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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
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Se Sarte diz “o inferno são os outros”, Gabriel Marcel responde: “para mim o céu são os outros”. Por isso o filosofo diz ainda: 'Só há um sofrimento e é ser sozinho'. Apenas existe um sofrimento e é o estar só. A afirmação poderá parecer exagerada, mas o certo é que, para muitos homens e mulheres de hoje, a solidão é o maior problema da sua existência. Aparentemente, o homem actual está melhor comunicado do que nunca com os seus semelhantes e com a realidade inteira. Os meios de comunicação multiplicaram-se de modo espantoso. O telefone permite manter uma conversa com as pessoas mais distantes. A televisão introduz nas nossas casas imagens de todo o mundo. A rádio acabou com o isolamento. A internet permite ás pessoas falarem-se e verem-se umas às outras a milhares de kilómetros de distância… Por outro lado, o público impõe-se sobre o privado. Fala-se de associações de todo o tipo, círculos sociais, relações públicas, encontros. No entanto tudo isso não impede que uma solidão indefinida, difusa e triste se vá apoderando de muitos homens e mulheres. Lares onde as pessoas se suportam com indiferença ou agressividade crescente. Crianças que não conhecem o carinho e a ternura. Jovens que descobrem com amargura que o encontro sexual pode encobrir um egoísmo enganoso. Amantes que se sentem cada vez mais sós depois do amor. Amizades que ficam reduzidas a cálculos e interesses inconfessáveis. O homem actual vai descobrindo pouco a pouco que a solidão não é necessariamente o resultado de uma falta de contacto com as pessoas. Antes que isso, a solidão pode ser uma doença do coração. Se a minha vida é um deserto, o mundo inteiro é um deserto, mesmo que esteja povoado de todos os tipos de pessoas. Sem dúvida, são muitos os factores que podem levar uma pessoa a esse isolamento interior que se manifesta em frases cada vez mais escutadas entre nós: «Ninguém se interessa por mim». «Não acredito em ninguém». «Que me deixem só. Não quero saber nada de ninguém». Mas para superar o isolamento, é necessário abrir-se de novo à vida. Aceitar-se a si mesmo com simplicidade e verdade. Escutar de novo o sofrimento e a alegria dos outros. Destruir o círculo obsessivo dos «meus problemas». Recuperar a confiança nos gestos amistosos dos outros por muito limitados e pobres que nos possam parecer. A fé não é um remédio terapêutico que possa prevenir ou curar a solidão. O crente está submetido, como qualquer outro, às tensões da vida moderna e às dificuldades da relação pessoal. Mas pode encontrar na sua fé uma luz, uma força, um sentido, una energia para superar o isolamento, a solidão e a incomunicação. Como aquele homem surdo e mudo, incapaz de comunicar-se, que escutou um dia a palavra curadora de Jesus: «Abre-te!».
Nós cristãos esquecemos com muita frequência que a fé não consiste em crer em algo, mas em crer em Alguém. Não se trata de aderirmos fielmente a um credo e, muito menos, de aceitar cegamente «um conjunto estranho de doutrinas», mas de encontrarmo-nos com Alguém vivo que dá sentido radical à nossa existência. O verdadeiramente decisivo é encontrar-se com a pessoa de Jesus Cristo e descobrir, por experiência pessoal, que só Ele pode responder de maneira plena às nossas perguntas mais decisivas, aos nossos anseios mais profundos e às nossas necessidades mais últimas. Nos nossos tempos torna-se cada vez mais difícil crer em algo. As ideologias mais firmes, os sistemas mais poderosos, as teorias mais brilhantes foram-se desmoronando ao descobrirmos as suas limitações e profundas deficiências. O homem moderno, desiludido dos dogmas, ideologias e sistemas doutrinais, talvez ainda esteja disposto a crer em pessoas que o ajudem a viver e o possam «salvar» dando um sentido novo à sua existência. Por isso o teólogo K. Lehmann pôde dizer que «o homem moderno só será crente quando tiver feito uma experiência autêntica de adesão à pessoa de Jesus Cristo». Causa tristeza observar a atitude de sectores católicos cuja única obsessão parece ser «conservar a fé» como «um depósito de doutrinas» que há que saber defender contra o assalto das novas ideologias e correntes que, para muitos, resultam mais atrativas, mais actuais e mais interessantes. Crer é outra coisa. Antes de tudo, nós cristãos temos de preocupar-nos em reavivar a nossa adesão profunda à pessoa de Jesus Cristo. Só quando vivermos «seduzidos» por Ele e trabalhados pela força regeneradora da sua pessoa, poderemos transmitir também hoje o seu espírito e a sua visão da vida. Caso contrário, continuaremos a proclamar com os lábios doutrinas sublimes, ao mesmo tempo que continuamos a viver uma fé medíocre e pouco convincente. Nós cristãos temos de responder com sinceridade a essa pergunta interpeladora de Jesus: «E vós, quem dizeis que eu sou?» (Cfr. Mc. 8,27-35). Ibn Arabi escreveu que «aquele que ficou preso por essa enfermidade que se chama Jesus, não pode mais curar-se» . Quantos cristãos poderiam hoje intuir desde a sua experiência pessoal a verdade que se encerra nestas palavras?
Disse alguém que o trabalho que se faz nas escolas é mais importante e decisivo para o futuro de uma sociedade do que o trabalho que se realiza nas oficinas, nas fábricas e que os despachos dos políticos. Certamente, não é nada fácil a arte de educar. As ciências da pedagogia falam-nos hoje de muitos factores que tornam árdua e complexa esta tarefa. Mas, talvez, a primeira dificuldade seja a de nos encontrarmos realmente com a criança. Não é fácil para um homem ou uma mulher integrados numa sociedade como a nossa aproximar-se das crianças com à vontade. O seu olhar e os seus gestos espontâneos desarmam-nos. Não lhes podemos falar das nossas ganâncias nem das nossas contas correntes. Não entendem os nossos cálculos nem as nossas hipocrisias. Para aproximarmo-nos delas, teríamos que voltar a apreciar as coisas simples da vida, aprender de novo a ser felizes sem possuir muitas coisas, amar com entusiasmo a vida e tudo o que é vivo. Por isso, é mais fácil tratar a criança como um pequeno computador a quem alimentamos de dados do que aproximarmo-nos dela para lhe abrir os olhos e o coração a tudo o que é bom, ao belo, ao grande. É mais cómodo sobrecarregá-la de actividades escolares e extra-escolares do que acompanhá-lo no descobrimento maravilhoso da vida. Apenas homens e mulheres, livres de avidez e de ódios, que não acreditem só no dinheiro ou na força, podem fazer com as crianças algo mais que transmitir-lhes uma informação científica. Apenas homens e mulheres respeitosos que sabem escutar as perguntas importantes da criança para apresentar-lhe com humildade as próprias convicções, podem ajudá-la a crescer como pessoa. Apenas os educadores que sabem intuir a solidão de tantas crianças para oferecer-lhes o seu acolhimento carinhoso e firme, podem despertar nelas o amor verdadeiro à vida. Como dizia Saint-Exupéry, e talvez hoje mais do que nunca, «as crianças devem ter muita paciência com os adultos» pois não encontram em nós a compreensão, o respeito, a amizade e o acolhimento que procuram. Mesmo que a sociedade não saiba, talvez, valorizar e agradecer devidamente a tarefa silenciosa de tantos educadores e educadoras que desgastam a sua vida, as suas forças e os seus nervos junto das crianças, eles devem saber que o seu labor, quando é realizado responsavelmente, é um dos maiores contributos para a construção de um povo. E os que o fazem desde uma perspectiva cristã, devem recordar que «quem acolhe uma criança em nome de Jesus, acolhe-o a ele».