para toda tolice, toda loucura, todo absurdo, toda estupidez. Os méritos pessoais, pelo contrário, se vêem forçados a mendigar seu perdão ou a ocultarem-se; pois a superioridade intelectual fere por sua simples existência, sem que nisso haja qualquer intenção. Ademais, essa suposta boa sociedade não só tem o inconveniente de nos pôr em contato com pessoas incapazes de conquistar nosso louvor ou afeição, senão que não nos permite que sejamos nós mesmos segundo nossa natureza. Pelo contrário, nos obriga, em nome da harmonia, a nos apequenarmos e até a nos deformarmos. Conversas e idéias intelectuais só servem à sociedade intelectual; na sociedade vulgar são detestadas por completo, porque para se agradar nessa é imprescindível ser completamente insípido e limitado. Portanto, em tal sociedade, devemos praticar uma severa abnegação, abrindo mão de três quartos de nossa própria personalidade para nos assemelharmos aos demais. É certo que, em troca, temos os demais; porém, quanto mais mérito se tem, mais se verá que aqui o ganho não cobre o prejuízo, e que isso redunda em nosso detrimento. Porque as pessoas são, em regra, falidas; isto é, não têm em seu trato nada que possa indenizar-nos do tédio, das fadigas e dos desgostos proporcionam nem do sacrifício de si mesmo que exigem. Resulta que quase toda a sociedade é composta de tal modo que quem a troca pela solidão sempre faz um bom negócio. Ademais, há o fato de que, para substituir a verdadeira superioridade, i.e. intelectual, que é difícil de se encontrar, mas intolerável quando encontrada, a sociedade adotou por capricho uma falsa superioridade, de natureza convencional. Baseada em princípios arbitrários, é transmitida como uma tradição entre as classes elevadas e, como uma senha, sujeita a alterações. É o que se denomina bon ton, fashionableness [o bom tom, a distinção]. Não obstante, quando entra em conflito com a verdadeira superioridade, a debilidade da primeira não tarda em manifestar-se. Ademais, quand le bon ton arrive, le bon sens se retire [quando o bom tom chega, o bom senso se retira].

(Arthur Shopenhauer - "Aforismos para a sabedoria de vida")

publicado às 07:44


Um violino no Fado

por Thynus, em 03.01.13
Para quem aprecia música, aqui vai uma original interpretação de fado, com a 'voz do violino', de Natália Jusckiewicz. Basta aumentar o som... fechar os olhos e... abandonar-se...

Natalia é polaca e violinista residente em Portugal. Formada na Academia de Poznan, uma das escolas mais conceituadas do mundo, começou a carreira musical como intérprete solista e integrou orquestras e formações polacas de prestígio internacional.


Durante umas férias, apaixonou-se por Portugal e decidiu mudar-se.

Adaptou-se à língua, à cultura e à maneira de ser dos portugueses.

Uma guitarra portuguesa e um violino primorosamente tocado, feche os olhos e relaxe.

publicado às 07:42


Conjugação perfeita de força, beleza e automatismo; belas coreografias, sincronismo perfeito de movimentos... só podiam resultar num espectáculo maravilhoso aos olhos e ouvidos de todos os admiradores. Muito treino, amigos! Só quem passou nas flieiras das Forças Armadas sabe o que é disciplina e virtuosismo militar.
Parabéns à BANDA MILITAR DA NORUEGA por esta magnífica exibição!

publicado às 07:37



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