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Flatulências teológicas

por Thynus, em 30.05.10
“Para os culpados, o inferno será mais duro. Seria verdadeiramente melhor para os sacerdotes culpados de abusos sexuais, em face de menores, que os crimes deles fossem causa de morte. Porque para eles a ‘perdição eterna’ (dannazione) será mais terrível.”.  

 
Then Cardinal Ratzinger with Mgr. Scicluna
Alguém me ajuda a entender esta frase?

"Seria muito melhor" para os padres culpados de abuso sexual de crianças que os seus crimes fossem "causa de morte", porque para eles "a condenação será mais terrível."

Mais uma vez essa história do Deus juiz castigador e vingativo!

Mais uma vez com essa idéia de Deus que recompensa ou pune. Boa idéia para acalmar o povo fiel seguidor (ou seguidista?). Deus chamado em causa sem razão para tal.

Essa idéia que vê Deus impotente contra os males reais do mundo, mas depois, só depois, no além e no depois, remedeia, recompensa ou pune ou expurga. Essa idéia é tão insalubre que imagina um Deus observador imparcial do abuso, um Deus que pode até mesmo esperar que um assassinato seja cometido para que depois o castigo possa ser eterno.

Um Deus que do alto (ou do baixo?) permite que todo o mal (ou todo o bem) se cumpra, que tudo seja livremente realizado (nada mais, um deus ex-machina) por seres humanos pecadores ou benfeitores, protagonistas ou comparsas, tudo para mais tarde... Mais tarde. Começo a ficar seriamente preocupado de que não exista esse mais tarde, mais ainda, se esse mais tarde é como o imagina esse tal Monsenhor Scicluna, recuso-me a participar no jogo. Além disso, ter a presunção de pensar que todo este universo ou multiverso foi "criado" de propósito por Alguém apenas por causa do nosso mísero recital periférico neste planeta periférico é muito humilhante para nós, mas especialmente para Deus. Todo este percurso evolutivo de vida e morte, tudo em função da comédia humana. Divina Comédia Humana.

"E ele tinha feito um trompete do seu traseiro" (Inf. XXI, 139): eis, se eu fosse Deus, o que eu teria feito fazer às vítimas de abusos para “desmerdar” o pássaro pedófilo.

publicado às 17:45

Carta Aberta a Sua Eminência o Bispo de SALERNO

Giffoni Valle Piana - 22 de Maio de 2010.

Após a difusão do relatório MURPHY pelo Governo irlandês, por abuso sexual na diocese de Dublin, onde encontrava e documentava em detalhes a participação de muitos representantes da Igreja
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Carta Aberta a Sua Eminência o Bispo de SALERNO<br /><br />Giffoni Valle Piana - 22 de Maio de 2010.<br /><br />Após a difusão do relatório MURPHY pelo Governo irlandês, por abuso sexual na diocese de Dublin, onde encontrava e documentava em detalhes a participação de muitos representantes da Igreja <a ;="" bitly="BITLY_PROCESSED" class="tags" href="http://pt.shvoong.com/tags/cat%C3%B3lica/" onclick="javascript:counttag(&#39;Católica&#39;, 1, 2007237)" rel="noopener"><span>Católica</span></a> Romana, a nossa consciência de pais foi terrivelmente abalada.<br /><br />Após o choque, minha esposa e eu, decidimos colocar no papel as nossas reações. <br /><br />Daí nasceu uma proposta, apresentada ao chefe da Igreja Católica Romana, representada atualmente pelo Papa Bento XVI. <br /><br />A proposta era simples: INSTITUIR O DIA DA VERGONHA, em que fossem recordadas as vítimas de abuso sexual por parte dos padres da Igreja Católica.<br /><br />Dia em que os sacerdotes culpados pudessem oficialmente pedir perdão às suas vítimas. <br /><br />Com grande surpresa, nos dias sucessivos, percebemos que as notícias provenientes da Irlanda não tinham indignado apenas as nossas consciências, mas também as de nossos conhecidos. <br /><br />Espontaneamente nasceu um COMITÉ POPULAR, com o objetivo de sensibilizar outras consciências, porque os pedófilos são alimentados pelo silêncio de suas vítimas. <br /><br />Começamos assim a recolher o feedback, e a comparar idéias. <br /><br />A partir desta análise, emergiram muitas dúvidas, muita confusão, mas também muitas perguntas. <br /><br />Algumas perguntas eram fáceis, e, então já encontramos as respostas, mas a algumas não fomos capazes de responder, porque minha esposa e eu, não somos teólogos ou sacerdotes da Igreja Católica, e portanto não competentes na matéria. <br /><br />Decidimos dirigir estas perguntas a uma pessoa idônea e competente, o Bispo da própria cidade.<br /><br />Aqui deixamos as sete perguntas, sem resposta no momento, que, como porta-voz do Comité Popular, lhe apresentamos, na certeza de uma sua resposta rápida e detalhada:<br /><br /><strong>1) Um padre que tenha cometido o abuso sexual, pode perdoar os pecados aos outros? <br /><br />2) A missa celebrada por um padre pedófilo é igualmente válida?<br /><br />3) Como posso ter a certeza de que o padre da minha paróquia não é pedófilo? <br /><br />4) A quem me devo dirigir para ter essa garantia?<br /><br />5) Por que os mudam de uma paróquia para outra, em vez de denunciá-los? <br /><br />6) O padre que cometeu abuso sexual continua a ser válido como padre ou, quando comete o abuso, é demitido de seu ofício sacerdotal? <br /><br />7) Como pode o Papa, o Vigário de Cristo na terra, o infalível Pontífice, não ter conhecimento de casos de <a ;="" bitly="BITLY_PROCESSED" class="tags" href="http://pt.shvoong.com/tags/pedofilia/" onclick="javascript:counttag(&#39;Pedofilia&#39;, 1, 2007237)" rel="noopener"><span>pedofilia</span></a> na Igreja? </strong><br /><br />Aguardamos a sua resposta, na fé, <br /><br />Alberto Senatore <br /><br />PORTAVOZ do movimento popular antipedofilia - Alberto Senatore,<br /><br />via De Cataldis, 29 - GIFFONI VALLE PIANA - SALERNO - a cidade do “ FILME FESTIVAL DOS RAPAZES “ <br /><br />Sábado, 22 de Maio de 2010 Horas: 20:05

publicado às 00:33


Sexo e confessionário

por Thynus, em 24.05.10

" Querendo arrebatar-me a alma, o Divino Esposo mandou-me cerrar as portas da morada: perdi o fôlego, não pude absolutamente falar, perdi os sentidos, esfriaram-se-me as mãos e o corpo. O toque divino produziu-me dor aguda, ao mesmo tempo saborosa..." (Religião e sociedade)

Em PADRES, CELIBATO E CONFLITO SOCIAL: UMA HISTORIA DA IGREJA CATOLICA NO BRASIL, Kenneth P. Serbin afirma: O sacramento de penitência e o sexo estiveram no centro dos esforços do Concílio de Trento para reformar o clero... criou o confessionário moderno, que separa o padre do penitente por uma tela... Ironicamnete, a missa, as procissões e outras cerimónias religiosas tornaram-se ocasião para o flerte. O confessionário proporcionava a melhor oportunidade de iniciar uma ligação sexual. Só um padre tinha total acesso ao confessionário. Testemunhas da Inquisição mencionaram grande variedade de estratégias para marcar encontros. Freiras, prostitutas, escravas, mulheres pobres brancas e negras, assim como as donas e donzelas de elite, tinham com padres encontros românticos iniciados no confessionário. Ocasionalmente,padres e mulheres já se entregavam às preliminares ou se mastrubavam no confessionário. Padres ofereciam dinheiro ou absolvição dos pecados a mulheres em troca de sexo. Em outras ocasiões, simulavam praticar magia para encantar mulheres. Alguns faziam comentários sádicos ou persuadiam mulheres a falar sobre suas experiências sexuais.

E conclui: "Muitos padres faziam propostas sexuais a mulheres (e ocasionalmente a homens) na intimidade do confessionário. Alguns tinham as suas escravas como amantes .

O confessionário aparece pois como um local possível de sedução. "Mesmo que um penitente denunciasse um padre, a corte eclesiástica geralmente pegava leve com ele. Em Fevereiro de 1535, o,padre da paróquia de Almodóver foi acusado de vários abusos sexuais. Estes incluíam frequentar bordéis e praticar assédios no confessionário. Ele recusou-se a dar absolvição a uma jovem a té que ela fizesse sexo com ele. Seu castigo foi uma multa ridícula e o confirmamento em sua casa durante 30 dias... Com heresias, a coisa era bem diferente. (VIDA SEXUAL DOS PAPAS, por NIGEL CAWTHORNE). Afinal, a omertà da igreja de roma já vem de longe: o importante é salvaguardar a face, escondendo ou negando os crimes de seu clero.

"O sexo tornou-se de fato o ponto principal de um confessionário moderno. Segundo Foucault, o confessionário católico foi sempre um meio de controle da vida sexual dos fiéis. Envolvia muito mais que apenas as indiscrições sexuais, e tanto o padre quanto o penitente interpretavam a confissão de tais pequenos delitos em termos de uma ampla estrutura ética."

Mas o mesmo não acontece com a psicanálise?, perguntamo-nos. "A comparação da psicanálise com o confessionário é demasiado forçada para ser convincente. No confessionário assume-se que o indivíduo é prontamente capaz de fornecer a informação requerida. A psicanálise, contudo,supõe que os bloqueios emocionais, derivados do passado, inibam um autoconhecimento e uma autonomia de ação por parte do indivíduo." (A TRANSFORMAÇAO DA INTIMIDADE: SEXUALIDADE, AMOR E EROTISMO NAS SOCIEDADES ...por Anthony Giddens).

"Quem sabe, se dentro do confessionário, o padre não está com o pau na mão? E, depois, tudo em nome do Espírito Santo..." (Bernardo Elias Lahdo)

publicado às 00:42

No Domingo, 16 de Maio, a missa na Praça de São Pedro viu uma multidão de 150.000 fiéis expressam seu apoio e a sua solidariedade ao Papa não obstante os fatos de pedofilia terem golpeado seriamente a Igreja. Mas os dados mostram que a confiança no Papa caiu para os níveis mais baixos na última década.

A pesquisa da Demos relatada pelo jornal Reppublica revela uma queda de 7 por cento para Bento XVI, e menos 3 por cento para a Igreja em geral no último ano.

De resto os escândalos que têm engolido a instituição nos últimos meses têm sido muitos: em Setembro a demissão do diretor do Avvenire Dino Boffo, após as denúncias, que posteriormente revelaram-se infundadas, do diretor do jornal Vittorio Feltri. Em seguida, o escândalo de pedofilia, com revelações de casos na Irlanda, E.U.A., Alemanha, Bélgica, Brasil e Itália, e com as conseqüentes demissões de muitos sacerdotes e bispos envolvidos direta ou indiretamente.

Sobre os escândalos de pedofilia, mais de 61 por cento dos italianos acreditam que a Igreja tentou minimizar ou esconder a verdade.

A história de abuso infantil também reabriu o debate sobre o celibato sacerdotal e, agora, dizem os dados da Demos, mais de 40 por cento dos italianos são favoráveis à possibilidade de padres se casarem.

Certamente, o apoio a Bento XVI é menor que o de João Paulo II: o papa polaco no último ano de pontificado era apreciado por 77,2 por cento dos italianos, enquanto o pico mais alto do seu sucessor alemão, foi de 55,5 por cento em 2008, bem acima, no entanto, do 46,6 em 2010.

Também os números globais falam de um profundo declínio da confiança no Vaticano: apenas 47 por cento sente que a Igreja ainda é uma instituição credível. Só no ano passado, a crê-lo eram 50, 4 por cento dos italianos.

publicado às 00:41

A ciência nunca poderá provar ou refutar a existência de Deus ou um de Poder Superior. Afinal não é este o elemento essencial da fé? Uma fé que não precisa de provas?
Mas talvez a prova sempre esteve nos nossos cérebros.
As nossas percepções, emoções e reações ao mundo que nos rodeia começam no nascimento e modelam as nossas atitudes e as nossas interações ao longo da nossa vida e, através delas, sabemos em quem confiar, o que esperar e como lidar com as coisas. A formação das crenças envolve diversas áreas do cérebro. Embora os mecanismos exatos não possam ser bem definidos, os cientistas sabem que o nascimento de crenças causa alterações fisiológicas no cérebro.
Com efeito, como vivemos a experiência da Fé se não através do nosso cérebro? O nosso cérebro processa todas as experiências que vivemos – sensoriais, somáticas, emocionais e metafísicas. O cérebro tem de processar e interpretar as nossas experiências com as nossas crenças, as nossas emoções e encontros anteriores, com a sua estrutura física e química.
Um aumento da atividade na parte anterior do cérebro foi observada em monges budistas tibetanos enquanto meditavam e em freiras enquanto rezavam. No entanto, foi visto nos monges e nas freiras, que esta parte do cérebro aumenta a sua atividade também durante as tarefas que requerem atenção. A questão interessante é saber se os seus cérebros foram alterados pela prática espiritual ou se são mais suscetíveis, desde o início, às forte experiências
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A ciência nunca poderá provar ou refutar a existência de Deus ou um de Poder Superior. Afinal não é este o elemento essencial da fé? Uma fé que não precisa de provas? <br />Mas talvez a prova sempre esteve nos nossos cérebros.<br />As nossas percepções, emoções e reações ao mundo que nos rodeia começam no nascimento e modelam as nossas atitudes e as nossas interações ao longo da nossa vida e, através delas, sabemos em quem confiar, o que esperar e como lidar com as coisas. A formação das crenças envolve diversas áreas do cérebro. Embora os mecanismos exatos não possam ser bem definidos, os cientistas sabem que o nascimento de crenças causa alterações fisiológicas no cérebro.<br />Com efeito, como vivemos a experiência da Fé se não através do nosso cérebro? O nosso cérebro processa todas as experiências que vivemos – sensoriais, somáticas, emocionais e metafísicas. O cérebro tem de processar e interpretar as nossas experiências com as nossas crenças, as nossas emoções e encontros anteriores, com a sua estrutura física e química.<br />Um aumento da atividade na parte anterior do cérebro foi observada em monges budistas tibetanos enquanto meditavam e em freiras enquanto rezavam. No entanto, foi visto nos monges e nas freiras, que esta parte do cérebro aumenta a sua atividade também durante as tarefas que requerem atenção. A questão interessante é saber se os seus cérebros foram alterados pela prática espiritual ou se são mais suscetíveis, desde o início, às forte experiências <a ;="" bitly="BITLY_PROCESSED" class="tags" href="http://pt.shvoong.com/tags/religiosas/" onclick="javascript:counttag(&#39;Religiosas&#39;, 1, 1999419)" rel="noopener"><span>religiosas</span></a>.<br />É sabido que os lóbulos temporais estão envolvidos nas experiências religiosas e espirituais: a amígdala e o hipocampo estão envolvidos nas visões místicas e nas emoções religiosas. Isto traz à mente uma possível ligação entre os transtornos mentais e as experiências sobrenaturais. Por exemplo, alguns pacientes durante as crises, especialmente nos casos de epilepsia do lobo temporal, dizem que tiveram premonições e visões religiosas pouco antes ou logo após a crise. Estas descobertas científicas mostram que há um mecanismo neural subjacente as experiências religiosas?<br />O cérebro parece predisposto a acreditar em todas as coisas espirituais. Os cientistas foram capazes de induzir, em alguns voluntários, experiências e sensações religiosas através da aplicação de um campo magnético sobre os lobos temporais e através da administração de alucinógenos.<br />Além de mais a religião é uma característica hereditária. Os estudos sobre gêmeos indicam que a intensidade religiosa está, pelo menos em parte, ligada à genética. Podemos experimentar os mesmos sentimentos seja por práticas religiosas seja por parte das drogas? O nosso cérebro está inclinado para a religião qualquer que seja a experiência ou o background de uma pessoa?<br />As crenças, as experiências e as práticas religiosas e o papel que desempenham nas nossas vidas não são facilmente definidas. Ao longo da história humana, temos tentado definições, a estrutura, a clareza e a paz. E encontramos tudo isso na religião. É, portanto, a religião apenas um subproduto da evolução que nos permite lidar com os problemas da vida ou o nosso cérebro foi criado por uma Entidade Superior para fazer-nos apreciar as coisas do mundo em toda a sua beleza espiritual?<br />Nunca me aconteceu de escrever tantas perguntas, mas neste caso também não estou tão convencido de querer saber todas as respostas ...

publicado às 20:45

(Este artigo é a sequência de “Vítimas da pedofilia: uma metáfora do católico perfeito”, onde se esboça uma possível resposta à pergunta: PORQUE HÁ TANTOS PADRES PEDÓFILOS? Aqui procuraremos uma resposta a outra questão pertinente: PORQUE A IGREJA, DURANTE TANTAS DÉCADAS, IMPÔS A OMERTÀ (SILÊNCIO) SOBRE A PEDOFILIA NO SEU CLERO?)



O padre pedófilo não deixa de ser padre ("Tu es sacerdos in aeternum"), pelo contrário, talvez manifeste na forma mais eloquente e explícita a ideologia que a sua mente absorveu durante anos e anos, acabando por identificar-se com ela. Vejamos bem: os padres pedófilos, se descobertos, nunca “abandonam” o sacerdócio, ao contrário dos padres que tiveram "triviais" relações com mulheres. Além disso, dificilmente são suspensos das suas celebrações religiosas, no máximo, são transferidos "para evitar o escândalo."

Agora sabemos a razão: a pedofilia manifesta, na verdade, funções e significados profunda e intimamente "católicos", embora o padre pedófilo tenha o papel paradoxal de ser tanto vítima (seja dos seus problemas pessoais, seja de uma ideologia que é objectivamente nociva para o equilíbrio psíquico) como carrasco (porque comete abusos sem se preocupar com os danos indeléveis que causa nos outros).

A dinâmica "padre pedófilo-criança" é, portanto, uma metáfora eficaz para o relacionamento entre a igreja e os seus fiéis, entre a instituição possessiva e autoritária, e os seus seguidores ingênuos e "crianças".

Por outro lado, a igreja, batizando crianças inconscientes e “indoutrinando-as” desde a infância, observando bem, implementa as mesmas técnicas de aliciamento usadas pelos pedófilos, que, de facto, baseiam a sua sedução propriamente sobre o não conhecimento, sobre a não consciência e, finalmente, sobre o sentimento de temor reverencial que a vítima adverte "depois" do "batismo" ocorrido (neste caso, o termo deve ser interpretado com duplo sentido).

Em ambos os casos, estas crianças "vítimas" (seja de pedófilos, seja de igrejas pedófilas) conseguem apenas provar sentimentos de culpa, e não o oportuno e sacrossanto direito à sua integridade física e mental. Como todos os psicoterapeutas sabem muito bem, por experiência profissional, receber uma educação rigidamente católica não deixa menos efeitos adversos na personalidade do que os efeitos dos traumas psicológicos decorrentes do sofrimento de episódios de pedofilia. Antes, talvez os últimos, sendo mais circunscritos, possam ser superadas mais facilmente.

Outra analogia simbólica entre pedofilia e catolicismo encontramo-la, nada mais nada menos, na Missa. O que é a Missa? A re-evocação do sacrifício de uma vítima inocente! O ritual do assim chamado “cordeiro” que é sacrificado no altar para “expiação dos nossos pecados."

Portanto, um padre que celebra a Missa, simbolicamente dramatiza (para a teologia católica, mesmo fisicamente) o "sacrifício de uma vítima inocente." Poderíamos dizer que, paradoxalmente, também os pedófilos "sacrificam vítimas inocentes." Isto é muito importante porque é o coração da ideologia católica. Acostumar a própria mente a pensar que sacrificar vítimas inocentes é um ritual sagrado, positivo, expiatório, purificador e do qual deriva o bem, pode certamente confundir o inconsciente, “habituando-o” a idéias subtilmente perversas e sacralizadas.

O padre pedófilo, estuprando crianças, por mais desviante e assustador que possa parecer, não faz outra coisa que “celebrar uma missa”, usando símbolos diferentes, mas evocando significados semelhantes, a saber: a vítima inocente acaba sacrificada. O seu sangue não é prova de violência humana, pelo contrário, ele "lava-nos” e purifica-nos! Além disso, coisas semelhantes aconteciam também em muitos antigos ritos religiosos. Quantos pobres animais foram torturados, mortos e sangrados para que os sacerdotes se iludissem, assim, de lavar a sua consciência e a dos outros!

Podemos assim concluir que o pedófilo, seja padre ou não, é uma pessoa com graves problemas, que de modo irracional, desviante e, sem dúvida, prejudicial para os outros, procura apenas a si mesmo e a sua identidade sexual. No caso em que o pedófilo é um padre, a situação é ainda mais complicada por causa da influência psíquica perniciosa da teologia que foi objeto dos seus estudos, da sua formação e da sua vida.

O silêncio da igreja, e as suas negações usuais da evidência, além disso, impedem a esses padres de serem curados, apoiados por especialistas em psicologia, talvez encaminhados a uma psicoterapia. E, porque não, mais estudados, para prevenir a contínua repetição destes fenómenos.

Obviamente a igreja preferiu manter os padres pedófilos, que continuariam a fazer vítimas inocentes, em vez de correr o risco de confrontar-se com mentes livres.

Só agora, depois de décadas de silêncio cúmplice ou ocultação de provas e após forte pressão (das vítimas ou de seus familiares, da sociedade e dos tribunais civis), a Igreja parece "disposta" a acabar com a omertà e a purgar os padres pedófilos. Mas, uma pergunta, não menos inquietante, paira no ar: o que deve mudar na Igreja para resolver a fundo esta "lixeira" no seu seio? É que não basta “excomungar” os padres pedófilos, também eles "vítimas" do obscurantismo católico.

publicado às 13:34


Porque há tantos padres pedófilos? Muitos pensam que este é um dos efeitos do celibato forçado, mas se fosse simplesmente isso, deveríamos observar semelhanças estatísticas em situações similares de castidade obrigatória, que não confirmam esta tese. Além disso, se a condição de celibato tornou-se insustentável para o padre, porque não replicar na normal heterossexualidade adulta normal, mais ou menos clandestina?

Não, o comportamento pedófilo não pode ser explicado apenas pela repressão sexual, mesmo se exagerada e prolongada ao longo dos anos.

Embora a pedofilia seja um crime particularmente hediondo porque afeta as vítimas mais impotentes e indefesas, deve ser dito que ela evidencia um estado de regressão psíquica por parte de quem a pratica.

Um pedófilo não é nunca totalmente adulto, mas tenta, a nível inconsciente, re-evocar simbolicamente a sua própria infância. A falta de maturidade sexual da parte dos padres, marcada pela experiência do seminário, pode ter "fixado" o estado evolutivo psíquico num estádio pré-adolescencial.

Esta interpretação narcisista do comportamento pedófilo dos padres é confirmada pela observação da idade média das vítimas, geralmente entre 8 e 12 anos. Também deve ser notado que em quase todos os casos se trata de pedofilia homossexual, e também este elemento faz-nos compreender como o padre pedófilo tem conflitos pesados a resolver consigo mesmo, com a própria sexualidade, com a sua história e, especialmente, com a sua identidade .

A pedofilia é de qualquer maneira um fenômeno extremamente complexo, e não simplesmente uma expressão de tendências regressivas infantis em adultos (de outra forma os pedófilos seriam milhões!).

Deve ser considerado outro aspecto crucial: a relação sado-masoquista. Mesmo que não haja violência, é inegável que o pedófilo, para subjugar a vítima, se aproveita da sua autoridade como adulto e da sua superioridade física e psicológica.

É também evidente que o propósito do pedófilo não é dar prazer, mas obtê-lo, usando mesmo a própria presa como um brinquedo inofensivo. Portanto, há uma notável componente ideologicamente autoritária na pedofilia. Um autoritarismo que é expresso como uma necessidade de possessão doentia, invencível, de que não se pode escapar.

É muito significativo que, em muitos incidentes relatados nos mídia, se nota que os padres pedófilos geralmente não costumam tomar precauções especiais para esconder o seu comportamento perverso. No seu delírio de omnipotência (também ele de origem infantil) eles preferem confiar no silêncio das suas vítimas ao invés de implementarem os comportamentos desviantes em ambientes protegidos, talvez longe de seu ambiente.

Neste ponto, podemos avançar uma hipótese que talvez possa dar um sentido lógico a tudo o que foi exposto anteriormente, e que poderia, pelo menos em parte, explicar a relação recorrente entre comportamento pedófilo e condição de padre.

Em resumo, foram analisadas as principais componentes da pedofilia e encontramos regressão, autoritarismo, possessão doentia. Que coincidência: trata-se da essência mais íntima da teologia católica!

O catolicismo, entre todas as religiões do mundo, é de facto a única que oferece ao povo o maior número de símbolos infantis: não por acaso a personagem mais proposta, mais reverenciada, mais representada e respeitada é uma mãe. Então, como se faz com as crianças, são constantemente servidas promessas, ameaças, recompensas e punições. Raramente, ou talvez nunca, se fala de responsabilidade pessoal ou de decisões livres, comportamentos que são muito adultos. Os católicos só devem observar, seguir, acreditar, aderir, obedecer, confessar, arrepender-se, etc.

Ainda falando de regressão infantil, note-se que o principal rito católico, bem como o comportamento mais meritório e santo, é um comportamento "oral", que é a Eucaristia. Que os bons cristãos deveriam comungar todos os domingos, lembra, por incrível que pareça, um velho clichê muito comum: "os bons meninos comem a papinha toda!". Mas não só: na liturgia católica insistiu-se, não por acaso, que a hóstia deveria ser recebida na boca das mãos do sacerdote, e não recebida nas mãos pelo comungante. Tal como acontece com uma mãe que alimenta a criança que não sabe ainda segurar na mão a colher.

Poucos notaram que, na época, houve um apelo do Papa João Paulo II sobre este tema, ou seja, o acolhimento da hóstia recebida do sacerdote na boca, uma vez que muitas igrejas estavam sem preconceitos a sofrer um processo de “protestantização” devido a esta formalidade aparentemente trivial, distribuindo as hóstias nas mãos dos fiéis. Mas alguns detalhes não escapam à igreja, porque conhece a sua enorme importância psicológica.

E é de facto assim que a igreja quer que sejam os seus súbditos: impotentes, inconscientes, crianças que se abandonam cegamente nas mãos de uma entidade protetora e reconfortante. Crianças que não podem sequer usar as mãos. Não por acaso, também os pedófilos precisam de sujeitos passivos e inconscientes. Curioso, não é?

O facto é que a criança violentada, vítima de um pedófilo, talvez o padre-pedófilo, é, assim, uma metáfora do católico perfeito: submisso, temeroso, silencioso, confiante de que o que acontece é para seu próprio bem.

publicado às 13:31


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