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Querer reduzir a pedofilia dos padres a simples “pecado” atribuível às tentações de um demônio imaginário, como tantas declarações emanadas pela Igreja parecem indicar, é uma alteração aberrante da realidade. E no passado, postos ao corrente de abusos no confronto de crianças por obra destes “predadores” de batina, os seus superiores hierárquicos tornaram-se responsáveis de uma incrível tolerância que configura o crime de conivência: em muitíssimos casos, limitaram-se a transferir os “pecadores” – na realidade “predadores” – para um novo rebanho que acabou por fornecer outras vítimas a estes lobos travestidos de pastores de almas.
Os sacerdotes têm uma missão espiritual. Pregam a moral cristã. Celebram a inocência. Crêem no juízo de um Deus que vê tudo e que punirá no além os pecadores.

publicado às 13:17

Provavelmente muitos dos que leram as palavras destes dias de um tal monsenhor Scicluna, arquivaram o todo como uma das muitas declarações, focadas neste último período por parte de mais ou menos importantes porta-vozes da igreja, sobre o escândalo pedofilia/igreja.
Pela minha parte apenas algumas breves reflexões. A primeira diz respeito à questão ridícula ínsita a toda a questão céu/inferno, é claro para aqueles que não acreditam. De fato a idéia que um eventual e hipotético (muito hipotético) deus distribua recompensas ou punições, dependendo de que você faça o que ele diz ou não, é uma daquelas coisas que está em desacordo não só com o senso comum e a lógica, mas mesmo com o nível mínimo de racionalidade que todo ser humano deve ter.
Mas o que disse o citado prelado, é um absurdo por outros motivos. Desconheço, de fato – corrijam-me eventualmente- que na Bíblia ou nos Evangelhos sejam indicados diferentes graus de severidade do inferno. Ou se vai ou não se vai. Não é que, se a fazes menos grossa, tens uma sentença mais branda, e, se a fazes mais grossa, terás uma pena mais pesada. Ou será que nós realmente acreditamos que existe uma espécie de 41bis também para o inferno? Era o que faltava!
Outra coisa. O monsenhor pensa realmente que a sua ameaça assusta algum dos padres que se mancharam de tal infâmia? Aqueles que fazem estas coisas não se importam nada, logo à partida, com essa questão céu/ inferno. Ou devemos acreditar que um padre pedófilo pense que possivelmente ainda tem uma chance de ganhar o paraíso? Absolutamente. A realidade é que a igreja, diante da enormidade do escândalo que a envolve não sabe o que fazer, é como se estivesse em debandada. Então, para tentar apaziguar um pouco o rebanho, dá vigor e vida nova à historieta do inferno e do céu que o padre contava quando éramos crianças.
Exatamente, quando éramos crianças.

publicado às 13:08


Pedofilia: padres vítimas do estigma

por Thynus, em 06.12.10

"Nos tempos que correm, recai sobre os padres um estigma injusto. Imagino que isso provoque grande sofrimento. Mas será que com esta experiência a Igreja Católica está a provar do seu próprio veneno?"
Durante séculos a vetusta Igreja milenar, perseguiu, atormentou, subjugou, assassinou, todos aqueles que, pura e simplesmente, viviam uma vida diferente daquela que ela preconizava. A igreja assumiu o papel do odioso; o papel do conquistador que provoca o caos para reinar. Até rebentar o escândalo quantos padres por esse Mundo fora vociferavam contra o casamento homossexual? Quantos não defendiam a suposta família salazarista/cerejeirista tradicional? Mas, claro, como o alvo desses canhões tinha muitos machos antagonizantes, toca de os disparar sem fazer os cálculos, pois acertariam sempre! Deram-se mal, muito mal, pois agora as balas caíram-lhes em cima e transformaram-nos a eles em carne para canhão.
"Imagino o que sentem, nos dias que correm, muitos padres. Caiu sobre eles a suspeita da pedofilia. Vítimas do preconceito, muitos deverão sofrer em silêncio com tantos comentários que substituíram uma avaliação serena das suas opções individuais e legitimas - servir a Igreja e, em muitos casos, a sua comunidade - por generalizações injustas e absurdas.


Agora a Igreja Católica conhece o sofrimento que tem provocado a todos os que foram e são vítimas do seu preconceito, acusados de todas as perversões, pecados e vícios. Os homossexuais, por exemplo. Agora sabem o que é sentir na pele a ignorância e o ódio dos outros. Agora sabem o que é a violência do estigma. Se eu fosse crente diria que Deus resolveu dar uma lição ao clero. Como não sou, digo apenas que, mais tarde ou mais cedo, todos acabamos por provar o nosso próprio veneno."
A igreja católica foi (é) a organização mais preconceituosa, menos tolerante. A INQUISIÇÃO foi o exemplo extremo.

publicado às 13:04

“O escândalo dos abusos sexuais por padres e religiosos "não é - como alguns sugerem - apenas e exclusivamente o produto de mentes doentias e perversas (coisa real). É algo mais sério. Coloca definitivamente em crise um padrão "antropológico" de pessoas dominantes que se permitem a liberdade de ofender aqueles que se sentem inferiores, com a agravante da impunidade." É uma das citações principais de um longo artigo de Vinicio Albanesi publicado no n.° 17 da revista dos Dehonianos “Settimana”, saído hoje. De acordo com Albanesi, "o fenômeno permanente de abusos e a sua aparente impunidade regem-se sobre a concepção dominante que não respeita os mais vulneráveis: crianças, neste caso. (...) O abuso está, em primeiro lugar no domínio; tornando-se perverso, resultando no abuso sexual. Mas a tendência em que o abuso sexual ocorre baseia as suas raízes na suposta superioridade do educador. (...) Se o educador desempenha uma função 'sagrada’, a violência torna-se poder absoluto. (...) O limite em que se deve parar é confiado à pessoa que o infringe, tornando-o efetivamente incontrolado."
"Em parte - insiste - é explicado pela mentalidade de domínio que não permitia ver a gravidade do crime. (...) Além disso, a proteção do bom nome da Igreja, o medo do escândalo, prevaleceu sobre todos os outros motivos de condenação e remoção de sacerdotes e religiosos comprometidos". Mas "toda a história da pedofilia na esfera religiosa mostrou que se pôde fazer tanto mal porque o clima de domínio era de tal modo tão generalizado que se podia esperar a ocultação dos crimes. Nem mesmo o medo do escândalo parou os sacerdotes e religiosos envolvidos. Obviamente, estavam bem cientes do clima de tolerância que iria protegê-los."
Mas, "não há outra via, se não dizer toda a verdade e, se os comportamentos foram abomináveis, o pedido de perdão a Deus e às vítimas é a única via a percorrer." É muito perigoso, no entanto, continua o artigo, "esconder-se por trás da “perseguição dos inimigos da Igreja" para não abordar o drama acontecido, com a certeza de não permitir no futuro o que aconteceu. Isso não significa negar que por trás da exigência de justiça possam esconder-se especulações que camuflem sentimentos de ganância e de hostilidade." Entre as lições a serem aprendidas pela igreja por "eventos tão dolorosos e vergonhosos", é uma das conclusões de Albanesi, é que "um espírito evangélico não pode permitir-se posições de domínio nos confrontos de quem quer que seja (...). Os poderes manifestos trazem sempre consequências devastadoras."

publicado às 13:03

O mundo parece ter mudado logo que ficamos sem João Paulo II. Com Wojtyla parecia que tudo estava calmo e que nada acontecia. As coisas estavam no seu lugar e o sexo era reprimido. Os pedófilos, se os havia, estavam contidos, escondidos, ao abrigo do silêncio. Ratzinger fazia um excelente trabalho no Tribunal da Fé e podia silenciar qualquer voz, por mais ofendida que estivesse. Mas acabou a era do star system e a maioria, que se mostrava (e ainda se mostra) muito respeitosa, observa agora como os eventos são precipitadas pelo grande medo da essência sexual do ser humano. Não há dúvida. O sexo existe atinge em pleno tanto os homens comuns como os homens santos. A natureza triunfa e as ereções apresentam-se agora sem véus, em uns e em outros.
São a ciência moderna e homens como Charles Darwin e Sigmund Freud quem imporão à Igreja a necessidade de ter em conta, e sempre contra a sua vontade, uma realidade que, graças aos esforços da razão e da experiência, vão forçando mudanças no modelo perfeito que construiu o dogma expresso magistralmente no novo “Catecismo da Igreja Católica”, editado pessoalmente pelo cardeal Ratzinger por ordem de João Paulo II. A "Lei de Santidade" foi comprometida. A relação sexual, que não tem por fim único a procriação dentro do casamento, também faz parte da vida dos consagrados e está forçando a cúria romana a enfrentar os vínculos entre a castidade, a pureza, e a tendência para abusar de crianças.
"A sexualidade está ordenada para o amor conjugal entre homem e mulher", diz o “Catecismo ...” e não é um ato puramente biológico, “mas diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal." Mas nestes tempos conturbados, o desejo transbordou e já não consegue ser mantido em segredo pelo Tribunal da Fé. Em 2003, Tarcisio Bertone, vice-prefeito do ex-Santo Ofício, a respeito da pedofilia, disse numa entrevista ao Observer: "Na minha opinião o pedido de que o bispo esteja obrigado a entrar em contato com a polícia para denunciar um padre que tenha admitido atos de pedofilia é improcedente." Mas em muitos lugares, o escândalo já é impossível de conter, tornando-se um enorme problema jurídico e económico, como nos Estados Unidos, México, Irlanda, onde os pedidos de compensação estão diminuindo as finanças florescentes do Vaticano.
Os ultrajados pedem que se resolva a sua dor e humilhação com grandes somas de dinheiro que lhes permitirão pagar os custos do seu tratamento para superar, de alguma forma, os danos causados pelo abuso. E é que um grande número de homens escondidos no abrigo da santidade, obrigado pelos seus votos a não conhecer mulher, a não procriar, colocaram a sua atenção e os seus desejos em crianças vulneráveis, que não podiam distinguir claramente se o ato que estavam a ser submetidas era lícito, porque quem as submetia era também quem lhes ditava a diferença entre o bem e o mal, entre o correto e o caminho do inferno.
O sexo é, e sem dúvida, a maior força que motiva os seres humanos. E não poderá ser contido com palavras, com as orações que os padres pedófilos ensinaram às crianças para que não revelassem o que aconteceu nas suas escolas, nos colégios e em todos os lugares que deveriam estar seguros e não estiveram. A educação sexual, tal como atualmente ensinada nas escolas seculares, é o antídoto contra os abusos. E a Igreja ainda protesta porque acredita que deve ser ensinada apenas pelos pais e só em casa.
O modelo de sexualidade que a Igreja impôs terá que ir mudando nestes novos tempos. A pedofilia é apenas a ponta do iceberg que há-de obrigar um Concílio Vaticano a considerar, como Galileu fez em seu tempo, a importância de conceber de uma maneira diferente questões como a homossexualidade, o aborto, a abstinência, a inseminação artificial, a castidade, o casamento. A ciência tem muito a ensinar, e é na medida em que a hierarquia católica a conheça e aceite que poderá ir resolvendo conflitos que, caso não o faça, os levará a um Armagedão que ainda pode ser evitado.

publicado às 13:01


Deus fora da Verdade ou da Igreja?

por Thynus, em 06.12.10
A Igreja Católica é uma monarquia teocrática absoluta eletiva. O Cardeal Bertone recordou no passado mês de Fevereiro que não pode ser uma democracia, porque então seria uma instituição "puramente humana”, enquanto foi fundada por e sobre Cristo. O ato de fundação está escrito atrás do altar de Bernini, na basílica de São Pedro em Roma: são as palavras com que Cristo proclama Pedro como seu sucessor. Cada santo é filho da Igreja, nasce da fé (se é um convertido, desde o momento da conversão), e morre dentro da Igreja.
A vida do santo confirma a doutrina. Daí o princípio de que ninguém pode salvar-se fora da Igreja ("extra Ecclesiam nulla salus”): o princípio atormentava Dante (canto dell’Aquila), Fellini (8 e 1/2) e Dostoievski (o Grande Inquisidor). Não é apenas uma batalha moral, é também científica. Os cientistas não podem avançar as investigações fora dos limites impostos pela Igreja. Galileu ultrapassou-os e a Igreja condenou-o, errando contudo. Durante séculos permaneceu no erro. Onde estava Deus naqueles séculos? Com a verdade? Então estava fora da Igreja. Com a Igreja? Então estava fora da verdade. Há a expectativa de que o confronto se repita hoje com as células tronco: a ciência incita os cientistas, a Igreja bloqueia-os. Está explodindo um novo caso Galileu?

publicado às 12:32

 Segundo as estatísticas,  181 mil católicos alemães deixaram a Igreja em 2010, em boa parte devido aos abusos sexuais protagonizados por sacerdotes. Por outro lado, a Igreja Católica alemã recebeu cerca de 600 pedidos de indemnização de vítimas de abusos sexuais.
Na Alemanha, Estado e religião não são separados: o Estado dá ajuda aos seminaristas que se preparam para o sacerdócio, dá subsídios para creches e lares para idosos geridos por confissões religiosas, ajuda a reparar algumas igrejas. Além disso, o Ministério das Finanças assume automaticamente uma taxa, geralmente entre 8 ou 9 por cento, de cada declaração de imposto e a transfere para as igrejas. Pode-se dar a contribuição para os católicos, evangélicos e judeus. Também se pode optar por não dar a ninguém, mas, se és baptizado, és automaticamente tributado, apesar de não seres praticante. É um sistema que já vem desde 1827. Na Alemanha, este imposto é considerado moralmente obrigatório: quem não quiser pagar, pode fazê-lo apenas rompendo com a Igreja. O não cumprimento resulta numa comunicação aos órgãos competentes que irão cancelar os sacramentos recebidos: portanto, uma espécie de "excomunhão".
Há uma fortíssima colaboração entre Estado e Igreja: graças a um controle de cruzamento de dados, em caso de incumprimento do tributo, as autoridades enviam uma carta pedindo o pagamento, alegando, nomeadamente, a documentação relativa e o certificado comprovativo de afiliação religiosa. Isso é que permite à Igreja da Alemanha certificar com tamanha precisão o número de desistentes. Assim, a crise da fé é para todas as denominações religiosas uma crise econômica.
As doações de impostos na Alemanha estão em queda livre: de acordo com pesquisas recentes, um quarto dos católicos decidiu retirar a contribuição até agora acordada para a paróquia. O rumor causado pelos casos de pedofilia em todo o mundo, no clero, certamente irá resultar numa redução líquida do número de contribuintes que passam parte do seu imposto para a Igreja. Tanto na Alemanha como noutros países.
"Quanto mais o escândalo aumenta, menor é a predisposição a apoiar financeiramente a Igreja”, reconhecem na Cúria. O relatório do Governo irlandês e os achados processuais em dezenas de Países demonstram que por décadas muitas dioceses se preocuparam apenas em salvar o bom nome e os seus bens e propriedades, colocando entraves às investigações da justiça civil, escondendo provas, encobrindo crimes, denegrindo as vítimas. A decepção poderá levar milhões de fiéis a penalizar financeiramente a Igreja.
Além de danos (incalculáveis) causados à imagem da Igreja e dos choques causados à sua relação de confiança com as famílias, a longa onda do escândalo de pedofilia abate-se como um "tsunami" nos cofres dos Palácios Sagrados. O movimento planetário de desprezo pelo clero "infiel" prejudica o "tesouro" em milhões de euros recolhidos anualmente através de leilões, doações e outras ofertas de crentes.
"A mídia sempre se refere à class action, às indemnizações das vítimas de abuso do clero, aos honorários advocatícios, que desde 2001 têm forçado as dioceses americanas a vender escolas, hospitais, conventos, universidades, mas na realidade o maior prejuízo económico é o colapso das doações", explicam os escritórios financeiros da Santa Sé.
Há mais de um fantasma a pairar nos dias de hoje, nas salas do poder do Vaticano. Não são apenas as terríveis consequências da imagem resultante do surgimento de cada vez mais sensacionais casos criminais de depravação sexual por portadores de batina ou hábito de que também fazem parte vértices da hierarquia eclesiástica, mas algo mais imediatamente tangível.
Por outras palavras, teria sido melhor para a Igreja, um certo número de males imediatos (resultantes das consequências da emersão dos casos, no entanto, pronta e devidamente sanados), que uma falsa tranqüilidade derivada do encobrimento dos casos.

publicado às 12:29


2012, O Mundo não vai acabar

por Thynus, em 06.12.10
Se você acha que em 2012 será o fim do mundo, este livro vai mudar a sua idéia.
A autora, em tom calmo, mas envolvente e obrigatório, guia o leitor passo a passo, a expor e compreender as muitas teorias infundadas, científicas e outras, que prevêem o fim do mundo em 2012. Também revela, com sutil ironia, a incoerência de muitos alarmistas que nos assombram desde há anos, demonstrando a sua falta de lógica e revelando a evidência que muitas vezes nos escapa por causa da sua simplicidade e obviedade.
O livro aponta, uma a uma, as ameaças reais, já dramaticamente evidentes no presente, de que precaver-se e pelas quais somos distraídos, porque a atenção de todos é deslocada para um futuro apocalíptico.
Um livro-verdade para ler de um fôlego, fundamental para aqueles que desde há muito sentem uma profunda necessidade de mudança, especialmente interior.
Um ensaio cheio de insights reflectivos, valiosos conselhos e comentários esclarecedores, para aqueles que buscam clareza e verdade em relação aos eventos previstos para 2012, mas não só: um guia útil e indispensável para compreender o que realmente acontecerá nos tempos que se aproximam e actuar em conformidade.
Marzia Nicotri, graduada em filosofia, pesquisadora eclética, apaixonada estudiosa do pensamento oriental e de uma variedade de disciplinas e ensinamentos: dos grandes mestres espirituais de todos os tempos até à física quântica, do taoísmo ao Zen, do esoterismo à cura holística, da alimentação natural às terapias alternativas. Observadora lúcida e profunda, capta e expõe, às vezes com humor irônico, as contradições difíceis da nossa mente e do nosso tempo. Seguiu e aprofundou diferentes percursos de crescimento pessoal e de busca do interior através de longas viagens e estadias no Oriente, especialmente na Índia. Pesquisadora e escritora, original e não convencional, que não se enquadra em qualquer escola de pensamento, capaz de compreender e unificar visões até mesmo opostas, muitas vezes, encontrando uma síntese perfeita e única.

publicado às 12:27

Se Bento XVI, civilmenente Joseph Ratzinger, fosse conhecido como papa Francisco I ou Zeferino I, ao povo da Irlanda teria escrito a seguinte carta:
Senhoras e Senhores, mulheres e homens de Irlanda, não vos chamo «Caríssimas e carissimos filhas e filhos» como é uso adocicado nos documentos eclesiásticos e também porque não posso dirigir-me a vós com espressões afetuosas como se nada tivésse sucedido. Dirijo-me a vós, não com destaque, mas com temor e tremor, com respeito, mantendo a devida distância, em bicos de pés e consciente de que nenhuma palavra pode aliviar a vossa raiva, a vossa dor e a marca indelével que foi impressa na vossa carne viva. Não sou digno de dirigir-me a vós com palavras de afecto.
Escrevo para dizer-vos que em breve irei encontrar-vos, irei só, sem séquito e sem alardes: descalço e com a cabeça descoberta, humilde e penitente, sim, como convém a um "servo dos servos de Deus". Irei para ajoelhar-me diante de vós e pedir-vos perdão do fundo do coração porque sobre uma coisa não podemos, vós e eu, ter dúvidas: a responsabilidade de tudo o que envolveu os vossos filhos e filhas, rebentos inocentes, arruinados para sempre, é minha, só minha, exclusivamente minha. Assumo totalmente a responsabilidade da culpa de pedofilia de que se mancharam muitos padres e religiosos em institutos e colégios sob a jurisdição da Igreja católica.
Como bispo da Igreja Universal não tenho palavras e sentimentos para aliviar o trágico jugo que foi posto sobre as vossas costas. Fui por mais de um quarto de século chefe da congregação da doutrina da fé e não soube avaliar a gravidade do que estava acontecendo em todo o mundo: nos USA, na Irlanda, na Alemanha e agora também na Itália e, certamente, também em todos os outros países do mundo. A ferida é grande, generalizada e galopante e eu não fui capaz de ver a sua gravidade, o perigo e a ignomínia.
Preferi salvar o rosto da Instituição e, com este fim, em 2001 emanei um decreto em que advogava a mim os casos de pedofilia e impunha o «silêncio papal»: isto significa que quem falasse era excomungado «ipso facto», ou seja, imediatamente. Se houve “omertà” (silêncio imposto), se houve cumplicidade dos padres, religiosos, bispos e leigos, a culpa é minha e só minha. Para salvar a face da Igreja, acabei por condenar homens e mulheres, meninos e meninas que foram abatidos pela ignomínia do abuso sexual que é grave quando acontece entre adultos, mas é terrível, horrível, blasfema e delinquencial quando acontece sobre menores.

Não foram poucas pessoas que erraram. Iludi-me que assim fosse, mas agora noto amargamente que a responsabilidade está principalmente naquela estrutura que se chama «seminário», cujos critérios de formação, eu e outros líderes da Igreja lançamos, mantivemos e pretendemos que fossem actuados. Com os nossos métodos de educação pouco humanos e desencarnados, fizémos padres e religiosos devotos, mas divorciados da vida e da sua problemáta, homens e mulheres inconsistentes, prontos a obedecer porque sem espinha dorsal e sem personalidade.
Numa palavra criámos monstros sagrados que foram lançados sobre vítimas inocentes, apenas entraram em choque com a realidade que não souberam aguentar e com que não puderam confrontar-se. Personalidades infantis que abusaram de crianças sem sequer tomarem consciência do facto.
Hoje acho que uma grande responsabilidade está relacionada com o celibato obrigatório dos padres e religiosos, un sistema que hoje não funciona, como nunca funcionou na história da Igreja: por trás da fachada formal, muito poucos observaram este estato que em si mesmo é um valor, mas apenas se desejado por opção de vida, livre e consciente. Neste ponto, tomo o compromisso de colocar na ordem do dia o significado do celibato para que se chegue a um clero casado, mas também célibe por opção e apenas por opção.
Chego até vós, privado de toda a autoridade porque a perdi e de maõs vazias a pedir-vos perdão e em seguida, na cúria romana e nas igrejas locais, despedirei todos os que de qualquer modo estão implicados neste drama. Finalmemente, enquanto a justiça humana fará o seu papel, confiarei as pessoas responsáveis por estas ignomínias a um tratamento de saúde porque trata-se de mentes e corações doentes.

Finalmente, resignarei do cargo de papa e o farei desde a Irlanda, o país, talvez mais atingido. Retirar-me-ei num mosteiro para fazer penitência durante os dias que me restam porque falhei como padre e como papa. Não vos peço que esqueçais, suplico-vos que olheis em frente, sabendo que o Senhor que é Pai amoroso, de quem fomos indignos representantes, não abandona alguém e não permite que a angústia e o sofrimento tenham vantagem. Que Deus me perdoe, e com Ele, se puderdes, fazei-o vós também.
Com estima e tremor.
Roma, 19 de Março de 2010, memória de S. José, pai adotivo de Jesus
Francisco I, papa (ainda que por pouco tempo) da Igreja católica.

publicado às 12:26


21-12-2012, um pandemônio

por Thynus, em 06.12.10

20 de dezembro de 2012. Para esse dia não tomem compromissos. Não se preocupem com presentes de Natal. Inútil. Esse dia será o último. Então o mundo vai acabar em grande estilo: erupções vulcânicas, tsunamis, tempestades geomagnéticas, furacões devastadores, radiações do espaço, o aparecimento de um planeta fantasma irá desencadear o apocalipse.
Isso é esperado por centenas de sites, uma dúzia de livros, uma série de transmissões televisivas que sobre esta profecia estapafúrdia manufaturaram uma avalanche de dinheiro e encantado os amantes do mistério. Mas é verdade? Nós cremos que não, temos a certeza, e gostaríamos de remover, um a um, todos esses argumentos.

As teses
Mas vamos com ordem. O que está por trás da crença de que o mundo vai acabar em 2012? Eis os principais eventos previstos:
1. Em 20 de dezembro de 2012 terminará o ciclo de contagem de "tempo" do calendário Maia.
2. A partir dessa data, é o solstício de inverno, o sol estará numa posição rara: alinhado com o centro da Via Láctea, um evento que não se repetiu desde há 26 mil anos.
3. Em 2012, além disso, a actividade solar atingirá um pico e esperam-se tempestades solares que podem interferir na nossa sociedade.
4. O pólo norte e o pólo sul poderiam inverter-se.
5. Em 21 de Dezembro de 2012, um planeta misterioso (Planeta X ou Nibiru) cuja órbita está além de Plutão irá colidir com a Terra.
6. O vulcão Yellowstone, nos USA, entrará em erupção novamente...com efeitos catastróficos.
7. Alguns cientistas russos descobriram que o sistema solar entrou numa nuvem espacial que vai estimulando e desestabilizando o Sol e as atmosferas dos planetas.

Mas não basta. Os profetas da desgraça acrescentam a todas estas causas ainda a leitura esotérica do Gênesis (primeiro livro da Bíblia) e do Yi Jing (o livro das mutações da antiga China). Passando, é claro, através das profecias de Nostradamus e das Pirâmides de Giza.
Procuremos compreender se à volta destas teorias sobre a catástrofe há algum elemento de verdade e cientificidade ou há apenas um negócio muito rentável.

publicado às 12:25



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